terça-feira, 28 de maio de 2013

Reforma agrária faz sentido? Só se for para valer

As negociações de paz entre o governo Juan Manuel Santos e a direção das Farc, iniciadas em Havana há seis meses, fixaram um primeiro consenso na busca da reconciliação colombiana.

O centro desse primeiro estirão fala a toda a América Latina. E isso inclui o Brasil.

Seu nome é ‘reforma agrária integral’, diz o comunicado emitido de Cuba.

“O que acertamos será o início de transformações radicais da realidade rural e agrária da Colômbia com equidade e democracia. Centramo-nos nas pessoas, no pequeno produtor, no acesso e distribuição de terras, na luta contra a pobreza, no estímulo à produção agropecuária e no resgate da economia do campo”, diz o texto.

Sendo fruto de um conflito que já fez mais de um milhão de vítimas, as palavras, neste caso, merecem consideração.

O comunicado fala a uma bandeira secular desgastada regionalmente, sem nunca ter sido implantada de fato na maioria dos países.

A Colômbia, das Farcs, é um desses casos.

O indicador de desigualdade no acesso à terra é um dos mais agudos do planeta: 1% dos proprietários detém 50% das glebas.

Infelizmente, não é um cenário muito distinto do brasileiro.
Aqui 1% detém cerca de 45% das terras cultiváveis.

Enquanto os estabelecimentos brasileiros com menos de 10 hectares ocupam 3% da área total dos imóveis, propriedades com mais de 1.000 hectares abocanham mais de 43% do conjunto.

Em miúdos, o Brasil rural assenta-se na seguinte espiral: 4,3 milhões de estabelecimentos ficam com 24% das terras; 76% de todas as terras particulares estão concentradas em apenas 807 mil imóveis.

46 mil deles tem acima de 1000 hectares.

E somente 15 mil fazendeiros tem glebas acima de 2 mil hectares.

Mas se apoderam de 98 milhões de hectares.

Os dados são do Censo Agropecuário de 2006.

A reforma agrária, a rigor, nunca foi prioridade do Estado brasileiro e seus tímidos passos jamais tocaram nessa assimetria.

O termo ‘reforma agrária integral’ é um conceito distinto da distribuição aleatória de glebas verificada na maioria dos países, inclusive aqui.

Uma aproximação descritiva incluiria ‘zonas inteiras reformadas’, dotadas de infraestrutura, assistência técnica, logística social, escoamento de produção, vilas, escolas, posto médico etc.

Algo cogitado por Jango quando anunciou a 300 mil pessoas no famoso comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, a desapropriação das terras improdutivas às margens de ferrovias, rodovias e zonas de irrigação de açudes públicos.

Algo que o governo atual poderia cogitar, também, em relação às áreas lindeiras aos canais de transposição do São Francisco.

Escala relevante; concentração espacial; infraestrutura cooperativa; sinergias multiplicadoras.

É disso que a reforma agrária precisa para dar certo.

De algum modo, pode-se dizer que o termo ‘integral’ é um pleonasmo.

A rigor, não existe reforma agrária digna desse nome quando o que se pratica é o rudimentar acantonamento de famílias dispersas na geografia e na engrenagem econômica.

Trata-se, neste caso, de uma antirreforma.

Seu efeito mais notável é desacreditar o alcance de uma política demonizada pelo conservadorismo.

Hoje, é o argumento da irrelevância econômica e demográfica que sustenta o fogo das críticas.

Dotado de um agronegócio cuja eficiência graneleira é indiscutível, desde que desconsiderados seus custos sociais e ambientais, o Brasil foi colonizado por uma ideia fixa.

A de que a reforma agrária consiste no picotamento de lotes, de consequências desastrosas do ponto de vista da produção e da própria subsistência.

Governos sucessivos trabalharam para que essa percepção se tornasse um consenso negativo no imaginário da sociedade.

O êxodo rural promovido pela chamada modernização conservadora, por exemplo, foi um sucesso nesse sentido.

A América Latina e o Caribe formam hoje a região mais urbanizada do mundo, informa o relatório "Estado das Cidades da América Latina e Caribe" da ONU-Habitat.

Mais de 80% da população regional (588 milhões de pessoas) vivem em cidades.

No Brasil, a taxa de urbanização bate em 85%.

Deve chegar a 90% até 2020.

Ainda assim, cerca de 33 milhões de brasileiros persistem no campo – sem considerar que o conceito de urbanização entre nós é, digamos, algo elástico.

