terça-feira, 4 de julho de 2017

FESTA JUNINAS - VALORIZAÇÃO E LUCRO

Com o passar dos anos a invasão das manifestações populares por parte dos empresários, do turismo e da música, as nossas tradições estão sumindo. Uma das grandes manifestações populares tradicionais que está ameaçada de sumir são os festejos juninos. Os empresários e políticos que controlam as grandes apresentações (dizem tradicionais) costumam contratarem grupos musicais de renome nacional deixando os grupos musicais locais de fora ou mesmo pagando menos.  As tradições juninas cada vez mais estão perdendo as características e para piorar, com a chamada crise político-econômica, estão fazendo com que os prefeitos deixem de financiar as grandes apresentações. Isso traz reclamações dos chamados artistas (músicos e cantores) e empresários da terra.

prava-forrocaju.jpg

Profissionalização das tradições populares

Para entender a afirmação de como os empresários (do turismo e da música) e políticos transformaram as festas tradicionais em um grande negócio para ganhar voto e dinheiro, seremos obrigado a voltar um pouco no tempo e tomar como exemplo, para explicação, as festas juninas na Cidade de Aracaju (SE).
Algumas décadas atrás, o São João era comemorado em família nas próprias casas e em muitas ruas eram montados arraias justamente por essas famílias. Eram comuns as fogueiras, queima de fogos, contratação de trios de pé de serra e a compra de muita comida típica da época junina, etc.
Com o tempo, esses arraiais passaram a receber patrocínio da prefeitura e um entre esses arraiais se destacou que foi o Arraiá da Rua São João, no Bairro Santo Antônio. Além das apresentações de grupos musicais, tinha as apresentações de quadrilha e venda de comidas típicas. A popularidade cresceu tanto que logo se criou o Campeonato de Quadrilhas Juninas e essa popularidade atraiu os olhos grandes dos políticos e empresário que passaram a patrocinar e controlar a festa.
Com o passar dos anos, surgiram os equipamentos eletrônicos de grande alcance e as apresentações juninas passaram a ocorrer ao lado do mercado central de Aracaju. Inicialmente passaram a existir em grande escala as grandes apresentações na Rua São João e paralelamente o Forrocajú, ao lado do Mercado Central. Devido essa concentração e facilidade tecnológica de se montar palcos com sons que suportavam aglomerações de mais de 50 mil pessoas, os arraiás tradicionais dos bairros sumiram.  Quase todos passaram a festejar o São João nesses grandes eventos sob controle do empresário (do turismo das bandas musicais) e patrocinado pelo dinheiro público. Deixou de ser uma festa de manifestação tradicional para um grande investimento empresarial.
Os empresários do turismo
Entre os empresários que ganham, com as festas juninas, são os da área de hotelaria e sob a alegação que essas apresentações, ditas tradicionais dão lucro para os Estados por que aumentam a arrecadação. O problema é que nunca feito essa contabilidade comprovando que os investimentos, do poder público, nessas grandes apresentações trazem lucro e aumento de arrecadação para os municípios e para o Estado. Certamente traz lucro para os empresários donos de hotéis, que ficam com seus estabelecimentos lotados de turistas, mas comprovação contabilizada de lucro para o poder público, não existe.
Os artistas da terra
Os grupos musicais (cantores e músicos) reclamam da retirada das apresentações (shows) de grande porte por não serem valorizados. Esse “não serem valorizados” quer dizer que estão recebendo menos ou nem mesmo não são contratados, pelo Poder Público para essas grandes apresentações. É comum se contratarem grupos musicais de renome nacional em detrimento dos grupos musicais locais.
Com a crise atual, muitos prefeitos simplesmente suspenderam as apresentações devido aos grandes valores investidos e as reclamações partem que as supostas apresentações poderiam continuar somente contratando valores da terra (grupos da terra) que seriam uma maneira de serem valorizados, ou seja, são profissionais locais da música vendendo apresentações para ganhar dinheiro e o cliente escolhido são as prefeituras e o Estado.
Vendendo a valorização
Quando se conversa com qualquer empresário sobre empresas estatais, a primeira coisa que eles falam é que deveriam privatizar tudo e que essas empresas são cabides de empregos, nunca dão lucro e é fonte de corrupção. Esses argumentos também são muitos encontrados nas opiniões dos componentes dos vários grupos musicais e estranhamente, pedem a privatização dos serviços públicos, mas ao mesmo tempo querem que o Poder Público invista em festas para os grupos musicais serem valorizados (ganharem dinheiro) e os empresários terem lucros em suas empresas, ou seja, suas empresas são eficientes, mas sempre com um cordão umbilical ligado ao investimento público.
Para os músicos, cantores e empresários que querem ganhar dinheiro, com essas festas, não seria mais conveniente investirem dinheiro nessas grandes apresentações cobrando entradas das pessoas e garantir a valorização dos grupos musicais e o lucro das empresas do turismo? Montem uma ou mais empresas para venderem suas apresentações e coloquem a venda seus serviços e produtos para terem certeza que o grande público irá garantir o lucro e provando que vocês estão corretos quando dizem que vocês tem valor e que essas grandes festas dão lucro.

Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)

Texto relacionado:

3 comentários:

  1. O Forrócaju se transformou numa das maiores festas juninas do país. Em matéria recente a festa foi classificada em terceiro lugar em preferência do público, atrás apenas de Campina Grande e Caruaru. Não dá pra negar isso. A não realização da festa esse ano fez com que muita gente deixasse de conseguir algum lucro com a sua realização. Ao poder público não cabe lucrar com a festa mas, permitir que a população da cidade possa, de alguma forma, conseguir alguma receita com a presença dos turistas que pra cá são atraídos e não apenas os grandes empresários do turismo como diz o texto. É irreversível isso. Aqueles que defendem uma festa local, com atrações locais para o povo nativo, e não são poucos, não conseguirão o seu intento. Isso não é mais possível, apesar do Trump, que isso aconteça, em tempos de mundo globalizado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pouco importa o tamanho da festa, mas o dinheiro investido é dinheiro público e em se tratando de tamanho de festa é bom lembrar que o réveillon de Nova York é considerado uma das maiores festa do mundo e todo o investimento é de iniciativa de empresas privadas.

      Excluir
    2. Esqueci um pequeno detalhe: o carnaval está sendo realizado por uma empesa privada e se cobra entrada para cobrir e pelo visto deve está dando lucro já que tem programação para o próximo ano.

      Excluir