sexta-feira, 28 de novembro de 2014

EUA: Onda de revolta contra impunidade policial

Pelo menos 170 cidades de 37 Estados são palco de protestos contra a decisão do grande júri no sentido de não indiciar o policial Darren Wilson.

Esquerda.net
Pelo menos 170 cidades norte americanas de 37 Estados são palco de protestos contra a decisão do grande júri no sentido de não indiciar o policial Darren Wilson pela morte de Michael Brown, o jovem negro de 18 anos atingido com seis tiros em 9 de agosto. A cidade de Ferguson encontra-se em estado de emergência.

Milhares de manifestantes invadiram as ruas para exigir justiça pela morte de Michael Brown, acusando as autoridades de violência policial, de racismo e intolerância, e de gozarem de um estatuto de total impunidade.

Ao contrário do que aconteceu noutras localidades, onde os protestos foram marcados por marchas pacíficas e concentrações, Ferguson tornou-se palco de violentos confrontos. Carros e edifícios incendiados, vidros de lojas partidos, tiros e explosões e um enorme contingente composto por polícia de choque, FBI, Swat e Guarda Nacional. Este é o cenário na cidade do Missouri.

Nos últimos dois dias já foram detidas mais de 100 pessoas. O subúrbio de cerca de 20 mil habitantes na área metropolitana de St. Louis está em estado de emergência. As autoridades levantaram barricadas de cimento junto à esquadra da polícia, as escolas foram encerradas e vários estabelecimentos comerciais estão entaipados.

Família de Brown afirma-se decepcionada

Numa nota enviada à imprensa, a família de Michael Brown afirmou-se "desapontada" com a decisão do grande júri. "Estamos profundamente decepcionados pelo fato de o assassino do nosso filho não ter de sofrer as consequências dos seus atos", afirmou a família do jovem, apelando ao fim da violência e à promoção de manifestações pacíficas.

"Juntem-se a nós na nossa campanha para que todos os polícias nas ruas deste país usem uma câmara acoplada ao seu corpo. Pedimos-vos, respeitosamente, que protestem pacificamente. Responder violência com violência não é a reação mais apropriada", lê-se no comunicado.

O advogado da família, Benjamin Crump, denunciou o processo judicial como “totalmente injusto” e exigiu a nomeação de um procurador especial que reabra a investigação. “Condenamos a violência que aconteceu na noite passada, da mesma maneira que condenamos a violência que aconteceu a 9 de Agosto contra Michael Brown”, avançou o advogado. “Exigimos que todas as diligências sejam esgotadas e que a justiça seja efetivamente aplicada”, frisou.

Obama apela à calma

Já Obama sublinhou a necessidade de aceitar a decisão do grande júri.

“Alguns americanos concordam [com a decisão] e alguns americanos estão profundamente desiludidos e até zangados. É uma reação compreensível. Mas o nosso país assenta no respeito pela lei, e temos de aceitar a decisão que competia ao grande júri”, destacou.

Policial afirma ter a consciência limpa

Ainda que Michael Brown estivesse desarmado, o agente que o matou com seis tiros argumenta que temia pela sua vida quando disparou e que tem “a consciência limpa”, considerando que agiu corretamente.

Em entrevista à ABC News, Darren Wilson afirmou que voltaria a agir da mesma forma.


Créditos da foto: http://www.huffingtonpost.com/
Texto original: CARTA MAIOR

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Requião: Regular a mídia é medida sanitária, “de emergência pública”

publicado em 24 de novembro de 2014 às 17:20


Discurso do senador Roberto Requião, via e-mail

Há nesta Casa senadoras e senadores que são radicalmente contra qualquer tipo de regulação da mídia.

A justificativa é sempre a mesma: a defesa da liberdade de imprensa. Mas, respondam-me. A propriedade cruzada de meios de comunicação, isto é, o fato de o mesmo grupo empresarial controlar jornais, revistas, rádios, televisões, internet não favorece a monopolização da informação e o consequente manejo de opinião?

Não terá sido por isso que países com instituições sólidas e uma longuíssima estabilidade democrática, como Estados Unidos e Inglaterra, proíbem a propriedade cruzada de meios de comunicação?

A inexistência de qualquer mecanismo que permita ao cidadão o direito de resposta, no caso de notícia mentirosa, injuriosa, ofensiva não significa uma grave ofensa à liberdade de informação e às liberdades individuais?

A unificação e centralização das programações, especialmente nas televisões e no rádio, impostas pelas emissoras que detém o monopólio dessas mídias, cerceando as manifestações culturais regionais, nesse Brasil tão imenso e diverso, não são, igualmente, formas de censura e discriminação e até mesmo preconceito?

A ideologização e partidarização das informações, e a autocensura, que tornam as notícias tendenciosas, cegas, enviesadas não são um gravíssimo atentado à liberdade de informação e ao direito do cidadão de conhecer a verdade dos fatos?

Os dois pesos e as duas medidas usados pelos veículos de comunicação das cinco famílias que monopolizam o setor, na campanha eleitoral deste ano, quer na campanha presidencial quer nas campanhas regionais, não são a prova mais barulhenta do propósito de manipular a opinião pública?

Os gráficos produzidos por observatórios de mídia independentes, durante as eleições presidenciais, avaliando os conteúdos veiculados pelas organizações Globo, Abril, Folha, Estadão, principalmente, não deixam a mais fugaz, fugidia dúvida da parcialidade da cobertura desses veículos.

Ninguém, nenhum jornalista, nenhum parlamentar, nenhum juiz, nenhum promotor, nenhum acadêmico, qualquer cidadão minimamente isento e honesto, confrontado com ao gráficos, deixará de atestar essa parcialidade.

Nada contra. Afinal o parti pris desses veículos é bem conhecido, o que os pressiona a assumir posições indisfarçadas.

O que não é honesto, o que soa cínico, zombeteiro, debochado e hipócrita são as profissões de fé de praticantes de um jornalismo isento, equilibrado e aquele truísmo todo.

Melhor fosse que assumissem limpidamente apoio às candidaturas conservadoras, pelas quais torcem e distorcem. Seria mais digno, mais decente, do que ficarem brandindo indevidamente a bandeira da liberdade de imprensa, cada vez que se aponte a sua nudez, as suas vergonhas expostas.

O caso da capa de “Veja”, a dois dias do segundo turno, é exemplar. E houve até estranhamento entre veículos da dita grande imprensa, com um acusando o outro de frouxo, pusilânime por não repercutir a intrujice.Mas todos, de uma forma ou outra ecoaram a mentira.

Vejam só o que disse o procurador geral Janot sobre o episódio à Folha de S. Paulo: “Estava visível que queriam interferir no processo eleitoral. O advogado do Alberto Youssef operava para o PSDB do Paraná, foi indicado pelo [governador] Beto Richa para a coisa de saneamento [Conselho de administração da Sanepar], tinha vinculação com partido. O advogado começou a vazar coisa seletivamente. Eu alertei que isso deveria parar, porque a cláusula contratual diz que nem o Youssef nem o advogado podem falar. Se isso seguisse, eu não teria compromisso de homologar a delação”.