Dos 5.560 municípios brasileiros, 2.080 são arruamentos com menos de cinco mil habitantes.

Orbitam em torno da lógica rural, abrigando uma população da ordem de cinco milhões de pessoas.

Se a ‘desimportância demográfica’ da reforma agrária é discutível, o balanço social do agronegócio enseja poucas dúvidas: não será por aí que o campo dará sua contribuição à justiça social na América Latina.

Um estudo realizado em conjunto pela FAO, OIT e Cepal (‘Políticas de Mercados e Pobreza Rural na América Latina’) evidencia o efeito desprezível da alta dos preços das commodities na redução da miséria rural.

Entre 1980 e 2010, período em que o agronegócio mais lucrou, a pobreza rural registrou um recuo medíocre: de 60% da população total, em 1980, caiu para 53%, em 2010.

O Brasil ilustra essa assimetria.

O país é um dos cinco maiores exportadores de alimentos do mundo.

Cerca de 18 milhões de brasileiros residentes no campo são miseráveis.

Destes, quase 13 milhões recebem o Bolsa Família.

Tratar a agenda da reforma agrária como uma relíquia histórica, portanto, soa precipitado.

No mundo todo, é justamente no campo que se concentram as maiores legiões de famintos (70% dos 870 milhões de subnutridos).

O que esses números evidenciam, na verdade, é a densa barragem de interesses que resistem à reforma agrária ‘integral’, só agora cogitada na Colômbia.

E não por acaso, após 50 anos de uma guerra fraticida, na qual morreram um milhão de pessoas.
 
Texto retirado no site: CARTA MAIOR

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Novo currículo do curso de jornalismo escamoteia poder do oligopólio

Pesquisadores acadêmicos de alto quilate conseguiram a proeza de propor as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Jornalismo sem se pronunciar sobre como se configura o sistema empresarial, oligopólico, firmado sobre a propriedade cruzada de diferentes meios de comunicação.


Pedro Pomar

Estão prestes a ser homologadas pelo ministro da Educação as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Jornalismo, aprovadas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE) em 20/2/2013. O Parecer 39/2013 CNE/CES pouco alterou o relatório final da chamada Comissão Marques de Melo. O estágio obrigatório de 200 horas foi mantido, apesar da posição inicial desfavorável do relator.

A meu ver, a ausência mais aguda nas Diretrizes Curriculares é a do Capital. Um conjunto de pesquisadores acadêmicos de alto quilate conseguiu a proeza de reunir-se para tratar do Curso de Jornalismo tendo chegado ao final de seu trabalho sem se pronunciar sobre como se configura no Brasil o sistema empresarial, oligopólico, firmado sobre a propriedade cruzada de diferentes meios de comunicação, que dá as cartas na mídia e no jornalismo brasileiros. Dizendo de outra forma, o sistema responsável pela produção da maior parte do jornalismo brasileiro, diário ou semanal, seja ele impresso, televisivo, radiofônico ou digital, é ignorado no documento.

Desse modo, não há uma avaliação crítica do papel desempenhado no jornalismo pelos empregadores de importante parcela dos atuais e dos futuros jornalistas, empregadores esses dotados de notável poder econômico e político na sociedade brasileira, habituados a moldar o jornalismo que praticam de acordo com seus interesses. Eles deixaram de ser criticados pelos especialistas da “Comissão Marques de Melo”, que, no entanto, preocuparam-se em atender suas demandas, por exemplo por meio da figura do estágio obrigatório (“possibilitando a interação da universidade com o setor produtivo”) ou do Mestrado Profissional (recomendação felizmente ignorada pelo CNE/CES), que permitiria a “formação de profissionais especializados, pleito histórico das organizações jornalísticas” (leia-se: empresas de jornalismo).

Também no tocante à comunicação entendida como sistema global, mundial, o relatório que embasou as novas Diretrizes Curriculares valorizou excessivamente as redes sociais e a convergência digital, bem como os “novos sujeitos”, sem levar em conta que prossegue célere o processo de concentração e fusão das corporações gigantes de mídia, ou seja, dos capitais que atuam no setor. Por exemplo, afirmam os especialistas: “Os conteúdos da atualidade, veiculados pelos gêneros jornalísticos são, em esmagadora maioria, ações discursivas de sujeitos que agem no mundo e sobre o mundo por meio de acontecimentos, atos, falas e/ou silêncios. Valorizados pelas técnicas e pela identidade ética, esses conteúdos são socializados no tempo e no espaço do Jornalismo, pelos instrumentos da difusão instantânea universal. E assim, pelas vias confiáveis do Jornalismo, se globalizam idéias, ações, mercados, sistemas, poderes, discussões, interesses, antagonismos, acordos” (Relatório, p. 4). Tudo parece, assim, muito difuso e etéreo, quando a realidade é bem outra, mesmo na Internet, onde a presença das grandes corporações, bem como a ação de grandes Estados, é avassaladora.

