sábado, 18 de abril de 2015

Fim da OEA está cada vez mais perto

A OEA saiu ainda mais enfraquecida da Cúpula, diante da contraposição dos países do continente e a dos EUA. A OEA está mais perto do seu fim.

por Emir Sader em 14/04/2015 às 08:08

A OEA reinava, até há pouco tempo, como o fórum dos países da América, reunindo os países da América Latina e do Caribe, mais os EUA e o Canadá. Era uma sobrevivência não apenas da guerra fria, mas sobretudo da Doutrina Monroe, constituindo-se na instância através da qual os EUA impunham sua hegemonia sobre o continente.

A Cúpula das Américas, realizada no Panamá, ao invés de ser a abertura de uma nova fase para a OEA, representa mais um passo na direção da sua intranscendência. O mundo que ela expressava não existe mais. Os processos de integração latino-americana foram criando suas próprias instâncias, deixando a OEA como organismo superado pelas novas realidades do continente.

O OEA foi uma sobrevivência da guerra fria ou melhor, da própria Doutrina Monroe. Servia como espaço de imposição da hegemonia norteamericana, da “América para os (norte)americanos”. Era uma instância espúria que, embora fosse a que pretendia representar ao conjunto do continente era, na realidade, nas palavras de Fidel “O Ministério das Colônias dos EUA”.

Quando países da America do Sul começaram a organizar espaços de integração regional – Unasul, Conselho Sulamericano de Defesa, Banco do Sul -, a OEA foi perdendo espaço. E quando se constituiu a Celac, agrupando a todos os países da America Latina e do Caribe, a OEA foi perdendo sentido de existir.

Atualmente a estratégia dos países da América Latina é a de que a Celac nos represente a todos, deixando a OEA apenas para as relações entre todos os países do continente, agrupados na Celac, e os EUA e Canadá.

A Cúpula do Panamá representou o retorno oficial de Cuba a essa instância, embora não o retorno de Cuba à OEA, de que ela foi expulsa, por ordem dos EUA, em 1962. Recentemente, atendendo a reivindicações dos países do continente, a OEA chamou Cuba para que se reintegrasse à instituição, mas Cuba rejeitou essa possibilidade. O fim do bloqueio dos EUA atende ao lema cubano: “Con OEA o sin OEA, ya ganamos la pelea”.

A reunião, que deveria consagrar o restabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e os EUA, terminou completamente contaminado pela decisão dos EUA de considerar a Venezuela uma “ameaça à segurança nacional dos EUA.” O clima amistoso com que Obama esperava ser recebido, pelo reatamento com Cuba, foi substituído pela hostilidade pela posição em relação à Venezuela.

Obama tratou de se fazer de desentendido, chegando a declarar que nunca as relações entre os EUA e a América Latina estiveram tão boas. Desconhece a distância imensa que foi se abrindo, conforme o continente foi construindo seus próprios organismos de integração, excluindo os EUA e o Canadá. 

Apesar do clima de hostilidade à decisão norteamericana sobre a Venezuela, a falta de consenso levou à impossibilidade de um documento final da reunião. Mas Obama perdeu a parada, na sua tentativa de centrar a reunião na normalização das relações com Cuba. Apesar do importante encontro com Raul Castro, a sombra da prepotência nortemericana – amainada por declarações de desmentido do próprio Obama – seguiu pairando no Panamá.

A OEA saiu ainda mais enfraquecida da Cúpula, diante da contraposição entre as posições dos países do continente – agrupados na Celac – e as dos EUA. A OEA está mais perto do seu fim.

Texto original: CARTA MAIOR

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