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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Anticomunismo ainda cega os militares


Por Bepe Damasco, em seu blog

Como não consegue ver um palmo além do nariz, a mídia monopolista interpretou como uma manifestação de revolta contra a corrupção generalizada o recente assanhamento golpista dos militares. Nada mais falso.

Ressalvadas todas as exceções - eu mesmo sou testemunha da retidão moral de um irmão militar e de meu falecido pai, veterano da FEB-, mas desde quando os militares têm autoridade para posar de paladinos da lisura no trato da coisa pública?

terça-feira, 27 de junho de 2017

O janelão estilhaçado da Rede Globo

Enquanto a Mídia Alternativa luta pela sobrevivência, garantindo o contraditório ao discurso hegemônico, a Globo inauguram a nova sede do seu jornalismo

Tatiana Carlotti


Em tempos de golpe, a fragilidade das nossas instituições democráticas se escancara. Na seara da comunicação, enquanto a Mídia Alternativa luta pela sobrevivência, garantindo o mínimo do contraditório ao discurso hegemônico; as Organizações Globo, promotoras deste discurso, inauguram a nova sede do seu jornalismo.

A discrepância de forças ficou evidente na última segunda-feira (16.06.2017). Durante cinco minutos, o Jornal Nacional vendeu o aparato jornalístico a seus telespectadores, detalhando a metragem do novo espaço, o dobro do anterior, e suas 18 novas ilhas de edição.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Em Portugal e na Grécia trabalha-se mais de 400 horas por ano que na Alemanha

Relatório sobre emprego revela que o número médio de horas de trabalho dos trabalhadores portugueses e gregos continua a ser bem superior ao dos alemães.

Esquerda.net


As estatísticas divulgadas pela OCDE servem mais para verificar a tendência da evolução das horas de trabalho num determinado país do que para fazer comparações entre países, avisa a organização. Isso acontece devido às diferentes fontes e métodos para chegar ao resultado final de cada um. E as contas também incluem o trabalho a tempo parcial.

Tendo em conta essas diferenças, as estatísticas mostram que em 2014, os trabalhadores por conta de outrém gregos trabalharam em média 1733 horas, mais 6 horas que no ano anterior. Os portugueses trabalharam 1719 horas, mais 26 horas do que em 2013. E os alemães ficaram-se pelas 1302 horas de trabalho, mais 11 horas que no ano anterior. A diferença em relação aos dois países do Sul da Europa é de mais de 400 horas de trabalho.

Se contabilizarmos o emprego total, a diferença alarga-se: Na Grécia contabilizaram-se 2042 horas/ano, em Portugal 1857 horas/ano e na Alemanha 1371 horas/ano. São menos 486 horas do que em Portugal e menos 671 horas do que na Grécia. Neste ranking, a Grécia surge como o quarto país com mais horas de trabalho por ano, numa lista encabeçada pelo México, seguindo-se a Costa Rica e a Coreia do Sul. Portugal está em 12º lugar, abaixo da Hungria e acima de Israel e a Alemanha aparece na última posição, abaixo da Holanda.

O relatório da OCDE traça o retrato global do emprego e assinala a grande desigualdade na recuperação do emprego após a crise financeira, considerando que “o desemprego irá permanecer alto até 2016”, depois de atingir a taxa média de 7.1% no conjunto dos países membros da organização no último trimestre de 2014, ou seja, 1.6 pontos acima dos valores antes da crise. Outra das conclusões é que a desigualdade salarial é menor nos países que apostaram na qualificação dos seus trabalhadores.

Texto original: CARTA MAIOR

segunda-feira, 6 de julho de 2015

A OPERAÇÃO LAVA-JATO, A DEFESA NACIONAL, A CONTRA-INFORMAÇÃO E A ESPIONAGEM.


