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Juntamos numa só postagem informações para quem quer entender mais o
papel de Nelson Mandela, incluindo texto publicado em postagem anterior
da página. É muito bom que todos glorifiquem Mandela. Mas nem sempre foi assim. |
Os Williams (Bonner e Haack) fazem suas homenagens a Mandela. VEJA e ÉPOCA devem estar preparando uma edição inteira. Dá enjôo só de pensar como a morte nivela por baixo os oportunistas. VOCÊ, que se baliza pela grande imprensa, deve ter ficado até emocionado, de verdade. Talvez já tenha postado aqui no Face sua homenagem também. A imprensa está vestindo o homem de mito. Edificando para a posteridade o herói.
Mandela foi um herói em vida. Não precisa da edificação hipócrita de quem o odiou, e odeia a tudo que ele representa.
Mandela não foi o SEU herói, muito menos herói da imprensa.
Estou falando com VOCÊ, que acredita no Jornal Nacional.
VOCÊ, que chora convenientemente a morte de um homem cuja história acaba de conhecer um pouquinho mais no Jornal Nacional. VOCÊ, que acredita que Mandela foi apenas um símbolo abstrato da liberdade e da luta contra o racismo. VOCÊ, que imagina um Mandela apolítico que lutou apenas por ideias. Saiba, Mandela não lutou apenas contra a opressão, lutou contra os opressores. Não se engane, ele não era o SEU herói.
Gente como VOCÊ construiu uma sociedade injusta na África do Sul, se orgulhava desta sociedade dividida, enriqueceu explorando gente como Mandela. O apartheid não era apenas um fenômeno de ódio racial, mas uma ferramenta de exploração de uma classe sobre a outra. Gente como VOCÊ inventou o apartheid.
Gente como VOCÊ não admitiu que sul-africanos negros da geração de Mandela frequentassem universidades, melhorassem de vida, fossem equiparados aos sul-africanos da elite local.
Em tempos atuais, em que se escuta protestos dos ricos brasileiros contra aeroportos cheios de "pobres", transformados em "rodoviárias", não soa bastante irônico que a primeira prisão de Mandela tenha ocorrido por ele ter viajado ao exterior "sem permissão"? Pois é, gente como VOCÊ pensa até hoje que "negros e pobres" não deveriam viajar sem a permissão dos "patrões", não é verdade?
Gente como VOCÊ "justificava" a divisão da sociedade africana entre dominadores (brancos) e dominados (negros) com "argumentos" baseados numa suposta meritocracia. Ou seja, os negros africanos, na visão de gente como VOCÊ, eram dominados porque seriam "incultos", teriam mais filhos, seriam "preguiçosos", viveriam das migalhas, seriam um peso para a elite sul-africana. Estes conceitos te lembram alguma coisa?
Gente como VOCÊ chamou Mandela de terrorista, encarcerou Mandela a partir de uma farsa judiciária, num tribunal de exceção, num processo cheio de mentiras. A imprensa local fez gente como VOCÊ acreditar que Mandela era um bandido. E foi tratado como tal por quase três décadas por gente como VOCÊ.
A imprensa torturou Mandela por 30 anos e gente como VOCÊ ficou do lado da imprensa. VOCÊ, que apoia linchamentos midiáticos, ajudaria a linchar Mandela.
A determinação e o simbolismo de Mandela contra o racismo e o apartheid fizeram dele um homem respeitado fora de seu país. Fora. Porque dentro da África do Sul, a elite local, em parceria com a imprensa, continuava tratando-o como um traidor.
Um dia, a pressão de organismos internacionais fez com que Mandela voltasse a ser um homem livre. Mandela teve o apoio de gente como a Anistia Internacional. Não de gente como VOCÊ. Compreende o que é a Anistia Internacional e sua luta a favor dos direitos humanos? Compreende que ela e VOCÊ têm estado em campos opostos desde todo o sempre? Compreende que eles representam princípios dos quais você zomba? Pois é, eles e Mandela estavam do mesmo lado. Sempre estiveram. Gente como VOCÊ, não.
Ao contrário do que querem te fazer crer os noticiários de hoje, Mandela nunca foi uma unanimidade na África do Sul. Seu partido foi duramente perseguido e acusado de todo tipo de coisa. Quando foi candidato à Presidência, Mandela sofreu a oposição da elite, da imprensa e de gente como VOCÊ.
Quando venceu, convocou o país à união. Àquela altura, pegava mal bater diretamente em Mandela que, afinal, havia se tornado um símbolo. E o que gente como VOCÊ fez?
Houve, no início do governo Mandela, uma sórdida campanha interna contra seu partido, contra pessoas do seu círculo político e pessoal. A própria família de Mandela não foi poupada. O alvo indireto, claro, era Mandela. Gente como VOCÊ fez isso, para defender regalias e privilégios mantidos por décadas naquela sociedade fracionada.
Mandela lutou por moradias, por dignidade, contra a fome e a miséria. Cometeu muitos acertos e alguns erros.
Desculpe te "decepcionar", mas Mandela foi um homem de centro-esquerda, à frente de um partido posicionado no espectro das esquerdas, que fez um governo de centro-esquerda. A turma dos líderes mundiais que foram seus interlocutores mais próximos, que inspiraram e foram inspirados por sua luta política, nunca foi a SUA turma.
O governo Mandela, foi marcado por políticas de distribuição de renda e oportunidades, por ações que visaram diminuir o imenso fosso social da África do Sul, de criação de um mercado consumidor interno, de democratização das relações sociais, do uso do Estado como instrumento de justiça social. No poder, Mandela fez tudo contra o que gente como VOCÊ luta cotidianamente.
Ao final de seu governo, a África do Sul era um país muito melhor para seu povo. Mas estava (e ainda está) longe de ser um país justo e plenamente desenvolvido. Gente como VOCÊ o criticou por isso, como se um período de governo de um só homem pudesse reverter séculos de história torta.
Depois de cumprir seus mandatos, Mandela continuou a usar sua influência para defender causas que gente como VOCÊ abomina.
Mandela foi fundamental para que a África do Sul realizasse um evento da importância da Copa do Mundo.
A autoridade moral de Mandela ajudou a inserir a África no mapa dos BRICS, este fenômeno emergente dos países antigamente chamados de "terceiro-mundo" que hoje gritam por seu espaço na geopolítica global como novos protagonistas. Este movimento que gente como VOCÊ, colonizado, despreza.
Mandela foi um homem cuja grandeza e poder de representação de uma causa importante como a luta contra o racismo muitas vezes ofuscou o líder político identificado também com causas muito mais comuns a outros povos: a luta contra a opressão (independente de raça, cor ou credo), a luta de classes, a construção de um mundo mais justo.
Fique com o Mandela-mito cuja persona é homenageada pelos Williams do JN e do JG.
Porque o Mandela real, aquele que viveu, sofreu injustiças, governou, este não tem nada ver com gente como VOCÊ. Deixe-o em paz.
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