segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Aquilo que nos devora


Em 12 meses até novembro, R$ 137,6 bilhões em receitas fiscais foram desviados de projetos prementes na área social e de infraestrutura e canalizados ao pagamento de juros da dívida pública brasileira. O valor equivale a 3,34% do PIB previsto para 2011. Não é tudo; a despesa efetiva com os rentistas é bem maior.

A economia feita pelas três esferas de governo até agora, mais as estatais, cobre apenas uma parte do serviço devido, da ordem de R$ 240 bilhões este ano, sendo o restante incorporado ao saldo principal, elevando-o. Em 2011, essa 'capitalização' (deles) acrescentará R$ 110 bilhões à dívida, totalizando o equivalente a 5,6% do PIB em juros.

A sangria se consuma no orçamento federal que em 2012 destinará 47,2% do total, ou seja, mais de R$ 1 trilhão, ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública. Consolida-se assim um caso clássico de captura do Estado pela lógica da servidão rentista na qual quanto mais se paga, mais se deve.

Em dezembro de 2009 a dívida interna pública era de R$ 1,39 trilhão; em dezembro de 2010 havia saltado para R$ 1,6 trilhão; em 2011 deve passar de R$ 1,7 trilhão. De janeiro a novembro ela cresceu R$ 148,67 bilhões. O valor é R$ 53,5 bilhões superior ao total dos investimentos realizados no período pela União e o conjunto das 73 estatais brasileiras, que caíram 3,2% em relação a 2010.

É tristemente forçoso lembrar que enquanto a despesa com os rentistas esfarela 5,6% do PIB em juros, o orçamento federal para a saúde em 2012 será da ordem de R$ 90 bilhões (uns 3,5% do PIB); o SUS terá R$ 80 bilhões para atender 146 milhões de pessoas. E o valor aplicado numa área crucial como a educação gira em torno de 3% (NR: 3% do orçamento federal para 2012; somadas as tres esferas, municipal, estadual e federal, chega a 5% do PIB). Discute-se se há 'margem' fiscal para elevar isso a 7% ou 8% --em uma década. Os movimentos sociais e a UNE defendem 10% do PIB.

Visto à distancia, o naufrágio europeu permite enxergar melhor o absurdo que consiste em colocar o Estado e a sociedade a serviço das finanças e não o contrário. Sem uma política corajosa de corte na ração rentista o Brasil cruzará décadas apagando incêndios no combate à pobreza e a miséria que enredam a vida de 27% da população e às deficiências de infraestrutura social e logística. É melhor que a regressividade demotucana. Mas insuficiente para embalar a travessia histórica da injustiça e do subdesenvolvido para uma Nação rica, compartilhada por todos.

Postado por Saul Leblon às 08:03

Matéria copilada do site: http://cartamaior.com.br

Textos relacionados:
As Confissões de um Assassino Econômico
Os Apologistas da Globalização

4 comentários:

  1. Tarefa difícil! Mas temos que continuar denunciando mesmo que maioria da população esteja alheia a tudo isso. para nós só resta o dito popular " Água mole em pedra dura tanto bate até que fura"
    FELIZ 2012 ANTONIO CARLOS

    ResponderExcluir
  2. Olá, tudo bem? O maior problema nas verbas da saúde e educação é o desvio, corrupção, falta de gerenciamento e por ai vai.. Abraços, Fabio www.fabiotv.zip.net

    ResponderExcluir
  3. Olá meu caro e ilustre Professor Antônio Carlos, um grande abraço e parabéns por seu espaço, já está em minha lista dos "visitáveis".
    Os números acima por si só encerram todo o embate, claro que nesta luta o povo é quem sai perdendo como sempre, no entanto o vídeo onde o escrito português fala, resume toda a pendenga, pois o que nos faltam mesmo é uma democrácria global "tudo se discute neste mundo, menos uma coisa se discute, não se discute a democracia", estas palavras de Saramago e as posteriores são um verdadeiro passeio em nossa consciência, assim - como sempre soube - a suma é que somos os culpados, ainda que houvesse oportunidade de a discutirmos, creio num sério problema devido ao fato de pensar que não "queremos" esta discussão, pois há décados estamos sendo "programados pela mídia a sermos títeres, salvos alguns pássaros solitários na revoada, na verdade nossa sociedade só quer discutir "prévia carnavalesca, big brother, bailes, férias e outros entretenimentos, ou melhor expressando-me, retiro entretenimento devido ofender o bom descanso, tal palavra ao relacionarmos a estas "coisas" que nossa juventude chama de diversão, discutirmos democracia será um empreitada "arretada", a propósito, resisti durante muito tempo Saramago, por pura frescura, mas a bem da verdade é que precisamos de muitos "magos" desse no Brasil...
    Observado aqui , enquanto digito - o blog e percebi uma postagem sobre "A privataria tucana", há alguns dias fiz a leitura deste livro e o indiquei aos leitores do meu blog, considero uma leitura indispensável, no demais só me resta dizer é que se continuarmos como estamos, inertes, futuramente seremos engolidos vivos, só Jesus para impedir... Um abraço Professor Antônio, fica na paz do Senhor Jesus meu querido.

    ResponderExcluir
  4. Não temos quem nos represente dentro do governo ou contra ele e os culpados somos nós mesmos que aceitamos esta situação.
    Se cada brasileiro se negasse a votar em qualquer candidato escolhido pelos donos da politicalha reinante, certamente que estes pseudo-líderes seriam obrigados a ceder e o Povo poderia então indicar candidatos que assumiriam cargos eletivos compromissados em defender nossos interesses. Poderíamos então analisar as contas do Estado com interesse e dar nossa opinião. Mas falta educar este Povo que o estado teima em continuar enganando porque lhe facilita a vida, seja qual for o partido no Planalto.
    Educação e mais educação, longe das drogas e da televisão!

    ResponderExcluir