(Jornal do Brasil) - Em suas críticas ao tamanho do Estado e na defesa da privatização a qualquer preço, os neoliberais tupiniquins se esforçam por defender a tese de que o poder de algumas das maiores nações do mundo “ocidental”, os EUA à frente, teria como únicos, principais esteios, o capitalismo, a livre iniciativa e o livre mercado, e defendem, sempre que podem, alegando a existência de “cabides de emprego”, e o grande número de ministérios, a diminuição do setor público no Brasil.
A informação, divulgada na semana passada, de que, com três milhões e duzentos mil funcionários, o Departamento de Defesa dos EUA é o maior empregador do mundo, tendo em sua folha de pagamento, sozinho, mais colaboradores que o governo brasileiro, com todos seus 39 ministérios, mostra como essa gente tem sido pateticamente enganada, e corrobora o fato de que a tese do enxugamento do estado, tão cantada em prosa e verso por certos meios de comunicação nacionais, não é mais, do ponto de vista da estratégia das nações, do que uma fantasia que beira a embromação.
Dificilmente vai se encontrar uma nação forte, hoje - como, aliás, quase sempre ocorreu na história - que não possua também um estado poderoso, decidida e vigorosamente presente em setores estratégicos, na economia, e na prestação de serviços à população.
Enquanto em nosso país, o número total de empregados da União, estados e municípios, somados, é de 1,5% da população, na Itália ele passa de 5%, na Alemanha, proporcionalmente, ele é de 80% a mais do que no Brasil, nos EUA, de 47% a mais e na França, também um dos países mais desenvolvidos do mundo, de 24% da população ativa, o que equivale a dizer que praticamente um a cada quatro franceses trabalha para o Setor Público.
Esses dados derrubam também a tese, tão difundida na internet, de que no Brasil se recebe pouco em serviços, comparativamente aos impostos que se  pagam. Por aqui muitos gostariam de viver como na Europa e nos Estados Unidos, mas ninguém se pergunta quantos funcionários públicos como médicos, professores, advogados, técnicos, cientistas, possuem a mais do que o estado brasileiro, os governos dos países mais desenvolvidos do mundo, para prestar esse tipo de serviços à população.
E isso, sem ter que ouvir uma saraivada de críticas a cada vez que lança um concurso, e sem ter que enfrentar campanhas quase que permanentes de defesa da precarização do trabalho e da terceirização.
Aos três milhões e duzentos mil funcionários, cerca de 1% da população norte-americana, fichados apenas no Departamento de Defesa, é preciso agregar, no esforço de fortalecimento nacional dos Estados Unidos, centenas de universidades públicas e privadas, e grandes empresas, estas, sim, privadas, ou com pequena participação estatal, que executam os principais projetos estratégicos de um país que tem o dobro da relação dívida pública-PIB do Brasil e não parece estar, historicamente, preocupado com isso.
Companhias que, quando estão correndo risco de quebra, como ocorreu na crise de 2008, recebem dezenas de bilhões de dólares e novos contratos do governo, e que possuem legalmente, em sua folha de pagamento, “lobistas”, que defendem seus interesses junto à Casa Branca e ao Congresso, que, se estivessem no Brasil, já teriam sido, neste momento, provavelmente presos como “operadores”, por mera suspeição, mesmo sem a apresentação de provas concretas.
Da estratégia de fortalecimento nacional dos principais países do mundo, principalmente os ocidentais, faz parte a tática de enfraquecimento e desestruturação do Estado em países, que, como o Brasil, eles estão determinados a continuar mantendo total ou parcialmente sob seu controle.
Como mostra o tamanho do setor público na Alemanha, na França, nos Estados Unidos - ampla e propositadamente subestimado no Brasil - por lá se sabe que, quanto mais poderoso for o Estado em um potencial concorrente, mais forte e preparado estará esse país para disputar um lugar ao sol com as nações mais importantes, em um mundo cada vez mais complexo e competitivo.
Daí porque a profusão de organizações, fundações, “conferencistas”, “analistas” "comentaristas", direta e indiretamente pagos pelos EUA, muitos deles ligados a braços do próprio Departamento de Defesa, como a CIA, e a aliança entre esses “conferencistas”, “analistas”, “filósofos”, “especialistas”, principescos sociólogos - vide o livro “Quem pagou a conta? A CIA na Guerra Fria da Cultura”, da jornalista inglesa Frances Stonor Saunders - etc, com a imprensa conservadora de muitos países do mundo, e mais especialmente da América Latina, na monolítica e apaixonada defesa do “estado mínimo”, praticada como recurso para o discurso político, mas também por pilantras a serviço de interesses externos, e por ignorantes e inocentes úteis.
Em matéria de capa para a Revista Rolling Stone, no final da década de 1970, Carl Bernstein, o famoso repórter do Washington Post, responsável pela divulgação e cobertura do Caso Watergate, que derrubou o Presidente Richard Nixon, mostrou, apresentando os principais nomes, como centenas de jornalistas norte-americanos foram recrutados pela CIA, durante anos, a fim de agir no exterior como espiões, na coleta de informações, ou para produzir e publicar matérias de interesse do governo dos Estados Unidos.
Muitos deles estavam ligados a grandes companhias, jornais e agências internacionais, como a Time Life, a CBS, a NBC, a UPI, a Reuters, a Associated Press, a Hearst Newspapers, e a publicações como o New York Times, a Newsweek e o Miami Herald, marcas que em muitos casos estão presentes diretamente no Brasil, por meio de tv a cabo, ou têm seu conteúdo amplamente reproduzido, quando não incensado e reverenciado, por alguns dos maiores grupos de comunicação nacionais.
Assim como a CIA influenciou e continua influenciando a imprensa norte-americana dentro e fora do território dos Estados Unidos, ela, como outras organizações oficiais e paraoficiais norte-americanas, também treina, orienta e subsidia centenas de veículos, universidades, estudantes, repórteres, em todo o mundo, em um programa que vem desde antes da Guerra Fria, e que nunca foi oficialmente interrompido.
O próprio Departamento de Defesa, o Departamento de Estado, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, USAID, o Fundo Nacional para a Democracia, NED, o Conselho Superior de Radiodifusão, BBG, e o Instituto dos EUA para a Paz, USIP, bancam atividades de “desenvolvimento de meios” em mais de 70 países, em programas que mantêm centenas de fundações, ONGs estrangeiras, jornalistas, meios de informação, institutos de “melhoramento” profissional, e escolas de jornalismo, com um investimento anual que pode chegar a bilhões de dólares.
Além deles, são usados, pelo Departamento de Estado, o Bureau de Assuntos Educacionais e Culturais, (Bureau of Educational and Cultural Affairs, BECA), o Bureau de Inteligência e Investigação, (Bureau of Intelligence and Research, INR) e o Bureau de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho (Bureau of Democracy, Human Rights, and Labor, DRL), que apenas no ano de 2006 organizou, na Bolívia, por exemplo, 15 diferentes “oficinas” sobre “liberdade de imprensa e expressão”, além do Escritório de Diplomacia e Assuntos Públicos (Office of Public Diplomacy and Public Affaires, OPDPA).
“O que nós estamos ensinando - explica Paul Koscak, porta-voz da USAID - é a mecânica do jornalismo, na imprensa escrita, no rádio ou na televisão. Como fazer uma história, como escrever de forma equilibrada … tudo o que se espera de um verdadeiro profissional de imprensa.”
Isabel MacDonald, diretora de comunicação da Fairness And Accuracy in Reporting (FAIR) - Imparcialidade e Transparência na Informação - um observatório de meios de comunicação de Nova Iorque sem fins lucrativos, não tem, no entanto, a mesma opinião.
Para ela, “esse tipo de operação do governo norte-americano, a despeito de sua alegada defesa das normas da objetividade, trabalha, na verdade, contra a democracia, apoiando a dissensão sufocante, e divulgando informações deliberadamente falsas que são úteis para os objetivos da política exterior dos Estados Unidos.’