A Folha, que gostaria que a Globo fosse a fundo na divulgação da mentira de “Veja”, nem ficou corada ao reproduzir, semanas depois, as declarações do procurador.

Já outros veículos, da sagrada e seleta família, não se deram à ocupação de repercutir a gravíssima acusação de Janot.

A prisão de empreiteiros, acusados de vínculos com os desvios na Petrobrás, deu azo a outras manifestações de parcialidade, de partidarismo de nossa mídia.

Mesmo que o ex-ministro tenha negado fortemente, a grande família mediática vinculou um dos diretores da Petrobrás preso a José Dirceu.

E classificou o indigitado de “engenheiro mediano”, para desqualificar ainda mais o suposto padrinho.

Ao noticiar o montante da contribuição das empreiteiras às campanhas eleitorais, porque a bufunfa, o capilé envolvia outros partidos, além dos dois enlameados de sempre, o PT e o PMDB, a mídia não citou qualquer partido. Foi isenta.

É assim, selecionando os fatos e a verdade dos fatos que organizações Globo, Abril, Folha e Estadão, com seus fortes parceiros regionais no Sul, em Minas, no Norte e no Nordeste moldam a opinião pública.

Os clássicos mapas, partindo o país em vermelho e azul, como se o Norte, o Nordeste, Minas e Rio houvessem votado em peso em Dilma e o restante do país houvesse votado cem por cento em Aécio estimularam o ódio, o preconceito, o separatismo, o racismo e uivos fascistas.

E vociferações de um lacerdismo serôdio, adjetivo tão fora de moda que uso em homenagem aos eternos vigilantes, sempre à espreita de um golpe que os redima do fracasso das urnas.

A desclassificação especialmente dos nordestinos, diminuindo-lhes o peso do voto, um ensaio patético de reinstituição do voto censitário, tem o mesmo sentido da campanha conservadora que pretendia anular a vitória de Juscelino Kubitschek, em 1955. Campanha, vê-se, a que aderiu a nossa mídia isenta, democrática e patriótica, sempre a serviço do Brasil.

Naquela eleição, Juscelino teve três milhões e setenta e sete mil votos; Juarez Távora, dois milhões e seiscentos mil votos. A diferença entre os dois foi de quatrocentos e sessenta mil votos. Foi essa diferença que animou Carlos Lacerda e a UDN a lançar a cruzada pela anulação da vitória de JK. Os udenistas argumentavam que os quase 500 mil votos que derrotaram Juarez Távora foram dados pelos comunistas, e como o Partido Comunista Brasileiro fora colocado na ilegalidade, os votos dos comunistas deveriam ser também cassados.

Mas como eles chegaram a esse cálculo se o voto era secreto? Comp distinguir os votos dos comunistas de outros votantes?

Elementar, diziam os udenistas. Nas eleições presidenciais de 1945, dez anos antes, quando o PCB era legal, o candidato dos comunistas, o gaúcho Yedo Fiuza, tivera 569 mil votos.

Ora, dez anos depois, era de se crer que todos os quase 500 mil votos que deram a vitória a Juscelino eram votos comunistas, já que Prestes orientara o voto em JK.

Tão simples assim, diziam os golpistas democráticos. Da mesma forma, hoje, 59 anos depois, com os seus mapas dicotômicos e desonestos, de um primarismo monstruoso, a mídia e os conservadores colocam em xeque, questionam a legitimidade da reeleição da presidente Dilma, por causa dos votos dos nordestinos, dos mais pobres, dos menos instruídos.

Já que o Brasil desenvolvido e mais instruído teria votado majoritariamente em Aécio, como disseram por aí e por aqui também, a reeleição não valeu. Aliás, nem isso é verdadeiro, uma vez que Dilma teve mais votos no Sul e no Sudeste que no Norte e no Nordeste.

Logo, o mapa dicotômico da mídia é uma fraude.Temos, assim, agora, a reprodução farsesca da tentativa de golpe udeno-lacerdista de seis décadas passadas.

De um lado, a mídia ecoa fortemente toda manifestação de inconformidade com a reeleição da presidente. Basta que duas pessoas se reúnam para exibir cartazes pedindo o impedimento da presidente, para que essa massiva demonstração ganhe as cabeças dos noticiários.

Ao mesmo tempo, exige que a presidente escolha “nomes do mercado” para a Fazenda e o Banco Central.

Perderam a eleição, a mídia e a oposição perderam a eleição, mas cobram que a vencedora adote programa do derrotado. E nem ficam constrangidos com tamanha desfaçatez. Afinal, julgam-se domos do país, reservas morais da nacionalidade.

A regulação da mídia é imprescindível para a preservação, a consolidação e o avanço da democracia. Porque a grande mídia empresarial é intrinsecamente golpista, geneticamente antidemocrática, arraigadamente elitista.

A regulação da mídia é condição inescusável para se garantir a soberania nacional. Porque os grupos que monopolizam a mídia são entreguistas e, historicamente, se opõem aos interesses nacionais, servindo de cabeça de ponte para o avanço imperial sobre a nossa economia, sobre os nossos recursos naturais, sobre as nossas riquezas, sobre o mercado interno, sobre as nossas relações externas.

Os mais velhos devem se lembrar que, segundo a mídia, o Brasil não tinha petróleo.

Agora mesmo, em voz casada os setores mais dependentes e integrados aos interesses multinacionais de nossa burguesia industrial, financeira e agrária, a mídia ergue as bandeiras antiMercosul, anti-Brics, pró-acordos bilaterais com os Estados Unidos e União Européia, pela ressurreição da Alca, da Teoria da Dependência, da Doutrina Truman, sabe-se lá que passo atrás mais.

A regulação da mídia é vital como a água à terra, como o oxigênio à vida. Porque a mídia monopolista é parte integrante de nossas elites econômicas, políticas, sociais, culturais. E as nossas elites fracassaram miseravelmente na construção de um país desenvolvido, pacífico, culto, justo e solidário.

Porque a mídia monopolista é conivente, quando não cúmplice, com o preconceito, o racismo, a discriminação, a violência contra os trabalhadores, contra os negros, os pardos, os pobres, contra os índios.

Porque a mídia monopolista é indiferente, quando não conluiada com a violência que abate, anualmente, mais de cem mil brasileiros, vítimas da repressão policial, da insegurança urbana e rural, do tráfico de drogas e do crime organizado. Dos acidentes de trabalho, dos atropelamentos no trânsito.

Porque as policias brasileiras estão entre as mais letais do mundo, e a mídia empresarial e monopolista estimula e afiança essa violência à medida que não a investiga, não a denuncia e não a combata. E, com frequência, a enalteça, contribuindo para apertar o gatilho dos executores.

A regulação da mídia é urgente e obrigatória porque a mídia monopolista e empresarial colabora e associa-se com a política de concentração de rendas que faz do Brasil um dos países mais desiguais e injustos do Planeta Terra.

