Controlados pelos rentistas (especuladores) |
A globalização financeira tem produzido um conjunto de fenômenos profundamente nocivos para a população em geral e, especialmente, para as nações da periferia e para seus povos. Em todos os países em que a globalização financeira passou a hegemonizar as relações econômicas, o Estado ampliou aceleradamente o seu endividamento para bancar os custos de especulação (juros e amortização da dívida pública), resultado numa enorme transferência de recursos públicos para o setor financeiro. Também em praticamente em todos os países do sistema capitalista ocorreu um aumento da concentração da renda, que beneficiou sobremaneira a riqueza da esfera financeira; observou-se também, ao contrário do contrato social fordista, uma redução acentuada no poder de compra dos salários. Bem verificou-se restrição aos direitos e garantias dos trabalhadores, muitos deles conquistados há cerca de um século ou mais; a crise do Estado teve como consequência a imposição de severos cortes nos gastos sociais, gerando aumento da pobreza e da miséria no mundo, inclusive nos próprios países centrais.
Como podemos observar,
tanto os países centrais quanto os países periféricos aumentaram
aceleradamente o endividamento público, com impactos profundamente
negativos para a sociedade. Se tomarmos os países da OCDE em seu
conjunto, como referência, constataremos que o endividamento em
relação ao PIB cresceu de 40,2% em 1980 para 71,1% em 1999. Com
relação aos países do G-7 o crescimento da dívida foi semelhante:
passou de 41,5 para 73,2% no mesmo período. Nos Estados Unidos a
dívida cresceu de 37% para 59,7%; na Alemanha de 31,1% para 64,2%; e
no Japão, de 51,2% para 99,55%. Nos países da periferia
capitalista, o endividamento do Estado também foi crescente: no
Brasil, por exemplo, a dívida pública aumentou de 20% para 54% do
PIB entre 1994 e 2001 (Beinstein, 2001, p. 188).
Dívida pública como percentagem do PIB
País |
1980
|
1990
|
1999
|
Países do G7 |
41,5%
|
58,3%
|
73,2%
|
Países da OCDE |
40,2%
|
57,1%
|
71,1%
|
Estados Unidos |
37,0%
|
55,5%
|
59,7%
|
Alemanha |
31,1
|
45,5
|
64,2
|
Japão |
51,2%
|
65,1%
|
66,5%
|
Isso significa que o capital financeiro especulativo encontrou um espaço de valorização muito importante, uma vez que os recursos arrecadados pleo Estado compõem-se da mais-valia geral produzida pelos trabalhadores. Anteriormente,parte dos recursos destinados ao pagamento da dívida era acentuadamente menor que no atual período da globalização, além do fato de que grande parte da dívida era resultado de investimentos governamentais tanto na construção de infraestrutura, equipamentos sociais e políticas sociais em geral, típicas do período do Welfare State. Agora o endividamento tem um outro caráter: trata-se de um aumento da dívida em função do aumento das taxas de juros. Em outros termos, o capital financeiro especulativo não só capturou uma parte importante da mais-valia retirada pelo Estado em forma de tributos, como encilhou o orçamento público na armadilha da globalização financeira, retendo para si recursos imprescindíveis que antes eram redistribuídos em forma de bens e serviços para a sociedade.
A política econômica
oriunda do processo de globalização neoliberal, ao privilegiar a
estabilização monetária em detimento do crescimento econômico,
desencadeou o processo especulativo como norma estrutural do sistema.
Essa conjuntura resultou numa que no nível da atividade econômica e
na estagnação industrial. Podemos aferir uma conjuntura
qualitativamente diferente entre o período em que a propriedade
econômica era a tônica do desenvolvimento, e o período atual, no
qua a estabilidade da moeda é o centro das preocupações
macroeconômicas. Entre 1966 e 1973 o crescimento médio do Produto
Bruto Mundial foi de 5,3%; entre 194-1980, foi de 3,4%; entre 1981 e
1990, 3,1% e entre 1991 e 1999, 2,8%.
