quarta-feira, 24 de abril de 2013

Estudo da Secom comprova concentração das verbas publicitárias oficiais, diz Altercom

Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) tem defendido que se estabeleça como política a destinação de 30% das verbas publicitárias públicas às pequenas empresas de comunicação, em uma iniciativa similar à preferência dada pelo sistema da merenda escolar aos pequenos produtores agrícolas.

Da Redação

São Paulo - A Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) divulgou nesta terça-feira (23) uma nota oficial se posicionando sobre artigo divulgado por Roberto Bocorny Messias, secretário-executivo da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, sobre o destino das verbas publicitárias do governo federal. Leia a íntegra:

“Estudo da Secom comprova concentração das verbas nos grandes veículos

A Secretaria da Comunicação (Secom) da presidência da República, responsável pelo investimento publicitário das verbas do governo federal, autarquias e empresas estatais, publicou texto assinado pelo seu secretário questionando críticas realizadas por pequenas empresas de comunicação e empreendedores individuais, entre eles blogueiros, acerca dos seus critérios.

A Altercom como entidade tem defendido os interesses da sua base e proposto entre outros pontos que se estabeleça como política a destinação de 30% das verbas publicitárias às pequenas empresas de comunicação. Prática adotada em outros setores da economia, como na compra de alimentos para a merenda escolar. E também em outros países onde a pluralidade informativa é obrigação do Estado, inclusive do ponto de vista do financiamento.

Em nome da qualidade do debate democrático, a Altercom utilizará os números do estudo divulgado pela Secom para defender sua tese de que a política atual do governo federal está fortalecendo os conglomerados midiáticos, não garante a pluralidade informativa e mais do que isso não reflete os hábitos de consumo de comunicação e informação do brasileiro. Tem como única referência os parâmetros das grandes agências de publicidade e seu sistema de remuneração onde o principal elemento é a Bonificação por Volume (BV).

A partir disso, seguem algumas observações que têm por base os números do estudo publicado e assinado pelo secretário executivo da Secom.

• Em 2000, ainda no governo FHC, o meio televisão representava 54,5% da verba total de publicidade que era de 1,239 bilhão. Em 2012, esse percentual cresceu para 62,63% de uma verba de 1,797 bilhão. Ou seja, houve concentração de verba em TV mesmo com a queda de audiência do meio e o fortalecimento da internet.

• Em 2011, os grandes portais receberam 38,93% das verbas totais de internet. Em 2012, os grandes portais passaram a receber 48,57% deste volume. Mesmo com a ampliação da diversidade na rede a Secom preferiu a concentração de recursos.

• Também de 2011 para 2012, a Rede Globo aumentou sua participação no share de Tvs. Saiu de 41,91% em 2011 para 43,98% no ano passado.

• Se a Secom utilizasse como base o que a TV Globo recebeu da sua verba total ano a ano, o resultado seria desprezível do ponto de vista da desconcentração como defendido a partir do estudo. Em 2000 a TV Globo teve 29,8% do total da verba da Secom e em 2012 esse percentual foi de 27,5%. Neste número não estão incluídas as verbas para TV fechada, que eram de 2,95% em 2000 e passaram para 10,03% do total do meio TV em 2012. Nesse segmento, provavelmente a maior parte dos recursos também vai para veículos das Organizações Globo que ainda tem expressivos percentuais dos recursos para jornais, rádios, revistas, portais etc.

• Utilizando os dados da Secom também é possível chegar a conclusão de que em 2000, a TV Globo ficava com aproximadamente 370 milhões das verbas totais de publicidade do governo federal. Em 2012, esse valor passou a ser de aproximadamente 495 milhões.

• O secretário executivo da Secom também afirma que houve ampliação do número de veículos programados de 2000 para 2012, o que a Altercom reconhece como um fato. Essa ampliação foi significativa, mas no texto não é informado qual a porcentagem do valor total destinado a esses veículos que antes não eram programados.

• Por fim, no estudo o secretário parece defender apenas o critério da audiência quantitativa como referência para programação de mídia. Sendo que a legislação atual não restringe a distribuição das verbas de mídia ao critério exclusivo de quantidade de pessoas atingidas. Aponta, por exemplo, a segmentação do público receptor da informação e o objetivo do alcance da publicidade, entre outras questões. E é notório também que a distribuição dos recursos deve considerar a qualidade do veículo programado e a sua reputação editorial.

Considerando que a Secom está disposta ao diálogo, o que é bom para o processo democrático, a Altercom solicita publicamente e por pedido de informação que será protocolado com base na legislação vigente, os seguintes dados.

• A lista dos investimentos em todas as empresas da Organização Globo no período do estudo apresentado pela Secom (2000 a 2012).

• O número de veículos programados pela Secom ano a ano no período do estudo (2000 a 2012)

• Quanto foi investido por cada órgão da administração direta e indireta no período do estudo (2000 a 2012).

• Quais foram os 10 veículos que mais receberam verbas publicitárias em cada órgão da administração direta e indireta em cada meio (TV, rádio, jornais, revistas, internet etc) no período do estudo (2000 a 2012).

• A curva ABC dos veículos e investimentos realizados pela Secom. Ou seja, o percentual de verbas aplicadas nos 10 maiores veículos, nos 100 maiores e nos demais no periodo de 2000 a 2012.

• O que justifica do ponto de vista dos hábitos de consumo da comunicação a ampliação do percentual de verbas publicitárias de 2000 para 2012 no meio TV.

• O sistema e o critério de classificação e ranqueamento que estaria sendo utilizado pela Secom para programação de mídia.

A Altercom tem outras ponderações a fazer a partir do estudo apresentado, mas confiando na postura democrática da atual gestão avalia que os pontos aqui levantados já são suficientes para que o debate seja feito em outro patamar.

Reafirmamos nossa posição de que a distribuição das verbas publicitárias governamentais não pode atender apenas a lógica mercadista. Elas precisam ser referenciadas nos artigos da Constituição Federal que apontam que o Estado brasileiro deve promover a diversidade e a pluralidade informativa.

A Altercom também reafirma a sua sugestão de que a Secom deveria adotar o percentual de 30% das verbas publicitárias para os pequenos veículos de informação, o que fortaleceria toda a cadeia produtiva do setor da comunicação. E colocaria o Brasil num outro patamar democrático, possibilitando o fortalecimento e o surgimento de novas empresas e veículos neste segmento fundamental numa sociedade informacional.

São Paulo, 22 de abril de 2010” que a distribuição das verbas publicitárias governamentais não pode atender apenas a lógica mercadista. Elas precisam ser referenciadas nos artigos da Constituição Federal que apontam que o Estado brasileiro deve promover a diversidade e a pluralidade informativa.

A Altercom também reafirma a sua sugestão de que a Secom deveria adotar o percentual de 30% das verbas publicitárias para os pequenos veículos de informação, o que fortaleceria toda a cadeia produtiva do setor da comunicação. E colocaria o Brasil num outro patamar democrático, possibilitando o fortalecimento e o surgimento de novas empresas e veículos neste segmento fundamental numa sociedade informacional.