Porque o imposto sobre fortunas, corriqueiro nos países mais desenvolvidos, tem da parte da mídia uma oposição fundamentalista e até mesmo rancorosa. Porque a inexistência desse imposto favorece ainda mais a concentração de rendas e o acúmulo de fortunas fantásticas, e relaciona alguns detentores de concessões públicas de televisão e rádio, como os irmãos Marinho, entre os bilionários mundiais.

A regulação da mídia é uma medida sanitária, de emergência pública.

Porque a mídia é omissa em relação à sonegação e às fraudes fiscais – quando não a pratica– e acoberta que os super-ricos brasileiros têm a quarta maior fortuna do mundo em paraísos fiscais. São mais de um trilhão de reais, cerca um terço de nosso PIB, esse mesmo PIB cuja anemia nos últimos anos a mídia, a oposição e a nossa indignada burguesia tanto tem criticado.

O país campeão em concentração de rendas, onde se alarga cada vez mais a distância entre ricos e pobres, é o país que está no G4 das maiores fortunas depositadas em paraísos fiscais. A regulação da mídia é uma medida anticorrupção, porque as denúncias de corrupção que a mídia monopolista faz são seletivas, parciais, incompletas, dirigidas.

Ou não é corrupção as manobras de que a mídia e os bancos se utilizam para sonegar impostos, fraudar o fisco, não pagar imposto sobre a renda ou pagar menos imposto de renda que os assalariados?

Tão ciosa em escarafunchar as fichas sujas de pequenos e médios delinquentes políticos, a mídia não se ocupa em escarafunchar a origem e a propriedade desse mais de um trilhão de reais refugiados em paraísos fiscais. Difícil investigar?

Não. Incômodo? Certamente. À moda norte-americana, alguns veículos passaram a divulgar o tal do “impostômetro”, uma medição presumida de quanto o Estado arrecada. Mas nenhum espaço para a medição, também suposta, da sonegação.

E já que adotamos a moda ianque, deveríamos também adotar a rigorosíssima a legislação norte-americana contra a sonegação.

A regulação da mídia é um ato de defesa do trabalho, do emprego e do salário. Porque a mídia monopolista defende, com radicalismo cada vez maior, o ponto de vista do mercado, do capital financeiro, da elite econômica que prega a adoção de medidas contracionistas que levarão ao desemprego, ao arrocho salarial, ao corte de gastos sociais, à diminuição dos investimentos em saúde, educação, segurança e infraestrutura.

A fúria com que a mídia monopolista reagiu à decisão do governo de reduzir os gastos com juros da dívida pública, redimensionando essa excrescência liberal chamada de superávit primário, é reveladora de seu compromisso com o capital financeiro, com os rentistas, e não com os brasileiros.

Senhores e senhores senadores, a mídia monopolista é a quinta coluna dos interesses antinacionais, antidemocráticos, antipopulares.Regular a mídia é salvar o país do atraso, da pobreza, da violência, da desindustrialização, da dependência da exportação de produtos primários, do sangramento da remessa de lucros para o exterior, do esgotamento de seus recursos naturais, da destruição do Estado que zele pelo bem-estar social. Porque a mídia monopolista não está a serviço do Brasil.

Texto original: VI O MUNDO

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Operação abafa está varrendo petrolão tucano para debaixo do tapete

As investigações da operação Lava Jato são só para petistas e, no máximo, para os peemedebistas. Para tucanos, impera a Operação Abafa.

Antonio Lassance


Primeiro, foi o mensalão. Agora, é o "petrolão". Em ambos os casos, o esquema de desvio de dinheiro público foi inventado desde o governo tucano de FHC - pelo menos -, mas só descoberto quando vieram os petistas.
Estamos aguardando Aécio Neves, que além de Senador é agora comentarista político do Jornal Nacional, aparecer no estúdio para confessar que continua com a ideia fixa de que tudo o que o PT fez e ampliou começou com FHC.

Há gente muito otimista quanto ao desfecho do atual escândalo, na linha de que não sobrará pedra sobre pedra e que todos serão tratados igualmente pela Polícia Federal do Paraná, pelo Ministério Público e pela Justiça.

Poderíamos citar Dante e sua Divina Comédia para recomendar a todos que deixem a esperança na porta, ao entrar; mas a situação combina mais com o bordão do compadre Washington (aquele do "sabe de nada, inocente").

Pouco adianta a constatação do Ministério Público de que o esquema que assaltou a Petrobras existe há pelo menos 15 anos.

Se não houver a devida investigação para dar nome aos bois do período FHC, a constatação cai no vazio - ou melhor, na impunidade.

O problema não é se vai sobrar pedra sobre pedra, mas para onde serão dirigidas as pedradas, se é que alguém ainda tem alguma dúvida.

A apuração feita pela Operação Lava Jato não é neutra. Os investigadores da PF encarregados do caso não são neutros, muito pelo contrário.

A maioria é formada por um grupo de extremistas que foram flagrados em redes sociais vomitando comentários raivosos e confessando suas opções partidárias. 
Se dependermos dessa gente diferenciada, não teremos Estado de Direito, mas Estado de direita.

O Código de Ética da associação nacional dos delegados da PF proíbe a seus membros a manifestação de preconceitos de ordem política. Mas alguém acha que esses vão sofrer qualquer reprimenda?

Alguém imagina que os deslizes, considerados ao mesmo tempo graves e primários por gente séria da própria PF, terão a punição que foi aplicada ao ex-delegado Protógenes Queiroz, que cometeu o crime hediondo de prender um banqueiro?

O PSDB tem sido zelosamente preservado nessa "investigação" que deveria feita na base do doa em quem doer. Balela.

A operação Lava Jato é só para petistas e, no máximo, para os peemedebistas. Para tucanos, impera a Operação Abafa.

O senador Álvaro Dias e o deputado Luiz Carlos Hauly, ambos tucanos do Paraná, citados por delatores, até agora estão absolutamente preservados.

O nome de Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB, já falecido, apareceu menos como uma revelação do que como um "boi de piranha". Guerra já não pode confessar nada nem sob tortura.

PT e PMDB têm seus operadores. O PSDB também, mas onde estará o infeliz? Certamente, por aí, limpando sua conta e seus rastros.

Quase metade da lista de políticos citados pelos delatores é formada por apoiadores da campanha de Aécio Neves em 2014 (confira aqui).

A sina persecutória dos delegados paranaenses chegou ao ponto de incriminar o atual Diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, sem qualquer prova, sem sequer testemunho. O crime do diretor estava apenas na pergunta dos investigadores.

Até mesmo um ex-diretor da PF nomeado por FHC considerou o episódio contra Consenza o cúmulo do absurdo, conforme relatado pelo jornalista Ilimar Franco em sua coluna. 

Isso não se faz, a não ser com segundas e terceiras intenções. Não foi erro material", como os investigadores alegaram, nem mera trapalhada, foi obra do comitê eleitoral da campanha tucana de terceiro turno.

As tartarugas do ministro da Justiça

Das duas tartarugas que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tinha que cuidar, uma já fugiu; a outra está escondida debaixo de seu nariz.

