segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

OS IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA

Controlados pelos rentistas (especuladores)
A globalização financeira tem produzido um conjunto de fenômenos profundamente nocivos para a população em geral e, especialmente, para as nações da periferia e para seus povos. Em todos os países em que a globalização financeira passou a hegemonizar as relações econômicas, o Estado ampliou aceleradamente o seu endividamento para bancar os custos de especulação (juros e amortização da dívida pública), resultado numa enorme transferência de recursos públicos para o setor financeiro. Também em praticamente em todos os países do sistema capitalista ocorreu um aumento da concentração da renda, que beneficiou sobremaneira a riqueza da esfera financeira; observou-se também, ao contrário do contrato social fordista, uma redução acentuada no poder de compra dos salários. Bem verificou-se restrição aos direitos e garantias dos trabalhadores, muitos deles conquistados há cerca de um século ou mais; a crise do Estado teve como consequência a imposição de severos cortes nos gastos sociais, gerando aumento da pobreza e da miséria no mundo, inclusive nos próprios países centrais.

Como podemos observar, tanto os países centrais quanto os países periféricos aumentaram aceleradamente o endividamento público, com impactos profundamente negativos para a sociedade. Se tomarmos os países da OCDE em seu conjunto, como referência, constataremos que o endividamento em relação ao PIB cresceu de 40,2% em 1980 para 71,1% em 1999. Com relação aos países do G-7 o crescimento da dívida foi semelhante: passou de 41,5 para 73,2% no mesmo período. Nos Estados Unidos a dívida cresceu de 37% para 59,7%; na Alemanha de 31,1% para 64,2%; e no Japão, de 51,2% para 99,55%. Nos países da periferia capitalista, o endividamento do Estado também foi crescente: no Brasil, por exemplo, a dívida pública aumentou de 20% para 54% do PIB entre 1994 e 2001 (Beinstein, 2001, p. 188).

Dívida  pública como percentagem do PIB

País
1980
1990
1999
Países do G7
41,5%
58,3%
73,2%
Países da OCDE
40,2%
57,1%
71,1%
Estados Unidos
37,0%
55,5%
59,7%
Alemanha
31,1
45,5
64,2
Japão
51,2%
65,1%
66,5%

Isso significa que o capital financeiro especulativo encontrou um espaço de valorização muito importante, uma vez que os recursos arrecadados pleo Estado compõem-se da mais-valia geral produzida pelos trabalhadores. Anteriormente,parte dos recursos destinados ao pagamento da dívida era acentuadamente menor que no atual período da globalização, além do fato de que grande parte da dívida era resultado de investimentos governamentais tanto na construção de infraestrutura, equipamentos sociais e políticas sociais em geral, típicas do período do Welfare State. Agora o endividamento tem um outro caráter: trata-se de um aumento da dívida em função do aumento das taxas de juros. Em outros termos, o capital financeiro especulativo não só capturou uma parte importante da mais-valia retirada pelo Estado em forma de tributos, como encilhou o orçamento público na armadilha da globalização financeira, retendo para si recursos imprescindíveis que antes eram redistribuídos em forma de bens e serviços para a sociedade.
A política econômica oriunda do processo de globalização neoliberal, ao privilegiar a estabilização monetária em detimento do crescimento econômico, desencadeou o processo especulativo como norma estrutural do sistema. Essa conjuntura resultou numa que no nível da atividade econômica e na estagnação industrial. Podemos aferir uma conjuntura qualitativamente diferente entre o período em que a propriedade econômica era a tônica do desenvolvimento, e o período atual, no qua a estabilidade da moeda é o centro das preocupações macroeconômicas. Entre 1966 e 1973 o crescimento médio do Produto Bruto Mundial foi de 5,3%; entre 194-1980, foi de 3,4%; entre 1981 e 1990, 3,1% e entre 1991 e 1999, 2,8%.