Um exemplo clásssico desse tipo de resultado, quanto aos objetivos norte-americanos, foi o envolvimento de Washington, denunciado pela comissão legislativa Church-Pike, no Congresso dos EUA, com o financiamento a jornais de oposição na América Latina, como o grupo “El Mercúrio” do Chile, por exemplo, na conspiração que levou ao golpe militar contra o presidente eleito de orientação nacionalista Salvador Allende, em 1973.
Em abril de 2015, a Associação dos Jornalistas Chilenos decidiu expulsar de seus quadros o dono do Grupo El Mercúrio, Agustín Edwards Eastman, de 87 anos, por violação do código de ética, depois que documentos oficiais revelados nos Estados Unidos mostraram, em 2014, que ele havia recebido dinheiro da CIA para publicar informações falsas contra o governo chileno.
A diferença entre os Estados Unidos, que se dizem “liberais” e “privatistas”, e na verdade não o são, e o Brasil, que cede a todo tipo de pressão, na tentativa de provar, todos os dias, que não é comunista nem estatizante, é que, mesmo quando envolvidas com corrupção - considerada uma espécie de “dano colateral” que deve ser “contornado” e “absorvido”, no contexto do objetivo maior, de permanente fortalecimento do complexo-industrial militar dos EUA - a existência das principais empresas de defesa norte-americanas nunca é colocada em risco.
Apenas como exemplo, a Lockheed Martin, uma das principais companhias de aviação e de defesa dos EUA, pagou, como lembrou André Motta Araújo no Jornal GGN outro dia, entre as décadas de 1950 e 1970, mais de 300 milhões de dólares, ou 3.7 bilhões de dólares em dinheiro de hoje, de propina para autoridades estrangeiras, entre elas - para quem acha que isso só acontece em paises “sub-desenvolvidos” - o então Ministro da Defesa da Alemanha Ocidental, Franz Joseph Strauss, os ministros Luigi Gul, e Maria Tanassi, o Primeiro-Ministro Mariano Rumor e o Presidente da República Italiana, Giovanni Leone, o general Minoru Genda e o Primeiro-Ministro japonês Kakuei Tanaka, e até o príncipe Bernhard, marido da Rainha Juliana, da Holanda.
E alguém acha que a Lockheed foi destruída por isso ? Como também informa Motta Araújo, seus principais dirigentes renunciaram alguns anos depois, e o governo norte-americano, no lugar de multar a empresa, lhe fez generoso empréstimo para que ela fizesse frente, em melhores condições, aos eventuais efeitos do escândalo sobre os seus negócios.
A Lockheed, conclui André Motta Araújo em seu texto, vale hoje 68 bilhões de dólares, e continua trabalhando normalmente, atendendo a enormes contratos, com o poderoso setor de defesa norte-americano.
Enquanto isso, no Brasil, os dirigentes de nossas principais empresas nacionais de defesa, constituídas, nesses termos, segundo a Estratégia Nacional de Defesa, em 2006, para, com sede no Brasil e capital votante majoritariamente nacional, fazer frente à crescente, quase total desnacionalização da indústria bélica, e gerir alguns dos mais importantes programas militares da história nacional, que incluem novos mísseis ar-ar, satélites e submarinos, entre eles nosso primeiro submersível atômico, encontram-se, quase todos, na cadeia.
O Grupo Odebrecht, o Grupo Andrade Gutierrez, o OAS e o Queiroz Galvão têm, todos, relevante participação na indústria bélica e são os mais importantes agentes empresariais brasileiros da Estratégia Nacional de Defesa. Essas empresas entraram para o setor há alguns anos, não por ter algum privilégio no governo, mas simplesmente porque se encontravam, assim como a Mendes Júnior, entre os maiores grupos de engenharia do Brasil, ao qual têm prestado relevantes serviços, desde a época do regime militar e até mesmo antes, não apenas para a União, mas também para estados e municípios, muitos deles governados pela oposição, a quem também doaram e doam recursos para campanhas políticas de partidos e candidatos.
Responsáveis por dezenas de milhares de empregos no Brasil e no exterior, muitos desses grupos já estão enfrentando, depois do início da Operação Lava-Jato, gravíssimos problemas de mercado, tendo tido, para gaúdio de seus concorrentes externos, suas notas rebaixadas por agências internacionais de crédito.
Projetos gigantescos, tocados por essas empresas no exterior, sem financiamento do BNDES, mas com financiamento de bancos internacionais que sempre confiaram nelas, como o gasoduto do Perú, por exemplo, de quase 5 bilhões de dólares, ou a linha 2 do metrô do Panamá, que poderiam gerar centenas de milhões de dólares em exportação de produtos e serviços pelo Brasil, correm risco de ser suspensos, sem falar nas numerosas obras que estão sendo tocadas dentro do país.
Prisões provocadas, em alguns casos, por declarações de bandidos, que podem ser tão mentirosas quanto interesseiras ou manipuladas, que por sua vez, são usadas para justificar o uso do Domínio do Fato - cuja utilização como é feita no Brasil já foi criticada jurídica e moralmente pelo seu criador, o jurista alemão Claus Roxin - às quais se somam a mera multiplicação aritmética de supostos desvios, pelo número de contratos, sem nenhuma investigação, caso a caso, que os comprove, inequivocamente, e por suposições subjetivas, pseudo-premonitórias, a propósito da possível participação dessas empresas em um pacote de concessão de projetos de infra-estrutura que ainda está sendo planejado e não começou, de fato, sequer a ser oficialmente oficialmente estruturado.
O caso Lockheed, o caso Siemens, e mais recentemente, o do HSBC, em que o governo suiço multou esse banco com uma quantia mínima frente à proporção do escândalo que o envolve, nos mostram que a aplicação da justiça, lá fora, não se faz a ferro e fogo, e que ela exige bom senso para não errar na dose, matando o paciente junto com a doença.
Mais uma vez, é necessário lembrar, é preciso combater a corrupção, mas sem arrebentar com a Nação, e com alguns dos principais pilares que sustentam nossa estratégia de desenvolvimento nacional e de projeção nos mercados internacionais.
No futuro, quando se observar a história do Brasil deste período, ao tremendo prejuízo econômico gerado por determinados aspectos da Operação Lava-Jato,  mutíssimo maior que o dinheiro efetivamente, comprovadamente, desviado da Petrobras até agora, terá de ser somado incalculável prejuízo estratégico para a defesa do país e para a nossa indústria bélica, que, assim como a indústria naval, se encontrava a duras penas em processo de soerguimento, depois de décadas de estagnação e descalabro.
No Exército, na Marinha, na Força Aérea, muitos oficiais - principalmente aqueles ligados a projetos que estão em andamento, na área de blindados, fuzis de assalto, aviação, radares, navios, satélites, caças, mísseis, submarinos, com bilhões de reais investidos - já se perguntam o que irá acontecer com a Estratégia Nacional de Defesa, caso as empresas que representam o Brasil nas joint-ventures empresariais e tecnológicas existentes vierem a quebrar ou a deixar de existir.
Vamos fazer uma estatal para a fabricação de armamento, que herde suas participações, hipótese que certamente seria destroçada por violenta campanha antinacional, levada a cabo pelos privatistas e entreguistas de sempre, com o apoio da imprensa estrangeira e de seus simpatizantes locais, com a desculpa de que não se pode “inchar”” ainda mais um estado que na verdade está sub-dimensionado para as necessidades e os desafios brasileiros?
Ou vamos simplesmente entregar essas empresas, de mão beijada, aos sócios estrangeiros, com a justificativa de que os projetos não podem ser interrompidos, perdendo o controle e o direito de decidir sobre nossos programas de defesa, em mais um capítulo de vergonhoso recuo e criminosa capitulação ?
Com a palavra, o STF, o Ministério da Defesa, e a consciência da Nação, incluindo a dos patriotas que militam, discreta e judiciosamente, de forma serena, honrosa e equilibrada, no Judiciário e no Ministério Público.

Texto original: MAURO SANTAYANA

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Quando a árvore do direito dá maus frutos

Existe orientação oficial de se esgotar todos os meios de negociação nos conflitos por moradia. Os despejos, no entanto, continuam.

Jacques Távora Alfonsin


No momento em que se redige este artigo, 13,00 horas do dia 25 de junho de 2015, a Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, cumprindo uma ordem judicial, concluiu o desapossamento de mais de uma centena de famílias pobres que haviam ocupado uma extensa área urbana ociosa, pretendendo lá garantir um teto por precário que fosse. Emblematicamente, apelidaram carinhosamente o espaço urbano conquistado como “Ocupação Jacobina”, homenagem à uma reconhecida heroína gaúcha também lutando por terra.

Embora isso venha se repetindo quase diariamente em todo o país, juízas/es têm preferido a ameaça da força pública, ou a sua utilização imediata, para expulsar famílias acampadas, sem-terra ou sem-teto, às orientações que os próprios Tribunais do país vêm adotando, no sentido de não se proceder assim.

Já existe orientação oficial de se esgotar todos os meios de negociação, nesse tipo de conflito social, capazes de impedir os muito frequentes maus efeitos de decisões judiciais que, exatamente pelo uso da força pública, provoquem tumulto, lesões corporais e até mortes.
O Superior Tribunal de Justiça pretende tomar conhecimento de ações judiciais como a de Sapiranga, com a Resolução n. 110/2010 do Conselho Nacional de Justiça, e o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, ainda na semana passada, por sua Corregedoria-Geral, publicou o Edital n. 044/2015-CGJ, pelo qual colocou em regime de exceção, durante 03 meses, desde 15 deste junho, mais de uma dezena de ações envolvendo conflitos fundiários em cartórios judiciais de Porto Alegre, já dotadas de ordens judiciais de desapossamento de famílias como essas de Sapiranga. Justamente para possibilitar em tal prazo toda a conciliação possível.

Sapiranga dispõe de um meio desse tipo, ao que se sabe funcionando há mais de um ano, mas sem feição jurisdicional, cujas atas, na hipótese de não haver acordo, nem registram, como ocorreu no caso, as opiniões das partes, suas alegações, ou as de suas/seus advogadas/os, tornando as mesmas sem qualquer força probatória futura.

A empresa autora da ação contrária às famílias ocupantes do imóvel manifestou ter sido vítima de esbulho possessório, fazendo prova apenas, a teor da sua petição inicial, de um contrato de promessa de compra e venda. Embora se saiba que nem o título de propriedade seja suficiente para comprovar exercício efetivo de posse, como dispõe expressamente o art. 923 do Código de Processo Civil, o despacho da juíza que recebeu o pedido possessório deferiu a reintegração de posse em favor da autora, depois que a tal mediação fracassou. O recurso de agravo interposto pelas famílias acampadas foi rejeitado e a ordem foi cumprida agora. Ao que se sabe, nem a Resolução do Conselho Nacional de Justiça, nem o exemplo da Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado gaúcho tiveram qualquer efeito.

A sumariedade e o reducionismo com que o Poder Judiciário, raras exceções a parte, vem tratando questões como essa, por mais que os fatos estejam apontando não ser pela força violenta o melhor caminho de solução, não têm desencorajado a sua trágica repetição.
Um famoso processualista italiano já falecido, Francesco Carnelutti, deixou para quem lida com as leis, o direito e a história futura de ambos, uma lição tão simples quanto reveladora de como o ordenamento jurídico e a sua interpretação, sempre presentes em conflitos sociais refletidos em ações como a de Sapiranga, não podem ser avaliados como simples deduções legais frias, ou eficazes garantias de justiça.

Dizia ele que o fenômeno jurídico pode ser comparado com uma árvore, bastando qualquer pessoa, mesmo não sendo iniciada em interpretar leis, jamais esquecer a força da imagem. A terra onde esta árvore está plantada é a economia, onde os bens, como se sabe em toda economia, devem ser justamente partilhados; o caule é a lei e os frutos, a justiça.

Se já era forte a imagem, mais poderosa ficou depois de Carnelutti esclarecer que a semente dessa árvore, para que seus frutos não resultassem amargos ou chochos, devesse ser moral.
Aí reside o maior problema presente em decisões judiciais como esta de Sapiranga. Sempre que se fala em direito humano fundamental, como é o da moradia, a interpretação e a aplicação da lei tem muita dificuldade de reconhecer o quanto de força ética se compreende na dignidade humana inerente a um direito dessa natureza.

Parece fora de dúvida o fato de que, além de o despacho que determinou o desapossamento das famílias nesse processo ter desconsiderado a inexistência de prova de posse anterior do imóvel em causa, efetivamente exercida por parte da autora da ação, não levou em conta também esse fundamento axiológico inerente a todo o direito humano fundamental.

Na conferência do Habitat II, levada a efeito pela ONU em 1996, em Istambul, por exemplo, os chamados “despejos forçados”, como o de agora neste município gaúcho, já receberam repúdio quase unânime, com uma justificativa acrescida à rejeição da violência: o de tais desapossamentos jamais se preocuparem com o destino posterior das famílias sem terra ou sem teto vítima deles. É como se o Poder Público, algum proprietário ou possuidor de latifúndio nada tivessem a ver, não só com o mau uso do espaço físico terra, como com o direito presente no interesse difuso de acesso à terra que qualquer pessoa tem, além do destino futuro da multidão desapossada.

Sabe-se lá onde vão parar as famílias pobres ou miseráveis que estão sendo agora expulsas dessa terra. Tanto a Administração Pública quanto o Judiciário parece estarem perfeitamente tranquilos com isso: cumpriram a lei, por mais imoral e injusta que tenha sido a sua decisão. As/Os pobres, entretanto, aprenderam mais uma lição da sua já desgraçada vida. Tomaram consciência de que, pela grande solidariedade política e jurídica recebida com o reconhecimento do seu direito, não estão sós e, na medida de sua organização e mobilização, a terra há de lhes abrir um espaço menos escravizado como esse e, de sua perseverança em conquistá-la, continuarão acampando para libertar-se e libertá-la.

Texto original: CARTA MAIOR

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Quem paga os blogs “limpos”, cujos patrões defendem a censura, escondem dinheiro na Suíça e são investigados por fraude fiscal?

publicado em 08 de abril de 2015 às 16:26


(Ponto de ônibus na África do Sul durante o apartheid, regime racista apoiado pelo grupo Naspers, sócio da editora Abril. Foto: Joanne Rathe/Boston Globe)

Quem paga os blogs “limpos”?

Cynara Menezes, em seu blog Socialista Morena, sugerido por Julio César Macedo Amorim

Há um mês, desde que anunciei a independência deste blog, tenho sido atacada sem trégua nas redes sociais por direitistas que me acusam de “receber dinheiro do governo” por conta de um convite que recebi para trabalhar na TV Brasil. Eu, jornalista reconhecida, com passagem pelos principais veículos de comunicação brasileiros, havia sido convidada para integrar a bancada de um programa de entrevistas –assim como acontece com vários jornalistas da revista Veja que atuam na TV Cultura, emissora estadual gerida pelo PSDB, mas isso eles não criticam. Por circunstâncias pessoais, tive que passar uma temporada em São Paulo e não foi possível que o contrato se concretizasse. Ou seja, nada recebi nem receberei da TV Brasil. Os difamadores (entre eles uma apresentadora de TV reacionária) responderão na Justiça pelas calúnias.

Vários colegas blogueiros que recebem publicidade governamental continuam, porém, a ser difamados pelos pitbulls que escrevem blogs de direita, como se todos os jornais, revistas e TVs do País não fizessem o mesmo. A comparação, inclusive, é absurda, porque enquanto a velha mídia recebe bilhões, os blogueiros de esquerda ficam com tostões (confira aqui). Mas eu queria chamar a atenção para um aspecto: será que os patrões dessa gente que acusa a esquerda de receber dinheiro em troca de opinião são melhores que o governo, qualquer um? Será que o dinheiro que eles embolsam todo mês é “mais limpinho”? Quem, afinal, paga os blogueiros de direita? Se eles acham que ideologia se vende, para quem eles vendem a sua?

Os patrões dos blogueiros “limpos” são:

– CÚMPLICES DA DITADURA MILITAR: absolutamente todos os meios de comunicação para quem esse povo trabalha apoiaram a ditadura militar no Brasil e na América do Sul. São, portanto, cúmplices das torturas, assassinatos, sequestros e desaparecimentos que ocorreram naquele período.


– LATIFUNDIÁRIOS: o grupo Bandeirantes, um dos mais reacionários do país, possui 16 fazendas apenas em São Paulo, segundo denunciou o deputado federal Dr. Rosinha em 2009. Em 1985, uma das fazendas dos donos da Band foi desapropriada pelo Incra, a primeira desapropriação feita em Minas Gerais para a reforma agrária. A emissora, aliás, presta homenagem em seu próprio nome aos bandeirantes, notórios assassinos de índios e antepassados da retrógrada elite paulistana.

– LIGADOS ÀS OLIGARQUIAS POLÍTICAS: afiliadas da Globo, Record, SBT e Band em vários Estados são de propriedade das oligarquias políticas que os blogueiros “limpos” dizem combater, como José Sarney, Fernando Collor, Jader Barbalho e Renan Calheiros.

– GENTE COM DINHEIRO ESCONDIDO NA SUÍÇA: os nomes dos proprietários da Folha de S.Paulo, da Globo e da Bandeirantes aparecem entre os brasileiros que possuem conta na Suíça. Isso não é crime? Talvez. Mas eu não tenho conta na Suíça, você tem?

– DEFENSORES DA CENSURA: ironicamente, João Jorge Saad, fundador da rede Bandeirantes, que volta e meia acusa o PT de ser “contra a liberdade de expressão”, declarou, em 1972, ser favorável à censura. “Deve e precisa existir, para a defesa da família, das instituições e do menor”, disse.

– LOBISTAS DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA: as empresas jornalísticas brasileiras não se envergonham de repercutir notícias do interesse da indústria farmacêutica como se fossem “descobertas científicas”. Graças à ajuda irresponsável da mídia, o Brasil se tornou o quinto maior consumidor de remédios do mundo. É o segundo maior consumidor, por exemplo, de Ritalina, uma droga para crianças questionada por educadores e psicólogos em vários países.

– APOIADORES DO APARTHEID: os sócios sul-africanos da Editora Abril, que edita a revista Veja, apoiaram o apartheid em seu país. O jornal Die Burger, do grupo Naspers, sócio da Abril, chegou a ser o porta-voz oficial do regime racista que durou 46 anos e que manteve preso por 30 anos o líder anti-apartheid Nelson Mandela. Em 2006, o grupo adquiriu 30% das ações da Abril.

– INVESTIGADOS POR FRAUDE FISCAL: a RBS, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul, está sendo investigada pela Polícia Federal na Operação Zelotes, que apura acusações de suborno a conselheiros da Receita para tentar anular débitos milionários de empresas com o fisco.

– ASSOCIADOS A CONTRAVENTORES: a revista Veja utilizou o bicheiro Carlinhos Cachoeira como fonte de várias reportagens, inclusive com gravações obtidas ilegalmente. “Ter um corrupto como informante não nos corrompe”, publicou o diretor de redação da revista. As relações entre a revista e o bicheiro chegaram a ser alvo de uma CPI.

– DISSEMINADORES DE IGNORÂNCIA: em vez de cumprir seu papel social de compartilhar cultura e conhecimento, a mídia brasileira, obcecada por arrancar o PT do poder, tem se notabilizado nos últimos anos por disseminar intolerância, preconceito e ignorância, por meio dos mesmos blogueiros raivosos que acusam a esquerda de receber dinheiro do governo.

Estou trilhando um caminho próprio de independência, contando apenas com as assinaturas e doações de meus leitores. Mas eu preferiria dez vezes ser paga pelo governo do que por patrões assim. Menos mal que já não preciso deles para sobreviver. Será que os blogueiros “limpos” podem dizer o mesmo?

Leia também:
A hipocrisia dos Marinho: Depois da Zelotes, ideia de Moro se torna “perigosa”

Texto original: VI O MUNDO

domingo, 18 de maio de 2014

Guerras, assassinatos e sanções


“O líder do mundo livre” – é assim que os EUA gostam de chamar a si mesmos. Difícil atinar por que alguém acreditaria. Obviamente, as pessoas não são, por aqui, mais livres que em qualquer outra nação. Pergunte a um americano no que ele seria “mais livre” que qualquer cidadão da Holanda para fazer o que quiser; não espere nem conte com ouvir resposta muito significativa. Levando-se em conta apenas o tamanho do PIB, claro que os EUA são uma grande economia; nesse sentido, trata-se, afinal, de um grande país. Apenas Canadá e Rússia são maiores em extensão territorial, mas com populações menores. E os Estados Unidos nem são assim tão bem governados, lá que se diga! Enquanto uma minoria de americanos é obscenamente rica, outros mal ganham o suficiente para sobreviver. Embora a nação como um todo seja evidentemente próspera, grande parte da população é muito pobre. O poderio militar dos EUA é enorme; mas as vitórias militares, ínfimas!

Henry Kissinger
Henry Kissinger certa vez disse que :
  • (...) em minha vida, vi quatro guerras que começaram com grande entusiasmo e apoio público; em nenhuma delas sabíamos como terminar; e de três delas nos retiramos unilateralmente.
Perderam essas guerras. Mas não, ninguém “perde” guerras: o derrotado “retira-se unilateralmente”. Significa que um lado abandona a guerra sem pedir autorização para sair: isso, precisamente, significa “retirar-se unilateralmente”. Essas guerras, como soldados velhos, acabam, e pronto.

Umair Haque, Diretor do Havas Media Labs, e tido pela revista Thinkers50 como um dos mais influentes pensadores de gestão-management do mundo, escreveu na Harvard Business Review a seguinte descrição dos Estados Unidos contemporâneos:

Umair Haque
Os Estados Unidos são ricos em quê? Começam a parecer pobres, para as pessoas comuns. A infraestrutura dos EUA está ruindo. O sistema educacional dos EUA educa mal. O sistema de saúde dos EUA é simplesmente inexistente. Posso atravessar a Europa por trem de alta velocidade em oito horas; mal consigo ir de Washington a Boston em nove. Pior que isso: os EUA estão estragando seus suprimentos de água e comida mediante o envenenamento ininterrupto por energia poluente, enquanto o resto do mundo rico está trocando essa energia por outro tipo, renovável. Os Estados Unidos são flagrantemente deficitários em todos os serviços públicos de educação, saúde, transporte, energia, infraestrutura, para não dizer de outros, raramente listados, mas não menos importantes: parques, centros comunitários e serviços sociais

Assim, mesmo dizendo ser o líder do mundo livre e enquanto tenta ensinar ao mundo como governar, quando os EUA se olham para eles mesmos – o que só muito raramente fazem – veem um consumado idiota.

A política implementada continuará a mesma, por mais persistentemente se prove ser errada e ineficiente. A “guerra às drogas”, iniciada em 1971, tem sido tão desastrosa que vários estados já legalizaram substâncias ainda proibidas pelo governo federal. A dependência viciosa a políticas econômicas há tempos desacreditadas quebrou o mundo duas vezes nos últimos setenta anos. As ruas dos Estados Unidos viraram campo de batalha, porque não há via pela qual o país consiga derrotar o lobby da indústria de armas e não há meio que leve a aprovar qualquer medida que limite a propriedade de armas.

Por muito que os EUA sejam tolos nas políticas internas, é no trato com outros países que o horror aparece mais pleno. Considere-se, por exemplo, a política de chantagear outros países, para fazerem o que não querem fazer, mas interessa aos EUA que façam, usando, como arma de chantagem, as chamadas “sanções econômicas”.

Aplicar sanções é uma modalidade de guerra econômica e, como guerra real que é, os dois lados em luta sofrem baixas, sempre que um lado aplica sanções as quais, em teoria, deveriam ter efeito exclusivamente contra o outro lado.

Já se aplicaram e aplicam-se hoje sanções em, pelo menos, 25 “conflitos” internacionais. Nada, na lista do Departamento do Tesouro dos EUA, indica que a meta estabelecida teria sido alcançada. Hoje, há sanções vigentes aplicadas pelos EUA contra sete países: Cuba (desde 1960), Irã (1979), Myanmar (1997), Coréia do Norte (1993), Costa do Marfim (2006), Síria (2012) e Rússia (2014).

Ora! E não se trata de clara lista de potências econômicas? Pois até a publicação deste artigo, por várias e boas razões, os EUA não conseguiram nenhuma das metas a que visavam com a imposição dessas sanções.

A prática de impor sanções contra nações cujos atos desagradem aos EUA é política orientada para objetivos ou tolos ou infames. É prática que visa a destruir a soberania de outras nações. Tanto quanto sei, até hoje os EUA nada conseguiram, desses objetivos, servindo-se de sanções.

Os EUA são nação narcisista que só enxerga o próprio reflexo em seja qual for a superfície para a qual olhe. A húbris norte americana faz os norte-americanos crerem que o mundo inteiro teria de operar como os EUA operam.

Assim sendo, dado que desde o nascimento da nação a corrupção gerada e alimentada pelos mercadores e pela classe mercantil predomina na política econômica dos EUA, impondo as políticas nacionais, os norte americanos creem que a classe mercantil de outras nações também teriam o poder e a força para mandar e desmandar no plano político e na construção das políticas. Obviamente isso nem sempre acontece. Em Cuba e na Coréia do Norte a classe mercantil praticamente inexiste. No Irã, está submetida às ordens dos aiatolás; em Myanmar e na Costa do Marfim, o controle é exercido totalmente pelos dirigentes corruptos. Quanto à Síria e à Rússia, o relacionamento entre o governo e a classe mercantil é no mínimo ambíguo.

Impor sanções contra essas nações pode causar algum abalo em suas economias, sim; mas é pouco provável que cause qualquer grave efeito contra os seus respectivos governos.

Para que as sanções levem ao resultado que os EUA esperam delas, é indispensável que se configurem algumas condições necessárias. Em primeiro lugar, a nação sancionada tem de ter grande classe mercantil, com poder suficiente para influenciar o próprio governo do país. O governo tem de ser atento e preocupado com atender bem às necessidades da classe mercantil. 

Em segundo lugar, não se sanciona país que tenha ou dívida internacional muito pequena, ou carteira de comércio internacional muito grande. Em nada ajuda o governo de um país dizer aos seus comerciantes que não podem fazer negócios com outra nação, com a qual eles já não tenham comércio. Mas dizer aos próprios comerciantes que interrompam o comércio com determinada nação, com a qual eles têm substancial negociação e muitos interesses, pode vir a ser economicamente mais prejudicial para a nação que sanciona, que para a nação sancionada.

Em terceiro lugar, restam as nações com comércio internacional médio. Alguns danos podem ser causados, se se sancionam essas nações, mas não serão danos suficientes para forçar o país a mudar na direção em que interessa aos EUA que o país mudem. Tais sanções raramente são bem-sucedidas. E o que acontece quando esse tipo de sanção é tentado e falha? Muitas vezes, esses fracassos levam à guerra.

Apenas um ano após os Estados Unidos sancionarem Cuba, o país foi invadido por um grupo paramilitar patrocinado pela CIA.

Oito bombardeios B-26 fornecidos pela CIA atacaram os campos aéreos cubanos. Na noite seguinte, os invasores desembarcaram na Baía dos Porcos. Os norte-americanos supunham que o povo cubano se levantaria e derrubaria o governo Castro. Em vez disso, viram o exército cubano cercar e prender os invasores norte-americanos, em apenas três dias. A invasão foi fracasso escandalosamente vergonhoso para os EUA. Em grande parte da América Latina e do mundo, comemorou-se ali a falibilidade do imperialismo dos Estados Unidos.

Charge de Latuff
Pois, apesar do fracasso escandalosamente vergonhoso, ante o povo cubano, os EUA, ali, “inauguraram” a guerra de sanções.

Desde então os norte americanos têm feito guerra, às vezes sem aviso ou conhecimento, em numerosos lugares onde as sanções falharam: Bálcãs, Iraque, Líbano, Líbia, Somália, Sudão (e mais outra longa lista de potências econômicas).

E, quando as sanções falham pela primeira vez, e vêm as sanções; e as sanções falham, e vem a guerra; e, ainda depois da guerra, vêm mais e novas sanções... o absurdo é flagrante.

Nesse momento do processo, a política de guerra dos EUA evolui para a política de assassinatos dos EUA.

Talvez o propósito das sanções, das guerras que acompanham as sanções, e dos assassinatos que vêm subsequentes, não seja alcançar algum sucesso, nem provocar mudanças. Todo o programa é absurdo, mas repete-se tanto, tão pontualmente, há tanto tempo, que tem de haver alguma explicação. Uma possibilidade para chegar a alguma explicação razoável talvez se possa extrair de um exame atento do sistema penal americano.

Toda sociedade tem cidadãos que, de tempos em tempos, põem em risco outros cidadãos. Eventualmente, esses indivíduos podem pôr em risco a própria existência da sociedade como tal. Em sociedades primitivas, esse pessoal daninho é ou extirpado ou banido ou exilado. Na infância histórica dos Estados Unidos, essa forma de punição foi usada pelos puritanos, quando exilaram Roger Williams (fundador de Rhode Island e da Primeira Igreja Batista). A teologia de Williams colocava em risco a unidade religiosa da sociedade puritana.

Sob vários aspectos, o atual sistema penal é mais duro e desumano com os inconformados, que a antiga pena de exílio. Mas o problema é que vai ficando cada dia mais difícil encontrar lugares para onde exilar alguém; e acabou por prevalecer o sistema penal atualmente vigente, de encarceramento. E tudo se complicou muito.

Em vez de simplesmente remover cidadãos que apresentam perigo para a sociedade, o povo começou a usar as próprias prisões como forma de punição: isso, precisamente, é o que são as prisões como as conhecemos hoje. Quando a vítima (ou o juiz) diz: “quero que seja feita a justiça” ele/ela está dizendo que quer que o criminoso “pague”. Então, os perpetradores de crimes pagam o preço de se deixar aprisionados pela sociedade; e a sociedade paga o preço de manter todo o sistema penal. É um preço pago tanto pelos criminosos, quanto pelos cidadãos que respeitam a lei. O intuito do sistema penal é meramente punitivo, independente do custo. Não há outra função.
Charge de Latuff
Nunca houve qualquer resultado favorável aos Estados Unidos oriundo das sanções contra Cuba e a Baía dos Porcos, mas isso não importa. O povo de Cuba está sendo punido há mais de meio século, por não se ter levantado em revolta e derrubado o governo de Castro em 1961. No Iraque, o povo iraquiano é castigado pelo governo Obama, pelas ações de Saddam Hussein. Assim também, o povo afegão está sendo punido porque o governo afegão não entregou Osama Bin Laden aos EUA quando lhe foi “ordenado”, para ser “julgado” por ter – supostamente – planejado o incidente de 11/9. Não importa que esse castigo tenha custado e continue a custar também muito caro aos Estados Unidos. O custo dos castigos não vem ao caso. Não apenas não é importante o custo da punição, como também é irrelevante que povo será punido...

O mundo ocidental continua, até hoje, a castigar os palestinos, pelo holocausto de judeus europeus assassinados por europeus da Europa ocidental!

Essa política não é exclusividade dos EUA


Os EUA só continuam a aplicar essa política “de sanções”, porque seus fracassos são anotados como sucessos. O princípio que rege essas operações “de sanções” é deixar claro que quem não “respeite’” (no sentido de “obedeça servilmente”) os EUA, desencadeará sobre a própria cabeça fúria tão violenta e avassaladora que faria tremer de medo o demônio.

[*] John Kozy é professor aposentado de Lógica e Filosofia, que escreve sobre questões sociais, políticas e econômicas. Depois de servir no exército dos EUA durante a guerra da Coréia, viveu 20 anos como professor universitário e outros 20 como escritor. Seus trabalhos online podem ser encontrados no blog.

TEXTO ORIGINAL NESTE ENDEREÇO:
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