domingo, 5 de dezembro de 2010

A FÁBRICA DE BANDIDOS

Por Antônio Carlos Vieira

Observando a, situação atual, distribuição da população brasileira em relação a educação, terras e riquezas fica a seguinte pergunta: por que a grande maioria dos descendentes de africanos e dos nativos (índios) não tem terras para plantar, são maioria no grupo dos analfabetos, maioria dos delinquentes e geralmente são maioria no grupos dos desempregados ou possuem empregos de baixa renda? Melhor ainda: por que os fatos históricos que levaram a essa situação nunca são mostrados na imprensa (também nas escolas) e não são levados em consideração quando se combate o aumento dos crimes e aumento do analfabetismo?

O atual enfrentamento das forças no Estado do Rio de Janeiro, contra os traficantes no morro, tem levando muita gente a achar que bastaria se eliminar (matar) os traficantes do morro e a paz reinaria naquela cidade. Além dos traficantes não serem os únicos bandidos, a atormentar a população, é bom observar o que levou a se criar o atual estado das coisas. Por que senão vão matar os bandidos atuais e os fatos que fizeram surgir esses bandidos irão produzir mais bandidos para que futuramente podermos matar mais e saciarmos a nossa “sede de justiça” em um país que não se combate a produção de tais bandidos. Senão estará se criando uma Fábrica de Bandidos para, em vez em quando, exercitarmos o patriotismo de termos que eliminarmos estes “estrangeiros nascidos no Brasil !!!”

O Brasil antes da libertação dos escravos (negros e índios) as terras eram adquiridas pelo processo das sesmarias que simplesmente eram ocupadas para que se pudessem plantar e produzir. Só que os negros e índios não podiam ocupar,  adquirir ou tomar posse de terras por serem escravos e tratados como mercadorias. Com a “Abolição da Escravatura”, o grupo político que controlavam o Estado e o poder econômico criaram a chama Leis das Terra (1850). A partir desta lei, todas as terras brasileiras passaram a pertencer ao Estado e só poderiam ser adquiridas, por particulares ,compradas em Leilões Públicos. Essa “coincidência”, de libertação dos escravos e criação das Leias das Terras, impediram os negros de terem acesso a algum pedaço de terra. O mais estranho é que os negros foram libertos da escravidão sem receberem nenhuma indenização pelos trabalhos forçados e castigos recebidos. Por ironia da vida, os fazendeiros, antigos donos dos escravos, é que receberam indenizações para tornarem os escravos livres!!!

Para piorar a situação, o Estado brasileiro passou a ceder sesmarias, em Santa Catarina, para os novos colonos que estavam chegando ao Brasil, sem nunca terem trabalhado para terem direito a um pedaço de Terra e também facilitou a chegada de novos colonos para substituírem a mão de obra escrava.

Essa situação deixou os negros abandonadas sem direito a terra, sem acesso aos empregos, sem acesso a educação e sem direito a segurança. Muitos continuaram trabalhando por salários ínfimos que não davam condições mínimas de vida e continuavam tendo a vida miserável de escravos. Os que não conseguiram empregos passaram a ocupar terras sem valor como morros, áreas de mangues e muitos distantes das grandes cidades (surgindo os atuais Quilombolas). Os negros continuaram a fazer parte da sociedade que se destinavam a fazer os trabalhos pesados e considerados de menos valor para as classes mais abastadas (constituídas em sua grande maioria de brancos).

Mesmo depois de mais de cem anos, da Abolição da Escravatura, a grande maioria dos descendentes dos escravos (negros e índios) vivem reivindicando educação, terra (o MST é um grande exemplo) e acesso a saúde. Nos morros a polícia só aparece para punir os que já se tornaram delinquentes e bandidos e nunca garantem aos que não se tornaram bandidos o direito a segurança (que faz "justiça" nos morros são os traficantes!!!). O mais interessante é que até na bandidagem os negros fazem o serviço mais perigoso (que é vender drogas e dar seguranças aos líderes do grupo) e o grosso do dinheiro com a venda das drogas ( não fica nos morros) vão parar nos bolsos dos líderes que moram em condomínios ou mansões de luxo protegidos pelo anonimato.

Acredito que a grande maioria dos que entraram para o crime não tenha mais recuperação. Mas, as futuras gerações desses abandonados terão apenas como exemplos de bandidos como referência de vida? O Estado dará acesso a cidadania (Educação, Saúde e segurança) aos que ainda não entraram para o crime? Ou o Estado, apoiado por uma sociedade injusta, continuará fabricando bandidos para serem eliminados no futuro em nome da “justiça”?

Estamos vendo na televisão a ocupação de alguns morros na Cidade do Rio de Janeiro e sequer sabemos se daqui para frente esses mesmo morros irão ter a presença do Estado. Mas, vamos que o Estado resolva marcar presença nesses morros (garantido a cidadania), ainda fica uma pergunta: e o restante das favelas e abandonados de outras cidades terão direito a cidadania? Que eu saiba a Cidade do Rio de Janeiro não é a única a apresentar locais em estado de abandonos!

Textos relacionados:
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Negros lutam pela sua segunda abolição
Mais um muro da vergonha, no Brasil!

