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sábado, 27 de julho de 2013

Galegos querem aproximação com países de língua portuguesa

"O caminho está, portanto, aberto. Agora é preciso também que portugueses e brasileiros voltem os olhos para esta velha nação em que, há já mais de mil anos, nasceu a sua e nossa língua", diz político galego.

Lisboa - No mês de setembro, o Parlamento da Comunidade Autônoma Espanhola da Galícia (equivalente a uma assembleia legislativa estadual no Brasil) deverá votar a Iniciativa Legislativa Popular Vicente Paz-Andrade, que tem 17 mil assinaturas, com três artigos prevendo a incorporação progressiva do ensino do português na grade curricular e futura exigência em concursos públicos; a recepção aberta em rádio e televisão de programação falada em português; e a participação formal da Galícia em eventos e em instituições internacionais que tenham o português como língua oficial.

A proposta foi apresentada em maio de 2012 e admitida em abril deste ano, com apoio de todos os partidos do parlamento – desde os que defendem a independência da Galícia até os de linha não nacionalista. Há razões políticas, culturais e econômicas para o consenso da província espanhola.

Ao estimular a disseminação do português [que teve origem no galaico-douriense, língua então falada na região da Galiza e Douro], os galegos resguardam o próprio idioma, que é a origem da língua lusitana e anterior à formação de Portugal (século 12), e assim ajudam a fortalecer o galego diante do avanço do castelhano (idioma que os brasileiros habitualmente chamam de espanhol).

Além do resgate histórico, a aproximação pode render dividendos financeiros. O interesse econômico é destacado na exposição de razões para a aprovação da lei. "É conhecido que a economia do Brasil é a quinta maior do mundo e a primeira de toda a América Latina. (...) Também os países africanos de língua portuguesa, e em particular Angola, mantém algumas das economias que crescem de forma mais pronunciada nos últimos anos. (...) A vantagem competitiva que para as pessoas da Galícia representa a língua não se limita à potencialidade de estabelecer novas relações comerciais ou culturais diretas, mas ter um estatuto mediador entre blocos geográficos e linguísticos". O Produto Interno Bruto dos oito países lusófonos fechou a última década em cerca de US$ 2,5 trilhões.

Néstor Rego, membro da executiva do partido Bloco Nacionalista Galego (BNG), que tem representação no parlamento da Galícia, salientou que "nas relações econômicas, o fator da afinidade linguística, junto com outros, como a proximidade e a complementaridade, ganham importância. Com Portugal, podemos explorar os dois primeiros. E com o Brasil, aliás uma potência econômica mundial, poderíamos, apoiando-nos na língua comum, estabelecer uma relação econômica muito interessante e mutuamente beneficiosa". Além de apoiar a lei de iniciativa popular, o BNG apresentou ao parlamento galego a proposta de que a Comunidade Autônoma da Galícia peça a incorporação oficial à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Os galegos já tentaram por duas vezes aproximação formal com a CPLP. Em ambas ocasiões a tentativa foi frustrada. A primeira vez foi em julho de 2011 quando Angola, ocupando a presidência pro-tempore da comunidade, propôs na 16ª Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da CPLP (realizada em Luanda) a candidatura da Fundação Academia Galega de Língua Portuguesa (entidade particular) como observadora consultiva. O pedido foi aceito inicialmente e publicado na internet. Posteriormente, o nome da entidade galega foi retirado. A ABr teve acesso às duas versões da resolução.

Cerca de 20 dias após a reunião do Conselho de Ministros, a mesma fundação apresentou candidatura como observadora consultiva do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), durante a 6ª Reunião Ordinário do Conselho Científico do instituto. Segundo registro publicado no Boletim da Academia Galega da Língua Portuguesa (nº 5, de 2012), o pedido deveria ter sido submetido ao Conselho de Ministros da CPLP, que se reuniu este mês em Maputo (Moçambique) mas não apreciou a demanda.

O Brasil e outros seis países da comunidade são simpáticos à participação galega. Em Portugal, há preocupação de que o apoio à participação possa eventualmente alimentar espírito separatista na Galícia e contrariar o governo central da Espanha, principal parceiro comercial de Portugal. A Agência Brasil tentou ouvir a direção do IILP e o Instituto Camões, que representa o governo português junto ao instituto, mas não obteve retorno. Na CPLP, a assessoria de imprensa informou que "não dispunha de informações".

Apesar da indefinição diplomática, Néstor Rego salienta que há colaboração entre a Galícia e os países da CPLP e que estão disponíveis, por exemplo, ferramentas eletrônicas de revisão de texto e auxílio à escrita nas diferentes variantes do galego-português. "O caminho está, portanto, aberto. Agora é preciso também que portugueses e brasileiros voltem os olhos para esta velha nação em que, há já mais de mil anos, nasceu a sua e nossa língua".

Texto retirado: PORTUGAL DIGITAL