A defesa da autonomia da Polícia Federal, que é de uma obviedade gritante, não resolve uma dúvida crucial: a PF do Paraná tem autonomia para varrer a sujeira do PSDB para debaixo do tapete, ao sabor da preferência partidária de alguns investigadores?

Está claro que o comando da PF no Paraná tem autonomia suficiente para não ser aparelhada pelo PT, nem pelo PMDB, mas pode gozar de autonomia para ser aparelhada pelo PSDB?

Se depender do ministro Cardozo, claro que sim - é para isso que serve a autonomia - para que qualquer órgão público faça o que bem entender, com base nas conveniências de seus servidores.

Por sorte, ao alargarem o tamanho do escândalo, para que ganhasse ares superlativos - suficientes para serem aproveitados por uma oposição que, incapaz de ganhar eleições presidenciais, só vê saída no impeachment -, os investigadores cometeram um erro crasso. Comprometeram todo o sistema político. Excelente ideia.

A rigor, todo aquele que recebeu doações de qualquer dos envolvidos no escândalo deveria ter seu mandato cassado.

Considerando que a Polícia Federal paranaense chegou à conclusão de que não existe almoço grátis, de cada 10 parlamentares eleitos, pelo menos 4 deveriam ser impedidos de assumir o mandato. Agora, ou vai ou racha.

A investigação que Gilmar Mendes determinou que se faça contra as contas da campanha de Dilma, com uma força tarefa formada por TCU, Receita Federal e Banco Central, deve ter uma similar para Aécio e todos os demais candidatos, à exceção dos do PSOL, PSTU e PCO - os únicos que se livraram do pavoroso expediente de receber "doações" de empresas.

É uma pena que o anticomunismo dos investidores encarregados da operação os impeça de chegar à conclusão, em seu relatório, de quem ninguém presta na política nacional, salvo os comunistas. Todos os demais partidos, nessa lógica, estão infestados de ladrões.

Se negarem vinculação com o PSDB e continuarem a recusar simpatia aos comunistas, aos delegados paranaeses restará apenas o movimento Punk - se for essa a opção, contarão doravante com meu respeito.

Anedotário do Gilmar

Em qualquer escândalo, quem quer desviar para longe o faro da impensa precisa dar carne aos leões. Só assim se consegue conduzir o olhar para longe de quem se quer proteger e em direção a quem se quer atacar.

Pela milésima vez, uma operação-abafa é feita para esconder a sujeira da corrupção praticada pelo PSDB para debaixo do tapete, tal como foi feita com os mensalões do PSDB e do DEM, com o apoio do oligopólio midiático.

No STF, o ministro Gilmar Mendes vai na mesma linha. Mantém trancada há sete meses uma decisão que já conta com maioria do STF para abolir o financiamento empresarial de campanhas. Com Natal, Ano Novo e Carnaval, a decisão sequestrada por esse pedido de vistas fará aniversário em breve.

Não satisfeito, o ministro ainda se deu ao luxo de nos brindar com a piada, contada com sua voz de coveiro, de que o mensalão deveria ter ido para o juizado de pequenas causas.

A gracinha ocupou as manchetes como se fosse um desabafo, quando não passa de deboche com as instituições.
O anedótico Gilmar Mendes finge que o problema não é com ele, nem com o financiamento de privado, nem com empreiteiras, nem com corruptos que são sócios de políticos e partidos. O único problema - dele, pelo menos - é com o PT. O resto pouco importa.

No exato momento em que Gilmar fazia sua graça, a segunda tartaruga sob os cuidados de José Eduardo Cardozo fugia velozmente em plena Esplanada dos Ministérios.

Enquanto isso, tucanos e democratas continuam se fazendo de freiras castas pregando no bordel, mas sem dispensar as notas dobradas das empreiteiras, presas em suas apertadas calcinhas.

Mas que fique bem claro: não são calcinhas vermelhas, são pretas. Aí pode, sem problema.

Texto original: CARTA MAIOR

sábado, 22 de novembro de 2014

O governo a reboque da mídia


Mais um pouco, e o povo brasileiro, através da imprensa, estará pedindo desculpas às grandes empreiteiras e outros fornecedores de obras e serviços públicos. Pelo andar do noticiário e levando-se em conta alguns artigos plantados aqui e ali, tem-se a impressão de que a Petrobras é uma organização criminosa que achacou os pobres empreendedores com a ajuda de uma quadrilha de coletores de dinheiro.

O ponto de partida desse movimento é o advogado do lobista apontado como intermediário na distribuição de propinas milionárias. Na sua opinião, sem “composição ilícita”, ninguém consegue fazer negócios com o Estado, seja um complexo petroquímico ou um assentamento de paralelepípedos. O portador do discurso dos empresários corruptores ganhou destaque em todos os principais jornais – aFolha de S.Paulo ofertou quase uma página inteira para sua aleivosia.

O mote ecoou por quase todos os outros advogados ouvidos pela imprensa, e vem se juntar às alegações de que, se forem condenadas, as empresas ficarão impedidas de fazer futuros contratos com todas as instâncias do setor público, o que poderia congelar importantes obras em andamento e inviabilizar futuros projetos de interesse municipal, estadual ou nacional.

O fato de um delegado haver acusado sem fundamento o atual diretor de Abastecimento da Petrobras, tendo que se retratar em seguida, está sendo explorado como uma evidência de que outros suspeitos podem ter sofrido a mesma injustiça. Paralelamente, corre no noticiário a versão de que algumas confissões obtidas no sistema de delação premiada podem produzir contradições nocivas ao processo, o que invalidaria denúncias já tornadas de conhecimento público por meio dos vazamentos seletivos de informações do inquérito. Ao mesmo tempo, os jornais acompanham os esforços do governo federal e seus aliados para reduzir o impacto do escândalo no funcionamento da máquina estatal.

Tudo isso vem nos principais diários de circulação nacional na quinta-feira (20/11), feriado em que parte do Brasil comemora o “Dia da Consciência Negra”.

Gabinete de crise

Na versão politicamente incorreta, a “consciência negra” era a definição da má consciência, aquela que supostamente estaria motivando os autores das delações. Mas, a julgar por declarações de advogados, políticos, policiais e outros personagens do escândalo, todos os movimentos conduzem a um propósito comum a todas as crises: minimizar os danos. O governo quer um fôlego para renovar seu ministério, os políticos querem seus nomes fora das listas de propina, os advogados querem a absolvição ou uma pena mínima para seus clientes.

A imprensa parece sensibilizada com a possibilidade de a economia do país vir a sofrer abalos no final do processo, principalmente se as empresas envolvidas chegarem a ser condenadas, perdendo a condição de idoneidade que lhes permite negociar com instituições públicas. Mas há vozes discordantes, lembrando que não há punição sem perda, e que, no caso das pessoas jurídicas, junto com o ressarcimento pelos danos causados ao erário vem automaticamente a exclusão do clube seleto daqueles que operam com o Tesouro.

Paralelamente, colunistas e repórteres com acesso à intimidade do Planalto informam que o núcleo político do governo tem feito longas reuniões em busca de uma estratégia para recuperar a imagem da Petrobras e, por extensão, afastar os olhares inquisidores para outra direção.

