segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O fascismo social e o silêncio conivente da esquerda

Brasil: inimigo meu

por Túlio Muniz


Em Agosto de 2011, o Observatório da Imprensa publicou artigo de minha autoria, Por novos discursos midiáticos, no qual abordei o conceito de “fascismo social”, de Boaventura Santos, e adiantei o que chamo de Dispositivo Pós-Colonial, ou DPC.

Relembrando: o “fascismo social” é “um tipo de regime no qual predomina a lógica dos mercados financeiros em detrimento de grandes setores das populações, gradativamente distanciados e excluídos do campo de direitos sociais adquiridos nas últimas décadas. O risco, alerta Santos, é o da ingovernabilidade”.

Presente no Forum Social de Porto Alegre quando da expulsão dos moradores do Pinheirinho, Santos, ainda que não referisse diretamente ao seu próprio conceito, demonstrou como o “fascismo social” é presente na sociedade brasileira, e reafirmou a necessidade de se contrapor a ações como aquela, que, com o aval do Estado, beneficiam setores dominantes e opressores em detrimento do bem público e social (ver aqui).

O caso do Pinheirinho é grave e preocupante, e alinha-se a outros acontecimentos recentes de violência estatal. Entre outros, estão a carga da polícia militar contra estudantes em São Paulo (USP) e contra professores cearenses, ambos em 2011. Vale lembrar que, já neste ano, a polícia militar foi autorizada pelos governos do Espirítio Santo, do Piauí e de Pernambuco a carregar contra estudantes, em protestos contra reajustes do transporte coletivo.

Aqui há perigo. SP está nas mãos dos debilitados tucanos, do PSDB que há quase duas décadas se aliou à direita financista, mas CE, PI, PE e ES são estados governador pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), o que demonstra que as cessões ao “fascismo social” não são exclusivos da direita, extravasaram também para a centro-esquerda, e às vezes com o silêncio conivente de partidos de esquerda.

Nos meio de comunicação convencionais, as abordagens críticas ao “fascimo social”, permanecem restritas aos espaços já consolidados (revista Carta Capital, Rede Record), com raras e bravas exceções, como a do jornalista Ricardo Boechat em seus comentários na Rádio Bandeirantes.

E eis que em meio ao caos ressurge com força o que outrora chamei de DPC, discursos e estratégias que os governos exercem sobre suas próprias populações, “impondo normas que visam tanto a justificar ocupações e dominação de territórios estrangeiros, quanto à imposição de determinações internas. Tais normas são geradas por governantes que necessitam coagir as populações nacionais e são sustentadas e difundidas pela mídia”.

A Rede Globo (não por acaso) permanece sendo o campo privilegiado de propagação do DPC. Se na TV aberta se esboça um certo pudor e contenção, estes se desnudam nos canais fechados da Globo, o que ficou patente em entrevistas recentes conduzidas por Monica Waldvogel.

Para além do bem e do mal, o DPC resulta no que se pretende, ou seja, coagir populações com discurso institucional legalista e higienista, conforme diz a Folha de S.Paulo de domingo, 29 de Janeiro: “Polícia na cracolândia é aprovada por 82% em SP”.

O que fazer nesse campo confuso, onde tanto o “fascismo social” quanto o DPC são gerados à esquerda e à direita? Talvez, estar atentos para o que muitos vem chamando de período pós-institucionais, a eclosão de movimentos não necessariamente estruturados ou vinculados à organizações governamentais e não-governamentais (nesse sentido sugiro leitura de análise de [Emir] Sader, aqui).

Entretanto, permanece relevante o papel de pensadores que se inserem na mídia para tratar de casos que passam ao largo da “neutralidade” jornalística, e exemplo disso é o artigo “Razão, desrazão”, do sociólogo e filósofo Daniel Lins no jornal O POVO de 29 de Janeiro, acerca da violência estatal no Pinheirinho: “A exclusão da loucura emerge no domínio das instituições mediadas pelo enclausuramento psiquiátrico ou social. Exilado em sua diferença intratável, o destino do louco ou do pobre é o confinamento moral, social”.

No mesmo nível de importância no combate ao DPC, estão os sites e blogues no estilo do Observatório, e tantos outros (viomundo, conversaafiada, escrevinhador, luiznassif, cartamaior, etc). Estes, mais do que a mídia convencional, primam pela proximidade entre jornalismo e pensamento. Portanto, parece urgente e preciso, cada vez mais, reforçar e manter a aliança entre opinião e reflexão, esta arma poderosa que causa horror aos jornalões, às TVs e ao poder institucionalizado.