9 comentários:

  1. Aí é que está? Isso é aprova que os negros e indios continuam sendo desvalorizados, e o futuro é a criminalidade. Mas o homem não tem e nem vai ter mais controle sobre os acontecimentos. Os polítcos em si, só sabem fazer bonitas propagandas enganosas. Saúde, educação e segurança, vai de mal a pior. Agora só nos resta apega-se a Deus e viver fazendo o bem, por que neste mundo só quem pode resolver é Deus. O que nós que somos pais podemos fazer é orientar os nossos filhos a seguir o caminho do bem, mostrar as coisas ruins que o mundo e a metade dessa sociedade podre desse país tem a oferecer. Já não temos mais esperaça, acabou! Hojé é cada um pensando em si próprio, não se ver mais solidariedade, bondade e humildade no ser humano.

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  2. Se na época da Abolição da Escravatura quando o Brasil se tornou República, os milicos e o getulismo que tomaram o poder por várias décadas, sendo pois, a força armada donos das terras da União tivessem feito a reforma agrária, não estaríamos assistindo o que vemos hoje.

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  4. Bom dia professor! Sou o professor Eraldo de Lagarto. Adorei o seu texto, pois mostra o quanto temos que tomar consciência dos erros que foram e são cometidos contra os negros e indios desse país. Porém creio que hoje esses mesmos erros agora são cometidos contra pobres, negros, indios, deficientes fisicos e mentais,... ou seja, o preconceito, racismo e injustiça não tem cor!

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  5. Prof. Eraldo, esses pobres, negros, índios, deficientes físicos, mentais e pobres de toda espécie são os herdeiros de uma sociedade injusta no passado e pelo visto ainda os erros parecem que irão continuar com a anuência e condescendência da imprensa que esconde a realidade do brasileiro para o brasileiro.

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  6. Prezado professor,

    deve-se observar que este pensamento é uma parte de um binômio esquizofrênico: negro miserável por culpa dos brancos - negro excepcional perseguido ou massacrado pelos brancos. É realmente necessário o apoio do governo para aqueles que não têm condições, e é mesmo certo que o Estado tem culpa nesta situação, mas a maior parte da conquista da cidadania é questão de vergonha na cara.

    Vou explicar melhor o binômio que citei. O afrodescendente sem oportunidades e sem condições de passar num vestibular é o mesmo que vai entrar numa universidade apenas por causa de políticas para beneficiar a sua cor de pele e se tornar o aluno acima da média dois semestres depois. Cara, eu dou aulas particulares e sei como um estudante medíocre pode passar com 80. O negro espezinhado no Brasil é o mesmo da História da África, não raro uma versão coletiva e africanizada de piada de Chuck Norris.

    E falando de história da África, cadê um geógrafo ou historiador decente para falar dos negros que escravizaram negros, dos negros que traficaram escravos negros para a América e mesmo dos negros que aqui também tinham seus escravos?

    E já não temos uma secretaria para a "igualdade racial", que não passa de nazismo afro?

    A miséria é acima de tudo um problema moral e intelectual. Sem estes aspectos, e com oportunidades aos que as busquem e façam por merecer, a miséria econômica seria pelo menos amenizada.

    Cordialmente,

    Walter N. Braz Jr.

    http://paraisoconcreto.blogspot.com/2010/11/dia-da-consciencia-negro.html

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    1. Esse só engana um desinformado!!! Quer dizer que os negros escravizam outros negros e isso é errado e portanto dá direito de outros cometerem os mesmos erros? Tem outro agravante, o Brasil foi o único país do mundo a manda tropas para o interior do continente africano para capturar negros!!!

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  7. O mal vem do tempo da escravidão, crime hediondo que a monarquia protegia com leis. Depois da tardia abolição que enfrentou forte oposição, os negros passaram a sofrer descarada segregação, enfrentando todo o tipo de dificuldades para sobreviverem. A sociedade evoluiu lentamente, mantendo sempre resquícios desse comportamento aberrante de segregar uma raça que já tinha se miscigenado com a sociedade reinante de então, onde a grande maioria de seus membros poucas liberdades tinham que os diferenciavam dos escravos.
    E o que vemos hoje? São negros a grande maioria do pobres,dos analfabetos, dos desempregados, dos sem teto, dos famintos e doentes! São maioria dos mortos pelas policias e daqueles que servem ao tráfico de drogas. Continuam sendo segregados! A Fábrica de Bandidos chama´-se SEGREGAÇÃO que exercida por todos que pecam por não possuirem boa formação moral e intelectual, até estes cometem os mesmos erros, induzidos pela sociedade que os rodeia.

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  8. A questão não é nada complexa. Simples entender que para as elites dominantes de todos os séculos índios e afrodescendentes sempre foram consideradas como sub raças e tratadas como tal até hoje. Não obstante os n exemplos de negros que se tornaram expoentes em suas áreas de atuação, a elite branca simplesmente ignora sua capacidade por medo de ver (o inevitável) emponderamento dessa raça. Quantos ao tráfico de drogas, esse só existe por existirem viciados de alto poder aquisitivo dentro, claro, da classe dominante que é constituída em sua grande maioria por pessoas de pele clara. É preciso que o viciado saiba que seu vício também é violência. é ele que fomenta esse caos na segurança pública. É o pó que cheira, a droga de que fuma ou injeta na veia que a cada dia mata e faz parir e um novo traficante. Seria mais lógico prender o viciado pois é ele que alimenta o tráfico e não o contrário. Sem "consumidor" não há "comércio". Para piorar este cenário, a elite trocou a chibata pela tv, mas ai já é outra viagem....

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