São Paulo, 22 de abril de 2010”
A partir disso, seguem algumas observações que têm por base os números do estudo publicado e assinado pelo secretário executivo da Secom.

• Em 2000, ainda no governo FHC, o meio televisão representava 54,5% da verba total de publicidade que era de 1,239 bilhão. Em 2012, esse percentual cresceu para 62,63% de uma verba de 1,797 bilhão. Ou seja, houve concentração de verba em TV mesmo com a queda de audiência do meio e o fortalecimento da internet.

• Em 2011, os grandes portais receberam 38,93% das verbas totais de internet. Em 2012, os grandes portais passaram a receber 48,57% deste volume. Mesmo com a ampliação da diversidade na rede a Secom preferiu a concentração de recursos.

• Também de 2011 para 2012, a Rede Globo aumentou sua participação no share de Tvs. Saiu de 41,91% em 2011 para 43,98% no ano passado.

• Se a Secom utilizasse como base o que a TV Globo recebeu da sua verba total ano a ano, o resultado seria desprezível do ponto de vista da desconcentração como defendido a partir do estudo. Em 2000 a TV Globo teve 29,8% do total da verba da Secom e em 2012 esse percentual foi de 27,5%. Neste número não estão incluídas as verbas para TV fechada, que eram de 2,95% em 2000 e passaram para 10,03% do total do meio TV em 2012. Nesse segmento, provavelmente a maior parte dos recursos também vai para veículos das Organizações Globo que ainda tem expressivos percentuais dos recursos para jornais, rádios, revistas, portais etc.

• Utilizando os dados da Secom também é possível chegar a conclusão de que em 2000, a TV Globo ficava com aproximadamente 370 milhões das verbas totais de publicidade do governo federal. Em 2012, esse valor passou a ser de aproximadamente 495 milhões.

• O secretário executivo da Secom também afirma que houve ampliação do número de veículos programados de 2000 para 2012, o que a Altercom reconhece como um fato. Essa ampliação foi significativa, mas no texto não é informado qual a porcentagem do valor total destinado a esses veículos que antes não eram programados.

• Por fim, no estudo o secretário parece defender apenas o critério da audiência quantitativa como referência para programação de mídia. Sendo que a legislação atual não restringe a distribuição das verbas de mídia ao critério exclusivo de quantidade de pessoas atingidas. Aponta, por exemplo, a segmentação do público receptor da informação e o objetivo do alcance da publicidade, entre outras questões. E é notório também que a distribuição dos recursos deve considerar a qualidade do veículo programado e a sua reputação editorial.

Considerando que a Secom está disposta ao diálogo, o que é bom para o processo democrático, a Altercom solicita publicamente e por pedido de informação que será protocolado com base na legislação vigente, os seguintes dados.

• A lista dos investimentos em todas as empresas da Organização Globo no período do estudo apresentado pela Secom (2000 a 2012).

• O número de veículos programados pela Secom ano a ano no período do estudo (2000 a 2012)

• Quanto foi investido por cada órgão da administração direta e indireta no período do estudo (2000 a 2012).

• Quais foram os 10 veículos que mais receberam verbas publicitárias em cada órgão da administração direta e indireta em cada meio (TV, rádio, jornais, revistas, internet etc) no período do estudo (2000 a 2012).

• A curva ABC dos veículos e investimentos realizados pela Secom. Ou seja, o percentual de verbas aplicadas nos 10 maiores veículos, nos 100 maiores e nos demais no periodo de 2000 a 2012.

• O que justifica do ponto de vista dos hábitos de consumo da comunicação a ampliação do percentual de verbas publicitárias de 2000 para 2012 no meio TV.

• O sistema e o critério de classificação e ranqueamento que estaria sendo utilizado pela Secom para programação de mídia.

A Altercom tem outras ponderações a fazer a partir do estudo apresentado, mas confiando na postura democrática da atual gestão avalia que os pontos aqui levantados já são suficientes para que o debate seja feito em outro patamar.

Reafirmamos nossa posição de que a distribuição das verbas publicitárias governamentais não pode atender apenas a lógica mercadista. Elas precisam ser referenciadas nos artigos da Constituição Federal que apontam que o Estado brasileiro deve promover a diversidade e a pluralidade informativa.

A Altercom também reafirma a sua sugestão de que a Secom deveria adotar o percentual de 30% das verbas publicitárias para os pequenos veículos de informação, o que fortaleceria toda a cadeia produtiva do setor da comunicação. E colocaria o Brasil num outro patamar democrático, possibilitando o fortalecimento e o surgimento de novas empresas e veículos neste segmento fundamental numa sociedade informacional.

São Paulo, 22 de abril de 2010”

Texto replicado do CARTA MAIOR

domingo, 21 de abril de 2013

Economista na UFF enumera mentiras de 'O Globo' sobre Venezuela

O economista Victor Leonardo de Araújo, professor da Universidade Federal Fluminense, enviou carta ao jornal 'O Globo' enumerando os dados errados recorrentemente usados pelo jornal para criticar a economia da Venezuela. Entre eles, números sobre déficit público, inflação e produção industrial. Leia a íntegra do texto.

Victor Leonardo de Araujo

"Prezada Senhora Sandra Cohen, editora de Mundo de O Globo

Já é sabido que o jornal O Globo não nutre qualquer simpatia pelo governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, e tem se esforçado a formar entre os seus leitores opinião contrária ao chavismo – por exemplo, entrevistando o candidato Henrique Caprilles sem oferecer ao leitor entrevista com o candidato Nicolás Maduro em igual espaço. Isto por si já é algo temerário, mas como eu não tenho a capacidade de modificar a linha editorial do jornal, resigno-me.

O problema é que o jornal tem utilizado sistematicamente dados um tanto quanto estranhos na sua tarefa de formar a opinião do leitor. Sou professor de Economia da Universidade Federal Fluminense e, embora não seja “especialista” em América Latina, conheço alguns dados sobre a Venezuela e não poderia deixar de alertá-la quanto aos erros que têm sido sistematicamente cometidos.

Como parte do esforço de mostrar que o governo Chávez deixou a economia “em frangalhos”, o jornalista José Casado, em matéria publicada em 15/04/2013 (“Economia em frangalhos no caminho do vencedor”) informa que o déficit público em 2012 foi de 15% do PIB.

Infelizmente, as fontes desta informação não aparecem na reportagem (apenas uma genérica referência a “dados oficiais e entidades privadas”!!!), uma falha primária que nem meus alunos não cometem mais em seus trabalhos.

Segundo estimativas apresentadas para o ano de 2012 no “Balanço Preliminar das Economias da América Latina e Caribe”, da conceituada Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), o déficit foi de 3,8% do PIB, ligeiramente menor do que no ano anterior, mas muito inferior ao apresentado pelo jornal.

Caso o jornalista queira construir a série histórica para os resultados fiscais para a Venezuela (e qualquer outro país do continente), pode consultar também as várias edições do “Estudio Económico” também da Cepal.