Taxas anuais do crescimento real do Produto Mundial - 1966-1999(%)-
Anos | (%) |
1966-1973 | 5,2 |
1974-1980 | 3,4 |
1981-1990 | 3,1 |
1991-1999 | 2,8 |
O quadro de
desaceleração do nível da atividade econômica não só deprime a
economia mundial, mas também amplia as taxas de desemprego e de
exclusão social nos países de industrialização madura. Na União
Europeia, por exemplo, o desemprego aumentou de 8 milhões de
trabalhadores em 1980 para 17 milhões em 1999. No conjunto dos
países da OCDE, o desemprego subiu de 20 milhões em 1980 para 40
milhões em 2000, refletindo um cenário em que as taxas de
desocupação se mantêm rígidas, independentemente do ciclo
econômico. Até mesmo no Japão, considerado o paraíso do emprego,
em função da estabilidade vitalícia para um setor significativo
dos trabalhadores, a taxa de desemprego vem aumentando
acentuadamente. Ao longo da década de 1980 o desemprego no país
estava na faixa de 2% da população ativa e cresceu na década de
1990 para 2,9%, em 1994, 3,3%, em 1996 e fechou 1998, com uma taxa de
desocupação da mais de 4%, ou seja, um índice duas vezes maior que
na década de 1980 (Beinstein, 2001, p. 66).
Segundo dados da
OCDE, nos Estados Unidos, as agências de trabalho temporário
administravam 400 mil assalariados em 1982, passando a 1,3 milhão em
1990 e a 2,1 milhões em 1995. Na Inglaterra, o trabalho temporário
abrangia 7% da população ativa. (Beinstein, 2001, p. 68).
De
acordo com os dados levantados por este autor, a faixa correspondente
aos 40% mais pobres da população ativa empregada dos Estados
Unidos, a nação mais rica do planeta, sofreu regressão em seu
rendimento, entre 1973 e 1993, enquanto as faixas correspondentes aos
40% mais ricos foram os que mais se beneficiaram com a globalização.
Conforme
Beinstein (2001), quanto maior o nível de renda maior o benefício;
quanto menor a faixa de renda maior o prejuízo no período. Os 10%
mais pobres nos EUA sofreram queda de cerca de 35% dos seus
rendimentos, enquanto os 10% mais ricos aumentaram sua renda em mias
de 25%. Por sua vez, indica o crescimento absoluto do número de
pobres nos Estados Unidos: em 1970, eles correspondiam a 25, 7
milhões; em 1980 cresceram para 29,3 milhões. Em função das
políticas neoliberais, o aumento dos pobres cada vez mais crescente:
33,6 milhões, em 1990 e 35,6 milhões, em 1997 (Beinstein, 2001, p.
188).
Pobres nos EUA em milhões de pessoas - 1970 - 1997
1970
|
25,7
|
1977
|
24,7
|
1980
|
29,3
|
1987
|
32,2
|
1990
|
33,5
|
1997
|
35,6
|
Macroeconomicamente,
a conjuntura mundial está mais instável do que no período do
Welfare State, tanto nos países centrais, quanto nos países da
periferia. A crise fiscal dos Estados, aliadas à instabilidade
monetária, o desemprego e as crises sociais compõem um quadro de
instabilidade sistêmica, no qual a globalização neoliberal vai se
aprofundando. Por mais paradoxal que paeça e por mais que muitos dos
principais teóricos e antigos operadores do modelo de globalização
neoliberal venham alertando (George Soros, Krugman etc.), o que se
verifica é uma teimosia cega, principalmente por parte dos Estados
Unidos, em aprofundar o modelo, fato que pode acelerar a crise geral
do sistema.
Textos relacionados:
Os Apologistas da Globalização
O Comando das Transnacionais
Confissões de um Assassino Econômico.
Aquilo que nos Devora.
TEXTO RETIRADO DO LIVRO
COSTA, Edmilson, A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo. Editora Expressão Popular – São Paulo - 2008
Olá, tudo bem? Se não fosse a globalização, o Brasil não teria obtido crescimento econômico, graças à valorização das commodities, especialmente o minério de ferro... Abraços, Fabio www.fabiotv.zip.net
ResponderExcluirAchei interessante, mas, com respeito ao quadro de pobres nos EUA que almentaram, para saber o real almente, não seria necessário saber o quanto a população aumentou também ?
ResponderExcluirA população dos paises chamados do primeiro mundo permanece constante já faz uns dez anos.
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