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domingo, 21 de julho de 2013

Se o Brasil estivesse em crise a sua vida já teria piorado

Quem melhor definiu a atual conjuntura política do país foi, de forma surpreendentemente, o correspondente do diário espanhol El País no Brasil, Juan Arias, em meados do mês passado. Antes de abordar o que ele disse, vale explicar que a opinião desse jornalista chega a surpreender porque há anos ele vem sendo um dos grandes críticos dos governos Lula e Dilma.

Abaixo, alguns trechos do artigo de Arias em questão, publicado no diário espanhol.

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” (…) Por enquanto, o que existe é um consenso de que o Brasil, invejado internacionalmente até agora, vive uma espécie de esquizofrenia ou paradoxo que ainda deve ser analisado ou explicado.

(…)

Agora surge um movimento de protesto quando, ao longo dos últimos dez anos, o Brasil viveu como que anestesiado por seu êxito compartilhado e aplaudido mundialmente.

(…)

O Brasil está pior do que há dez anos? Não, está melhor. Está mais rico, tem menos pobres e testemunha o crescimento do seu número de milionários. É mais democrático e menos desigual.

(…)

Por que então saem às ruas para protestar contra a alta dos preços dos transportes públicos jovens que normalmente não usam esses meios porque já têm carros, algo impensável há dez anos?

(…)

Por que protestam estudantes de famílias que até pouco tempo não tinham sonhado em ver seus filhos pisarem na universidade? (…)”

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Quando se analisa a situação do país até ao menos o mês de maio, ganha sentido o uso do termo “esquizofrenia” pelo jornalista espanhol, de forma a caracterizar o sentimento que se formou entre grande parte dos brasileiros.

As pessoas parecem acreditar que as suas vidas estão piorando, daí as manifestações de insatisfação, ainda que restritas a um setor minoritário da sociedade, a classe média. Contudo, o mero olhar para indicadores sobre os setores que mais afetam a vida do cidadão comum mostra que o país vem melhorando, sim, e muito.

Vejamos os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE sobre o índice de desemprego no país de 2002 (quando foi adotada a atual metodologia de mensuração do problema) até hoje.

O gráfico abaixo foi extraído do site do IBGE e mostra que em um mundo em que a falta de postos de trabalho se tornou uma epidemia, no nosso país o nível de emprego caminha no sentido inverso, com geração de cada vez mais postos de trabalho e de salários mais altos.


Alguns dizem que a inflação teria parte da responsabilidade pelo aumento da insatisfação com o país. Contudo, ao analisarmos um dos indicadores mais usados para mensurar o impacto dos preços sobre a vida das pessoas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), percebe-se que tampouco o aumento de preços chegou a um nível que possa explicar alguma coisa.

Abaixo, os índices anuais do IPCA entre 1998 a 2012 e os dos meses de 2013.

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Quadro inflacionário medido pelo IPCA cheio, no período 1998-2013:

1998 = 1,95%

1999 = 9,52%

2000 = 6,59%

2001 = 8,23%

2002 = 12,53%

2003 = 9,3%

2004 = 7,6%

2005 = 5,69%

2006 = 3,14%

2007 = 4,46%

2008 = 5,90%

2009 = 4,31%

2010 = 5,91%

2011 = 6,5%

2012 = 5,84%

2013 = 3,15% no ano e acumulado em 12 meses (entre janeiro e junho deste ano) é de 6,7%.

Fonte IBGE

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Como se vê, não há nenhum estouro da inflação. O nível de inflação atual permanece no patamar histórico. Contudo, o que se vê na mídia sobre o assunto induz à crença de que estaríamos à beira de uma crise de hiperinflação.

Em relação aos salários, o valor deles nunca foi tão alto. Abaixo, dados da última PME do IBGE, que mostra que, em relação a 2012, os salários continuam crescendo.

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Pessoas Ocupadas (abril 2012) 1.949,81 - (maio 2013) 2.010,69

Empregados no Setor Privado (abril 2012) 1.749,34 - (maio 2013) 1.841,51

Empregados no Setor Público (abril 2012) 2.701,27 - (maio 2013) 2.572,53

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O que mais impressiona é que, em 2002, o salário médio do trabalhador teve declínio de 8,3% em relação a 2001, passando a corresponder a R$ 889, valor 28,3% menor do que o registrado em 1997.

Ou seja: o Brasil de 2013 é um país infinitamente melhor do que o de 2003, quando o PT chegou ao poder.

E além dos ganhos para todos, relatório sobre as cidades latino-americanas feito pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), divulgado no ano passado, mostrou que o Brasil diminuiu a desigualdade social como nenhum outro país ao longo da última década.

Nos anos 1990, o Brasil era o mais desigual na região. Nesta década, foi o país que mais reduziu a desigualdade enquanto em outros países ela cresceu.

