domingo, 21 de julho de 2019

No mundo há 13 negros bilionários — cresceu, mas é pouco

Marcos Cardoso

O mundo é hoje habitado por 7 bilhões de humanos. Quase metade desses é da etnia branca ou caucasiana, predominante na Europa e na América do Norte, mas também muito presente na América do Sul, no norte da Ásia e na Oceania (Austrália e Nova Zelândia), África do Norte e Oriente Médio.
Mais ou menos 40% dos humanos são amarelos do leste e sudeste asiáticos ou mongóis da Ásia central e seus descendentes espalhados pelo mundo, incluindo Europa e América. A propósito, o Brasil possui a segunda maior população japonesa do planeta.

Há dezenas de povos indígenas em praticamente todos os continentes. Alguns desses povos, como os americanos, já foram considerados amarelos, mas nunca mais confunda, eles constituem grupos humanos distintos.
E há os 10% da etnia negra, ou 700 milhões da população mundial, incluindo os africanos, os afrodescendentes da América e da Europa, os melanésios da Oceania, os drávidas do sul da Índia e outros.
Pois dentro desse caleidoscópio étnico mundial existem neste momento 2.153 pessoas que conseguiram acumular mais de 1 bilhão de dólares, segundo ranking da revista Forbes. Desse total, apenas 13 são negros. Isso mesmo, 0,6% dos bilionários existentes no mundo são negros. Três anos atrás eram 10 negros bilionários.
São sete africanos (quatro nigerianos, um zimbabuano, uma angolana e um sul-africano), quatro norte-americanos (incluindo a estrela da televisão Oprah Winfrey e o jogador de basquete Michael Jordan), um canadense e um britânico — dez são homens e três são mulheres.
O magnata do cimento nigeriano Aliko Dangote é o mais rico deles, com uma fortuna calculada em US$ 10,9 bilhões. Ainda distante daqueles brancos que são os mais ricos do mundo.
Ou seja, 10% da raça humana é negra, mas apenas pouco mais da metade de 1% de representantes dessa etnia está entre aqueles pouco mais de 2 mil afortunados considerados os mais ricos, os que possuem na conta pessoal mais de 1 bilhão de dólares.
Somente nos Estados Unidos há mais de 500 bilionários, mas apenas quatro negros estão na famosa lista. Com essa comparação superlativa, vê-se também por aqui como é universal o que o negro precisa enfrentar para buscar a semelhança com, principalmente, os brancos. Vida de negro é difícil lá e cá.
No Brasil
O número de brasileiros com mais de US$ 1 bilhão aumentou de 42 em 2018 para 58 em 2019, segundo o critério da Forbes — oito são mulheres. Nenhum é afrodescendente. Mas a boa notícia é que cresceu neste século o número de pretos e pardos considerados ricos.
Segundo o IBGE, o 1% mais rico é formado por 79,7% de brancos e 17,8% de negros — classificação usada pelo instituto para os que se autodeclaram pretos e pardos. Já entre os 10% mais ricos, 72,9% são brancos e 24,8% são negros.
Por aqui, os colocados naquele grupo de 1% mais rico obtiveram renda anual superior a R$ 326 mil — um seleto grupo que reúne 1,4 milhão de pessoas adultas no país. Dentre eles há cerca de 250 mil negros. Parece muito, mas ainda é muito pouco, na verdade, quando se sabe que mais da metade da população brasileira é declaradamente preta ou parda, um contingente superior a 100 milhões de pessoas.
Parêntese: os consultores financeiros contradizem esse critério e defendem que para ser rica uma pessoa precisa ter um patrimônio igual ou maior que 1 milhão de dólares em investimentos financeiros e possuir uma renda familiar de pelo menos R$ 700 mil por ano. No Brasil, apenas 130 mil pessoas podem se dizer ricas, segundo esse padrão. 
E esse número é inversamente proporcional aos que estão na base da pirâmide social, sofrendo as agruras do desamparo e da violência. O negro pena para subir na vida e é a maior vítima da pobreza e da criminalidade.
Segundo o Mapa da Violência 2016, em 11 anos — entre 2003 e 2014 — caiu no Brasil o número de homicídios por arma de fogo entre os brancos: de pouco mais de 13 mil para quase 10 mil por ano. Mas entre os negros, a taxa de homicídios que já era alta cresceu ainda mais: de 20 mil para quase 30 mil por ano.
Em Sergipe, por comparação, o que aconteceu foi bem pior. O número de homicídios por arma de fogo entre brancos subiu de 51 para 69 por ano (crescimento de 14%). Entre negros, saltou de 200 para 822 por ano (crescimento de 247%).
Ainda falando de 2014, a taxa de homicídios entre brancos naquele ano foi de 14 por cada grupo de 100 mil habitantes. Entre negros, foi de quase 50/100 mil.
Além de jovens pobres do sexo masculino, as principais vítimas são invariavelmente os negros. É o retrato em preto, branco e vermelho do preconceito arraigado na nossa sociedade patriarcal, patrimonialista e elitista, que odeia programas governamentais que beneficiem os pobres, porque acha que para eles não há remédio, quando quem pensa assim é que parece não ter cura.
E a epidemia se estende além fronteira. A miséria da América Latina, se hoje é menos debitada aos países exploradores, agora está na conta do capital especulativo abutre, que faz um bilionário (de qualquer etnia) do dia para a noite à custa da desgraça de milhões de seres humanos, e da insensível elite que prefere apostar no egoísmo, na demofobia e no preconceito a buscar investir na solução de um problema que acredita cegamente nunca a afetar.
Enquanto cidadãos, os negros têm direitos e deveres. Mas a raça negra não deve nada à sociedade, pelo contrário. É credora pelo que sofreu, ainda sofre e, principalmente, pela imensa contribuição dada ao Brasil e ao mundo.

Imagem: AP/Jason E. Miczek

Publicação replicada: MARCOS CARDOSO

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