domingo, 14 de dezembro de 2014

Desafios da Segurança...., ops, desafios da cidadania

Por Eduardo Marcelo Silva Rocha*


Entre quinta e sexta-feira, ao ouvir chamadas de um programa televisivo sobre a Suécia, suspeitei de uma possível abordagem tendenciosa do tema, mais desinformativa que informativa, pautando, de forma totalmente rasteira, a gritante diferença entre aquele país e o nosso.

Já no sábado, em duas ocasiões fui perguntado sobre o que achava daquele “absurdo”, do que respondi sim, pois havia um absurdo ali, exatamente na forma parcial como deu-se o programa. Como se ambos os povos fossem iguais e agissem da mesma forma, somente se diferenciando pela forma como os governos procedem. Para para defender minha posição, expus os argumentos seguintes.

Sim, morar na Suécia, como nos demais países Escandinavos, deve mesmo ser fantástico, não duvido. Mas o primeiro problema da reportagem, é “esquecer” de ser isenta e explicar não somente o que lá existe, mas como e por quais motivos aquilo existe, bem como os modos e o grau de civilidade de cada povo.

Assim, creio que tudo funciona muito bem por lá, mas duvido que lá exista, por primeiro exemplo, o “jeitinho brasileiro”. Lá a cidadania deve estar mesmo próximo da plenitude, mas duvido que qualquer cidadão sinta-se ofendido ao ser chamado de cidadão – como aqui ocorre, uma vez que criou-se um estereotipou-se o termo, que normalmente é usado em abordagens policiais, logo...

Tenho certeza que os índices de morte no trânsito sueco sejam mínimos, mas duvido que seus condutores vivam a burlar as normas básicas de trânsito – como desrespeitar sinal vermelho, faixa de pedestres ou estacionar em faixa dupla por pura conveniência, além de entregar veículos a menores nas praias, pondo em risco a vida dos outros (e deles próprios, inclusive), etec. - agindo sem nenhuma CIDADANIA como vemos por aqui diuturnamente.

Não ouso duvidar da qualidade dos serviços públicos de maneira geral por lá, mas duvido que os CIDADÃOS suecos fujam do atendimento comum ou das filas, apelando ao “amigo influente” que o liberará da obrigação imposta a todos os CIDADÃOS de submeter-se à burocracia do Estado. Também duvido que os CIDADÃOS suecos não sejam atores protagonistas da luta por melhorias ou pela manutenção dos seus serviços públicos, uma vez que eles não devem achar muito coerente ir ao exterior e fazer “selfie” andando de trem, ônibus ou metrô, mas, ao voltar ao seu país, ser acometido por um profundo lapso de memória e voltar a cultuar o seu carro, esquecendo as maravilhas sociais que o transporte público pode oferecer.

Do mesmo jeito, tenho certeza que na Suécia os recursos públicos são direcionados aos serviços públicos com bastante efetividade. Mas sei também, que lá, muito diferentemente daqui, existem algumas questões de ordem econômico-financeira, bem peculiares, ÀS QUAIS DUVIDO QUE O BRASILEIRO QUE ADORA ADORAR A SUÉCIA, nutra muita simpatia à sua implementação em nosso país:
  1. Lá, a diferença de salarial entre “um médico, um professor, um gari ou um engenheiro é mínima”;
  2. A carga tributária sueca é 15 pontos percentuais superior à do Brasil - que é de 35% - perfazendo uma carga de 50% do PIB;
  3.  Portanto, naquele país, o Imposto de Renda, o Imposto sobre Patrimônio e sobre Transmissão de Herança são extremamente altos, para se assegurar a qualidade dos serviços públicos, tributando os desiguais de maneira desigual;
Pausa para uma pontuação: Não deixa de ser interessante, vir algumas pessoas criticarem as políticas sociais que timidamente estão sendo consolidadas no país, mas ao mesmo tempo elogiá-las na Suécia. Isso pra não falar incoerente.

A construção do modelo de sociedade de países como a Suécia, passa ao largo de se enfatizar desregulamentação de economia/intervenção mínima do Estado ou de algo perverso à sociedade, mas cinicamente chamado de “políticas austeras”. Algo recentemente defendido por aqui, quase como uma solução divina.

No documentário “Trabalho Interno” (Inside Job,EUA,2010), é possível constatar, dentre outras coisas, duas realidades gritantes:

A primeira, que a crise iniciada em 2007/2008 – que ainda influencia o mundo, pondo todas as grandes potências de joelhos – poderia ter sido evitada, sendo fruto da desregulamentação da economia, sob a batuta do “deus” mercado;

A segunda, que nem mesmo os países escandinavos, tão famosos por suas condições sociais fantásticas, conseguem resistir à bíblia do “deus” mercado, vez que o início do filme trata da “quebra” da Islândia, após adotar esse tipo de política desregulamentatória;

Diante do que foi dito, surge uma dúvida – não na Suécia, mas sim no Brasil – qual seria a escolha dos adoradores da Suécia (que formataram suas opiniões em programas televisivos desse tipo) entre a adoção de políticas suecas de garantia social (que atuam frontalmente na luta contra a desigualdade) e a adoção de políticas pautadas no “deus” mercado, capazes de promover ganhos imediatos para os que tem capacidade de investimento, pouco efetivos na redução de desigualdades?

Adaptando a fala de Diogo Costa - de quem coletei algumas informações contidas aqui - se dependêssemos da mensagem passada pelo programa televisivo sobre a Suécia, para construirmos bons sujeitos aptos a lutar por um modelo social Sueco no Brasil, “jamais chegaríamos a ser uma Suécia”.

http://jornalggn.com.br/blog/diogo-costa/modelo-sueco-e-bom-desde-que-fique-bem-longe-do-brasil

*Capitão PM http:// eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br

Texto retirado deste blog: CLAUDIO NUNES

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