Pinheirinho, polícia contra estudantes e professores, magistrados nababos, prédios desabando, mídia sem regulação. O Brasil, definitivamente, não precisa de inimigos externos.

*Túlio Muniz é jornalista, historiador e doutor em Sociologia pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

PS do Viomundo: Não há combate possível ao fascismo social sem democratização da mídia; mídia concentrada, ascensão social despolitizada — calcada no consumismo — e governo por pesquisas de opinião são ingredientes essenciais para fomentar o “discurso da ordem”, que existe para bloquear a expansão dos direitos sociais.

TEXTO REPLICADO DESTE ENDEREÇO:

Textos relacionados:

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ricardo Boechat e a tragédia de Pinheirinhos


Pelo visto, só alguns jornalistas tiveram coragem de falar o que pensa sobre Pinheirinhos!!!  Enquanto os maiores meios de comunicação se utilizam da força que tem junto a Opinião Pública para justificar a chamada "reintegração de posse" no Bairro Pinheirinhos, São José dos Campos-SP, Ricardo Boecaht foi uns dos poucos que fez uma defesa lúcida da população daquela localidade, assistam no vídeo abaixo:


Para quem não viu cenas da invasão, segue vídeo abaixo:

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A serpente, desde seu ovo



Outro dia, a Ministra Eliane Calmon disse, a propósito dos escândalos no Judiciário, que “todo mundo vê a serpente nascendo pela transparência do ovo, mas ninguém acredita que uma serpente está nascendo”.

Talvez seja a mais precisa definição para aquilo que, há exatas 20 anos, pregava no deserto um cidadão que tinha a coragem, que vai faltando cada vez mais neste país, de enfrentar o monopólio avassalador (de vontades, inclusive) representado pela Rede Globo.

Este indescritível episódio do “BBB”, no qual rasteja na lama a maior emissora de televisão brasileira, que repercute pelo mundo vergonhosamente e, pior, corroi-nos as estranhas a todos os que acreditamos no respeito e na dignidade como essência relações humanas, é apenas um estágio – quais serão os próximos? – de uma jornada para a barbárie, infelizmente consentida por parte de nossa inteligência, por medo, cumplicidade ou simples covardia ante o poder.

O ovo desta serpente, há exatos 20 anos, era transparente. E houve quem lhe apontasse a natureza sibilante, peçonhenta, deformante, mortal para uma sociedade que pretende ser humana.

Por isso, e com a inestimável ajuda do Ápio Gomes – guardião invencível dos textos publicados por Leonel Brizola – republico um de seus textos sobre o tema.

O ovo da serpente
A violência que todos vêem e poucos percebem

Durante uma semana – de 5 a 11 de janeiro de 1992 – uma equipe de pesquisadores acompanhou toda a programação da Rede Globo. Foram examinados meticulosamente 77 programas, entre filmes, seriados, novelas, humorísticos, variedades, noticiários e infantis. Os pesquisadores permaneceram 114 horas e 33 minutos diante da televisão. Da totalização final, foram excluídos os programas jornalísticos para separar o que é noticiário da programação escolhida deliberadamente pela própria emissora.
O que estes pesquisadores encontraram foi uma verdadeira escola do crime e da violência. Naquela semana, a Globo exibiu 244 homicídios tentados ou consumados, 397 agressões, 190 ameaças, 11 seqüestros, 5 crimes sexuais com violência ou ameaça, 26 crimes sexuais de sedução, 60 casos de condução de veículos com perigo para terceiros ou sob efeito de drogas, 12 casos de tráfico ou uso de drogas, 50 de formação de quadrilhas, 14 roubos, 11 furtos, 5 estelionatos, e mais 137 outros, entre os quais: tortura (12), corrupção (4), crimes ambientais (3), apologia ao crime (2) e até mesmo suicídios (3).
E não se diga que isto é veiculado nos chamados programas para adultos. A programação infantil é repleta de imagens de violência, inclusive em desenhos animados, com 58 cenas diárias de violência. Projetando tal constatação, verifica-se que anualmente a Rede Globo propicia às crianças brasileiras a visão de 21.222 cenas de violência. Se considerarmos que a média diária geral da programação é de 166 cenas de violência, chegaremos à conclusão de que a programação infantil detém 34,9% da violência diária transmitida pela TV Globo.
Para os espectadores de novelas estão reservadas 150 cenas de crimes por semana (média diária de 21,4). Já os apreciadores de seriados têm à disposição 79 crimes semanais (média diária de 11,2). E quem acompanha a programação humorística e de variedades vai se deparar com 74 episódios violentos, principalmente agressões (média diária de 10,5).
Os documentos comprobatórios desta pesquisa encontram-se em poder do Dr. Nilo Batista, Secretário de Justiça do Estado, à disposição de quem desejar consultá-los. Estes números estarrecedores nos permitem questionar a autoridade moral da Globo, tevê e rádio, e do jornal O Globo e o papel destrutivo que vêm desempenhando. Já chamei a atenção de meus compatriotas para a instigante coincidência entre o crescimento das Organizações Globo e o crescimento da violência em nosso País. Esta pesquisa revela que não se trata de mera coincidência. Estudos criminológicos – os mais respeitados – advertem para as conseqüências da exposição de cenas de violência às crianças e às pessoas ainda imaturas. As Organizações Globo, quanto a este aspecto, representam uma autêntica e verdadeira escola do crime, reproduzindo e estimulando a cultura da violência, que encontra campo fértil numa sociedade fortemente marcada pela injustiça, pela pobreza e pelo atraso.
A Globo, que comete contra nossas crianças e jovens este crime – que países como os europeus de nenhuma forma admitiriam –, é a mesma que utiliza seus maiores e melhores espaços para destruir um programa educacional como o dos Cieps e dos Ciacs. Minha mensagem aos pais e avós é que defendam seus filhos e netos como puderem, enquanto combatemos – como o pequeno Davi diante de Golias – essa hidra gigantesca, diante da qual tantos se omitem ou, pior ainda, se intimidam e se curvam, submissos.

