Imagem abaixo: grupo de Bugreiros com suas vítimas capturadas, crianças indígenas que eram entregues a famílias de colonos ou postas em orfanatos da Igreja.
Como se deu a colonização, genocídio e roubo de terras indígenas no RS, SC e PR. A história é revoltante e chocante, bárbara e selvagem.... Tem que ter estômago!
"""""[...] pela boca da arma. O assalto se dava ao amanhecer. Primeiro, disparava-se uns tiros. Depois passava-se o resto no fio do facão. O corpo é que nem bananeira, corta macio. Cortavam-se as orelhas. Cada par tinha preço. Às vezes, para mostrar, a gente trazia algumas mulheres e crianças.Tinha que matar todos. Se não, algum sobrevivente fazia vingança. Quando fora acabando, o governo deixou de pagar a gente. A tropa já não tinha como manter as despesas. As companhias de colonização e os colonos pagavam menos. As tropas foram terminando. Ficaram só uns poucoshomens, que iam em dois ou três pro mato, caçando e matando esses índios extraviados. Getúlio Vargas já era governo, quando eu fiz a última batida. Usei Winchester. Os índios estavam acampados num grotão. Gastei 24 tiros. Meu companheiro, não sei. Eu atirava bem."””
Os caçadores de índios, os Bugreiros
por Éric Vargas*
Esse é um dos episódios, de longa duração, de maior infâmia, barbárie e crimes contra a humanidade que este estado já viu! A bem da verdade, essa barbárie não atingiu apenas o Rio Grande do Sul, mas os três estados do Sul, sendo ainda mais aguda em SC, onde a nação indígena Xokleng, foi quase exterminada. Aqui, no RS, as principais vítimas foram os indígenas da cultura Jê, comumente chamados de Kaigang's. Invasão de seus territórios, a lei como inimiga e a morte como ferramenta nas mãos dos colonos. Essa é a História, ou melhor, a Contra-História do Extermínio indígena no Sul.
Após a expulsão dos padres Jesuítas da região das Missões, a Guerra Guaranítica, e a consequente invasão de terras missioneiras pelos colonos portugueses, que tomam o gado para si, ou simplesmente os matam pelo curo e sebo, deixando o resto no campo a apodrecer. Era a "Courama".
Até 1828 ainda haviam índios Guaranis remanescentes na região das Missões. Mas já não tinham, nem viviam como os tempos de glória! A colonização do Planalto central do RS se deu a partir de 1810/20. O ritmo de colonização era lento. Interessava a estes apenas os campos. As áreas de mata fechada ou floresta eram deixadas, e lá se tornou o refúgio de muitos indígenas, os Kaigang, ou "Povo do Mato". Em 1847, haviam registrados 1.159 colonos portugueses no Planalto Central do RS.
Mas aí não se contavam lavradores pobres e coletores de Erva-Mate. A Primeira Onda de imigração européia não Ibérica no RS, foi a partir de 1824, com a chegada de imigrantes alemães na região dos Vales, principalmente no Vale dos Sinos. Já nessa fase ocorreram confrontos por terras entre colonos e indígenas. No período de 1829 a 1831, se tem registro de 19 colonos mortos por contra ataques indígenas nas colônias mais afastadas. A partir daí já se iniciaram algumas forças não oficiais, armadas e preparadas para matar indígenas que se opusessem a invasão de suas terras.