Nos últimos anos, a renda dos brasileiros mais pobres cresceu 70% e a dos mais ricos, cerca de 10%. E esses 10% mais pobres tiveram a renda aumentada justamente por causa do trabalho, ou seja, dos novos empregos que estão sendo gerados. E pelos aumentos reais do salário mínimo, claro.

A despeito de tudo isso, o grupo político que promoveu melhora tão expressiva na vida deste povo se encontra diante de um paradoxo que, usando o adequado termo do corresponde do jornal espanhol supracitado, pode ser considerado “esquizofrênico”.

Uma parcela imensa do povo brasileiro está sendo enganada tanto por grandes meios de comunicação quanto por partidos políticos de oposição. As pessoas acham que o país está “indo mal” apesar de estar acontecendo justamente o oposto.

Pesquisa recente do instituto MDA, feita para a Confederação Nacional dos Transportes, mostra que 84% dos brasileiros aprovam protestos de rua que desembocaram em uma imensa queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff.

Essa grande maioria dos brasileiros, que até dois ou três meses atrás dava enorme apoio ao grupo político que fez o país melhorar tanto, de repente passou a achar que vive em um país à beira da ruína.

Tudo isso decorre de um artificialismo que, conforme entrevista de Marcos Coimbra (sociólogo e diretor do instituto Vox Populi) concedida a este Blog na última quinta-feira e conforme a mesma pesquisa MDA citada acima, implantou na cabeça das pessoas uma sensação de mal-estar.

Ora, como o país pode estar indo bem se vemos cenas de guerra como as que vimos recentemente na zona Sul do Rio de Janeiro? São cenas que só se explicam por um grave descontentamento social que só poderia decorrer de o país, de fato, estar “indo mal”. É isso que o povo pensa.

Contudo, você, leitor, tem visto muita gente reclamando de ter perdido o emprego ou de seu salário não estar comprando mais o que comprava antes? A sua própria vida piorou? Muito pelo contrário. O Brasil vive uma febre de consumo porque as pessoas têm dinheiro no bolso.

As ruas estão cada vez mais entupidas de carros zero quilômetro. As residências mais humildes, hoje, estão sendo reformadas e entupidas de bens de consumo como televisões, computadores, novos móveis etc. E, hoje, só não encontra emprego quem não quer trabalhar.

O que é preciso, portanto, é fazer os brasileiros refletirem que quando um país vai mal a vida das pessoas piora. Entretanto, quem pode dizer que sua vida tem piorado? Só o que tem piorado é a percepção sobre o futuro.

Essa percepção se fundamenta, basicamente, na informação. As pessoas vêm sendo bombardeadas pelos meios de comunicação de massa com cenas de guerra e previsões catastrofistas e, juntando umas e outras, construíram essa percepção pessimista.

Urge, portanto, que seja levada a cabo uma campanha de comunicação governamental que faça os brasileiros refletirem sobre a realidade. O povo brasileiro foi posto em pânico por ação de concessões públicas de rádio e televisão que estão sendo usadas com fins políticos.

É mais simples do que parece desmontar a campanha insidiosa que foi construída na mídia e nas ruas para apavorar a sociedade. Há fartura de dados que comprovam que o país vai bem. Mas se uma campanha em sentido contrário não for feita, o brasileiro, ano que vem, irá votar por mudança daquilo que, como se vê neste texto, está dando muito certo.

Fica a dica.

Texto replicado : BLOG DA CIDADANIA

sábado, 2 de junho de 2012

Dia Internacional da Biodiversidade: a atração da humanidade pela destruição


Há uma década, o mundo tinha um total de 11 mil espécies ameaçadas de extinção. A ONU estabeleceu então a meta de reduzir significativamente esse número. Não deu certo. Desde a Rio 92, o mundo teve uma perda de biodiversidade de 12%, emitiu 40% mais gases poluentes. Só entre 2000 e 2010, perdemos 13 milhões de hectares de florestas.


Marco Aurélio Weissheimer


Os filmes-catástrofe trazem uma situação recorrente: em algum momento, um cientista considerado meio maluco ou alguma outra pessoa (um policial, jornalista, bombeiro, etc) alerta para um perigo iminente. O alerta inicial é ignorado e, muitas vezes, rechaçado por argumentos que, na maioria dos casos, tem uma base econômica. Os fatos se sucedem, as ameaças tornam-se realidade e aqueles que desprezaram o alerta inicial muitas vezes acabam vitimados na tela. Na vida real, não são só os vilões irresponsáveis que morrem. As tragédias abatem-se democraticamente sobre todos. O cinema não inventou essa lógica do nada, mas a retirou da vida real, onde ela segue hegemônica. Os crescentes e repetidos alertas sobre a destruição ambiental no planeta seguem sendo subjugados por argumentos de natureza econômica.