Como é praxe desde a primeira posse de Lula da Silva, o comando petista demonstra pouca habilidade para lidar com problemas de comunicação. A começar da formação do “gabinete de crise”, composto apenas por gente “da casa”, o resultado tem grandes possibilidades de produzir graves erros de avaliação.

O escândalo envolvendo a estatal do petróleo é o desaguadouro natural do sistema da corrupção modernizado pela Constituinte – origem do modelo de organização partidária que não sobrevive sem a injeção constante de dinheiro sujo. Nestes doze anos de predomínio do Partido dos Trabalhadores, o sistema que foi usado por outros partidos se consolidou como parte do processo de gestão.

Se ninguém tem coragem ou independência para dizer isso em voz alta no tal “gabinete de crise”, o transatlântico do governo continuará sendo conduzido pelo rebocador da imprensa em meio à tempestade.


Luciano Martins Costa
No OI

Texto replicado : CONTEXTO LIVRE

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Comédia divina – a Operação Lava Jato chegará ao PSDB.

Sergio Saraiva
dom, 16/11/2014 - 22:33
Atualizado em 16/11/2014 - 23:05

Percam todas as esperanças, vós que acreditais que a maldição do PT arrastará junto o amaldiçoado PSDB.

Vejo pelas terras do reino da esquerda a esperança de que, a partir da Lava Jato, o republicanismo tome conta do nosso sistema judiciário e que passemos o país a limpo, punindo todos os envolvidos, sejam de que partidos forem.

Não são em outro sentido as declarações da presidente Dilma neste domingo, 16/11/2014.

“[A Operação Lava Jato da Polícia Federal] mudará para sempre a relação entre a sociedade brasileira, o Estado brasileiro e a iniciativa privada. O Brasil mudará para sempre porque acabará a impunidade”.

O passado recente não me permite nutrir tais esperanças.

Ao PT será cobrado que desça ao nono ciclo do inferno. Para os outros, os corruptores, creio que tudo não passará de uma estada dura, ainda que breve, pelo Vale dos Ventos. Sem dúvida, neste instante, a vida deles foi colhida em um vendaval, mas eles têm nas suas contabilidades paralelas o passaporte para o purgatório e, de lá, a passagem para um dos sete céus.

Agora, e para alguém do PSDB pego em caso de fogo amigo? Para esse, haverá sempre o limbo. Junto aos pagãos virtuosos.

Não existe, por certo, corruptor ideológico ou doleiro de esquerda. PT e PSDB dividem o poder há duas décadas utilizando-se dos mesmos métodos. Mas não são tratados, de modo algum, da mesma maneira pela imprensa e pela Justiça. Sobre o segundo, recai o protetor manto da invisibilidade midiática que retarda a cobrança de ação do letárgico braço judiciário sempre para tempos ainda vindouros.

Vejamos.

No que este escândalo da Petrobras é diferente do escândalo envolvendo a Alston-Siemens em São Paulo? As propinas milionárias do trensalão, chamadas eufemisticamente pela nossa imprensa de "cartel".

Há a delação premiada da Siemens, informações suficientes vindas da Suíça, sabe-se quem pagou, quanto pagou e para quem pagou. Um presidente do TCE – Tribunal de Contas do Estado, apontado como beneficiário do esquema, tinha, ou ainda tem, uma ilha em Paraty-RJ e uma mansão no Morumbi, o bairro dos milionários de São Paulo.

Um envolvido no esquema, filho da nossa alta burguesia, foi indiciado pela PF, mas isso não o impediu de ser coordenador da campanha de Aécio, nem lhe trouxe maiores problemas na Câmara dos Vereadores de São Paulo.

Um procurador que cuidava do caso literalmente engavetou-o por dois anos. Declarou que havia, pasmem, colocado o pedido de informações da justiça suíça na “pasta errada”.

A que levou tudo isso? Como está o caso do trensalão?

Já ouço que o Caso Petrobras-Lava Jato é o “maior escândalo da história” do Brasil. Ora, esse não era o mensalão do PT?

Afundar a P-36, na época, a maior plataforma de petróleo do mundo, ao custo de 11 trabalhadores mortos não é escandaloso, por certo. Quem fim deu esse caso? E o da Petrobrax, dos asfaltamentos da Baía de Guanabara e dos rios Birigui e Iguaçu no Paraná?

E FHC diz que está envergonhado com o que o PT fez com a Petrobras.

Pois bem, os petistas foram condenados na AP470 e estão cumprindo pena.

Mas e o mensalão do PSDB?

Os PSDBista não serão julgados.

Eduardo Azeredo renunciou ao mandato na ultimíssima hora para escapar do julgamento no STF. E, embora já houvesse consenso de que isso não o livraria – ver caso Donadon e desdobramentos do caso Cunha Lima, livrou-se. Seu caso foi enviado à primeira estância mineira onde aguarda a prescrição. Pimenta da Veiga, que levou R$ 300 mil de Marcos Valério por “serviços internos” está soltíssimo. Foi até candidato a governador de Minas Gerais.

José Roberto Arruda, do mensalão do DEM, foi “atrevido” ao se candidatar a governador do DF. Acabou, para desgosto de FHC, seu benfeitor, tendo a candidatura impugnada, mas chegou a liderar a campanha e está por aí, livre, leve e solto. A impugnação revoltou de tal maneira ao ministro Gilmar Mendes que este chegou a classificar a Corte que assim decidiu como um "tribunal nazista".

Alguém se recorda de como foi a atuação do ministro Gilmar Mendes no caso do mensalão do PT?

Soltos também estão Cachoeira e Demóstenes Torres. Falar de Policarpo Jr. seria um ataque contra a liberdade de imprensa.

Sem maiores cuidados está o pessoal da “Castelo de Areia”.

Assim como José Serra e a “privataria tucana” feita no “limite da irresponsabilidade”. E seu envolvimento no "cartel" do metrô paulistano – sobre o qual só deu depoimento à PF depois de eleito senador? E o Paulo Preto?

Assim como Alckmin e o buraco do metrô – mais sete mortos. Fora alguns massacres. Quem se lembra do Pinheirinho ou da Castelinho? Quem não reagiu está vivo. E a eminente crise humanitária por falta de água, mas com alguns bilhões de reais pagos aos acionistas da SABESP, aqui e em Nova York? Ninguém se interessa em saber quem são eles, os acionistas?

A FHC, nada o perturba. Nem os R$ 200 mil por cabeça para comprar a emenda da reeleição, nem os seus apartamentos. Um, em Higienópolis-SP, comprado do mesmo banqueiro envolvido na lavagem de dinheiro do trensalão, o outro, em Paris, não sei se já foi declarado à Receita Federal. Nem sua fazenda em Burutis-MG.

Não, FHC não é o dono da Friboi, essa é do filho do Lula. Mas quando FHC começou a carreira política, que eu saiba, de terras, só possuía um pequeno sítio em Ibiúna-SP. Ninguém parece ter estranhado tal aumento de patrimônio, fora da política, FHC era um professor aposentado da USP. Nem ele parece estar preocupado em explicar nada.

É pouco?