Quando cita o mercado ou as empresas, o relatório final da “Comissão Marques de Melo” o faz acriticamente, como se o protagonismo desse setor nada tivesse a ver com o jornalismo que se pratica hoje (no Brasil e no mundo) ou com a formação jornalística. O jornalista, assim, apesar da retórica humanística do texto, ao fim e ao cabo é apenas força de trabalho para as empresas de jornalismo. Mas o Relatório não se limita a escamotear, na abordagem geral prévia, o oligopólio da mídia e do jornalismo. Ele também deixa de incluir esse tópico nos próprios conteúdos curriculares sugeridos. E o CNE/CES aprovou integralmente tais conteúdos.

O objetivo principal do relatório final parece ser subordinar a formação oferecida aos imperativos do mercado. É isso que explica os ataques presentes, no relatório, a um tipo de formação mais reflexiva, mais crítica dos meios de comunicação de massa, por exemplo: a teoria “passou a não reconhecer legitimidade no estudo voltado ao exercício profissional, desprestigiando a prática, ridicularizando os seus valores e se isolando do mundo do jornalismo” (Relatório, p. 12); ou: “A ênfase na análise crítica da mídia, quando feita sem compromisso com o aperfeiçoamento da prática profissional, abala a confiança dos estudantes em sua vocação, destrói seus ideais e os substitui pelo cinismo” (idem).

Observe-se, porém, a seguinte recomendação da Unesco, presente em publicação recente sobre os currículos de jornalismo: “Uma boa formação deve fornecer aos estudantes conhecimento e treinamento suficientes para que reflitam sobre a ética do jornalismo, suas boas práticas e sobre o papel do jornalismo na sociedade. Eles também devem aprender sobre a história do jornalismo, a legislação da comunicação e da informação e sobre a economia política da mídia (incluindo tópicos como propriedade dos meios, estrutura organizacional e competição)” (Modelo curricular da Unesco para o ensino do Jornalismo, Unesco, Brasil, 2010; página 6). Mais adiante, mesmo ressaltando que o curso pensado não se destina a formar pesquisadores acadêmicos, o texto diz: “Pretendemos, igualmente, preparar os estudantes para que sejam críticos a respeito do seu próprio trabalho e em relação ao de outros jornalistas” (idem, p. 7).

A “Comissão Marques de Melo” fechou seu relatório em 2009 e cita apenas a versão anterior (2007) do Modelo curricular da Unesco... Mas é importante assinalar que há uma preocupação da Unesco com essa questão (para quem trabalhamos? quem detém o poder no jornalismo?) que é simplesmente diluída, no documento dos especialistas, em considerações genéricas sobre a ética e a responsabilidade do jornalista.

Em nenhum dos seis Eixos de Conteúdo que constam do item 5 do Relatório (Conteúdos Curriculares) e foram aprovados in totum pelo CNE/CES consta algo consistente sobre o tema, exceto por uma vaga referência, no Eixo III, à “regulamentação dos sistemas midiáticos, em função do mercado potencial” (sic). Basta conferir isso nas páginas 11 e 12 do Parecer CNE/CES 39/2013.

Por fim, é bastante deplorável que o CNE/CES tenha mantido o estágio obrigatório, sob a forma de Estágio Curricular Supervisionado. Isso legitima e amplia a enorme pressão das empresas sobre os estudantes e sobre os cursos. O estágio em jornalismo tem sido um dos mais importantes fatores de aviltamento do mercado de trabalho dos jornalistas brasileiros, funcionando como instrumento de substituição de força de trabalho qualificada. Do ponto de vista simbólico, ele reforça a propaganda das empresas de que só elas dominam o saber jornalístico, e dilui a pressão sobre as escolas de jornalismo para que ofereçam laboratórios de boa qualidade e corpo docente qualificado.

