quarta-feira, 27 de julho de 2011

Por que a população não sai às ruas?

Por que a população não sai às ruas contra a corrupção?
Da Página do MST

O jornal O Globo publicou uma reportagem no domingo (16) para questionar por que os brasileiros não saem às ruas para protestar contra a corrupção.

Para fazer a matéria, os repórteres Jaqueline Falcão e Marcus Vinicius Gomes entrevistaram os organizadores das manifestações de defesa dos direitos dos homossexuais e da legalização da maconha. E a Coordenação Nacional do MST.
A repórter Jaqueline Falcão enviou as perguntas por correio eletrônico, que foram respondidas pela integrante da coordenação do MST, Marina dos Santos, e enviadas na quinta-feira em torno das 18h, dentro do prazo.

A repórter até então interessada não entrou mais em contato. A reportagem saiu só no domingo. E as respostas não foram aproveitadas.
Por que será?

Abaixo, leia as respostas da integrante da Coordenação Nacional do MST, Marina dos Santos, que não saíram em O Globo.

Por que o Brasil não sai às ruas contra a corrupção?

Arrisco uma tentativa de responder essa pergunta ampliando e diversificando o questionamento: por que o Brasil não sai às ruas para as questões políticas que definem os rumos do nosso país? O povo não saiu às ruas para protestar contra as privatizações – privataria – e a corrupção existente no governo FHC. Os casos foram numerosos – tanto é que substituiu-se o Procurador Geral da Republica pela figura do “Engavetador Geral da República”.

Não saiu às ruas quando o governo Lula liberou o plantio de sementes transgênicas, criou facilidades para o comércio de agrotóxicos e deu continuidade a uma política econômica que assegura lucros milionários ao sistema financeiro.

Os que querem que o povo vá as ruas para protestar contra o atual governo federal – ignorando a corrupção que viceja nos ninhos do tucanato – também querem ver o povo nas ruas, praças e campo fazendo política? Estão dispostos a chamar o povo para ir às ruas para exigir Reforma Agrária e Urbana, democratização dos meios de comunicação e a estatização do sistema financeiro?

O povo não é bobo. Não irá às ruas para atender ao chamado de alguns setores das elites porque sabe que a corrupção está entranhada na burguesia brasileira. Basta pedir a apuração e punição dos corruptores do setor privado junto ao estatal para que as vozes que se dizem combater a corrupção diminua, sensivelmente, em quantidade e intensidade.

Por que não vemos indignação contra a corrupção?

Há indignação sim. Mas essa indignação está, praticamente restrita à esfera individual, pessoal, de cada brasileiro. O poderio dos aparatos ideológicos do sistema e as políticas governamentais de cooptação, perseguição e repressão aos movimentos sociais, intensificadas nos governos neoliberais, fragilizaram os setores organizados da sociedade que tinham a capacidade de aglutinar a canalizar para as mobilizações populares as insatisfações que residem na esfera individual.

Esse cenário mudará. E povo voltará a fazer política nas ruas e, inclusive, para combater todas as práticas de corrupção, seja de que governo for. Quando isso ocorrer, alguns que querem ver o povo nas ruas agora assustados usarão seus azedos blogs para exigir que o povo seja tirado das ruas.

As multidões vão às ruas pela marcha da maconha, MST, Parada Gay…e por que não contra a corrupção?

Porque é preciso ter credibilidade junto ao povo para se fazer um chamamento popular. Ter o monopólio da mídia não é suficiente para determinar a vontade e ação do povo. Se fosse assim, os tucanos não perderiam uma eleição, o presidente Hugo Chávez não conseguiria mobilizar a multidão dos pobres em seu país e o governo Lula não terminaria seus dois mandatos com índices superiores a 80% de aprovação popular.