Para poupar o seu trabalho: a Venezuela registrou superávit primário de 2002 a 2008: 2002: 1% do PIB; 2003: 0,3; 2004: 1,8; 2005: 4,6; 2006: 2,1; 2007: 4,5; 2008: 0,1; e déficit nos anos seguintes: 2009: -3,7% do PIB; 2010: -2,1; 2011: -1,8; 2012: -1,3.

O déficit é decrescente, mas bem distante dos 15% do PIB publicados na matéria.

Afirmar que o déficit público na Venezuela corresponde a 15% do PIB tem sido um erro recorrente, e também aparece na matéria intitulada “Onipresente Chávez”, publicada na véspera, também no caderno “Mundo” do jornal 'O Globo' em 13/04/2013.

A este propósito, tenho uma péssima informação a lhe dar: diante de um quadro fiscal tão saudével, o presidente Nicolás Maduro não precisará realizar ajuste fiscal recessivo, e terá condições de seguir com as políticas de seu antecessor.

A matéria do dia 15/04/2013 possui ainda outros erros graves. O primeiro é afirmar que existe hiperinflação na Venezuela, e crescente. Não há como negar que a inflação é um problema grave na Venezuela, mas 'O Globo' não tem dispensado o tratamento adequado para informar os seus leitores.

A inflação na Venezuela tem desacelerado: foi de 20% em 2012, contra 32% em 2008 (novamente utilizo os dados da Cepal). Tudo indica que o jornalista não possui conhecimento em Economia, pois a Venezuela não se enquadra em qualquer definição existente para hiperinflação – a mais comumente utilizada é de 50% ao mês; outras, mais qualitativas, definem hiperinflação a partir da perda da função de meio de troca da moeda doméstica, situações bem distantes do que ocorre na Venezuela.

Outro equívoco é afirmar que “não há divisas suficientes para pagar pelas importações”. A Venezuela acumula superávits comerciais e em transações correntes (recomendo que procure os dados – os encontrará facilmente na página da Cepal).

Esta condição é algo estrutural, e a Venezuela é a única economia latino-americana que pode dar-se ao luxo de não precisar atrair fluxos de capitais na conta financeira para financiar suas importações de bens e serviços. Isto decorre exatamente das exportações de petróleo.

O problema, Senhora Sandra Cohen, é que os erros cometidos ao expor a situação econômica venezuelana não se limitam à edição do dia 15/04, mas tem sido sistemáticos e corriqueiros.

Como parte do esforço de mostrar que o governo Chávez deixou uma “herança pesada”, a jornalista Janaína Figueiredo divulgou no dia 14/04 (“Chavismo joga seu futuro”) que em 1998 a indústria respondia por 63% da economia venezuelana, e caiu para 35% em 2012.

Infelizmente, a reportagem comete o erro primário que o seu colega José Casado cometeu: não cita suas fontes.

Em primeiro lugar, a informação dada pelo jornal é que a Venezuela era a economia mais industrializada do globo terrestre no ano de 1998. Veja bem: uma economia em que a indústria representa 63% do PIB é super-hiper-mega-industrializada, algo que sequer nos países desenvolvidos foi observado naquele ano, nem em qualquer outro. E a magnitude da queda seria digna de algo realmente patológico.

Como trata-se de um caso de desindustrialização bastante severo, procurei satisfazer a minha curiosidade, fazendo algo bastante corriqueiro e básico em minha profissão (e, ao que tudo indica, o jornalista não fez): consultei os dados.

Na página do Banco Central da Venezuela encontrei a desagregação do PIB por setor econômico e lá os dados eram diferentes: a indústria respondia por 17,3% do PIB em 1998, e passa a representar 14% em 2012. Uma queda importante, sem dúvida, mas algo muito distante da queda relatada por sua jornalista.

Caso a senhora, por qualquer juízo de valor que faça dos dados oficiais venezuelanos, quiser procurar em outras fontes, sugiro novamente a Cepal, (Comissão Econômica para América Latina e Caribe).

As proporções mudam um pouco (21% em 1998 contra 18% em 2007 – os dados por lá estão desatualizados), mas sem adquirir a mesma conotação trágica que a reportagem exibe. Em suma: os dados publicados na matéria estão totalmente errados.

O erro cometido é gravíssimo, mas não é o único.

A reportagem ainda sugere que a Venezuela é fortemente dependente do petróleo, respondendo por 45% do PIB. Novamente, a jornalista não cita suas fontes.

Na que eu consultei (o Banco Central da Venezuela), o setor petróleo respondia por 19% do PIB em 1998, contra pouco mais de 10% em 2012.

Como a Senhora pode perceber, a economia venezuelana se diversificou. Não foi rumo à indústria, pois, como eu mesmo lhe mostrei no parágrafo acima, a participação desta última no PIB caiu. Mas, insisto, a dependência do petróleo DIMINUIU, e não aumentou como o jornal tem sistematicamente afirmado.

A edição de 13/04/2012, traz outros erros graves. Eu já falei anteriormente sobre os dados sobre déficit público apresentados pela matéria assinada pelo jornalista José Casado (“Onipresente Chávez”).

A mesma matéria afirma que a participação do Estado venezuelano representa 44,3% do PIB.

O conceito de “participação do Estado na economia” é algo bastante vago, e por isso era importante o jornalista utilizar alguma definição e citar a fonte – mas isto é algo, ao que tudo indica, O Globo não faz.

Algumas aproximações para “participação do Estado na economia” podem ser utilizadas, e as mais usuais apresentam números distantes daqueles exibidos pelo jornalista: os gastos do governo equivaliam a 17,4% do PIB em 2010 (contra 13,5% em 1997) e a carga tributária em 2011 era de 23% (contra 21% em 2000), nada absurdamente fora dos padrões latino-americanos.

Enfim, no afã de mostrar uma economia em frangalhos, O Globo exibe números simplesmente não correspondem à realidade da economia venezuelana. Veja bem: eu nem estou falando de interpretação dos dados, mas sim de dados que equivocados!

Seria importante oferecer ao leitor de O Globo uma correção dessas informações – mas não na forma de errata ao pé de página, mas em uma reportagem que apresente ao leitor a economia venezuelana como ela é, e não o caos que O Globo gostaria que fosse.

E, por favor, nos próximos infográficos, exibam suas fontes.

Atenciosamente,

Victor Leonardo de Araújo
Professor de Economia da Universidade Federal Fluminense"

Texto replicado deste blog: CARTA MAIOR

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Como nos velhos tempos da ditadura

Parece que estamos vivendo nos velhos tempos da Ditadura (1964/1985) onde imperava a censura e a distorção dos fatos.
A diferença é que hoje quem usa desses instrumentos é a chamada grande mídia, as grandes corporações de imprensa (Globo, Estadão, Folha, Abril) e seus acólitos, que aliás, vivem hipocritamente alardeando serem os grandes defensores da liberdade de expressão e acusando quem os critica como simpatizantes da censura.
Se esta postura das grandes corporações de imprensa não é novidade, nos recentes acontecimentos transcorridos na Venezuela elas se superaram.
No domingo, logo após a derrota do candidato Henrique Capriles no pleito eleitoral de domingo passado, este fez um pronunciamento incitando seus partidários a ir às ruas protestar contra uma suposta fraude eleitoral e exigir a recontagem de votos.
Na segunda feira, a massa raivosa ocupou ruas, destruiu postos de saude, mercados etc e assassinou pessoas militantes do partido do presidente eleito, Nicolás Maduro. O resultado da ação da massa descontrolada (incêndios, depredações, 8 mortos e dezenas de feridos) foi tão aterrorizante que o ex-candidato Capriles recuou e suspendeu uma manifestação convocada para dois dias depois.
A destruição e violência repercutia na imprensa internacional enquanto os barões da mídia brasileira silenciavam, distorciam, omitiam.
Quem noticiou os fatos referiu-se a eles como "choques entre chavistas e oposicionistas". E quando revelou-se a identidade dos mortos estas foram solenemente omitidas. Censuradas, por uma questão política, pois revelavam os chavistas como vítimas e como algozes os partidários do candidato simpático à grande imprensa nacional.