E o aeroporto construído pela Camargo Correia na fazenda vizinha a de FHC e gentilmente cedido para seu uso? Que coincidência feliz.

PSDBista gosta de aeroporto particular, quem gosta de miséria é intelectual.

Veja Aécio Neves e seus dois aeroportos em Minas. Um em Claudio – fazenda do tio, outro em Montezuma – empreendimentos do pai já falecido. Aécio está se empenhando em conseguir um terceiro turno para as eleições de 2014 e não em dar explicações sobre essas duas “obras públicas”.

E tome Lista de Furnas, pasta Rosa e caso SIVAM.

Assunto nunca faltou, mas o PSDB ser responsabilizado, algo respingar-lhes as penas?

Não, de tapioca à Lava Jato, passando pela AP 470, é o PT o partido mais corrupto da história brasileira. E só.

Todo o mais que poderia acrescentar aqui fica por conta da ironia sábia e desesperançada de Stanislaw Ponte Preta:

“Que se restaure a moralidade, ou que nos locupletemos todos”.

Fora disso, é comédia.


Blog de Sergio Saraiva



terça-feira, 11 de novembro de 2014

OS GASTOS DO DINHEIRO PÚBLICO


Ultimamente toda a grande imprensa fala em crise econômica no Brasil. Segundo as empresas de comunicação, TVs (grande maioria) , jornais, rede de rádios e até mesmo os grande portais na internet, temos um caos na saúde, educação e segurança. Muitos dos jornalistas alegam falta de investimento por parte do Governo Federal e algumas perguntas me vieram a cabeça:
  1. Por que quase nunca se fala nos investimentos e gastos por parte das prefeituras e Estados nestas áreas?
  2. Quais as áreas e quanto esses administradores (presidente, prefeitos e governadores) estão investindo?
  3. Por que somente gastos do Poder Executivo da União são demasiadamente mostrados e discutidos nesses meios de comunicação?
  4. Por que, na grande maioria das vezes, somente as áreas de educação, saúde e segurança são discutidas?
  5. Por que os gastos do Poder Judiciário e Poder Legislativo são muito poucos divulgados e denunciados?
Uma das coisas que mais se critica no governo são os gastos com o Bolsa Família, mas eles nunca falam das diversas Bolsa mantidas pelo Governo Federal e nunca falam quanto o Governo (nas diversas esferas) gasta com Propaganda Oficial. 

Passadas as eleições, muitos se manifestaram contra o Bolsa Família e que a mesma é um cabo eleitoral do governo, embora quem controla o cadastro são as prefeituras (e o PT não controla a grande maioria das prefeitura) e se esqueçem que existem outras tantas Bolsa mantidas pelo governo (clique aqui). Uma dessas é o Bolsa Esporte (clique aqui) e pelo que sei o Esporte não é uma prioridade maior que a eliminação da miséira, geração de empregos e no entanto ninguém é contra!!!!

Pesquisando mais, se descobre que o governo gasta mais de um bilhão com propaganda (clique aqui). Isso somente o Governo Federal (Poder Executivo). Se for somados os gastos com Propaganda Oficial dos diversos poderes (Legislativos e Judiciário) e diversas administrações (municipais e estaduais) esses números aumentariam diversas vezes!

Para o cidadão é importante saber onde o governo (nas diversas áreas e diversos poderes) estão gastando nosso dinheiro e acredito que a grande maioria da população não sabe por que a grande imprensa jamais mostra que esses mesmos meios de comunicação são sustentados, em sua maioria, com dinheiro público (dinheiro dos nossos impostos).

Além da publicidade oficial do governo em suas diversas esferas ainda temos a propaganda “comercial” das diversas empresas de economia mista. Quanto o Banco do Brasil, Caixa Econômica, Petrobras, etc gastam em propaganda nesses jornais, revistas (Veja e Carta Capital são algumas), rádios, TVs, etc ?

Todos esses meios de comunicação estão exigindo melhoria e investimentos na área de saúde, educação e segurança e dizendo que a economia do Brasil está um caos. Uma boa maneira do governo começar a diminuir gastos desnecessários e investir mais nas áreas essências é diminuindo drasticamente a Publicidade do Governo, já que publicidade não é tão urgente assim.

Além dos argumentos citados acima, é bom lembrar que os próprios jornalistas e especialistas, destas empresas, vivem criticando o governo e defendem as privatizações como mola propulsora da economia! Esses jornalistas e especialistas, em economia, deveriam explicar tanto dinheiro público mantendo essa empresas privadas?

Textos relacionados:
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O 'Bolsa Esmola' dos mais ricos
Escândalo: os números do Bolsa PiG!

sábado, 8 de novembro de 2014

Dilma ratifica compromisso de democratizar a mídia

Como mostram as mais de 80 linhas textuais publicadas hoje em O Globo, a chefe de Estado não tocou no assunto tangencialmente.

Dario Pignotti @DarioPignotti

Em sua condição de presidenta reeleita, Dilma Rousseff abordou pela primeira vez, e com argumentos substanciais, a necessidade de o Brasil debater e eventualmente sancionar um marco jurídico sobre os oligopólios que dominam a produção, circulação e consumo de notícias (privilégio que lhes permite pautar estratégias de desinformação em escala industrial).

Dilma citou as leis que foram aplicadas no Reino Unido contra crimes cometidos por um jornal do conglomerado de propriedade de Rupert Murdoch (uma espécie de Roberto Marinho nascido na Austrália e naturalizado britânico).

Falando para repórteres do jornal O Globo e de outras mídias privadas, a presidenta se referiu à necessidade de superar essa anomalia tipicamente brasileira, a "propriedade cruzada" de mídias eletrônicas e gráficas.

"Oligopólio e monopólio. Por que qualquer setor tem regulações e a mídia não pode ter?", questionou a presidenta diante dos jornalistas e deixou aberta uma potencial discussão sobre como vão se inserir as empresas de telecomunicação.

"Não só a propriedade cruzada. Tem inclusive um desafio, que é saber como fica a questão na área das mídias eletrônicas. O que é livre mercado total? Tenderá a ser a rede social, eu acho".

A presidenta que, em 2013, suspendeu uma visita de Estado a Washington em repúdio à espionagem perpetrada pela agência norte-americana NSA anunciou que impulsionará "um amplo debate a exemplo do que aconteceu com o marco civil da internet. Eu pretendo abrir um processo de discussão a partir do primeiro ou segundo trimestre do ano que vem".

Essas palavras revelam uma discussão política de fundo: iniciar a transição rumo à democracia midiática, o que seguramente vai alimentar a belicosidade do grupo Globo, o maior multimídia sul-americano, e de outras empresas defensoras do atual regime, que pode ser definido como "alegal", já que o Brasil é um dos poucos países onde não há legislação sobre propriedade cruzada.

Acontece que no Brasil impera um regime de exclusão social do espaço público que é pouco visto no resto do mundo, incluindo as potências ocidentais e países latino-americanos cujos governos compreenderam que para consolidar a democracia, em muitos casos recentes, era imprescindível alterar as condições de produção do campo informativo, o que implica desmontar estruturas concentradas e incorporar novos atores através de veículos públicos com generoso financiamento.