(Leonel Brizola, 19 de janeiro de 1992, no Jornal do Brasil)

TEXTO RETIRADO NESTE ENDEREÇO:

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Veja mente sobre os agrotóxicos

Por Flavia Londres, na Radioagência NP:

A revista Veja publicou uma matéria buscando "esclarecer" os brasileiros sobre os alegados "mitos" que vêm sendo difundidos sobre os agrotóxicos desde a divulgação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), dos dados Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos referentes ao ano 2010. A revista se propõe a tranquilizar a população, certamente alarmada pelo conhecimento dos níveis de contaminação da comida que põe à mesa.

Os entrevistados na matéria são conhecidos defensores dos venenos agrícolas, alguns dos quais com atuação direta junto a indústrias do ramo – como é o caso do Prof. José Otávio Menten, que já foi diretor executivo da ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal), que reúne as empresas fabricantes de veneno.

A revista afirma que chamar os venenos da agricultura de "agrotóxicos" seria uma imprecisão ultrapassada e injustamente pejorativa, alertando os leitores que “o certo” seria adotar o termo "defensivos agrícolas". Não menciona que a própria legislação sobre a matéria refere-se aos produtos como agrotóxicos mesmo.

A Veja passa então para a relativização dos resultados apresentados pelo relatório do Programa de Análise, elaborado pela Anvisa, fundamentalmente minimizando a gravidade da presença de resíduos de agrotóxicos acima dos limites permitidos. Para isso, cita especialistas alegando que os limites seriam "altíssimos", e que, portanto, quando "um pouco ultrapassados", não representariam qualquer risco para a saúde dos consumidores.

A verdade é que a ciência que embasa a determinação desses limites é imprecisa e fortemente criticada. Evidência disso é o fato de os limites comumente variarem ao longo do tempo – à medida que novas descobertas sobre riscos relacionados aos produtos são divulgadas, os limites tendem a ser diminuídos. Os limites "aceitáveis" no Brasil são em geral superiores àqueles permitidos na Europa – isso pra não dizer que aqui ainda se usa produtos já proibidos em quase todo o mundo.

A revista também relativiza os riscos de longo prazo para a saúde dos consumidores, bem como os riscos para os trabalhadores expostos aos agrotóxicos nas lavouras. Mesmo diante de tantas provas, a Veja alega que, não haveria comprovações científicas nesse sentido.

A reportagem termina tentando colocar em cheque as reais vantagens do consumo de alimentos orgânicos, a eficácia dos sistemas de certificação e mencionando supostos "riscos" do consumo de orgânicos. A revista alega que esses alimentos "podem ser contaminadas por fungos ou por bactérias como a salmonela e a Escherichia coli." Só não esclarece que, ao contrário dos resíduos de agrotóxicos, esses patógenos – que também ocorrem nos alimentos produzidos com agrotóxicos – podem ser eliminados com a velha e boa lavagem ou com o simples cozimento.

Da revista Veja, sabemos, não se poderia esperar nada diferente. Trata-se do principal veículo de comunicação da direita conservadora e dos grandes conglomerados multinacionais no País. Mas podemos destacar que a publicação desse suposto "guia de esclarecimento" revela que o alerta sobre os impactos do modelo da agricultura industrial está se alastrando e informações mais independentes estão alcançando mais setores da população – ao ponto de merecerem tentativa de desmentido pela Veja e pela indústria.