A bem da verdade factual e em nome da liberdade de expressão vamos revelar a identidade das vítimas, como a mídia conservadora vem revelando a identidade das vítimas do atentado em Boston.

José Luís Ponce Ordoñez – 45 anos, carpinteiro, militante do PSUV, morto com tiro na cabeça
Rosiris del Valle Reyes Rangel – 44 anos, militante do PSUV, morta com tiro nas costas
Ender José Bastardo – 21 anos, militante do PSUV, morto com quatro tiros.
Henry Rangel La Rosa – 32 anos, militante do PSUV, morto a tiros por encapuzados na porta de casa
Johan Antonio Hernández Acosta – Menor de idade, militante do PSUV, morto por caminhão que arremeteu contra multidão que comemorava a vitória de Maduro.
Luis Eduardo García Polanco – 25 anos, militante do PSUV, morto com um tiro no rosto enquanto comemorava a vitória de Maduro em frente à sede do Conselho Nacional Eleitoral no Estado Zulia.
Rey David Sánchez – Menor de idade, militante do PSUV, morto por caminhão que arremeteu contra multidão que comemorava a vitória de Maduro.
Cliver Enrique Guzmán – Ministério Público da Venezuela só divulgou que era militante do PSUV e que foi assassinado em uma manifestação.

Testo retirado deste blog: INTER AÇÃO

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O silêncio sobre U$ 675 bilhões extraídos dos brasileiros

Escola Margareth Thatcher

Veiculado pelo Correio da Cidadania a partir de 12/04/13

por Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia, por e-mail

Determinado bem pertencente ao povo brasileiro, que vale no mercado em torno de US$ 1,5 trilhão, vai ser repassado, no próximo mês de maio, a empresas estrangeiras pelo pagamento de US$ 225 bilhões de royalties durante um período de 30 anos.

Pode ser suposto que, para colocar o bem no mercado, as empresas precisam recuperar investimentos e custos realizados, além de ter um bom lucro, ou seja, elas precisam retirar US$ 600 bilhões do negócio.

Em outras palavras, nosso povo deveria receber pelo bem em torno de US$ 900 bilhões (= US$ 1,5 trilhão – US$ 600 bilhões). Como recebe só US$ 225 bilhões, ele vai ter seu patrimônio subtraído exatamente em US$ 675 bilhões, parcela esta que irá para os caixas das empresas como superlucro.

O PIB do Brasil em 2012 foi de US$ 2,3 trilhões. Assim, esta subtração do patrimônio do nosso povo é igual a cerca de 30% do PIB brasileiro.

No entanto, nenhum meio de comunicação tradicional, quer sejam os jornalões ou as revistas semanais ou as TV abertas ou por assinatura, falou sobre este fato.

A população brasileira nada sabe sobre uma ação que representará uma gigantesca subtração de patrimônio público.

Este silêncio é a comprovação da parcialidade da grande mídia, que oculta as verdadeiras questões de interesse da sociedade.

Por outro lado, fica patente também a falta de compreensão da classe política, com raras exceções, com relação às prioridades da nossa sociedade.

Se não for falta de compreensão, pode ser algo bem pior.

É preciso deixar claro que tudo será feito e o patrimônio será entregue estritamente dentro da lei. Uma lei extremamente injusta para com a sociedade e muito benéfica para as empresas, principalmente as estrangeiras. Mas é a lei vigente para blocos fora da área do Pré-sal, de número 9.478 de 1997.

A referida subtração é aprovada a partir da entrega de áreas do território nacional como concessões para empresas explorarem e produzirem petróleo e gás, que ocorrerá na 11ª Rodada de leilões de blocos, promovida pelo governo brasileiro nos dias 14 e 15 de maio.

A estimativa de petróleo a ser descoberto nestes blocos foi fornecida pela própria diretora-geral da ANP em seminário de promoção da Rodada.

Vou repetir argumentações de outros artigos meus sobre este assunto, para explicar sumariamente como esta Rodada é pouco atraente.

As empresas estrangeiras arrematarão grande número de blocos e irão exportar todo petróleo descoberto nestes blocos in natura. Na fase de investimentos, quase não irão comprar no país, não irão contratar desenvolvimento tecnológico nem engenharia no Brasil, quase não irão empregar mão de obra local e deixarão no Brasil o royalty, que é, em comparação com o lucro, uma parcela bem menor.

Também, o Brasil perde a possibilidade de uso do fornecimento garantido de petróleo de médio prazo a outros países como instrumento de ação geopolítica. A lei 9.478 permite todas estas injustiças e usurpação da nossa riqueza.

À primeira vista, a alegria devido à morte de um ser humano pode ser considerada uma desumanidade. No entanto, pode também significar uma explosão de alívio, pois a fonte de opressão e insensibilidade, representada pelo morto, foi extinta. Foi o que aconteceu com a morte de Margareth Thatcher.

Ou seja, o povo comemorou a execução pela Justiça divina, ou pelo acaso, daquilo que a Justiça terrestre foi incapaz de corrigir.

Injustiças causadas pelo preposto do capital, com ajuda da mídia subalterna, tristemente suportadas pelo povo, oprimem tanto que a morte do algoz pode ser comemorada.

Apesar da inegável realização social dos governos Lula e Dilma, fica uma pergunta na nossa mente: qual o legado a presidente Dilma quer deixar neste setor? Ser lembrada como membro da Escola da privatista Margareth Thatcher?

Se você estiver convencido sobre o que foi explicado e quiser fazer valer seu desejo, mesmo porque a Constituição afirma que todo poder emana do povo, remeta um recado para a presidente Dilma através do endereço: https://sistema.planalto.gov.br/falepr2/index.php.

Com relação aos deputados e senadores, mandar mensagens é mais complicado, porque teria que ser através de e-mails individuais.

Um e-mail para cada um dos 513 deputados e cada um dos 81 senadores. No entanto, não deixe de mandar para aqueles nos quais você acredita. Sugiro, também, que você se defenda, pois estará sendo lesado. Lute como puder para esta usurpação ser barrada.


Tedxto replicado deste blog: VI O MUNDO (Luiz Carlos azenha)

domingo, 14 de abril de 2013

O fado fúnebre que ensurdece o Brasil

Por Saul Leblon

A ortodoxia está matando nações na Europa. 