Taxas anuais do crescimento real do Produto Mundial - 1966-1999(%)-
Anos (%)
1966-1973 5,2
1974-1980 3,4
1981-1990 3,1
1991-1999 2,8

O quadro de desaceleração do nível da atividade econômica não só deprime a economia mundial, mas também amplia as taxas de desemprego e de exclusão social nos países de industrialização madura. Na União Europeia, por exemplo, o desemprego aumentou de 8 milhões de trabalhadores em 1980 para 17 milhões em 1999. No conjunto dos países da OCDE, o desemprego subiu de 20 milhões em 1980 para 40 milhões em 2000, refletindo um cenário em que as taxas de desocupação se mantêm rígidas, independentemente do ciclo econômico. Até mesmo no Japão, considerado o paraíso do emprego, em função da estabilidade vitalícia para um setor significativo dos trabalhadores, a taxa de desemprego vem aumentando acentuadamente. Ao longo da década de 1980 o desemprego no país estava na faixa de 2% da população ativa e cresceu na década de 1990 para 2,9%, em 1994, 3,3%, em 1996 e fechou 1998, com uma taxa de desocupação da mais de 4%, ou seja, um índice duas vezes maior que na década de 1980 (Beinstein, 2001, p. 66).

Segundo dados da OCDE, nos Estados Unidos, as agências de trabalho temporário administravam 400 mil assalariados em 1982, passando a 1,3 milhão em 1990 e a 2,1 milhões em 1995. Na Inglaterra, o trabalho temporário abrangia 7% da população ativa. (Beinstein, 2001, p. 68).

De acordo com os dados levantados por este autor, a faixa correspondente aos 40% mais pobres da população ativa empregada dos Estados Unidos, a nação mais rica do planeta, sofreu regressão em seu rendimento, entre 1973 e 1993, enquanto as faixas correspondentes aos 40% mais ricos foram os que mais se beneficiaram com a globalização.

Conforme Beinstein (2001), quanto maior o nível de renda maior o benefício; quanto menor a faixa de renda maior o prejuízo no período. Os 10% mais pobres nos EUA sofreram queda de cerca de 35% dos seus rendimentos, enquanto os 10% mais ricos aumentaram sua renda em mias de 25%. Por sua vez, indica o crescimento absoluto do número de pobres nos Estados Unidos: em 1970, eles correspondiam a 25, 7 milhões; em 1980 cresceram para 29,3 milhões. Em função das políticas neoliberais, o aumento dos pobres cada vez mais crescente: 33,6 milhões, em 1990 e 35,6 milhões, em 1997 (Beinstein, 2001, p. 188).

Pobres nos EUA em milhões de pessoas - 1970 - 1997
1970
25,7
1977
24,7
1980
29,3
1987
32,2
1990
33,5
1997
35,6

Macroeconomicamente, a conjuntura mundial está mais instável do que no período do Welfare State, tanto nos países centrais, quanto nos países da periferia. A crise fiscal dos Estados, aliadas à instabilidade monetária, o desemprego e as crises sociais compõem um quadro de instabilidade sistêmica, no qual a globalização neoliberal vai se aprofundando. Por mais paradoxal que paeça e por mais que muitos dos principais teóricos e antigos operadores do modelo de globalização neoliberal venham alertando (George Soros, Krugman etc.), o que se verifica é uma teimosia cega, principalmente por parte dos Estados Unidos, em aprofundar o modelo, fato que pode acelerar a crise geral do sistema.

Textos relacionados:
Os Apologistas da Globalização
O Comando das Transnacionais
Confissões de um Assassino Econômico.
Aquilo que nos Devora.

TEXTO RETIRADO DO LIVRO
COSTA, Edmilson, A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo. Editora Expressão Popular – São Paulo - 2008

3 comentários:

  1. Olá, tudo bem? Se não fosse a globalização, o Brasil não teria obtido crescimento econômico, graças à valorização das commodities, especialmente o minério de ferro... Abraços, Fabio www.fabiotv.zip.net

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  2. Achei interessante, mas, com respeito ao quadro de pobres nos EUA que almentaram, para saber o real almente, não seria necessário saber o quanto a população aumentou também ?

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    1. A população dos paises chamados do primeiro mundo permanece constante já faz uns dez anos.

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