* Flavia Londres é engenheira agrônoma e consultora da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O Custo alto da ambiguidade política.

Num país onde o SUS é utilizado por 80% da população, 61% consideram o serviço público de saúde ruim ou péssimo (CNI/IBOPE de 12-01). A contrapartida sinaliza um quase consenso: 95% afirmam que o ponto catalítico da insatisfação, a demora nas filas, requer mais investimentos em médicos e equipamentos.

O paradoxal e, profundamente preocupante, começa a partir daí. À sensatez do diagnóstico segue-se uma colagem de assertivas e proposições que mimetizam a postura da mídia e da elite brasileira em relação ao serviço público (leia matéria de André Barrocal nesta pág.). A saber: 96% dos ouvidos pela pesquisa CNI/IBOPE são contra aumentar impostos para suprir as deficiências do setor; 82% consideram que recursos adicionais poderiam ser obtidos 'se o governo acabasse com a corrupção'.
Em resumo, a sociedade comprou a lenga-lenga que pavimentou a extinção da CPMF em 2007. Cerca de R$ 40 bi anuais foram subtraídos então do orçamento federal, em operação lubrificada pelo jogral midiático da redução do “custo Brasil”.
O financiamento da saúde pública voltaria ao debate no final de 2011 com a discussão da emenda 29. Inútil. Cristalizou-se a vitória da agenda ortodoxa no imaginário brasileiro. Não por seu mérito. A esquerda - e como ela, o governo da Presidenta Dilma, todo ele, sem exceção - contribuiu para esse desfecho. À artilharia conservadora, fez-se uma defesa envergonhada, ambígua, nada assertiva e quase clandestina da solução apresentada formalmente pelo PT: a criação de uma taxa 0,01% sobre o lucro bancário e sobre as remessas de lucros ao exterior.
O equilibrismo de bambolê entregou a opinião pública à semeadura ortodoxa. Os frutos amargos começam a ser colhidos, mostra a pesquisa da CNI/IBOPE.
A safra deixa o governo em apreciável saia justa: de um lado, espremido pela justa insatisfação popular; de outro, obrigado a dar respostas sem ter a legitimidade para alçar os meios necessário, cabíveis e justos.
Se quisessem esclarecer a opinião pública sobre a verdadeira disputa em torno do orçamento da saúde pública, o PT e o governo teriam à disposição dados contundentes e irrespondíveis. Por exemplo:
a) não há registro de abatimento de preço de qualquer produto a partir da extinção da CPMF que, na verdade, penalizava (taxa de 0,37%) apenas grandes transações e a sonegação embutida na prática do caixa 2;
b) cruzamentos de dados da Receita Federal demonstraram que dos 100 maiores contribuintes da CPMF, 62 nunca tinham recolhido imposto de renda no Brasil --nunca;
c) a carga fiscal do país, da ordem de 35% do PIB, cai substancialmente quando descontados subsídios, renúncias e incentivos ao setor privado;
d) debitada, por exemplo, a média de 6% do PIB entregue aos rentistas como serviço dívida pública, a carga líquida já cai a 29%;
e) cerca de 44% da carga fiscal brasileira advém de imposto indireto embutido em bens de consumo de massa, pesando proporcionalmente mais no orçamento dos pobres do que no dos ricos;
f) levantamento feito pela instituição inglesa UHY demonstra que a alíquota fiscal máxima brasileira é uma das mais amigáveis do mundo com os ricos, situando-se em 54º lugar no ranking de intensidade;
g) pesquisa do Inesc, de 2007, mostra que o lucro dos bancos brasileiros aumentou 446% entre 2000 e 2006, enquanto o IR do setor só cresceu 211%: em termos absolutos os assalariados pagam quatro vezes mais imposto que os bancos;
h) por fim, cabe lembrar que as remessas de lucros e dividendos do capital estrangeiro crescem explosivamente nas contas nacionais: somaram US$ 30,4 bi em 2010, salto de 20,4% sobre 2009.
Não faltariam argumentos. Bem utilizados, os resultados da pesquisa CNI/Ibope hoje seriam substancialmente distintos e, quem sabe, a contabilidade da saúde pública também. O esclarecimento corajoso não foi a escolha petista, nem a postura do governo. Chegou a fatura. O que ela ensina é que a ambiguidade tem custo: é barato na entrada; caro na saída.