Todo mundo hoje, em tese, se preocupa com o meio ambiente, desde é claro, que ele não se torne um “entrave” para o desenvolvimento, como se viu, mais uma vez, no recente debate sobre as mudanças no Código Florestal brasileiro. O policial está na beira da praia alertando o prefeito para que mantenha a interdição da mesma porque tem tubarão na área. O prefeito não quer nem saber da ideia, pois a interdição atingiria em cheio o turismo, principal fonte de renda da comunidade. O geólogo pede a evacuação imediata de uma cidade em função da ameaça de um vulcão. Mais uma vez, o turismo ergue-se reivindicando seu espaço. Uma jornalista denuncia o risco de acidente em uma usina nuclear. A bancada ruralista é universal e está sempre pronta a bloquear “alertas catastrofistas” e outras formas de entraves ao desenvolvimento. E assim vamos.

Este 22 de maio, Dia Internacional da Biodiversidade, foi marcado por novos alertas sobre a destruição da diversidade biológica no planeta Terra, em especial nos oceanos, que ganharam atenção especial da ONU este ano. Algumas das informações mais recentes de órgãos ligados às Nações Unidas e a centros de pesquisa apontam o seguinte quadro no planeta:

Apenas no século XX, graças à ação humana, sumiram do planeta metade das áreas pantanosas, 40% das florestas e 30% dos manguezais.

Desde a Rio 92, o mundo teve uma perda de biodiversidade de 12% e emitiu 40% mais gases poluentes. Somente entre os anos de 2000 e 2010, perdemos 13 milhões de hectares de florestas.

Cerca da metade das reservas de pescas mundiais estão esgotadas;

Um terço dos ecossistemas marítimos mais importantes foi destruído;

O lixo plástico segue matando a vida marinha e criando áreas de águas litorâneas quase sem oxigênio.

Há uma década, o mundo tinha um total de 11 mil espécies ameaçadas de extinção. A ONU estabeleceu então a meta de reduzir significativamente esse número. Não deu certo. Ele aumentou.

Em 2002, os países signatários do Convênio sobre a Diversidade Biológica acordaram que deveriam obter essa redução no ritmo da perda de biodiversidade em 2010, Ano Internacional da Diversidade Biológica. A avaliação dessa meta foi coordenada pelo Centro de Monitoramento para a Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Ela baseou-se em uma série de indicadores, tais como a apropriação de recursos naturais, o número de espécies ameaçadas, a cobertura de áreas protegidas, a extensão de bosques tropicais e manguezais e o estado dos arrecifes de coral.

Os resultados foram conclusivos: a biodiversidade vem caindo nas últimas quatro décadas. Caindo significa: extinção de espécies, redução da extensão de bosques e manguezais e, deterioração de zonas com arrecifes de coral. Além disso, a avaliação mostrou que ambientes naturais estão se fragmentando, com destruição de flora e fauna. A Mata Atlântica brasileira seria um exemplo disso. No passado, o segundo bosque mais extenso da América do Sul, hoje se conservam aproximadamente 10%, numa área fragmentada em parcelas diminutas.

A situação dos oceanos também é motivo de crescente preocupação. A Convenção sobre a Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidas lançou hoje (22) o livro “Um oceano: muitos mundos de vida”. A obra destaca a importância dos oceanos, que cobrem cerca de 70% do planeta, e alguns dos principais problemas que os afetam hoje, como o aumento da acidez causado pela poluição, a destruição de reservas marinhas e a crescente pressão econômica pela exploração de seus recursos naturais. Ao todo, estão ameaçadas pelo menos 250 mil espécies, conforme o censo marinho realizado entre 2000 e 2010 por 2.700 cientistas de mais de 80 países.

Há um aparente paradoxo cercando essa profusão de alertas e advertências sobre o estado ambiental do mundo. Nunca houve tanta informação disponível e tanta manifestação de preocupação com a degradação física do planeta, inclusive por parte das autoridades governamentais. No entanto, os números da destruição vêm aumentando e a crise econômica em escala internacional pressiona os países a empurrar esse debate com a barriga para um futuro incerto. Há vários níveis de ignorância e incompreensão neste debate. A extinção de uma espécie de bromélia no interior do Rio Grande do Sul ou de uma espécie de besouro no leste da Tanzânia são tratadas quase que como excentricidades. Isoladamente até poderiam ser. O “detalhe” é que, em se tratando de vida e ecossistemas, nunca são acontecimentos isolados, resultando de uma mesma lógica destrutiva hegemônica em escala planetária.

O cientista maluco, a jornalista sensacionalista e o policial paranoico seguem fazendo seus alertas e divulgando seus números. O imaginário da humanidade, porém, como vem antecipando o cinema há algumas décadas, parece ter uma atração irresistível pela destruição e pela morte.

Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)

Matéria copilada do site: http://www.cartamaior.com.br