O desemprego passa de 17 milhões de pessoas. 

Na Espanha, 26% da infância encontra-se enredada na teia da pobreza, que avança sobre a 4ª maior economia do euro. 

O jornal 'El Pais' informa que os bancos de alimentos já não dão conta de atender a demanda: estima-se que 1,3 milhão de espanhóis dependem de ajuda para comer.

A cada 15 minutos uma família é despejada em Madrid, Barcelona ou em algum outro ponto do país . 

Dizer Estado mínimo é suavizar a montanha desordenada de ruínas acumuladas nas diferentes dimensões da vida coletiva. 

O que restará depois dos sucessivos e inalcançáveis ajustes serão talvez protetorados, enclaves, colônias.

Resíduos de nações expropriadas pelos mercados. 

O que é uma Nação sem o patrimônio comum que a unifica? 

O uso de viaturas em muitas repartições portuguesas passou a depender da vaquinha dos funcionários para a gasolina. 

Papel higiênico deve ser trazido de casa (leia a coluna de Flávio Aguiar). 

Tatcher, o símbolo disso tudo, será enterrada dia 17 próximo. 

A lógica que encarnou enfrenta o seu crepúsculo, mas usa as próprias cinzas para tornar irrespirável a vida da sociedade, que ainda não se apoderou de novas referências históricas (sobre esse paradoxo, leia o blog do Emir; nesta pág.) 

No Brasil, lamenta-se que Dilma não seja a ‘ladra do copo de leite', a exemplo da ‘Dama de Ferro', que subtraiu a merenda da escola pública inglesa, em 1970, como ministra da educação.

O governo se recusa a trazer a crise para dentro do país. 

Inconsolável, o rentismo exige o ‘laissez-passer' para legitimar a ‘purga' que inveja na Europa. 

Desdenha-se do ‘efeito provisório' das linhas de passagem erguidas para atravessar um cerco que se aperta.

Como se o estado de exceção da desordem neoliberal pudesse ser enfrentado com as ferramentas da rotina.

De cada três palavras difundidas pelo noticiário uma é juro. 

Colunistas se ressentem de demissões frescas. 

Implora-se por números azedos para servir no café da manhã. 

É preciso abrir espaços à incerteza no jantar. 

Professores-banqueiros e candidatos à Presidência tem um prazo de validade contratado. 

A crise deve aportar antes que o PAC, a reindustrialização do pré-sal e a indução do investimento surtam efeito. 

Um centímetro de chão sólido atrapalharia tudo. 

Abengalados ora no quilo do tomate, ora na novena pervertida em prol da seca nos reservatórios, seu futuro pressupõe que o emprego, a casa, a comida, o salário e o crédito sejam tragados em uma gigantesca restauração rentista, que solde a economia ao comboio do abismo. 

Do governo o que se exige é que engrosse o fado fúnebre, a adestrar o país para ser um imenso Portugal.

TEXTO RETIRADO DESTE ENDEREÇO:

terça-feira, 9 de abril de 2013

O que as democracias do Ocidente escondem nos paraísos fiscais

O egoísmo liberal desenhou um monstro de enormes cabeças, cuja identidade mais paradoxal consiste em que, dos 170 países preocupados com as revelações do caso Jérôme Cahuzac (à direita na foto) sobre sonegação e paraísos fiscais, a maioria corresponde às democracias mais adiantadas. É ali que se escondem os ladrões mais astutos e os organismos que organizam a fraude. Por Eduardo Febbro, de Paris.

Eduardo Febbro

Paris – A conta suíça que o ex-ministro do Orçamento e Fazenda Jérôme Cahuzac havia ocultado lança uma sombra que começa a envolver todo o governo do socialista francês François Hollande. Quase uma semana depois que o ex-ministro socialista confessou que tinha evadido divisas para uma conta aberta, primeiro no paraíso dos delinquentes financeiros, que é a Suíça, depois em Cingapura, dois novos elementos fazem tremer mais uma vez os cimentos do governo: a televisão suíça Romanda – RTS – revelou que Cahuzac depositou em torno de 15 bilhões de euros num banco de Genebra. A soma é infinitamente superior aos 600 mil euros que Cahuzac tinha reconhecido, em sua confissão. 

O montante é tão elevado que Dewy Plenel, o diretor do portal Mediapart, que acusou o ministro no ano passado se pergunta se o que está em jogo não é possivelmente “o financiamento do Partido Socialista”. 15 bilhões de euros é demasiado para um só indivíduo. Segundo a televisão suíça, o banco recusou a operação “por temor a que houvesse complicações posteriores, já que Jérôme Cahuzac era uma personalidade politicamente exposta”. A mesma fonte adiantou também que o ex-ministro teria “depositado ou transferido por Genebra somas mais elevadas, e isso antes de 2009”.

A data é importante, porque o ano de 2009 marca uma mudança na política bancária da Confederação Helvética. A partir dessa data a Suíça decidiu cooperar com a União Europeia, em caso de constatação de evasão fiscal. Neste sentido, outra revelação se acrescenta ao escândalo: o diário de Zurique “Tages Anzeiger” assegura que Cahuzac concedeu uma “certificação fiscal falsificada” ao banco suíço Julius Baer, para demonstrar que os fundos que visava a transferir tinham sido declarados ao fisco francês. 

Segundo a versão do Mediapart e da televisão suíça RTS, Cahuzac tentou, em 2009, que o banco que administrava seus fundos desde 1993, Reyl et Co, sacasse o dinheiro que tinha no banco UBS e o depositasse em outros estabelecimentos. O banco se negou e Cahuzac terminou transferindo o dinheiro para uma filial do Julius Baer situada em Cingapura. O advogado do ex-ministro socialista, Jean Veil, declarou que “essa tese não é verossímil. Dizer apenas uma parte da verdade carece de sentido”. No entanto, os analistas põem em questão os montantes declarados por Cahuzac, ou seja, 600 mil euros iniciais, e argumentam que esse tipo de transferência custa muito caro e que, por conseguinte, só é efetuada quando as somas superam dois ou três milhões de dólares. 

Transtornados pelo escândalo Cahuzac, o presidente e o governo socialista se diluíram em silêncio, esperando que a tormenta passasse, enquanto a imprensa francesa, moralista até o extremo, extasia-se na crítica contra o líder da Frente de Esquerda, Jean-Luc Mélenchon, a quem acusam de populismo, porque disse que, agora, seria preciso “passar uma vassourada e varrer tudo”. O certo é que a tormenta não passa e neste domingo o governo saiu para a ofensiva. O ministro de Economia e Finanças, Pierre Mosovici, propôs a instauração de um “Facta Europeu”, que permita “um intercâmbio automático de informações”. Trata-se de uma cópia do projeto de lei estadunidense apresentado em 2010, a Foreign Account Tax Compliance Act. Esta lei impõe aos estabelecimentos financeiros estrangeiros a transição ao fisco dos EUA das informações sobre as contas abertas pelos contribuintes dos Estados Unidos, sejam estadunidenses ou não. 