Texto retirado neste endereço: CARTA MAIOR

terça-feira, 21 de maio de 2013

O fracasso da política de comunicação de Dilma

publicado em 21 de maio de 2013 às 13:42
José Roberto, Roberto Irineu e João Roberto.
O Bolsa Família dos Marinho é farto.



do FrancoAtirador, em comentário

Convenhamos que a Política de Comunicação do Governo Federal é um fracasso absoluto.

A população brasileira, sem educação política e sem canais alternativos de informação, está à mercê da manipulação de uma Mídia Bandida Mercenária, que cria um factóide atrás do outro para beneficiar Corporações Econômicas Apátridas, Gangs de Profissionais Liberais e Quadrilhas de Políticos Oligarcas, colocando em dúvida cada programa estatal e gerando insegurança permanente em relação às ações governamentais e às próprias instituições da República.

Este caso da mentirinha do Bolsa-Família é pictórico para demonstrar o grau de alienação em que permanece a maioria das pessoas no Brasil.

Até sexta-feira passada (17), aparentemente, não havia problema algum que recaísse sobre esse programa social do Governo, mas a base já vinha sendo minada por ação articulada no subterrâneo, melhor dizendo, no esgoto a céu aberto da extrema-direita.

De repente, no fim-de-semana, estouram, ao mesmo tempo, o boato no Nordeste, com reflexo até o Rio de Janeiro, e uma matéria da Folha rebaixando 22 milhões de brasileir@s à miséria absoluta, com o objetivo claro de atingir frontalmente e negativamente o Bolsa-Família que, por sinal, já adquiriu projeção internacional, sendo reconhecido, inclusive, pela ONU que citou o programa social do Brasil como referência para erradicação da pobreza aos países em desenvolvimento.

Estamos chegando ao ponto do descontrole governamental generalizado, face ao descrédito implementado de forma direcionada pela Mídia Bandida conluiada com entidades privadas representativas de grupos sociais reacionários da pior espécie – os mesmos de sempre com outros nomes – com a intenção única de desbancar o pouco que resta de política humanista socializante no Governo Federal, para frear o avanço civilizatório no País.
Atualmente, a bandidagem midiática que está sendo praticada no Brasil não prejudica apenas eleitoralmente @ governante da vez, o partido d@ governante ou a frente partidária que @ apóia, mas ataca diretamente a essência da Democracia, que é a Participação Popular.

O Povo Brasileiro continua totalmente alheio ao que se passa e ao que se realiza efetivamente no conjunto da Administração Pública, porque foi alijado do contato direto com os administradores públicos, os quais, por sua vez, concederam a uma Mídia Venal, que se vende aos interesses empresariais, o poder de intermediação da informação entre governo e população.

E a omissão do Governo Federal, em relação à área da Comunicação Social, é de uma negligência tamanha que chega às raias da irresponsabilidade:

Dá o Bolsa-Família aos brasileiros pobres e outorga o Bolsa-FamíGlia a quatro grupos famiGliares que monopolizam o Mercado de Mídia no Brasil.

Assim, de desmentido em desmentido governamental, os Marinho, os Civita, os Frias e os Mesquita vão enchendo as burras, em todos os sentidos e significados que possam ser aplicados à expressão.

Texto retirado em: Vio o mundo (Luiz Carlos Azenha)


quarta-feira, 15 de maio de 2013

O Dia da Abolição !!!


O dia 13 de maio é considerado o Dia da Abolição da Escravidão Negra no Brasil. Será que realmente acabou a escravidão no Brasil?

O mais estranho é que esse dia passou praticmaente despercebido nos grandes meios de comunicação! Alias, até mesmo nas salas de aulas muito poucos porfessores se lembrou que existe esse dia.
Para melhor falar sobre a Abolição da Escravatura eu escolhi o pronunciamento do Senador José Requião (PR) , visto no vídeo postado abaixo:

OBSERVAÇÃO: Eu estenderia o pronunciamento do senador também em relação aos índios que estão sendo massacrados e que estão lutando para ficarem com a pouca terra que tiveram o direito de viverem.

Textos relacionados:
Soltando os negros e libertando os animais
A Fábrica de Bandidos

sábado, 11 de maio de 2013

Mudanças climáticas aumentarão chuvas intensas e secas, aponta Nasa


Um novo relatório da Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço, a Nasa, sugere que o nosso planeta deverá enfrentar mais extremos climáticos: regiões temperadas apresentarão mais secas no futuro, enquanto trópicos deverão passar por mais enchentes. O artigo é de Jéssica Lipinski, do Instituto CarbonoBrasil

Jéssica Lipinski - Instituto CarbonoBrasil

Nesta semana, mais uma investigação apresentada vem reforçar a relação entre as mudanças climáticas e o aumento na frequência de eventos extremos. Desta vez, a análise publicada foi desenvolvida pela Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço, a NASA, um dos centros que mais tem contribuído para o estudo das ciências climáticas nos últimos tempos.