Por: Carta Maior

Texto replicado deste endereço:

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Papagaio come o milho, periquito leva a fama

Do Blog do Sarafa

Basta omitir algumas informações!!!!
No ano passado ocorreram enchentes em Pernambuco, fato amplamente divulgado. Para evitar a repetição nos anos seguintes, o Governo de Pernambuco estimou o valor das obras – 250 milhões de reais – e reivindicou recursos do Governo Federal. Apresentou os projetos, seguiu toda a burocracia, mas no final recebeu apenas 25 milhões, ou seja, 10% do valor.

Agora, o jornal O ESTADO DE SÃO PAULO pegou esse valor e comparou com os repasses federais feitos aos Estados apenas nessa rubrica concluindo que esse valor corresponde a 90% da verba gasta pelo Governo Federal em prevenção de enchentes. Virou manchete e ataques ao Ministro Fernando Bezerra sob a alegação que ele é de Pernambuco e por isso estaria privilegiando o seu Estado natal.

Hoje todos os colunistas políticos do eixo Rio, São Paulo e Minas atacam o Ministro. Falam sempre que 90% dos recursos foram para Pernambuco, mas não dizem que esses 90% representam 25 milhões de reais.

Acessei o PORTAL DA TRANSPARENCIA e verifiquei que em 2011 o Governo Federal repassou para Estados e Municípios o valor total de R$ 237.271.169.809,83. Desse total, São Paulo recebeu R$ 26.511.999.809,60, ou seja, 11,17% do todo; o Rio de Janeiro, R$ 20.542.872.058,50, ou seja, 8,66%; e Minas Gerais R$ 19.721.686.132,87, 8,32%. Esses três Estados, onde está a grande imprensa, ficaram com 28,06% do bolo total de DUZENTOS E TRINTA E SETE BILHÕES DE REAIS, e não com 90% de uma parte infinitamente menor do todo, igual a VINTE E CINCO MILHÕES DE REAIS.

Isso, no entanto, eles escondem e ficam fazendo onda com um repasse de 25 milhões quando eles receberam 67 BILHÕES DE REAIS, ou seja, quase 3.000 vezes mais e quase 1/3 de todo o monte, sobrando os outros 2/3 para dividir com as outras 24 unidades da Federação.

Não sei se isso é só ignorância, ou se é má fé. Acho que tem um pouco de cada coisa.

Acesse o Portal da Transparência, conheça todos os dados e tire suas conclusões.

Do Blog do Sarafa

TEXTO RETIRADO NESTE ENDEREÇO:

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

CONTRADIÇÕES E PERSPECTIVA DE CRISE


A gigantesca massa de recursos que se movimenta na área financeira, praticamente toda desregulamentada, se comporta hoje, como destacou o Financial Times (apud Chesnais, 1996, p. 238), como polícia, júri e juiz das atividades econômicas mundiais. Tem a capacidade de tornar inócua a política monetária dos Bancos Centrais tanto dos países centrais quando dos países periféricos que se envolveram na armadilha da globalização financeira, e ainda interferir na política macroeconômica das nações, afetando o nível da atividade econômica, o investimento produtivo, as políticas sociais e o mercado de trabalho.

A globalização financeira representou para os povos em geral e para as nações periféricas em particular uma enorme transferência de recursos do setor público para o capital financeiro especulativo, pçla privatização de grandes empresas públicas e sua venda a preço irrisórios para o setor privado, ampliando assim a desnacionalização nos países da periferia, e o aprisionamento das empresas produtivas na lógica da especulação. O domínio do capital especulativo provocou também a desaceleração do ritmo de crescimento da economia mundial, resultando na queda dos salários e no empobrecimento geral da população. Entre 1966 e 1973 o crescimento médio foi de 5,2%, enquanto que entre 1991 e 1999 foi de apenas 2,8% (Beinstein, 2001).

Um dos aspectos mais evidentes da globalização financeira é o fato de que, quanto mais aumentam os negócios especulativos, mais cresce a criatividade e a agressividade dos mercados no sentido do auto-crescimento do seu capital. Um dos principais fatores que explica esse processo é a rentabilidade rápida e elevada que as instituições obtêm em seus negócios. Enquanto a atividade produtiva leva um tempo maior para a maturação e retorno do investimento, um especulador hábil pode ganhar em um dia o mesmo que ganharia em um ano no setor produtivo.