Em 1850, mais precisamente em 18 de setembro de 1850, foi aprovada a Lei n° 601 do Império Brasileiro. E se tratava da chamada "Lei de Terras", que balizava o novo plano legal de posse de Terras no Brasil. Essa Lei instituía que só poderia ter a posse da terra quem por ela tivesse pago, ou que ocupasse de forma economicamente viável. Essa Lei também definia a necessidade de Revalidação da posse de Terras pela doação das antigas Sesmarias (que foram suspensas no Decreto de independência em 1822). E a posse só seria dada a quem estivesse fazendo das terras um bem de Capital, com produção de Valor. Nisso, muitas Sesmarias foram redivididas em lotes de colonos. No entanto, lavradores pobres, que ocupavam terras há mais tempo, não tiveram como regularizar sua posse sobre elas pelo fato de não se enquadrar nós parâmetros de uso da terra. Inclusive as roças de subsistência dos indígenas, não foram consideradas aptas a dar direito de pleitear a posse. No adendo regulamentar à Lei de Terras, de 1854, ficou decidido que a "Questão Indígena" seria resolvida com a demarcação de Aldeias. O aldeiamento seria em terras com tamanho e localização que o poder público julgasse necessário. O que se traduziu em ser sempre desfavorável aos indígenas.
A partir de 1848, inicia a Segunda Onda de imigração européia não Ibérica ao Rio Grande do Sul. Vieram os italianos, mais tarde até poloneses. O incentivo do Império Brasileiro à imigração européia era dada a vontade de substituir gradualmente a importância da mão de obra escrava e o "branqueamento" da população brasileira. A pressão sobre os territórios indígenas aumenta, e não só no RS.
Em Santa Catarina surgiram bandos militarizados, de mercenários pagos para exterminar indígenas como quem extermina insetos. Vários foram tidos como "heróis". Um deles, Martinho Bugreiro, que teria se tornado caçador de índios após perder mulher e filho em ataques indígenas contra colônias em terras originalmente ocupadas por eles. Martinho se vangloriava em ter matado mais de MIL indígenas. Passados no facão e na bala! Um documento digitalizado, do Arquivo Histórico de Blumenau/SC, datando já do ano de 1984, ainda fazia a seguinte pergunta: "Martinho Bugreiro, Herói ou Vilão?". E colocava como aspecto "Positivo" de suas matanças o fato de "trazer a paz e a tranquilidade" aos caminhos dos tropeiros do pé da Serra em SC. A paz dos mortos era comemorada até há pouco em nosso estado vizinho!
No Rio Grande do Sul há pouco ou quase nada em registros dos pagamentos aos grupos de Bugreiros. Muitos deles, eram grupos experientes na matança de indígenas e vinham do estado de SC. E o confronto pela terra ainda é uma luta dos Kaigang. Em 1978, Kaigang's liderados pelo cacique Xangré, expulsaram os posseiros ilegais em partes de sua reserva. Eram 350 famílias que foram recolocadas na então "nova fronteira agrícola" do Mato Grosso.
A matança de indígenas pelos grupos de mercenários Bugreiros perdurou de forma sistemática até 1910/1920. Mas ainda no governo Vargas, ainda haviam expedições de Extermínio indígena nas Serras do RS, SC e PR. Este artigo, nos aùreos tempos do Fazendo História?! seria capa!!
É importante conhecer, mas nem sempre é bom...
Bateu-me uma tristeza misturada com revolta!
"[...] pela boca da arma. O assalto se dava ao amanhecer. Primeiro, disparava-se uns tiros. Depois passava-se o resto no fio do facão. O corpo é que nem bananeira, corta macio. Cortavam-se as orelhas. Cada par tinha preço. Às vezes, para mostrar, a gente trazia algumas mulheres e crianças.Tinha que matar todos. Se não, algum sobrevivente fazia vingança. Quando fora acab ando, o governo deixou de pagar a gente. A tropa já não tinha como manter as despesas. As companhias de colonização e os colonos pagavam menos. As tropas foram terminando. Ficaram só uns poucos homens, que iam em dois ou três pro mato, caçando e matando esses índios extraviados. Getúlio Vargas já era governo, quando eu fiz a última batid. Usei Winchester. Os índios tavam acampados num grotão. Gastei 24 tiros. Meu companheiro, não sei. Eu atirava bem."
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*Professor de História e Filosofia da rede pública estadual do RS.
Observação: texto retirado do facebook.
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