Segundo o relatório da agência, as mudanças climáticas irão aumentar as chuvas de maior intensidade em certas regiões do planeta, enquanto que em outras são as secas que se tornarão mais intensas. O documento aponta que as chuvas tenderão a aumentar nos trópicos, e as regiões temperadas devem vivenciar secas mais severas.

Embora outros estudos anteriores já indicassem a relação entre as mudanças climáticas e os eventos extremos, a investigação da NASA é a primeira a mostrar como as emissões de dióxido de carbono afetam os diferentes padrões de precipitação existentes, das regiões mais secas àquelas que vivenciam tempestades torrenciais.

De acordo com a análise, as mudanças climáticas devem aumentar a precipitação nas regiões que já apresentam altos padrões de chuva porque o ar mais quente deverá reter mais humidade. Entretanto, nos locais mais secos, o aumento das temperaturas significará períodos mais longos em chuva.

Colocando em números, para cada grau Fahrenheit (0,55 graus Celsius) de aumento na temperatura média global, as chuvas extremas aumentarão em 3,9%, enquanto as chuvas leves aumentarão 1%.

Entretanto, estima-se que o total global de precipitação não deva mudar muito, porque as chuvas moderadas devem diminuir 1,4%. Em se tratando das regiões de seca, os modelos preveem que para cada grau Fahrenheit de aquecimento a duração de períodos sem chuva aumentará em 2,6%.

No Hemisfério Norte, as áreas que provavelmente serão mais afetadas são os desertos e zonas áridas do sudoeste dos Estados Unidos, o México, o norte da África, o Médio Oriente, o Paquistão e o noroeste da China. No Hemisfério Sul, as secas provavelmente tornar-se-ão mais severas no sul da África, no noroeste da Austrália, na costa da América Central e no nordeste brasileiro.

“Em resposta ao aquecimento induzido pelo dióxido de carbono, o ciclo hídrico global sofrerá uma competição gigantesca por humidade, resultando num padrão global de aumento das chuvas extremas, diminuição das chuvas moderadas, e secas prolongadas em certas regiões”, colocou William Lau, principal autor do Centro Goddard de Voos Espaciais da NASA.

Lau explicou, no entanto, que as secas devem afetar mais a população mundial do que as chuvas extremas, já que estas últimas devem ocorrem principalmente em áreas acima dos oceanos.

“Grandes mudanças nas precipitações moderadas, assim como eventos prolongados sem chuva, podem ter um grande impacto na sociedade porque eles ocorrem em regiões onde a maioria das pessoas vive. Ironicamente, as regiões de chuvas mais pesadas, exceto pela [região] da monção asiática, podem ter menor impacto na sociedade, porque geralmente ocorrem sobre o oceano”, comentou.

A análise dos cientistas da NASA baseou-se na observação de 14 modelos climáticos que simularam períodos de 140 anos. As simulações começaram com concentrações de dióxido de carbono de cerca de 280 partes por milhão (PPM), similares aos níveis pré-industriais, e foram aumentadas em 1% ao ano. A taxa de aumento é semelhante à observada atualmente pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).

Através da observação dos resultados dos modelos, os investigadores concluíram que, embora os modelos não especifiquem precisamente quanto de precipitação haverá numa determinada localidade, eles de facto podem apontar a tendência de precipitação para as regiões.

“Se observarmos todo o espectro dos tipos de precipitação, vemos que todos os modelos concordam de uma maneira muito fundamental – projetando mais chuvas pesadas, menos eventos de chuvas moderadas e secas prolongadas”, concluiu Lau.

Texto retirado : CARTA MAIOR

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Afinal, quem tem medo da democracia no Brasil?

Uma imensa disputa ideológica e politica se dá em torno da democracia? Quem é democrático e quem não é? Uma disputa para se apropriar do termo, com a pretensão de que quem apareça como democrático, será automaticamente hegemônico.

Ocorre que tudo depende do conceito predominante de democracia. Quem poderia dizer que as oligarquias familiares, proprietárias monopolistas dos meios de comunicação tradicionais no Brasil, apareçam como as mais defensoras da democracia, supostamente ameaçada pelo Estado que promove o maior processo de democratização na sociedade brasileira, com o apoio maçico da grande maioria da população, em consultas eleitorais amplas e abertas, com a participação majoritária da população?