Os conluios de grupos partidários-políticos com a mídia, marcantes na legislação passada de estados importantes – como o de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul – mostraram-se eficazes para sufocar as denúncias de corrupção naqueles governos. Mas foram ineficazes na tentativa de que o povo não tomasse conhecimento da existência da corrupção. Logo, a credibilidade de ambos, mídia e políticos, ficou abalada.

A sensação é de impunidade?

Sim, há uma sensação de impunidade. Alguns bancos já foram condenados devolver milhões de reais porque cobraram ilegalmente taxas dos seus usuários. Isso não é uma espécie de roubo? Além da devolução do dinheiro, os responsáveis não deveriam responder criminalmente? Já pensou se a moda pegar: o assaltante é preso já na saída do banco, e tudo resolve coma devolução do dinheiro roubado…

O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em recente entrevista à Revista Piauí, disse abertamente: “em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou.(…) Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional.”

Nada sintetiza melhor o sentimento de impunidade que sentem as elites brasileiras. Não temem e sentem um profundo desrespeito pelas instituições públicas. Teme apenas o poder de outro grupo privado com o qual mantêm estreitos vínculos, necessários para manter o controle sobre o futebol brasileiro.

São fatos como estes, dos bancos e do presidente da CBF – por coincidência, um dos bancos condenados a devolver o dinheiro dos usuários também financia a CBF – que acabam naturalizando a impunidade junto a população.
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7 comentários:

  1. Todo conceito de "moralidade" é um simulacro de uma postura filosófica de classe...

    Quando se propõe a instrumentalizar a busca do poder político, vira lixo...

    Nus... São corpos em chagas...

    Lindo esse post. Saúdo-o: Luta - Paz e Pão, Alex Prado.

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  2. A população sairá às ruas sim, Em duas hipóteses:

    1)- Quando tiver a certeza de que em reação ao seu movimento, houver grau de certeza confiável de que a corrupção cessará.A população está em estado de choque e aguarda proposta segura para acabar com a corrupção.
    2) Se junto com a passeata houver um trem elétrico e artistas que apoiem a causa.

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  3. A corrupção está deixou de ser algo exclusivo de políticos. Esta se banalizou em todas as esferas, E a população acompanha esse declínio de forma passiva, e em alguns casos específicos são convenientes e participo. Corrupção deixou de algo ilegal e passou a ser uma via de obtenção de vantagens,,o conchavo assumido. Em particular a essa manifestação requerida peal Globo, ainda que sejamos vítimas de inúmeros desrespeitos, acreditamos no governo que ai esta, tentando acertar. Esperar transparência total e impossível, pois a maquina administrativa assim como todo sistema política esta infectado pela política podre de muitos anos atrás. A moralização é um processo que poderá ser conseguido com muito discernimento dos poderes envolvidos, o povo tem um papel importante, mas ainda que muitos discordem somos personagens ainda coadjuvante que se apoiado pela instituições legais poderá vir ser o protagonista e mudar esse quadro de discrepância social existente no Brasil, e ponto chave que alavanca a corrupção desenfreada.

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  4. Vc matou a charada: o blog azedo da novela é o REINALDO AZEVEDO.

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  5. Caros amigos e amigas.

    Ontem, uma agência de "avaliação de riscos" dos EUA - Standard & Poor, ou simplesmente, S & P, rebaixou a nota de avaliação de "risco" de AAA para AA+. Isto demonstra que, hoje, os EUA tem menos credibilidade do que a Alemanha, Canadá, Inglaterra e França. E a agência ainda prometeu fazer nova avaliação de acordo com o desempenho da economia.
    Vale lembrar que, nesta semana, uma agência chinesa já tinha feito isto.

    O que levou a agência a rebaixar a nota dos EUA foi, simplesmente, a sua ENORME DÍVIDA FISCAL e a "incerteza" do seu pagamento. Isso sou como "música" (fúnebre) para os credores.

    Só agora foi rebaixada a nota, ou seja, depois de US$ 13,5 trilhões em dívidas. Isto demonstra que nem eles mesmos acreditam mais numa "recuperação" da economia. Aliás, se alguém ainda hoje acredita é por ser otimista (sinônimo de mal informado).

    Então, vamos aos fatos:

    - até as nações ricas, como os EUA, podem falir, basta que gastem mais do que arrecadam;
    - os trilhonários gastos militares (inúteis e improdutivos) continuam "imexíveis", portanto, a sangria nos cofres públicos irá continuar. Apenas um porta-aviões custa o mesmo que uma cidade de 200 mil habitantes gasta por um dia;
    - os EUA chegaram ao fundo do poço e agora vão depender ainda mais da "poupança" dos outros para sobreviver;
    - com o grau de risco em "baixa", naturalmente, os juros dos empréstimos irão "subir", aumentado mais as despesas;
    - com a opção de investir em países "mais seguros", naturalmente, os investidores irão fugir dos EUA,
    pois, como todos sabem, investidor tem ojeriza a riscos;
    - Com duas guerras em andamento (Iraque e Afeganistão), um exército monstruoso e gastos sem limites, os cofres norte-americanos vão continuar vazios;
    - os EUA demonstra, há muitas décadas, que não tem a menor responsabilidade fiscal e que a sua política liberal levou o país à ruína;
    - os EUA tem milhares de jovens improdutivos e "aposentados", que foram inutilizados nas duas guerras. Mais despesas "precoces", posto que a maioria tem menos de 30 anos;
    - o nível de desemprego é o maior da sua história - aproximadamente - 25 milhões de pessoas, dados não oficiais, mascarados. A "realidade" deve ser pior;
    - o nível de investimento vem caindo desde 2007;
    - a economia, de acordo com os dados macroeconômicos, hoje, está definida como "estagnada" (crescimento igual a zero);
    - o governo para poder "poupar", terá que diminuir os seus gastos e independente de onde irá ocorrer a redução dos gastos, irá ocorrer também a "falta de investimentos". Mais recessão;
    - o governo dos EUA, há pouco tempo, gastou verdadeiras fortunas para não deixar falirem a indústria automobilística e os bancos. Deu uma sobrevida para eles, mas com a recessão a caminho, a sobrevida estará em risco também;
    - a realidade mundial, hoje, é outra - os EUA, brevemente, irão perder o privilégio internacional de usarem a sua moeda como "padrão" de troca. Países ricos e com grandes poupanças irão criar uma nova moeda padrão, pois o dólar está perdendo a sua "credibilidade". Vale a pena recordar que a OPEP já teve esta "intenção" e só não foi concretizada por causa da Arábia Saudita, aliada incondicional dos EUA, outra ditadura também.

    Enquanto tudo isso acontece por lá, cá estou assistindo o império derretendo e isto é BOM DEMAIS.

    Renato de la Rocha

    Fonte: http://www.reuters.com/article/2011/08/06/usa-downgrade-sp-idUSN1E7741TJ20110806

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  6. carlos, gostei muito do seu texto, mas algumas observações: não são só os tucanos, e a banda podre do pt? se é que ainda existe pt.
    e a corrupção não está somente na burguesia, o povo mais pobre é quem se corrempe nas eleições. nesse caso deve-se fazer um longo trabalho de conscientização, pois corrupção começa por um palito de fósforo, não apenas de milhões. é coisa de mentalidade.
    outra coisa, e o quinto poder "receita federal"? que faz e desfaz de acordo com a sua vontade, inventa um gráu de modernidade e informatização com interesse próprio, e o empresariado tem que engolir. empresariado não é somente as "grandes empresas", mas também o boteco da esquina, a padaria do seu zé. estão todos a mercê das "invenções" mirabolantes da receita.
    e a certificação digital, que foi imposta para todos; só isso já seria motivo para um "basta".

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  7. Peço licença para somente elogiar o trabalho e a participação, estarei mais presente nesste espaço.
    Obrigado!

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