E para avançar na matéria, é básico contar com um marco jurídico que regule o sistema. Sem lei, impera a barbárie do mercado jornalístico.

Outra diferença: Enquanto no Brasil o sistema estatal e público é pouco competitivo com as empresas privadas, em outros paises como o Reino Unido e Italia, existem poderosas empresas públicas como BBC e RAI com real capacidade de disputa frente a grupos tentaculares, oligopólicos, como o controlado por Murdoch ou o multimídia de Silvio Berlusconi.


Dilma cumpre
Durante a campanha encerrada com a vitória de 26 de outubro, Dilma havia dado sinais de sua intenção de abordar um tema espinhoso para o qual deu pouca atenção nos primeiros quatro anos de seu mandato. Por sua vez, o candidato do setor conservador Aécio Neves se posicionou contra qualquer regulamentação, assumindo como seu o discurso das empresas e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert). Rechaçou toda ameaça à liberdade de expressão como se esta pudesse ser limitada por um regime de propriedade menos concentrado.

Antes do primeiro turno de 5 de outubro, a candidata do PT concedeu entrevista a vários blogueiros que não se sujeitam à censura do mercado. Foi a primeira vez que a presidenta recebeu a imprensa "independente", no sentido cabal do termo, na residência oficial da Alvorada, reconhecendo seu status político e institucional.

"Uma coisa não tem nada a ver com a outra [regulação econômica e controle de conteúdo]. Regular conteúdo é de país ditatorial. Na regulação econômica vamos impedir que relações oligopólicas se estabeleçam e se instalem. É óbvio que nada tem de bolivariano nisso", disse em 25 de setembro, quando também prometeu que, ao ser eleita, retomaria o assunto.

Semanas mais tarde, poucos dias antes do segundo turno, Dilma e o PT denunciaram as manobras perpetradas pela Veja e adiantaram a intenção de levar o caso à justiça por considerar que a revista da Editora Abril cometera ações criminosas.

Promessas cumpridas
A novidade surgida da entrevista desta quinta-feira concedida ao Globo, Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e Valor Econômico é que dois meses antes de assumir seu segundo mandato, a presidenta ratificou sua promessa de campanha de revisar o status quo informativo.

Detalhe: a chefe de Estado não tocou no assunto tangencialmente, ou por compromisso em resposta a uma pergunta, mas demonstrou real interesse em assumir o assunto durante alguns minutos, como mostram as mais de 80 linhas textuais publicadas hoje na página 4 do jornal O Globo.

Claro que as grandes mídias matutinas evitaram colocar em destaque a decisão de impulsionar a democracia comunicacional, assunto que, na opinião deste articulista, foi a principal notícia da entrevista. Ao contrário, os jornais hegemônicos preferiram, no geral, destacar que Dilma caminharia rumo a um inevitável ajuste neoliberal.

Com títulos surgidos do que podemos chamar de "pensamento único jornalístico", O Globo, Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo publicaram, respectivamente, "Dilma diz que vai a controlar gastos e controlar a inflação", "Dilma diz que fará 'dever de casa' contra inflação" e "Dilma sugere contenção de gasto e cerco à inflação". Interessante exemplo de como a propriedade concentrada deriva em homogeneidade ideológica.

Outro enfoque ao qual foi dada a devida importância foi aquele em que Dilma cita a "dura" legislação inglesa contra as irregularidades jornalísticas cometidas pelo tablóide News of the World, forçado a encerrar suas atividades após o escândalo de escutas ilegais em 2011.
Agora, apesar de os jornais dominantes não terem feito isso, é possível aprofundar e interpretar essa declaração da presidenta que governará o Brasil até 31 de dezembro de 2018.

Nesse ponto se torna inevitável estabelecer um paralelo entre os abusos do britânico News of the World e os excessos cometidos pela Veja para sabotar a quarta vitória consecutiva do PT.

Como no Brasil, por enquanto, há um vazio jurídico absoluto, está garantida a impunidade dos patrões e dos editores da publicação semanal da família Civita.

Do contrário, se o Brasil tivesse alguma lei que impusesse limites à realidade hobbessiana da mídia, é possível que os responsáveis pela Veja fossem processados, como foi Rebeca Brooks, mão direita do multimilionário Murdoch, junto de Andy Coulson, ex-porta-voz do premiê britânico David Cameron.
___________

Dario Pignotti é repórter do diário argentino Página 12.
A tradução é de Daniella Cambaúva.
Créditos da foto: Roberto Stuckert Filho/PR


Texto original: CARTA MAIOR

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A inacreditável passeata pelo golpe militar: sobre porque precisamos passar a limpo nossa história

A ditadura militar no Brasil foi criminosa, portanto, clamar por ela não é uma questão de opinião, é crime também. Não podemos mais aceitar essa conduta.
Rita Almeida

O Brasil viveu nesta semana um episódio inacreditável. Uma passeata em São Paulo que carregava, dentre outras bandeiras, o pedido de intervenção e golpe militar, ou seja, a reedição de um dos períodos mais sombrios da nossa história. 
Pasma com a tal passeata, postei algo no feicebuque sobre a necessidade dos professores brasileiros pararem tudo que programaram durante a semana para se dedicarem a discutir em suas salas de aula os anos de ditadura militar no Brasil, a fim de conscientizar e alertar nossos jovens. Pois mais pasma ainda fiquei com um comentário ao meu post que pedia para que os professores trabalhassem o tema de forma neutra, a fim de que os alunos tirassem suas próprias conclusões sobre o episódio, além de salientar a importância das obras públicas feitas na época da ditadura e destacar que as organizações de esquerda também tiveram sua parcela de responsabilidade no episódio. E o mais triste: o comentário tem, até o momento, uma defesa e 22 curtidas.

Esse tipo de passeata que ocorreu em São Paulo, assim como o comentário que apareceu no meu post - e que ouvimos por aí toda hora - é um sintoma da falta que fez não termos acertado as contas com esse pedaço da nossa história, tal como souberam fazer nossos vizinhos Argentinos e Uruguaios, por exemplo. Precisamos urgentemente rasgar essas cicatrizes que ainda não se fecharam a fim de fazer com que a ditadura militar brasileira seja, irremediavelmente, tratada como aquilo que realmente foi: um crime bárbaro.

Não há nenhuma obra construída, nenhuma justificativa, nenhuma versão, nenhum romantismo, nenhuma suposta neutralidade que seja capaz de fazer com que tiremos outra conclusão sobre esse período que não seja: crime e barbárie. Se existe uma versão dos militares para o que ocorreu nos porões da ditadura ela é criminosa e, assim sendo, não pode ser considerada como possível ou plausível. Assim como, se existe uma versão dos brancos sobre a escravidão imposta aos negros ela é criminosa; se existe uma versão nazista para o genocídio dos judeus, ela é criminosa; se existe uma versão europeia para o que se fez com os povos que viviam nas Américas, ela é criminosa; e ponto final, nada mais. 