Paris não é a única capital atingida pelo mega escândalo Cahuzac e a impecável investigação sobre os paraísos fiscais levada a cabo por mais de 30 jornais internacionais, os já famosos Offshore Leaks. Berlim se somou à contra ofensiva através do ministro de Finanças, Wolfgang Shäuble, que anunciou que a Alemanha iria lançar uma cruzada internacional contra a evasão fiscal. Até o mais obscuro Luxemburgo pôs uma pedra no altar da re-moralização. Reconhecido pela opacidade de seu sistema bancário e pelas facilidades que oferece para reciclar o lixo financeiro do mundo, Luzemburgo anunciou que vai limitar “parcialmente” seu decreto bancário, o que, segundo o ministro da Economia, Luc Frieden, vai “reforçar a cooperação internacional”. 

O gigantismo do calote planetário revelado através dos Offshore Leaks é tal que farão falta medidas simples, ou o intercâmbio de informações, para que se acabe com os paraísos fiscais, tanto mais que, à imagem e semelhança das Ilhas Cayman, estes paraísos são, amiúde, colônias ou ex-colônias com cumplicidade estreitas com as capitais centrais. As Ilhas Cayman são uma colônia da Coroa Britânica e também um dos centros Offshores mais prósperas do mundo. A rede anti-evasão fiscal Tax Justice Network acusa as Ilhas Cayman de ser uma “lavanderia”: multinacionais, enormes fortunas privadas, os fundos hedge fizeram dessas ilhas sua pátria preferida. Ilhas Cook, Ilhas Virgens Britânicas, Samoa, Cingapura, Seychelles, Mônaco ou Suíça são autênticas maquinarias para ocultar dividendos. 

Um dado simples dá conta da amplitude dos fundos que esses territórios livres de tributos manejam: Reyl & Cie, a instituição que movimentava o dinheiro de Jérôme Cahuzac, detém no seu portfolio 7,3 bilhões de euros. Intermediários, esquemas jurídicos complexos e leis benignas levam a que os paraísos fiscais contem em seus bancos com o equivalente ao PIB dos Estados Unidos e Japão juntos. 

O exemplo britânico é uma piada escandalosa: por um lado, o primeiro ministro David Cameron interpela ao G8 para o grupo utilize o dinheiro dos impostos para fazer grandes investimentos e, por outro, com suas Ilhas Virgens ou Cayman, oferece um refúgio confortável aos sonegadores do planeta. A linguagem é dupla em toda parte. A investigação levada a cabo pelo Consórcio independente de jornalistas investigativos – ICIJ – que deu lugar ao Offshore Leaks, mostra, por exemplo, com os bancos franceses BNP Pariba y Crédit Agricole ajudam os seus clientes a criarem empresas offshore e como fornecem nomes falsos de contas para que escondam seus rendimentos. 

Ladrões internacionais, dirigentes de multinacionais, colecionadores de arte, empresas globais, financistas, dirigentes políticos de todos os países, milionários de todo o mundo, investidores, a clientela dos paraísos fiscais abarca todas as atividades onde o dinheiro é rei e esses paraísos, refúgios ideais para esconder coroas de diamantes. 

Entre as 13 mil pessoas com contas que figuram no offshore leake estão os filhos do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe. Tomás e Jerônimo Uribe aparecem como acionistas de uma empresa radicada nas Ilhas Virgens Britânicas em 2008, a Asia America Investment Corporation. No que diz respeito ao Brasil, aparecem na lista os empresários Clarice, Leo e Fabio Steinbruch. Os três são membros de um seleto grupo das famílias mais poderosas do Brasil, proprietário do banco Fibra e das empresas siderúrgica CSN e têxtil Grupo Vicunha. Os Steinbruch criaram em 2007 a Peak Management nas Ilhas Virgens Britânicas. Leo Steinbruch respondeu aos autores da investigação dizendo que “Peak Management existe, está em atividade e foi declarada por seus donos no Imposto de Renda e perante o Banco Central do Brasil como investimento no exterior”.

O total dos impostos filtrados pelos paraísos fiscais bem que poderia servir para criar empregos, infraestruturas, para se investir em saúde, em educação, pesquisa ou desenvolvimento. Nada. O egoísmo liberal desenhou um monstro de enormes cabeças, cuja identidade mais paradoxal consiste em que, dos 170 países preocupados com as revelações sobre a evasão tributária, a maioria corresponde às democracias mais adiantadas. As democracias do Ocidente, que dão lições de todo tipo ao resto do planeta, escondem em suas entranhas os ladrões mais astutos e os organismos que organizam a fraude. 

Tradução: Katarina Peixoto

TEXTO REPLICADO DESTE ENDEREÇO:

domingo, 7 de abril de 2013

Mídia: Inglaterra e México avançam e Brasil não sai do lugar

Se na Inglaterra os partidos firmam acordo para regulação de jornais, revistas e internet, e no México o novo governo apresenta projeto de alterações no marco regulatório das comunicações com vistas a quebrar o oligopólio, no Brasil as autoridades descartam qualquer iniciativa. Por Venício Lima

Venício Lima*

Na Inglaterra, foi anunciado acordo entre os três principais partidos ingleses – Conservador, Trabalhista e Liberal Democrata – para regulação da imprensa (jornais, revistas e internet) apenas quatro meses após a publicação do Relatório Leveson.

Os principais pontos a serem incluídos na Carta Régia que dará amparo legal ao novo órgão regulador são: a escolha dos membros (no mínimo quatro e no máximo oito e um presidente) deve ser “independente, justa e transparente”; os membros indicados pela mídia não podem manter cargos de editores ou publishers nem ser deputados ou senadores; a maioria dos membros deve ser “independente da imprensa”; o novo “código de conduta” deve descrever parâmetros “especialmente no tratamento de pessoas para obtenção de material jornalístico”; avaliar o respeito à privacidade quando não houver interesse público suficiente para quebrá-la; recomendar rigor das informações e a necessidade de prevenir interpretações equivocadas; deve ser criada uma linha direta para reclamações sobre quebra de conduta por parte de jornalistas; decisões sobre reclamações de quebra de conduta serão tomadas pelo órgão regulador antes de encaminhadas à Justiça; o órgão regulador terá o poder de aplicar sanções financeiras (com valor de até 1 milhão de libras esterlinas, ou cerca de R$ 3 milhões).

No México, o novo governo do presidente Enrique Peña Nieto apresentou projeto de alterações no marco regulatório das comunicações com vistas a quebrar o oligopólio de conglomerados, como América Móvil e Televisa, e promover a concorrência no setor.

O projeto prevê a instituição de um novo órgão regulador com poderes para obrigar a venda de ações de empresas com mais de 50% do mercado, além de multas e regulação de preços para beneficiar empresas menores. Será criada uma infraestrutura estatal de telecomunicações que possibilite o acesso à internet para 70% dos domicílios e 85% das empresas do país.

No que se refere à televisão aberta, o projeto prevê a entrada de duas novas redes de transmissão digital, além de um canal estatal nacional com programas educacionais e culturais. As redes existentes seriam obrigadas a oferecer programação gratuita para operadoras de TV a cabo, sem custo. Prevê-se ainda a eliminação de qualquer restrição ao investimento estrangeiro no setor.