Como pudemos também constatar, a massa de recursos na esfera financeira atingia em 2005 cerca de US$118 trilhões, mais de duas vezes o PIB mundial, e os negócios nessa órbita continuam multiplicando-se como cogumelos após a chuva. No entanto, a ousadia especulativa traz consigo alguns elementos de grande fragilidade: a maior parte desses recursos que circula na órbita especulativa não tem lastro na economia real, são puros símbolos escriturais, fictícios, que crescem extraordinariamente na euforia e se esterilizam com uma velocidade ainda maior nos períodos de crise. Além disso, a interdependência dos mercados e a velocidade das comunicações têm a capacidade de irradiar com extraordinária rapidez as crises de uma praça financeira para outra, podendo levar a uma onda de pânico nas finanças globias, fato que viria acelerar ainda mais uma eventual crise financeira.

Essa dinâmica do capital financeiro especulativo se assemelha à lenda de Ícaro, mito grego, que buscava a qualquer custo alcançar o sol, mas quanto mais ele se aproximava, mais pr´poximo ficava da tragédia. Voando com asas de cera, à medida em que se aproximava do sol suas asas se derretiam, até o ponto em que se romperam e o nosso Ícaro desabou no mar...

O deslocamento sem precedentes entre a órbita financeira e a esfera produtiva levará inevitavelmente a uma crise profunda do capital, até mesmo porque a massa de mais-valia criada globalmente no sistema produtivo é insuficiente para remunerar as necessidades de rentabilidade da especulação financeira. Portanto, quanto mais capitais fictícios ampliarem seus negócios na esfera especulativa, mais débil e mais próximos da crise estará o sistema capitalista. Em outras palavras há uma crise sistêmica em curso, como já pode ser observado desde o crash de 1987.

Geralmente, a multiplicidade extraordinária de informações que recebemos, tende a criar nas pessoas uma preocupação fragmentada do mundo, mas se refletirmos cm mais cautela e agregarmos os fatos relevantes da conjuntura poderemos ver que a crise geral do sistema passou a ter não só maior consistência, como sua gravidade vem se acentuando. O primeiro grande sinal vermelho foi a crise do México em 1994. Como se tratava de um país em que os bancos dos Estados Unidos estavam bastante expostos e ainda pelo fato de ser fronteira estadunidense, não foi difícil socorrê-lo ou mais precisamente os especuladores que por lá se aventuraram. Posteriormente veio a crise asiática, agora envolvendo não mais um país, mas uma região inteira. Esta crise contaminou posteriormente a Rússia e levou pânico aos mercados financeiros mundiais. A seguir podemos registar a crise cambial no Brasil e o colapso do Plano Real, além da derrocada da Argentina que, em tremos prospectivos pode configurar um cenário antecipado da crise econoômica Global. Posteriormente, ocorreu a crise da chamada nova economia, agora no coração do sistema, na qual foram esterilizados cerca de US$ 9 trilhões. Estes são indícios de uma grande instabilidade sistêmica e que apontam no sentido de que hoje o grande capital está muito mais em perigo que em 1929.

O processo de financeirização da economia ou instituição do rentismo é uma expressão degenerada da acumulação de capitais e demonstra mais uma vez o parasitismo da burguesia. A “valorização” da riqueza pela via financeira cria contradições entre a velocidade de expansão da órbita financeira e o crescimento do setor produtivo. Como sabemos, a defesa da riqueza pela via financeira é uma aventura sem futuro, pois haverá um momento da ruptura dessa valorização artificial, de forma a compatibilizá-la com a economia real, o que deverá trazer dramáticas consequências para os especuladores e para a ordem econômica capitalista. (Costa, 1993, pp. 14-15).

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TEXTO RETIRADO DO LIVRO
COSTA, Edmilson, A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo. Editora Expressão Popular – São Paulo - 2008

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

OS IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA

Controlados pelos rentistas (especuladores)
A globalização financeira tem produzido um conjunto de fenômenos profundamente nocivos para a população em geral e, especialmente, para as nações da periferia e para seus povos. Em todos os países em que a globalização financeira passou a hegemonizar as relações econômicas, o Estado ampliou aceleradamente o seu endividamento para bancar os custos de especulação (juros e amortização da dívida pública), resultado numa enorme transferência de recursos públicos para o setor financeiro. Também em praticamente em todos os países do sistema capitalista ocorreu um aumento da concentração da renda, que beneficiou sobremaneira a riqueza da esfera financeira; observou-se também, ao contrário do contrato social fordista, uma redução acentuada no poder de compra dos salários. Bem verificou-se restrição aos direitos e garantias dos trabalhadores, muitos deles conquistados há cerca de um século ou mais; a crise do Estado teve como consequência a imposição de severos cortes nos gastos sociais, gerando aumento da pobreza e da miséria no mundo, inclusive nos próprios países centrais.

