sexta-feira, 5 de maio de 2023

O SILÊNCIO DO SOM


Conhecido como trompete ou pistom
Quando estudava a 8ª série do primeiro grau (hoje 9ª série), tinha quinze anos de idade, fui convidado, com vários colegas, para aprender música. O professor de Matemática Gabriel e um dos colegas de turma (Valténio) resolveram colocar uma banda marcial no CEMB (Colégio Estadual Murilo Braga).

Comecei aprendendo um instrumento chamado trompa, as vezes tocava o surdo ou o tarol (em alguns locais é conhecido como caixa). Depois passei a tocar trompete (em alguns locais se chama pistom). Claro que passei a tocar trompete achando que dava mais visibilidade e sem falar que a pessoa tocando trompete conseguia ganhar algum dinheiro tocando em algumas festas.

Durante algum tempo era permitido levar os instrumentos para casa e aproveitávamos para ensaiar para a banda, tocar em outros eventos e não somente os relacionados as atividades relacionadas ao colégio.

Quando levávamos os instrumentos, para casa, era comum se fazer ensaios e eu costumava praticar com um desses colegas que tocava o mesmo instrumento. Claro que a grande maioria das música era eu quem passava para ele já que tinha mais tempo tocando na banda e consequentemente mais prática na leitura das partituras.

A banda já estava consistente e tocávamos em varias ocasiões : Sete de Setembro, festas religiosas, festas sociais e até recebíamos convites para tocarmos em outras cidades. Nas atividades que não eram relacionadas ao colégio cobrávamos um cachê.

Mas, por algum motivo foi, suspenso o direito de se levar os instrumentos para casa e eu foi o único a não concordar com a atitude . Embora todos, que tocavam, reclamassem, pelos cutuvelos é claro, eu fui o único que resolvi não tocar mais por não concordar com tal atitude. Claro, eu era um dos poucos, que tocava na banda, sem condições financeiras de adquirir a propriedade de um desses instrumentos. Afinal de contas, nesta época, o preço dos instrumentos musicais eram para poucos, mas grande parte desses colegas adquiriram seus próprios instrumentos.

Depois dessa proibição, de se levar os instrumentos para casa, apareceu outra oportunidade de tocarmos, em um baile, no Clube do Aruanda.

Os que tinham instrumentos musicais acertaram o preço para a empreitada e eu ficando de fora, mas um amigo de apelido Balsa me falou que o irmão tinha um trompete e não tocava. Me orientou a falar com o pai (seu Noel da Serraria) que provavelmente me emprestaria.

Em posse do instrumento fui acertar para fazer parte do grupo e qual a minha surpresa! Justamente aquele colega, que costumávamos fazer os ensaios juntos, foi o primeiro a gritar que não aceitava mais dividir o dinheiro que se iria receber. Quem quisesse dividir, o cachê, para eu entrar no grupo,que dividisse, mas ele não, já tinha gente demais! Embora ficasse acertado que não receberia para tocar, no dia da Micarana, estava tocando!.

Começou o baile e eu tocando, só que assim que você vai tocando, a garganta vai ficando seca e é bom beber um pouco de água ou alguma bebida para se conseguir tirar som dos instrumentos de sopro! Assim que ia tocando, a garganta foi ficando seca e como eu não tinha um tostão para tomar sequer uma água mineral (estava desempregado), o som foi ficando difícil de ser tocando ao ponto de não sair mais. Os meus colegas do grupo, vendo que não saia mais som, vieram reclamar que não estava saindo som!!! Embora estivesse tocando de graça, os colegas não me ofereceram sequer uma água e ainda ficaram esnobando da minha cara por não está conseguindo está conseguindo tirar o som!

Quando ia saindo do clube fui chamado, por um músicos de um outro grupo, me perguntaram se eu não gostaria de tocar juntos com eles. Então expliquei o fato de não ser dono do instrumento e que o mesmo era emprestado. Os integrantes deste grupo se comprometeram comprar o instrumento depois da primeira apresentação.

O problema é que o dono do instrumento, de maneira justa, pois estava demorando em posse do instrumento, me mandou recado pelo filho, para que eu procedesse a devolução. No outro dia fui lá devolver o instrumento ao respectivo dono e que por ter ficado chateado se recusou a vendê-lo. Embora ficasse chateado, o Sr. Noel, igualmente aos filhos, me tratou educadamente e apenas se recusou vender o instrumento alegando que o mesmo foi presente para o filho mais novo.

O tempo passou, mais de trinta anos , e eu me encontro com aquele colega que realizava os ensaios na casa dele. Ao tocar no assunto, sobre música, o mesmo foi logo de supetão: mas você sempre tocava e não saia som!!! Mais uma vez, nem por que sim e nem por que não, não perdi o trabalho de responder. Continuei em silêncio!

Passados mais trinta anos, descobrir que durante os quatro anos que toquei na bando marcial do CEMB, em todas as apresentações e em todos carnavais o som não saia do meu instrumento! Só agora, depois de todo esse tempo, é que esse colega veio me avisar deste acontecido, eu sem saber, e tivesse passado todo esse vexame!

Vejam a inteligência desse colega, só por que em uma apresentação aconteceu de não conseguir tirar som no instrumento , pelo motivo explicado acima, e sequer estava recebendo cachê , o cara generalizou o problema para todas as minhas apresentações e todos os eventos!!!

Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)

Texto original : OS CEBOLEIROS

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