O projeto está em tramitação na Câmara dos Deputados.

E na Terra de Santa Cruz?
Enquanto avanços ocorrem em países tão distintos como a Inglaterra e o México – sem mencionar países vizinhos latino-americanos –, no Brasil autoridades governamentais descartam qualquer iniciativa no que se refere à regulação do setor de comunicações. Ignora-se o que acontece no resto do mundo e se interdita até mesmo o debate público, deliberadamente confundido com ameaças à liberdade de expressão.

É como se, na Terra de Santa Cruz, questões decorrentes das inovações tecnológicas e da ausência de regulamentação de normas e princípios inscritos na Constituição, há um quarto de século, simplesmente não existissem.

Resta à sociedade civil organizada prosseguir trabalhando para mobilizar a “vontade das ruas”.

Todo apoio, portanto, à campanha liderada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), “Para expressar a liberdade – uma nova lei para um novo tempo”, e ao esforço para a elaboração de uma proposta que possa se transformar em Projeto de Lei de Iniciativa Popular.

Existe alguma alternativa?

*Publicado originalmente na revista 'Teoria e Debate'. Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e autor de Política de Comunicações: um Balanço dos Governos Lula (2003-2010), Editora Publisher Brasil, 2012, entre outros livros.

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http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21850

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Jornalista cubana é impedida de entrar nos EUA

Postado em: 3 abr 2013 às 21:12

Ao contrário de Yoani Sánchez, a blogueira cubana que é livre para viajar o mundo e visitar uma diversidade de países, Elaine Díaz Rodríguez, blogueira, jornalista e professora foi impedida de entrar nos EUA para um dos maiores eventos de Ciências Sociais do mundo


A tarde desta quarta-feira foi momento de mais um ataque à liberdade nas relações entre Estados Unidos e Cuba. Elaine Díaz Rodríguez, blogueira, jornalista e professora da Universidade de Havana, foi impedida de ir aos EUA para um dos maiores eventos de Ciências Sociais do mundo, o XXXI Congresso Internacional de Estudos Latino-Americanos.

Elaine teve seu trabalho aprovado pela Associação de Estudos Latino-Americanos, organizadora do evento, que também deu a ela uma bolsa para a viagem. Mesmo assim, o governo dos EUA não concedeu o visto a Elaine.

Agora, a jornalista e professora se pergunta quem cerceia a liberdade, Cuba ou os EUA? Por que Yoani Sánchez pode ir aos EUA, mas Elaine não? “Não tive nenhum problema com Cuba para sair, nunca”, disse ela ao Jornalismo B. E completou: “É humilhante que neguem vistos a acadêmicos enquanto recebem de braços abertos a Yoani (Sánchez)”.

TEXTO REPLICADO DESTE ENDEREÇO:
 http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/04/jornalista-cubana-e-impedida-de-entrar-nos-eua.html

 

terça-feira, 2 de abril de 2013

Seca: em 2013 o pesadelo continua

Desde o final de 2012 os meteorologistas anunciaram que as chuvas no nordeste, durante o período de maior incidência – entre fevereiro e maio – estavam abaixo da média, o clima era considerado seco, muito seco e extremamente seco, nos 969 mil km2 que envolvem o semiárido brasileiro. Drama chega até o Recife (foto), onde já há racionamento.

Najar Tubino

Não é só pelo racionamento que iniciou em Recife semana passada e está programado para durar três meses, porque uma das barragens que abastece a cidade tem apenas 19% da sua capacidade. Desde o final de 2012 os meteorologistas anunciaram que as chuvas no nordeste, durante o período de maior incidência – entre fevereiro e maio – estavam abaixo da média, o clima era considerado seco, muito seco e extremamente seco, nos 969 mil km2 que envolvem o semiárido brasileiro. É a região árida mais populosa do planeta, com cerca de 25 milhões de habitantes, sendo 1.133 municípios enquadrados como semiárido, inclui nove estados nordestinos e o norte de Minas Gerais.

Para a ONU estamos na década de combate à desertificação, se encerrará em 2020. Desde 1997 o Brasil é signatário da Convenção de Combate à Desertificação, por um motivo muito simples: pelos menos 46% da área do semiárido esta susceptível à desertificação. No mundo o problema atinge 33% da superfície terrestre, envolvem quase três bilhões de pessoas. São perdidas anualmente 24 bilhões de toneladas de solo. Na América Latina, o problema atinge 11 países e uma área que varia de 357 milhões de hectares até mais de 500 milhões.

Histórico de horrores
É um problema grave que se torna ainda maior levando em consideração o histórico no país e no mundo. As secas das décadas de 1870 a 1890 mataram milhões de pessoas no mundo. Uma delas dizimou mais de 500 mil sertanejos no nordeste. Mais recente, a seca dos anos 1979 a 1983, matou pelo menos 700 mil pessoas, segundo relatos oficiais. A população rural do semiárido caiu entre os anos 2000 e 2010 em 5,7%, passou de pouco mais de 43% para 38%. Mais de 520 mil pessoas deixaram a área rural nesse período.

Existem outros dados para traçar o perfil do semiárido, hoje em dia. A começar pela implantação dos programas de benefício para as pessoas que não tem renda. No caso do semiárido 50% não contam com renda, ou apenas recebem os benefícios dos programas oficiais, na sua maioria (59,5%) são mulheres. Cerca de cinco milhões dispõem de apenas um salário mínimo, sendo 47% mulheres. Somente 5,5% recebem renda entre dois e cinco salários mínimos. E apenas 0,15% tem renda acima de 30 salários. Este é um perfil divulgado pela ASA, a Articulação do Semiárido, formada por mais de mil organizações e está presente em toda a região. Foi criada no final da década de 1990. Em 1993, os trabalhadores rurais ligados à CONTAG invadiram a sede da SUDENE, na época a entidade governamental que monopolizava as ações no nordeste.

Um milhão de cisternas
A ASA foi organizada com o objetivo de mudar o panorama do semiárido, trabalhando com a realidade dos sertanejos e a construção de alternativas para lidar com as agruras do sertão. O uso sustentável dos recursos naturais, a recomposição ambiental e a quebra do monopólio de acesso a terra, água e outros meios de produção, além do apoio a difusão de métodos, técnicas e procedimentos, que contribuam para a convivência com o semiárido, ao lado da campanha maior, que era a construção de um milhão de cisternas – capacidade para 16 mil litros. Segundo informações oficiais, o governo federal entregou 150 mil cisternas em 2012, somando 237 mil no biênio 2011-2012. Também no ano passado foram usados 4.292 carros pipas em mais de 700 municípios. O chamado PAC Prevenção do Semiárido realizou obras de R$2,2 bilhões, incluindo a primeira etapa da adutora no rio Pajeú, que foi entregue recentemente. Também o programa Bolsa Estiagem beneficiou 881 mil agricultores, o seguro safra pago a outros 768 mil produtores.