Isso ocorre porque falamos de coisas distintas quando falamos de democracia. A concepção dominante, de que se valem aqueles órgãos e os partidos da oposição, remete à concepção liberal de democracia. Esta nasceu fundada nos direitos dos indivíduos, contra o Estado, considerado a maior ameaça à liberdade e à democracia.

É uma concepção fundada nos indivíduos, considerados a única realidade efetiva nas sociedades. Margareth Thatcher chegou a afirmar que: “Não há mais sociedade, só indivíduos”- utopia maior do liberalismo. É em torno dos direitos individuais que se estruturaria a sociedade.

Numa sociedade como a norteamericana, entre os direitos inalienáveis expressos na Constituição, está o direito do porte de armas, para que os indivíduos se defendam do Estado. (Não importa se as armas terminam nas mãos de crianças, que matam os colegas na escola ou o seu irmãozinho.) De tal forma os direitos individuais se sobrepõem aos direitos coletivos, que Obama não conseguiu, mesmo esgrimindo o massacre de crianças naquela escola dos EUA, limitar esse direito inalienável que os norteamericanos se reservam.

Segundo os preceitos liberais, se há separação de poderes, se há eleições periódicas, se há pluralidade de partidos, se há imprensa livre (atenção: para eles imprensa livre quer dizer imprensa privada), então haveria democracia. O liberalismo utiliza critérios institucionais, políticos, formais, para definir democracia. O próprio Brasil foi, durante muito tempo, o país mais desigual do mundo, porém passou a ser considerado democrático, quando passou a respeitar aqueles cânones, não importando que fosse uma ditadura econômica, social e cultural.

Hoje, quando o Brasil passa por um processo inédito de democratização social, as oligarquias se sentem ameaçadas. Já não controlam o governo nacional, perdem sistematicamente as eleições em nível nacional, sentem que camadas sociais que eram sempre postergadas por eles veem reconhecidos seus direitos e reagem de forma violenta.

Para que se torne efetivamente uma democracia, o Brasil precisa passar por um processo de democratização econômica, política e cultural. Precisa democratizar a economia, quebrando a hegemonia do capital especulativo, promovendo o predomínio dos investimentos produtivos, que gerem bens e empregos. Precisa promover amplamente a pequena e a média produção no campo, aquela que gera empregos e produz alimentos para o mercado interno.

Precisa democratizar as estruturas de representação política, promovendo o financiamento público das campanhas eleitorais, para que os parlamentos representam efetivamente a população, sem a intermediação falseadora do dinheiro.

Precisa democratizar o Judiciário, para que seja um órgão eleito e controlado pela cidadania e não pelas oligarquias do poder e da riqueza.

Precisa democratizar os processo de formação da opinião pública, quebrando o monopólio privado das poucas famílias que dominam de forma monopolista os meios de comunicação. Não se trata de que se impeça alguém de falar mas, ao contrário, que se permita que todos falem, pela multiplicação e diversificação dos distintos meios de comunicação.

A democracia é a maior ameaça ao poder das oligarquias tradicionais. Por isso reagem de maneira tão irada aos processos de democratização em curso na sociedade brasileira.

Texto retirado do blog: Emir Sader

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A biblioteca de Bush está incompleta


A Biblioteca Presidencial George W. Bush foi inaugurada no Texas com a presença do próprio Bush, de seu pai, de Obama, Clinton e Carter. No discurso de Obama (que afirmou que Bush é um bom homem), como em todos os demais deste exclusivo clube, o mais notável foi a ausência de referências ao tema das guerras do Iraque, a resposta ao desastre natural do furacão Katrina e a pior crise econômica desde a Grande Depressão; ou seja, as principais conquistas da gestão Bush.

David Brooks - La Jornada


Há alguns dias, um quinteto presidencial se reuniu no Texas (EUA) para celebrar a inauguração de uma biblioteca com o nome de um deles e, com isso, reabilitar um dos piores presidentes, segundo a opinião pública, da era moderna.

A Biblioteca Presidencial George W. Bush foi inaugurada com a presença de ex-presidentes deste país, e do atual, Barack Obama: o da biblioteca estreada, Bill Clinton, George H.W. Bush (o pai do festejado) e Jimmy Carter. No discurso de Obama (que afirmou que Bush é um bom homem) como em todos os demais deste exclusivo clube, o mais notável foi a ausência de referências ao tema das guerras do Iraque, a resposta ao desastre natural do furacão Katrina e a pior crise econômica desde a Grande Depressão; ou seja, as principais conquistas da gestão Bush.

E é que, como todos no planeta sabem, a grande conquista de Bush foi levar seu país às duas guerras agora mais longas de sua história com justificativas falsas, inaugurou o campo de concentração de Guantánamo, autorizou o uso da tortura e a desaparição de pessoas como instrumentos oficiais da guerra contra o terror, e impulsionou uma das maiores ampliações do governo para administrar esta nova guerra infinita, que incluiu toda uma série de medidas sem precedente para espionar o mundo, incluindo seu próprio povo; tudo isto denunciado por organizações de direitos humanos e de liberdade civil como violações à Constituição e ao direito internacional.

Como se isso fosse pouco, Bush e seu pessoal levaram o país ao precipício do caos econômico. Isso com o custo de milhões de desempregados e o incremento da população com fome, sem casa e sem acesso a serviços de saúde. A lista de consequências é extensa. Mas também foi parte de uma política econômica que se estendeu com Obama e que, de fato, resultou em uma das transferências de riqueza das maiorias ao um por cento mais rico mais dramático da história contemporânea. A desigualdade econômica desde os anos Bush até agora se tornou a mais aguda desde justo antes do estouro da Grande Depressão.

Nada disto foi mencionado no grande festejo, o que leva a perguntar o que há dentro dessa biblioteca, ou melhor, o que não há.

Por exemplo, seguramente não está a carta aberta que um veterano de guerra do Iraque chamado Tomas Young lhe enviou no mês passado ao celebrar-se o décimo aniversário dessa guerra. “Em todos os níveis – moral, estratégico, militar e econômico – o Iraque foi um fracasso… E foram vocês, Sr. Bush e Sr. Cheney, que iniciaram esta guerra. São vocês que deveriam pagar as consequências” escreveu, no que chamou de A última carta, porque Young tomou a decisão de se suicidar nas próximas semanas porque já não aguenta a dor e o deterioro físico de sua existência depois de ficar paralisado nessa guerra.

Young escreve que enviava esta carta a Bush e Cheney “não porque penso que entendem as terríveis consequências humanas e morais de suas mentiras, manipulações e sede por riqueza e poder. Escrevo esta carta porque, antes de minha própria morte, quero deixar claro que eu e centenas de milhares de meus companheiros veteranos, com milhões de companheiros cidadãos e centenas de milhões mais no Iraque e no Oriente Médio, sabemos plenamente quem são vocês e o que fizeram. Vocês poderão evadir da justiça, mas a nossos olhos, cada um é culpável de crimes de guerra severos, de pilhagem e de assassinato, incluindo o de milhares de jovens estadunidenses, meus companheiros veteranos, cujo futuro vocês roubaram”. (A carta completa pode ser consultada em: truthdig).

Seguramente também não estão nessa biblioteca os detalhes de uma das maiores fraudes na história mundial, onde os principais bancos, seguradoras e financeiras enganaram e manipularam a tal grau de avareza que conseguiram detonar uma crise gigantesca que pôs em risco a viabilidade econômica do país. Foram resgatados pelo estado, com a poupança do povo para, pouco depois, regressarem a uma prosperidade recorde hoje em dia.

E agora a festa continua para os afortunados: durante os dois primeiros anos da recuperação econômica, o valor líquido dos lares dos 7% mais ricos do país se incrementou aproximadamente 28%; para os 93% restantes desmoronou 4%, segundo uma análise difundida na semana passada pelo Centro de Investigação Pew. Com isso se incrementou a desigualdade: os 7% mais ricos agora concentram 63% da riqueza dos lares; dois anos antes tinham 56%.

Bush afirmou na celebração que as gerações futuras saberão que nos mantivemos fiéis às nossas convicções.

Tanto as guerras como a política financeira e econômica foram um grande negócio para uns quantos. Tudo isto produto de um consenso entre as cúpulas políticas e econômicas ao longo desta última década.

John LeCarre, o grande escritor britânico, foi um crítico da crescente inter-relação entre as cúpulas políticas e econômicas, apontando com alarme até a cada vez maior privatização das operações bélicas e de inteligência do Estado. Ele comentou recentemente ao New York Times que Mussolini disse que a definição do fascismo era quando não se podia colocar um papel de cigarro entre o poder empresarial e o poder governamental.

Mas nada disto está nessa biblioteca e, menos ainda, que Bush continua ocupando o segundo lugar entre os presidentes mais desaprovados pela opinião pública na era moderna, apesar de este tipo de cerimônias e outros esforços para tentar reabilitar quem formava parte do que Gore Vidal chamava a junta Cheney/Bush (nessa ordem).

Talvez fosse necessário abrir uma biblioteca só com o que não está nessa.

Texto retirado CARTA MAIOR

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Mercadante ignora o compromisso da Folha com a repressão da ditadura

Os carros dos agentes policiais e os veículos da Folha ficavam estacionados nas garagens da empresa. Não havia grande preocupação em esconder a logomarca da empresa nos veículos disponibilizados para a repressão. Certamente, o ministro Aloizio Mercadante, não sabia disto. Economista competente, Aloizio Mercadante desconhece também que eu fui um dos jornalistas presos em janeiro de 1974, no portão de entrada da Folha. O artigo é de Dermi Azevedo.

Dermi Azevedo

Em 1970, a redação da Folha, no quarto andar de um prédio da Alameda Barão de Limeira, centro de São Paulo, era espacialmente dividida entre os jornais Folha de S.Paulo, Folha da Tarde e Última Hora e por policiais do DEOPS e do DOI-CODI. Eles espionavam diariamente os jornalistas e os colaboradores. Seguiam de perto, de modo especial, o jornalista Samuel Wainer, que havia negociado o jornal Ultima Hora com Otávio Frias de Oliveira. “Eles acompanham todos os meus passos e censuram as minhas informações”, queixou-se comigo Wainer, quando entrei na sua pequena sala para lhe propor uma pauta. “Eu posso ser preso a qualquer momento”, desabafou...

Os carros dos agentes policiais e os veículos da Folha ficavam estacionados nas garagens da empresa. Eram kombis e fuscas, em sua maioria. Não havia grande preocupação em esconder a logomarca da empresa nos veículos disponibilizados para a repressão.

Um jornalista de São Paulo, Humberto Kinjô, que estava sendo perseguido pela repressão, conseguiu um trabalho em um jornal colombiano. Pediu ajuda aos seus colegas na redação da Folha para o envio de alguns documentos. Os papéis foram interceptados e os jornalistas, intimidados. 

Certamente. o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, não sabia disto. Economista competente, com o qual trabalhei dois anos no Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), Aloizio Mercadante desconhece também que eu fui um dos jornalistas presos em janeiro de 1974, no portão de entrada da Folha.

Coerente
A cessão de veículos da Folha para os órgãos da repressão da ditadura é coerente com o compromisso dessa empresa com forças da direita. Sempre foi muito forte, por exemplo, a relação entre a Folha e a TFP (Tradição, Família e Propriedade,) uma organização de extrema direita, dirigida pelo advogado Plinio Corrêa de Oliveira. Uns dos jornalistas mais poderosos da Folha, Bóris Casoy, e citado pelo jornalista Flavio Decker, como membro do CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Bóris sempre negou essa informação. Outras organizações com as quais a Folha sempre manteve um bom relacionamento são a Opus Dei e a UDR (União Democrática Ruralista).

Fui escalado nos anos 90 para fazer uma reportagem sobre a Opus Dei. Pouco tempo depois de começar a minha pesquisa, fui surpreendido pela “visita” de um representante dessa organização de origem franquista. Ele propôs a minha candidatura a uma bolsa de estudos na Espanha. Recusei imediatamente.

A Folha participou de uma entrevista coletiva do presidente da UDR, deputado federal Ronaldo Caiado, em um hotel no centro paulistano. Quando chegamos, Caiado distribuiu cópias de boletins de ocorrências contra lideres como Chico Mendes, Paulo Fonteles , padre Josimo Moraes Tavares, e Margarida Maria Alves, entre outros. Protestamos contra a divulgação de documentos policiais contra pessoas assassinadas sem terem mais direito de defesa. Diante de sua agressividade contra os jornalistas, decidimos retirar-nos do local. Ao chegar à redação, fui convocado pelo dono da empresa e fui advertido.

Outros admiradores
Aloizio não está sozinho na lista de admiradores de Otávio Frias. Antes dele, o éx- ministro da Saúde, José Serra, deu o nome de Frias a um dos viadutos mais trafegados de São Paulo.

TExto retirdo do Blog: CARTA MAIOR