Como podemos observar, tanto os países centrais quanto os países periféricos aumentaram aceleradamente o endividamento público, com impactos profundamente negativos para a sociedade. Se tomarmos os países da OCDE em seu conjunto, como referência, constataremos que o endividamento em relação ao PIB cresceu de 40,2% em 1980 para 71,1% em 1999. Com relação aos países do G-7 o crescimento da dívida foi semelhante: passou de 41,5 para 73,2% no mesmo período. Nos Estados Unidos a dívida cresceu de 37% para 59,7%; na Alemanha de 31,1% para 64,2%; e no Japão, de 51,2% para 99,55%. Nos países da periferia capitalista, o endividamento do Estado também foi crescente: no Brasil, por exemplo, a dívida pública aumentou de 20% para 54% do PIB entre 1994 e 2001 (Beinstein, 2001, p. 188).

Dívida  pública como percentagem do PIB

País
1980
1990
1999
Países do G7
41,5%
58,3%
73,2%
Países da OCDE
40,2%
57,1%
71,1%
Estados Unidos
37,0%
55,5%
59,7%
Alemanha
31,1
45,5
64,2
Japão
51,2%
65,1%
66,5%

Isso significa que o capital financeiro especulativo encontrou um espaço de valorização muito importante, uma vez que os recursos arrecadados pleo Estado compõem-se da mais-valia geral produzida pelos trabalhadores. Anteriormente,parte dos recursos destinados ao pagamento da dívida era acentuadamente menor que no atual período da globalização, além do fato de que grande parte da dívida era resultado de investimentos governamentais tanto na construção de infraestrutura, equipamentos sociais e políticas sociais em geral, típicas do período do Welfare State. Agora o endividamento tem um outro caráter: trata-se de um aumento da dívida em função do aumento das taxas de juros. Em outros termos, o capital financeiro especulativo não só capturou uma parte importante da mais-valia retirada pelo Estado em forma de tributos, como encilhou o orçamento público na armadilha da globalização financeira, retendo para si recursos imprescindíveis que antes eram redistribuídos em forma de bens e serviços para a sociedade.
A política econômica oriunda do processo de globalização neoliberal, ao privilegiar a estabilização monetária em detimento do crescimento econômico, desencadeou o processo especulativo como norma estrutural do sistema. Essa conjuntura resultou numa que no nível da atividade econômica e na estagnação industrial. Podemos aferir uma conjuntura qualitativamente diferente entre o período em que a propriedade econômica era a tônica do desenvolvimento, e o período atual, no qua a estabilidade da moeda é o centro das preocupações macroeconômicas. Entre 1966 e 1973 o crescimento médio do Produto Bruto Mundial foi de 5,3%; entre 194-1980, foi de 3,4%; entre 1981 e 1990, 3,1% e entre 1991 e 1999, 2,8%.

Taxas anuais do crescimento real do Produto Mundial - 1966-1999(%)-
Anos (%)
1966-1973 5,2
1974-1980 3,4
1981-1990 3,1
1991-1999 2,8

O quadro de desaceleração do nível da atividade econômica não só deprime a economia mundial, mas também amplia as taxas de desemprego e de exclusão social nos países de industrialização madura. Na União Europeia, por exemplo, o desemprego aumentou de 8 milhões de trabalhadores em 1980 para 17 milhões em 1999. No conjunto dos países da OCDE, o desemprego subiu de 20 milhões em 1980 para 40 milhões em 2000, refletindo um cenário em que as taxas de desocupação se mantêm rígidas, independentemente do ciclo econômico. Até mesmo no Japão, considerado o paraíso do emprego, em função da estabilidade vitalícia para um setor significativo dos trabalhadores, a taxa de desemprego vem aumentando acentuadamente. Ao longo da década de 1980 o desemprego no país estava na faixa de 2% da população ativa e cresceu na década de 1990 para 2,9%, em 1994, 3,3%, em 1996 e fechou 1998, com uma taxa de desocupação da mais de 4%, ou seja, um índice duas vezes maior que na década de 1980 (Beinstein, 2001, p. 66).

Segundo dados da OCDE, nos Estados Unidos, as agências de trabalho temporário administravam 400 mil assalariados em 1982, passando a 1,3 milhão em 1990 e a 2,1 milhões em 1995. Na Inglaterra, o trabalho temporário abrangia 7% da população ativa. (Beinstein, 2001, p. 68).

De acordo com os dados levantados por este autor, a faixa correspondente aos 40% mais pobres da população ativa empregada dos Estados Unidos, a nação mais rica do planeta, sofreu regressão em seu rendimento, entre 1973 e 1993, enquanto as faixas correspondentes aos 40% mais ricos foram os que mais se beneficiaram com a globalização.

Conforme Beinstein (2001), quanto maior o nível de renda maior o benefício; quanto menor a faixa de renda maior o prejuízo no período. Os 10% mais pobres nos EUA sofreram queda de cerca de 35% dos seus rendimentos, enquanto os 10% mais ricos aumentaram sua renda em mias de 25%. Por sua vez, indica o crescimento absoluto do número de pobres nos Estados Unidos: em 1970, eles correspondiam a 25, 7 milhões; em 1980 cresceram para 29,3 milhões. Em função das políticas neoliberais, o aumento dos pobres cada vez mais crescente: 33,6 milhões, em 1990 e 35,6 milhões, em 1997 (Beinstein, 2001, p. 188).

Pobres nos EUA em milhões de pessoas - 1970 - 1997
1970
25,7
1977
24,7
1980
29,3
1987
32,2
1990
33,5
1997
35,6

Macroeconomicamente, a conjuntura mundial está mais instável do que no período do Welfare State, tanto nos países centrais, quanto nos países da periferia. A crise fiscal dos Estados, aliadas à instabilidade monetária, o desemprego e as crises sociais compõem um quadro de instabilidade sistêmica, no qual a globalização neoliberal vai se aprofundando. Por mais paradoxal que paeça e por mais que muitos dos principais teóricos e antigos operadores do modelo de globalização neoliberal venham alertando (George Soros, Krugman etc.), o que se verifica é uma teimosia cega, principalmente por parte dos Estados Unidos, em aprofundar o modelo, fato que pode acelerar a crise geral do sistema.

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O Comando das Transnacionais
Confissões de um Assassino Econômico.
Aquilo que nos Devora.

TEXTO RETIRADO DO LIVRO
COSTA, Edmilson, A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo. Editora Expressão Popular – São Paulo - 2008

Aquilo que nos devora


Em 12 meses até novembro, R$ 137,6 bilhões em receitas fiscais foram desviados de projetos prementes na área social e de infraestrutura e canalizados ao pagamento de juros da dívida pública brasileira. O valor equivale a 3,34% do PIB previsto para 2011. Não é tudo; a despesa efetiva com os rentistas é bem maior.

A economia feita pelas três esferas de governo até agora, mais as estatais, cobre apenas uma parte do serviço devido, da ordem de R$ 240 bilhões este ano, sendo o restante incorporado ao saldo principal, elevando-o. Em 2011, essa 'capitalização' (deles) acrescentará R$ 110 bilhões à dívida, totalizando o equivalente a 5,6% do PIB em juros.

A sangria se consuma no orçamento federal que em 2012 destinará 47,2% do total, ou seja, mais de R$ 1 trilhão, ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública. Consolida-se assim um caso clássico de captura do Estado pela lógica da servidão rentista na qual quanto mais se paga, mais se deve.

Em dezembro de 2009 a dívida interna pública era de R$ 1,39 trilhão; em dezembro de 2010 havia saltado para R$ 1,6 trilhão; em 2011 deve passar de R$ 1,7 trilhão. De janeiro a novembro ela cresceu R$ 148,67 bilhões. O valor é R$ 53,5 bilhões superior ao total dos investimentos realizados no período pela União e o conjunto das 73 estatais brasileiras, que caíram 3,2% em relação a 2010.

É tristemente forçoso lembrar que enquanto a despesa com os rentistas esfarela 5,6% do PIB em juros, o orçamento federal para a saúde em 2012 será da ordem de R$ 90 bilhões (uns 3,5% do PIB); o SUS terá R$ 80 bilhões para atender 146 milhões de pessoas. E o valor aplicado numa área crucial como a educação gira em torno de 3% (NR: 3% do orçamento federal para 2012; somadas as tres esferas, municipal, estadual e federal, chega a 5% do PIB). Discute-se se há 'margem' fiscal para elevar isso a 7% ou 8% --em uma década. Os movimentos sociais e a UNE defendem 10% do PIB.

Visto à distancia, o naufrágio europeu permite enxergar melhor o absurdo que consiste em colocar o Estado e a sociedade a serviço das finanças e não o contrário. Sem uma política corajosa de corte na ração rentista o Brasil cruzará décadas apagando incêndios no combate à pobreza e a miséria que enredam a vida de 27% da população e às deficiências de infraestrutura social e logística. É melhor que a regressividade demotucana. Mas insuficiente para embalar a travessia histórica da injustiça e do subdesenvolvido para uma Nação rica, compartilhada por todos.

Postado por Saul Leblon às 08:03

Matéria copilada do site: http://cartamaior.com.br

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