terça-feira, 18 de agosto de 2015

QUANDO PÁTRIA E LUCRO SE CONFUNDEM


(Conclusão de “A Revolução dos Ricos”)

O enriquecimento dos ricos com a revolução industrial parecia infindável.

Alimentava essa ideia o constante aperfeiçoamento das máquinas e consequente crescimento da produção e a inquestionável dominação da África e da Ásia a partir de ações políticas e invasões militares garantindo acesso à matéria-prima mais barata e mão-de-obra abundante.

O crescimento dos lucros parecia sem limites.

Nunca os ricos foram tão ricos e a segunda parte do século XIX foi chamada de “La Belle Époque”, a Bela Época. Uma bela época para quem tinha a propriedade das máquinas e do capital, mas, não para os pobres e explorados.

Mão de obra infantil, exploração do trabalho feminino, ausência garantias (não havia jornada de trabalho definida, nem licença-saúde, repouso remunerado ou férias estabelecidas) e salários miseráveis, faziam da vida do operário um drama de horror.

Entretanto, na virada do século XIX para o XX, as nuvens negras que pairavam sobre a geopolítica europeia já eram bem visíveis.

Levados ao extremo da concorrência as grandes potências desconfiavam umas das outras.

A saturação do mercado a partir do crescimento da indústria alemã com uma produção que primava pela qualidade levava a um estado de excitação que provocava sentimentos revanchistas e ódios nacionalistas.

Cada vez ficava mais claro para empresários e governantes que apenas uma guerra seria capaz de redimensionar o mercado e reorientar o eixo do poder econômico.

O primeiro passo para a guerra foi convencer os povos que a guerra era uma necessidade de todos.

A guerra um ato de extrema violência e barbárie passou a ser francamente defendida pela mídia, pela publicidade e mesmo, por intelectuais.

Na Inglaterra se dizia “a vida de todo cidadão britânico será melhor no dia que a Alemanha for aniquilada”.

Bancos e empresas adquiriram ares ufanistas, como se o lucro do capital privado significasse desenvolvimento público. 

Amor à pátria, nacionalismo, independência foram conceitos utilizados à exaustão. 

Se não era necessário muito esforço para convencer homens a morrer em defesa do território agredido por um invasor, era necessária a construção de um cenário mentiroso para convencer a morrer... por nada. 

E assim, o miserável e massacrado operário, em pouco tempo repetia o discurso das elites.

O passo seguinte foi o estabelecimento de alianças que aproximariam nações que apesar de ódios antigos enfrentavam no mercado os mesmos rivais.
De um lado Inglaterra, França e Rússia de outro Alemanha, Áustria-Hungria e Itália/Turquia.

Tudo pronto faltava o fato que desse início aos combates. 

Como causa real não houvesse foi criado um e o assassinato de um político (o arquiduque da Áustria), um crime tão comum que o assassino já estava na cadeia menos de 12 horas após o atentado, foi feito de gatilho.

Encantados com o progresso industrial dos equipamentos bélicos vendia-se a ideia de que a Guerra seria rápida e quase indolor, fazendo com que jovens iludidos partissem para o campo de batalha sorridentes como quem sai de férias escolares, mas retornará a tempo da volta às aulas.

Por mais de quatro anos, de 28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918, desenrolou-se o pior dos pesadelos já sonhado por qualquer europeu. 

Chamada na época de “A Grande Guerra” mais tarde de “I Guerra Mundial” a carnificina ceifou milhões de vidas e poderia se chamar de “A Guerra da Concorrência de Mercado”.

Pela primeira vez foram usados submarinos, aviões e armas químicas.

Milhões morreram no mar, no ar, na superfície e nas profundezas de trincheiras cavadas na terra.

Milhares de cegos, perdas de controle de movimentos, loucura e inutilizados por efeito de gazes no sistema nervoso central.
A Europa dizimada e mutilada nunca mais seria a mesma e a Bela Época tornou-se apenas uma vaga lembrança diante da época da dor.

A Revolução dos Ricos levara o mundo para a Guerra dos Ricos, mas, os mortos foram os jovens pobres, operários e filhos de pobres.

Tudo em nome da pátria... na verdade, do capital.

Enquanto a morte, a dor e o desespero foram de todos, o enriquecimento jamais deixou de ser de alguns.



Formado em Ciências Sociais
 com licenciatura em história

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