Mas o fato de não termos passado a limpo esse nosso passado sombrio é que exatamente abre a possibilidade de que alguém diga: "A ditadura militar também não foi tão ruim assim como dizem!" Este tipo de discurso sustenta argumentos do tipo: “A ditadura militar foi terrível, mas, e as obras que foram feitas nesta época, não valeram?” Isso seria o mesmo que dizer: “A escravidão a que foram submetidos os negros no Brasil foi terrível sim, mas e a nossa produção de cana-de-açúcar e café no século XVII, não conta?” Ou: “Os povos nativos nas Américas foram dizimados sim, mas e os países Americanos que daí surgiram, não fizeram tudo valer a pena?” 

Este tipo de desmemoria, misturada com ignorância histórica ou até má fé, também produz argumentos desse tipo: “Eu concordo que os militares foram horríveis, mas os militantes de esquerda também não eram flor-que-se-cheira não é?”. Isso seria o mesmo que dizer: “As torturas e castigos a que foram submetidos os negros na escravidão foram um horror, mas os negros também não colaboravam: fugiam, resistiam, desobedeciam...” Ou: “Tá certo que os nazistas perseguiam e matavam os judeus, mas esses também não facilitavam não é? Mudavam de nomes, se escondiam, escondiam seus bens...”

Outra forma de tentar camuflar a realidade terrível do que foi o período de ditadura no Brasil, também é utilizada para justificar outras atrocidades ao longo da história. É a velha justificativa: “Fizemos o mal, mas foi para o bem”. Esta é a forma mais perversa de impingir mal ao outro, tentando convencê-lo de que foi o melhor que se pôde fazer por ele. Assim, os portugueses dizimaram os índios que aqui viviam para lhes salvar a alma. Assim os EUA matam milhares em guerras estúpidas e desumanas com a desculpa de que estão promovendo a paz. No caso do golpe militar, a justificativa era nos salvar do comunismo.

Desarquivar a ditadura brasileira é urgente! 

Não podemos mais aceitar que ela seja romantizada pelo efeito, supostamente positivo, das obras feitas na época. Se não podemos demolir o que foi construído tendo como matéria prima a humilhação, o sangue e a dor de muitos brasileiros, então que, pelo menos, nada do que foi construído na ocasião nos seja motivo de orgulho. 

Não podemos mais aceitar que os que bravamente lutaram - muitos deles com suas vidas - para tentar resistir a essa barbárie, sejam responsabilizados por não se curvarem ao desmando e a opressão. E sabemos que não era preciso uma bomba ou um revólver para ser considerado um subversivo. A arma poderia ser apenas uma caneta e o território de ocupação uma folha de papel.

Não podemos mais aceitar que se justifique todo o horror que foi produzido nesta época como um bem para o Brasil e os brasileiros, ou como algo inevitável. 

Sendo assim, os anos de ditadura do Brasil não podem ser sujeitos a uma espécie de interpretação pessoal de quem lê a história. Alguém teria, hoje, coragem de dar outra interpretação para o genocídio dos judeus que não a de um crime bárbaro? Alguém teria coragem de dar outra interpretação para a escravidão dos povos africanos, que não a de um crime bárbaro? Do mesmo modo, a ditadura brasileira, precisa se tornar urgentemente aquilo que realmente foi: um crime bárbaro, sem possibilidade de outra interpretação. Foi humilhação, cerceamento, censura, prisão, desespero, dor, silêncio imposto, abandono, exclusão, perda, desumanidade, desamor, ignorância, tristeza, depressão, alienação, emburrecimento, embrutecimento, doença, tortura e morte. Nada que tenha acontecido de bom nesta época pode mudar ou romantizar isso. Nenhuma opinião pessoal que se tenha sobre esta passagem da nossa história pode mudar tal realidade! E nenhuma estupidez ou alienação pode permitir que alguém possa desejar ou clamar por ela novamente!

O genocídio do povo judeu foi um crime, portanto, clamar pelo seu retorno não é uma questão de opinião é crime também.

A escravidão dos negros foi um crime, portanto, clamar pela sua volta não é uma questão de opinião, é crime também.

Então é preciso que fique muito bem claro: A ditadura militar no Brasil foi criminosa, portanto, clamar por ela não é uma questão de opinião, é crime também. Simples assim.

Texto original: CARTA MAIOR

sábado, 1 de novembro de 2014

O 'Bolsa Esmola' dos mais ricos

Como pobres não têm dinheiro para gastar em escolas e médicos privados, ficam de fora dos benefícios

Por Fernando Molica

O DIA

Rio - O Bolsa Família conquistou a unanimidade dos principais candidatos à Presidência — os oposicionistas Marina Silva e Aécio Neves até disseram que ampliariam o programa desenvolvido em administrações petistas. Mas, nas ruas e na internet, a complementação de renda é muito criticada por pessoas que dizem ser contra o governo, o mecanismo chega a ser chamado de Bolsa Esmola.

A entrega de uma quantia mensal a famílias muito pobres — fundamental para a alimentação de milhões de brasileiros — é associada a um estímulo ao comodismo. E olha que o valor médio do benefício é Texto replicado : nas R$ 152,35. Mas os que tanto criticam a transferência de renda aos mais pobres não falam que também se beneficiam de dinheiro público, são favorecidos pelo que poderíamos chamar de Bolsa Rico ou Bolsa Classe Média.

A grande maioria da população não tem dinheiro para bancar escolas e serviços privados de saúde e é obrigada a recorrer às redes públicas. Mas essas mesmas pessoas — que estão entre as mais pobres — são obrigadas a rachar a conta das escolas particulares e dos médicos, dentistas, fisioterapeutas, psicólogos e hospitais privados utilizados pelos que têm mais grana. 

O subsídio se dá pelo imposto de renda, que permite a dedução das despesas com saúde e autoriza o abatimento de parcela do que foi gasto com a educação do contribuinte e de seus dependentes. Como pobres não têm dinheiro para gastar em escolas e médicos privados, ficam de fora dos benefícios.

Recursos aplicados em uma modalidade de plano de previdência privada também podem ser abatidos do imposto, assim como parcela do INSS pago a empregadas domésticas. É inacreditável, mas é isso mesmo — com a desculpa de estimular a formalização do trabalho doméstico, o governo devolve para os patrões dinheiro gasto com a previdência das empregadas. Deve ser o único país do mundo em que o privilégio de manter uma doméstica conta com estímulo oficial. 

No ano passado, foram investidos R$ 24,5 bilhões no Bolsa Família. Já o valor das deduções previstas no imposto de renda de pessoas físicas foi estimado em R$ 37, 354 bilhões. Só os abatimentos relacionados a despesas com saúde chegariam a R$ 9,874 bilhões; o subsídio àqueles que gastam em escolas privadas somaria R$ 3,877 bilhões. No fim das contas, muita gente que se diz contra o Bolsa Família quer mesmo é continuar a tirar dos pobres para dar aos ricos ou remediados. Robin Hood ficaria espantado com a cara de pau de muitos de nossos compatriotas.

E-mail: fernando.molica@odia.com.br

Texto replicado : BLOG GILSON SAMPAIO