São situações que não existiam antes do Programa Nacional de Prevenção à Desertificação e combate aos efeitos da seca lançado em 2004. Mas que ainda estão longe de mudar o panorama real dos sertanejos, quando a seca aperta. O professor Aziz Ab’sáber dizia que era falácia ensinar o nordestino a conviver com a seca. Mas o problema econômico da região é histórico. Desde a época da instalação das fazendas de gado para produção de carne, couro e animais de tração e manter a indústria canavieira escravocrata da zona da mata. Passando pela implantação de lavouras de algodão arbóreo, aproveitando a guerra civil norte-americana(1860-1865).

Efeito inglês
Mike Davis, em seu livro Holocaustos Coloniais, relata este fenômeno, que antecipou a tragédias das secas de 1877 e depois 1888. Em 1845 foram exportados 162.265 kg de algodão do porto de Recife. Saltou para oito milhões de quilos em 1871. Exportação dos ingleses para as indústrias de Manchester. Depois trocaram o algodão do semiárido pelo algodão de fibra longa do Egito. Depois veio a praga do bicudo e praticamente acabou com o cultivo do algodão.

Conviver com a seca significa reter a água na época das chuvas – variam de 200 a 800mm em média. Os solos da caatinga são pedregosos, cristalinos, como dizem os geólogos, e tem um declive que corre diretamente para os rios. Se for enxurrada, leva a terra. Se a temperatura aumenta, como ocorre agora com as mudanças climáticas, também aumenta a evaporação. Foi o que disse o pesquisador Carlos Nobre, em um seminário do Instituto Nacional do Semiárido, realizado em Campina Grande na Paraíba, em 2011:

“O bioma caatinga – quer dizer mata branca na língua indígena – está entre os mais vulneráveis, num cenário de aumento das temperaturas globais, o que coloca a região nordeste do Brasil em um estado especial de alerta, pois há uma forte pressão para a desertificação da região”.

Ele citou levantamentos da estação meteorológica de Araripina(PE), no período 1961-2009, onde apontavam para um aumento de quatro graus centígrados na temperatura máxima diária e diminuição média de 275mm de chuvas em oito postos no vale do rio Pajeú, em Pernambuco.

“A diminuição das chuvas acompanhadas de aumento nas estiagens de 20 para 35 dias, com aumento nos eventos de precipitações intensas que passou de cinco para nove ocorrências por ano. Tais sinais constituem evidência de que processos de aridificação estão em curso nas áreas estudadas no interior de Pernambuco”, explicou Carlos Nobre.

A Agência Nacional de Águas (ANA) em um estudo de 2005 fez a seguinte previsão para 2025, em relação ao nordeste:

“Mais de 70% das cidades do semiárido nordestino, com população acima de cinco mil habitantes enfrentarão crise de abastecimento de água para o consumo humano até 2025. Problemas de abastecimento deverão atingir cerca de 41 milhões de habitantes da região do semiárido e entorno, levando em conta o aumento da população e da demanda por água em nove estados e cerca de 1300 municípios, além do norte de Minas Gerais”.

Carvão da caatinga
Em outro trabalho do PAN-Brasil sobre a situação do semiárido em Minas Gerais, que na verdade quando se trata do Vale do Jequetinhonha estamos falando das “Gerais” e não das minas. A área susceptível à desertificação envolve 142 municípios no norte de Minas, Mucuri e o Vale do Jequetinhonha ( 177 mil km2, 30,3% da área do estado) e 2,2 milhões de pessoas. No item referente à atividade econômica da região consta que 29% é exploração de carvão vegetal com origem nativa. Quer dizer, derruba a pouca mata do semiárido para produzir carvão, que vão abastecer as guserias no Vale do Aço.

Presenciei esse trânsito de carretas abarrotadas de carvão, numa estrada que era pura areia, no sul da Bahia em direção ao norte de Minas. A criação de bovinos atinge 27,9% da atividade econômica. Na região considerada subúmido seco, 38,7% da economia expressava a produção de carvão vegetal. Diz o relatório, divulgado em 2010, pelo governo mineiro:

“O somatório das áreas desmatadas para a produção de carvão provoca um comprometimento ambiental de alto impacto.”

Se fosse traduzir isso diria que estão colocando fogo na própria casa. O crescimento da população do vale do Jequetinhonha nos últimos 30 anos é inferior a 1%.

Na década de 1960 a caatinga, considerada um ecossistema único no mundo, com suas 148 espécies de mamíferos, 348 espécies de aves, 107 espécies de répteis e 47 de anfíbios, e seus 87 milhões de hectares tinha 88% do bioma preservado. Agora são 28%. Um grupo de profissionais da Universidade Federal do Ceará fez um estudo sobre os efeitos da seca em 2012. Também incluíram o distrito de Iguaçu, no município de Canindé (CE), onde moram pouco mais de 800 pessoas e desenvolvem projetos de convivência com o semiárido, como barragens subterrâneas.

A queda na produção de milho e feijão dos estados da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, para citar um exemplo, é maior que 90%. O caso mais grave da Paraíba. A produção de grãos do Ceará caiu 88%. O Ceará é o estado com maior número de beneficiados do seguro contra a safra, deve passar dos 300 mil em 2013. O pagamento deve aumentar de R$700 para R$1.2 mil. No nordeste no final de 2012 estavam em estado de emergência 1.196 municípios. A Bahia tinha o maior número 262, seguida por Paraíba com 178 e Ceará com 177.

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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Globo cala jornalista

Por Eliakim Araújo

Vou usar este espaço hoje, para solidarizar-me com Luiz Carlos Azenha, um correto e honesto jornalista,  que edita um dos mais respeitados blogs da mídia alternativa brasileira, o Viomundo

Azenha, que deixou a Globo em 2006, “enojado” com a parcialidade da emissora na cobertura da campanha eleitoral daquele ano, vinha incomodando os poderosos da antiga emissora, porque sabia demais.

Foi testemunha ocular e auditiva de um sem número de manobras praticadas no submundo do jornalismo global, cujo feitor era (e continua sendo) Ali Kamel, o homem encarregado pela família Marinho de reescrever a história recente do Brasil a partir da ótica do Jardim Botânico, numa operação destinada a limpar o passado comprometido da emissora com a ditadura militar.

Azenha - que não recebe um tostão dos anunciantes que fazem a fortuna da grande mídia - foi penalizado pela Justiça que o condenou a pagar R$ 30 mil ao subserviente Ali Kamel.  Na última sexta-feira, Azenha anunciou o fechamento de seu blog, por falta de condições financeiras de brigar contra o poder da Globo.

Azenha jogou a toalha, mas estou certo de que seu exemplo de determinação e coragem vai germinar e fortalecer a luta pela democratização dos meios de comunicação no Brasil.  Leia aqui a nota em que Azenha explica as razões que o levam a desistir do Viomundo.

Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa

por Luiz Carlos Azenha

Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.

Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.

Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.

Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.

Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.

Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.

Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.

Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.

Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.

Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.

No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.

Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.

Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.

Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.

Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.

Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.

Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.

O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.

Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.

Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?

O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.

Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.

Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.

Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão— entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.

Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.

E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.

Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.

Eu os vejo por aí.

PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.

PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.

 
TEXTO RETIRADO DESTE ENDEREÇO: