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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O programa secreto do capitalismo totalitário

 Como bilionários financiaram, nas sombras, um projeto que implica devastar o serviço público e o bem comum, para estabelecer a “liberdade total” do 1% mais rico

Publicado 25/07/2017 às 11:08 - Atualizado 15/01/2019 às 18:02

por 

Como Charles Koch e outros bilionários financiaram, nas sombras, um projeto político que implica devastar o serviço público e o bem comum, para estabelecer a “liberdade total” do 1% mais rico

Por George Monbiot | Tradução: Antonio Martins

É o capítulo que faltava, uma chave para entender a política dos últimos cinquenta anos. Ler o novo livro de Nancy MacLean, Democracy in Chains: the deep history of the radical right’s stealth plan for America [“Democracia Aprisionada: a história profunda do plano oculto da direita para a América] é enxergar o que antes permanecia invisível.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

A pandemia incide no ano mais importante da história da humanidade. Serão as próximas zoonoses gestadas no Brasil?


AutorLuiz Marques Edição de imagemRenan Garcia IlustraçãoDivulgação


O ano de 2020 será lembrado como o ano em que a pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2 precipitou uma ruptura maior no funcionamento das sociedades contemporâneas. Será provavelmente lembrado também como o momento de uma ruptura da qual nossas sociedades não mais se recuperaram completamente. Isso porque a atual pandemia intervém num momento em que três crises estruturais na relação entre as sociedades hegemônicas contemporâneas e o sistema Terra se reforçam reciprocamente, convergindo em direção a uma regressão econômica global, ainda que com eventuais surtos conjunturais de recuperação. Essas três crises são, como reiterado pela ciência, a emergência climática, a aniquilação em curso da biodiversidade e o adoecimento coletivo dos organismos, intoxicados pela indústria química.i Os impactos cada vez mais avassaladores decorrentes da sinergia entre essas três crises sistêmicas deixarão doravante as sociedades, mesmo as mais ricas, ainda mais desiguais e mais vulneráveis, menos aptas, portanto, a recuperar seu desempenho anterior. São justamente tais perdas parciais, cada vez mais frequentes, de funcionalidade na relação das sociedades com o meio ambiente que caracterizam essencialmente o processo de colapso socioambiental em curso (Homer-Dixon et al. 2015; Steffen et al. 2018; Marques 2015/2018 e 2020).

O ano da pandemia é o do mais crucial ponto de inflexão da história humana

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

“Os celulares espiam e transmitem nossas conversas, mesmo desligados”

Richard Stallman é uma lenda: criou o primeiro sistema operacional aberto e impulsionou o ‘copyleft’. Acha que os telefones inteligentes nos fizeram regredir dez anos em termos de privacidade

Richard Stallman
Ele nos encontra no apartamento de amigos em Madri. O pai do software livre é um viajante empedernido: difunde os princípios de seu movimento onde o chamam. Dias antes da entrevista, Richard Stallman (Nova York, 1953) participou do Fórum da Cultura de Burgos e retomará sua turnê europeia após dar uma conferência em Valencia. Ele nos recebe com sua característica cabeleira despenteada e com uma de suas brincadeiras de praxe: “Té quiero”, diz em seu espanhol fluente com sotaque gringo, lançando um olhar a sua fumegante xícara de chá quando detecta uma cara de desconcerto no interlocutor. “Ahora té quiero más”, nos dirá quando for buscar mais bebida. (A brincadeira é um jogo de palavras entre a expressão ‘Te quiero’ – te amo em espanhol – e a palavra Té – chá).

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O Capitalismo, as facilidades e a dependência V

O controle pela comunicação




Em todos os ramos de nossas atividades se criou as facilidades e consequentemente a dependência. Seja na hora que compramos alguma coisa para consumo próprio, para venda, na realização de nossas tarefas diárias, mas foi na comunicação onde nossa dependência se tornou maior e estranhamente foi nesta área onde as facilidades foram amplamente criadas.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O Capitalismo, as facilidades e a dependência IV

Mais facilidades e mais dependência


O processo de industrialização e mecanização de todas as atividades humanas trouxe facilidades e dependência em todos os sentidos, mas alguns são mais que interessantes. Um grande exemplo é na hora de se consumir os alimentos e para facilitar consumir os alimentos foi criado o liquidificador.

Passamos pelas facilidades de se adquirir vestimentas, máquinas que facilitam e aumentam a produção de alimentos, facilidades de créditos para adquirir os produtos e se criou a máquina para facilitar o consumo dos alimentos.

Antes da criação do liquidificador, as frutas, carnes, legumes, etc eram moídas com máquinas movidas a manivela, os sucos eram feitos espremendo os frutos e por esse motivo não se fazia suco de tudo que é tipo. Mas antes de surgir o liquidificar, surgiu os chamados sucos industriais. Na realidade uma mistura de água, açúcar e corantes (eu sempre chamo a todos de ksuco). Eram as chamadas descobertas dos produtos alimentícios artificiais, mas que foram gradativamente esquecidos, já que com o surgimentos de várias máquinas elétricas foram surgindo novas maneira de se produzir alimentos com melhor qualidade. Qualquer pessoas prefere um suco feito de frutas do que um suco artificialmente fabricado !

domingo, 24 de novembro de 2019

O Capitalismo, as facilidades e a dependência III

A chegada da moda


Nos tempos onde a grande maioria das pessoas viviam em fazenda, o vestuário era simples. As pessoas usavam roupas de trabalho sem preocupação se existia e se estava na moda ou se era cafona. Aliás, não existia a história de era moda e era cafona pelo motivo que os modelos de roupas duravam décadas e passavam por gerações.

As vestimentas eram classificadas em para o trabalho e para festas cívicas e religiosas. As roupas de trabalho não tinha a preocupação com a aparência e sim com a funcionalidade, as roupas das festas a maior preocupação eram com as festas religiosas e essas roupas usadas nas festas religiosas era a chamada Roupa Domingueira.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

O Capitalismo, as facilidades e a dependência II

Nada para dificultar


As facilidades oferecidas pelas novas invenções e técnicas de produção não ficaram somente na hora de se comprar aquilo que precisamos, mas também na hora de produzir aquilo que nós vendemos.



Nos tempos em que a grande maioria da população ainda vivia na Zona Rural, tudo era produzido artesanalmente. As roupas, utensílios domésticos e as ferramentas para o trabalho da agricultura foram substituídos por equipamentos modernos e foi justamente na agricultura onde as máquinas mais substituíram a mão de obra humana. A produção de alimentos e produtos derivados da agricultura tiveram um crescimento excepcional.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

ÓLEO NO NORDESTE: CIENTISTA DA USP, ESPECIALISTA EM DANOS AMBIENTAIS, DIZ QUE 'ESTAMOS SENDO FEITOS DE TOLOS'


16/10/19 atualizado:16/10/19 por Gisele Maia

A maior especialista do país em danos ambientais está zangada e não é para menos. Yara Schaeffer Novelli, professora doutora da Universidade de São Paulo (USP), vem acompanhando estarrecida as notícias sobre o derramamento de óleo no litoral do nordeste, por motivos diferentes dos da maioria de nós. Segundo suas recentes declaraçõesnenhum dos diversos recursos disponíveis no Brasil, técnicos, legais e humanos, foram acionados da maneira que se esperaria em um desastre de tal proporções.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Tribunal dos Estados Unidos processa Bayer por enganar os consumidores

Na ação coletiva, consumidores de Missouri pedem indenização pelo discurso mentiroso da Monsanto incorporado pela multinacional alemã: que o glifosato é inofensivo para humanos e animais de estimação

São Paulo – Ao efetivar a compra da Monsanto em 2018, a alemã Bayer  incorporou mais do que os ativos e portfólio da empresa de origem estadunidense. Herdou os processos judiciais, que em sua maioria reivindicam indenização pelos malefícios à saúde causados pelo glifosato. O agrotóxico criado pela Monsanto passou a ser o mais vendido em todo o mundo depois que a patente expirou e outros laboratórios passaram a produzi-lo.  

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O mundo pós-humano que está sendo preparado pelos ultra-ricos

Os ultra-ricos preparam um mundo pós-humano. Uma elite ínfima – porém poderosa ao extremo – crê que o planeta tornou-se inviável e quer isolar-se após o “Evento”


No ano passado, fui convidado a fazer conferência num resort superluxuoso para um público que, imaginei, seria de aproximadamente cem banqueiros de investimento. Era de longe a maior remuneração que jamais me foi oferecida por uma palestra – metade do meu salário anual como professor – tudo para fornecer algumas dicas sobre o tema “o futuro da tecnologia”.

Nunca gostei de falar sobre o futuro. A sessão de perguntas e respostas sempre acaba mais como um jogo de salão, em que me pedem para opinar sobre as últimas tendências da tecnologia como se fossem dicas precisas para potenciais investimentos: blockchain, impressão 3D, CRISPR. As audiências raramente estão interessadas em aprender sobre essas tecnologias ou sobre seus impactos potenciais, além da escolha binária entre investir nelas ou não. Mas o dinheiro chama; por isso, entrei no show.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Os EUA e a volta da Guerra Fria


Por Marcelo Zero, no site Brasil Debate:

Passou praticamente despercebido, no Brasil, o anúncio da Nuclear Posture Review, a nova política nuclear norte-americana, divulgada agora em fevereiro.

A omissão não se justifica, pois a nova política nuclear norte-americana assume claramente mudanças geoestratégicas de peso, com profundas implicações para todo o mundo.

Em primeiro lugar, a nova política prevê gastos da ordem US$ 1,2 trilhão, nos próximos 30 anos, para “modernizar” o arsenal nuclear norte-americano. Muitos analistas consideram que, na verdade, tais gastos, para cumprir os objetivos amplos propostos, deverão chegar ao redor de US$ 2 trilhões, sem levar em conta a inflação. Trata-se de uma ampliação gigantesca dos US$ 70 bilhões que Obama já havia disponibilizado para a modernização do arsenal nuclear dos EUA.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Como crises humanitárias aumentam a vulnerabilidade de pessoas com deficiência


Violações de direitos humanos, riscos de vida e exclusão da ajuda humanitária estão entre os principais desafios enfrentados por pessoas com deficiência e outros grupos vulneráveis

Por Vivian Alt


A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 15% da população mundial, ou aproximadamente mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, possua algum tipo de deficiência. Esse número tende a ser ainda mais elevado quando há ocorrência de desastres naturais ou conflitos armados, onde há maior probabilidade de acidentes e/ou violênica. Apesar do amplo conhecimento de que pessoas com deficiência estão mais expostas a riscos em crises humanitárias, na prática sua vulnerabilidade acaba sendo exacerbada. Entre as causas deste problema, estão a falta de mecanismos para identificar pessoas com deficiência, ausência de especialistas no tema atuando em organizações humanitárias e o não envolvimento de grupos ou indivíduos com deficiência no planejamento, implementação e monitoramento de intervenções humanitárias.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

O ESCÂNDALO DA PETROQUÍMICA SUAPE - A "PASADENA" DO GOVERNO TEMER.


Com 9 bilhões de reais investidos e capacidade de produção de 640.000 toneladas de PTA e 450.000 toneladas de PET por ano, uma novíssima refinaria da Petrobras em Pernambuco está sendo vendida pela empresa para mexicanos pelo equivalente a apenas cinco dias de seu faturamento.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

OS ATAQUES EM ESCALA INTERNACIONAL ÀS EMPRESAS LÍDERES DA ENGENHARIA BRASILEIRA


Por Bruno Lima Rocha

Existe uma diferença gritante entre “teoria da conspiração” e prática conspiratória. Entendo que bastam algumas observações pontuais para fazer a lógica da obviedade. O texto que segue tem as devidas ponderações legais, por isso a cautela necessária. Vale observar que ao reconhecer que houve participação do Império no golpe no Brasil, não me alinho ao lulismo, tampouco a condenáveis práticas empresariais, menos ainda ao ‘batismo nos contratos’ como prática regular brasileira e nem nego a condição de que agentes nacionais (domésticos) possam aplicar golpes e também contra golpes. A conspiração que vem de cima encontra eco ou não, é bem sucedida ou não, de acordo com cada sociedade e seus agentes coletivos nacionais. Infelizmente, no Brasil, o golpe aplicado pelo BraZil deu certo (para eles). Vamos aos pontos.

1) Existem pessoas com certo prestígio cibernético alegando que há uma teoria da conspiração na internet brasileira em relação a participação dos EUA no golpe parlamentar que derrubou o governo reeleito de Dilma Rousseff. Os Estados Unidos, embora correspondam a 12% de nossa balança comercial – perdendo em quase o dobro para os 21% de volume de trocas com a China, tem plenas condições de exercer hegemonia e projeção de poder em termos ideológico-culturais, institucionais, militares e financeiros sobre toda a América Latina, o Brasil incluído.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Devastação a Jato: A História cobrará caro no futuro, por Mauro Santayana

16.04.2016 - Mauro Santayana

A "MULTA-BOMBA" DE 7 BILHÕES

(Revista do Brasil) - Finalmente, depois de meses de pressão desumana, gestapiana, sobre o empresário Marcelo Odebrecht, o juiz Sérgio Moro levou-o a julgamento, condenando-o – baseado não em provas de sua participação direta, mas na suposição condicional de que um empresário que comanda uma holding com mais de 180 mil funcionários e que opera em mais de 20 países tem a obrigação de saber de tudo que ocorre nas dezenas de empresas que a compõem – a 19 anos e quatro meses de prisão.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

O consumidor virtual e o consumidor real

Nós consumidores somos responsáveis ao fim e ao cabo por ratificar a forma de produção do capitalismo contemporâneo. Querendo ou não.

José Carlos Peliano


Qual o papel dos consumidores no mundo contemporâneo? Seguem todos eles os desígnios impostos pelo mercado, quais sejam de entrar e sair de lojas de departamentos, supermercados, lojas de prestação de serviços, feiras, ruas de comércio, enfim do conjunto da meca do comércio e serviços, para darem conta de suas necessidades de consumo.

Como lembrava Marx tempos atrás, a construção capitalista da forma de produção de bens, mas também de serviços, quando mercadorias à disposição do consumo final, acabou por encobrir as etapas anteriores de fabricação dos produtos.

O chamado fetiche das mercadorias, a necessidade ou o glamour da aquisição de produtos, faz com que o consumidor adquira sua cesta de necessidades de bens e serviços, como pacote fechado, isto é, sem identificar quem produziu, com que produziu e em que condições foi produzido.

Assim, os grandes grupos vendem o marketing embutido nos produtos como o sinal mais evidente de sucesso, experiência e qualidade. A tecnologia dos carros modernos, a beleza dos efeitos dos produtos cosméticos, a resistência das fibras das malhas e tecidos de roupas em geral, os tênis que levam os usuários a terem impressão de voarem ou andarem descalços. E assim por diante.

Na época histórica do artesanato, o mercado era formado por bens e serviços dos quais se conheciam os seus produtores. Sabia-se das características de cada um, suas habilidades, as qualidades de seus produtos, toda a sorte de informações que levava o comprador a ir em busca dos produtos daquele artesão e só dele.

Hoje ao se ir ao mercado, o grande mercado moderno, espalhado em suas mais variadas formas de apresentação de produtos e serviços, em ruas, alamedas, shoppings, entre outras modalidades, não se tem mais essa informação. Compra-se somente o produto final e de que grupo industrial o fabricou. Nada mais.

E por que não se sabe mais? Uma das razões básicas mais determinantes é o fato de o consumidor moderno não ir em busca dessa simples informação. Ao adquirir o produto, ele compra o pacote fechado, caixa preta, apenas para seu uso pessoal. Para sua necessidade ou satisfação.

Não se dá conta, no entanto, que ao fazer assim ele está também aceitando as condições finais da compra, as quais não revelam as etapas anteriores de produção: quem de fato produziu, em que condições de trabalho e fabricação e em que estado do meio ambiente.

Ao assim proceder, todos nós consumidores estamos garantindo que os produtos adquiridos sejam reconhecidos como tais e garantindo que eles continuem a ser produzidos do mesmo modo dali para frente. Estamos comprando produtos e suas condições de trabalho e produção. Somos os responsáveis finais pela manutenção continuada dos mesmos produtores e de suas estratégias de fabricação e venda.

Nós consumidores somos responsáveis ao fim e ao cabo por ratificar a forma de produção do capitalismo contemporâneo. Querendo ou não. Compramos às escuras e os produtores mantém às escuras as formas com as quais extraem, organizam, fabricam e vendem seus produtos. Nossas compras no mercado chancelam tudo isso.

Assim, não adianta se assustar ao descobrir que grandes grupos industriais modernos utilizam mão de obra escrava na fabricação de seus produtos, ou mão de obra infantil, ou inseticidas e produtos transgênicos na produção de hortaliças, grãos e achocolatados. Entre tantos outros.

Nem mesmo se indignar pela depredação do meio ambiente, degradação das condições de trabalho, utilização intensiva de trabalhadores clandestinos e crianças, corrupção localizada ou disseminada, escassez de produtos por estratégia empresarial.

Há que se desvestir da roupa de consumidores e desvendar a caixa preta dos produtos expostos no mercado. Nós consumidores temos de assumir o papel de investigadores do que compramos, do que consumimos, do que garantimos a permanência no mercado.

Vejam um exemplo clássico de combate e resistência dos consumidores. Em 1995 o governo britânico, ao apoiar a Shell UK de afundar sua instalação de reserva de petróleo Brent Spar no mar do Norte a 2,5 quilômetros de profundidade no oceano Atlântico, recebeu uma pressão inusitada da população europeia com o apoio do Greenpeace.

A oposição pública e política, ao lado do boicote generalizado aos postos de gasolina (estações de serviços) da Shell, além de outros incidentes localizados, fez com que a empresa abandonasse seu intento, recuperando a instalação ao traze-la para a terra. Em 1998 parte dela foi reutilizada na construção de novas instalações portuárias próximas a Stavanger, Noruega.

Os consumidores desempenharam seu devido papel como compradores conscientes. Mais que isto, como re-orientadores dos interesses das empresas, do capital, em benefício do meio ambiente no caso, para que a produção de petróleo atendesse o mínimo de respeito, garantia e proteção da natureza, mas também da população.

Outros exemplos anteriores foram anunciados nos casos de denúncias de grandes empresas ofertando em suas dependências produtos feitos por mão de obra infantil (Nike) e mão de obra escrava (Zara, Gregory, C&A). Já a Starbucks estaria no rol daquelas que defendem as empresas que vendem produtos transgênicos como se fossem naturais, orgânicos.

Na contramão desse movimento de resistência dos consumidores, o Congresso Nacional do Brasil acabou de aprovar a retirada da letra “T”, designando transgênico, dos produtos que mantém esses ingredientes na sua fabricação. Assim, volta o consumidor a adquirir gato por lebre, mais uma vez enganado por venda às escuras. Sofre o meio ambiente, é afetada a saúde dos consumidores, mantém-se os interesses do capital.

Do consumidor virtual ao consumidor real, essa a proposta de retomada dos movimentos sociais. Talvez uma alternativa mais vigorosa, eficiente e benéfica para todos. Dar limites à acumulação predatória do capital. Ganha o consumidor, satisfaz plenamente a sociedade, salva-se o meio ambiente, humaniza-se as condições de trabalho e produção.

Acima de tudo consegue-se fazer frente à sanha desenfreada do capitalismo de a tudo explorar para lucrar sempre mais e mais independentemente dos trabalhadores, dos cidadãos, da natureza.

Toda caminhada começa nos primeiros passos. Cobranças e resistências dos consumidores aqui e ali podem se generalizar e dar conteúdo a um movimento social de protesto consciente e consistente. Deixamos de assinar cheques em branco às empresas e passamos a pagar com os olhos e ouvidos abertos.

A sociedade de amanhã, nossos filhos e netos, vão agradecer nossos primeiros passos e deverão eles seguir em frente levando a bandeira de um mundo melhor, mais saudável, ético e responsável.
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Economista, José Carlos Peliano é colaborador da Carta Maior.

Texto original
: CARTA MAIOR

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Tragédia e sofrimento na riqueza mineral brasileira

Quando a mina se esgota, resta ao povo pilhas de rejeitos, contaminação do ar, solo, rios e lençóis freáticos, além de doenças e decadência econômica.

Najar Tubino

O Centro de Tecnologia Mineral, órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, publicou no ano passado o livro “Recursos Minerais e comunidade – impactos humanos, socioambientais e econômicos”, com 393 páginas e reúne 105 casos de extração mineral distribuídos por 22 estados e cinco regiões – grátis e está disponível aqui. Os editores são os pesquisadores Francisco Rego Fernandes, Renata de Carvalho Alamino e Eliana Rocha Araújo. O objetivo do livro é mostrar que a atividade mineradora gera riqueza e impactos negativos nas comunidades e no meio ambiente.

“- Não se pode deixar de mencionar os grandes passivos ambientais cujo número exato em todo o país é desconhecido, mas certamente ultrapassa as dezenas de milhares de minas e garimpos, inativos e abandonados, produto de mineração pretérita, mas ininterrupta, exercida no Brasil há mais de 500 anos. A mineração altera de forma substancial o meio físico, provocando desmatamento, erosão, contaminação de corpos hídricos, aumento da dispersão de metais pesados, alteração da paisagem, solo, além de comprometer a fauna e a flora. Afeta o modo de viver e a qualidade de vida das populações estabelecidas na área minerada e no seu entorno”.

Extração mineral e concentração de renda

No Brasil existem 3.354 minas em funcionamento, a maioria de pequeno porte – dentro dos dados oficiais, é óbvio - e 8.870 mineradoras registradas com licenciamento e lavra. Dos 105 casos registrados 34 estão no Sudeste, porque Minas Gerais, onde está o quadrilátero ferrífero – tem Itabira como centro – é o estado com maior atividade, não só de ferro, mas manganês, fosfato, gemas e com 53 mil trabalhadores na atividade. São 20 estudos sobre Minas Gerais. Em segundo lugar a região Norte, a nova fronteira mineral com 29 casos, com destaque para o Pará com 15 estudos. Os municípios de Parauapebas e Canaã dos Carajás, onde está localizada a maior província mineral do planeta – 18 bilhões de toneladas, suficientes para 250 anos – recolheram R$600 milhões com a compensação financeira pela extração mineral. Em Parauapebas os 20% mais ricos concentram 60% da riqueza e os 20% mais pobres somente 3,5%, além de 15% da população permanecer na linha de pobreza. O Pará é o antepenúltimo no ranking nacional medido pelo IDH com o índice 0,646.

Os pesquisadores fizeram também um resgate de casos de exploração mineral históricos, como a exploração de manganês em Serra do Navio (AP), o amianto em Bom Jesus da Serra (BA), a lavra de chumbo em Boquira (BA) e os 30 anos de garimpagem na bacia do rio Tapajós (PA). São apenas exemplos onde “a mina se esgota, a empresa transfere suas atividades para outra localidade e à população restam escavações abandonadas, pilhas de rejeitos, contaminação do ar, solo, rios e lençóis freáticos, além de doenças, decadência econômica e empobrecimento.” Cabe ao Estado reduzir os impactos negativos, assegurar a legalidade, promover a resolução de conflitos e garantir que as conquistas não sejam comprometidas, ponderam os pesquisadores.

Serra do Navio: a primeira experiência


O Brasil é um país urbano e litorâneo, onde a elite econômica está concentrada em três metrópoles e nada mais. O que acontece no interior do país, principalmente em regiões distantes como a Amazônia ou o interior do nordeste, não faz parte da versão histórica, muito menos do conteúdo dos veículos de comunicação. A extração de minerais é um grande negócio, comandado por poucas transnacionais e com destaque para a Vale S/A, uma ex-estatal, privatizada que está nesse grupo – a empresa será o tema do próximo texto. Então a divulgação dos empreendimentos sempre está ligada aos números, aos volumes e a grandiosidade da operação. Por isso, a importância de resgatar tais episódios, que ocuparam a história recente do Brasil, como o caso da Icomi em Serra do Navio.

Foi a primeira exploração empresarial de minerais na Amazônia e durou 40 anos – de 1957 a 1997. A cidade de pouco mais de quatro mil habitantes herdou uma pilha de rejeitos com um componente perigoso que é o arsênio, responsável por contaminar igarapés, rios e o lençol freático. A mineração sempre envolve grande quantidade de rochas, e a função dos extratores é separar o que interessa ao mercado e rejeitar o restante. No caso do manganês, a empresa construiu uma usina de pelotização em Porto Santana, a 20 km de Macapá, destino da ferrovia Serra do Navio, também construída pela empresa. A logística da extração mineral é: custo baixo da mina ao porto, normalmente envolve uma ferrovia, porque é o transporte mais barato.

Contrabando e exploração de mineral radioativo


Na Vila Elesbão, em Santana, ficaram as consequências da atividade econômica – a Icomi não retirou os rejeitos da barragem de contenção – 150 mil toneladas – depositou no solo coberto por plástico. Parte foi distribuído na cidade de Santana para ser usado em concreto asfáltico, aterro em quintais e jardins e na construção de casas. A Icomi, depois de 50 anos de concessão, se negou a entregar a infraestrutura do projeto ao governo federal e até hoje ainda correm na justiça no Amapá processos de indenizações aos moradores e ao governo estadual.

A disseminação de doenças como câncer no pulmão – o pó dos minérios, ou flocos, como acontece com o amianto – são relatos constantes em todos os 105 casos. Com agravantes como o arsênio encontrado com o manganês e o cianeto e o mercúrio usado na extração do ouro. Assim como a contaminação da água, do ar e do solo. Porém, tem um caso que é escandaloso e é tratado pela burocracia brasileira como algo corriqueiro. Trata-se da exploração ilegal, por garimpeiros de um mineral chamado torianita – 70 a 76% de tório, elemento radioativo – e de 8 a 10% de urânio.

A Polícia Federal já fez apreensões de até uma tonelada de torianita, que é um mineral granulado e muito denso – custa US$300 o quilo no mercado internacional. Em uma delas encontraram 560 quilos na casa de um fiscal municipal em Porto Grande. A PF desde 2009 não fez mais apreensões, pelo menos divulgadas, porque não conta com um local apropriado para estocar torianita, um mineral radioativo. A Comissão Nacional de Energia Nuclear levou o material apreendido para Poços de Caldas (MG). Em 2012, o jornal Correio do Estado, do Mato Grosso do Sul noticiou que o Exército, na operação Ágata VI estava procurando contrabandistas de mineral radioativo na região de Corumbá, fronteira com a Bolívia. Os relatos dos pesquisadores do Cetem mostram: “presume-se” que a exploração iniciou na década de 1990, em um garimpo próximo ao rio Araguari.

Destruição gerada pelo garimpo de ouro

Décadas de garimpagem de ouro na bacia do rio Tapajós desde a década de 1950 deixaram um rastro de violência, mortes e miséria nos municípios de Itaituba, Santarém, Aveiro e Rurópolis. A partir da década de 1980, auge do garimpo, com a instalação de dragas nos rios Tapajós, Crepori e Jamanxim a situação piorou. Foram registradas 432 pistas de pouso, mais de dois mil pontos de garimpo e uma produção superior a 700 toneladas de ouro – grande parte contrabandeada. O cálculo estima uma população de garimpeiros próxima de 100 mil. Em 1989 o Programa de Controle Ambiental da Garimpagem do rio Tapajós – do governo estadual – divulgou a destruição na região:

“- Destruição de nichos ecológicos, assoreamento e recobrimento de várzeas, alteração de cursos d’água, contaminação da biota, prejuízo à segurança alimentar e a subsistência das populações ribeirinhas, aumento dos custos do tratamento da água, geração de focos de doenças endêmicas e exposição da população à contaminação por mercúrio”.

Mercúrio no garimpo do rio Tapajós

Pesquisadores do Centro de Tecnologia Mineral e do Instituto Evandro Chagas contabilizaram uma emissão de 1,1 toneladas de mercúrio por ano e depois analisaram a contaminação de 30 espécies de peixes consumidos pela população. Em 65% das amostras o índice de contaminação era acima de 0,5% aceitável pela Organização Mundial de Saúde. Mas em determinadas áreas o teor de mercúrio encontrado nos peixes chegava a 40 vezes maior que o estipulado pela OMS. Outro trecho do livro do Cetem:

“-Na realidade, a exploração de ouro do Tapajós não tem conduzido ao desenvolvimento regional. Parte da riqueza advinda da extração do metal tem sido gasta em atividades efêmeras, parte está sendo utilizada para converter a floresta tropical em pastos e fazendas; o restante vem sendo aplicado fora da região em investimentos financeiros. Somente uma pequena parcela dos investimentos é direcionada à economia regional”.

Carvão amazônico para produzir ferro gusa

A Amazônia brasileira produz o melhor ferro gusa do mundo, usado principalmente na produção de peças automotivas – veículos e máquinas agrícolas – atividade exercida por siderúrgicas independentes, algumas de grupos econômicos nacionais como Queiroz Galvão e Gerdau, e com base no funcionamento de 1,2 mil carvoarias nas regiões de Açailândia (MA) e Marabá (PA). O ferro gusa, matéria prima do aço, é produzido com carvão vegetal da mata nativa. Para cada 48 árvores corresponde uma tonelada de gusa, ou exatamente, para cada tonelada de gusa são necessários 875 kg de carvão vegetal e 2.660 kg de madeira seca. Calcula-se que cinco milhões de metros cúbicos de floresta Amazônia tenham sido derrubados para sustentar os “rabos quentes”, como foram apelidados os fornos das carvoarias do Polo Siderúrgico de Carajás. O minério é fornecido pela Vale, que também garante a exportação do gusa, utilizando a logística da Estrada de Ferro Carajás, mais o porto na Ponta da Madeira (MA).

O projeto de industrialização da Amazônia Oriental é da ditadura militar. A verticalização da extração mineral. Depois que a China invadiu o mundo com aços laminados e outros produtos siderúrgicos, a geopolítica mudou totalmente. Somente os especialistas e burocratas brasileiros não entenderam isso. O que ficou na região é miséria, doença, destruição da floresta e poluição. O gusa amazônico tem alta qualidade porque o carvão vegetal não tem enxofre, e na ponta final, produz um aço bem cotado no mercado.

O amianto branco e a tragédia na Bahia

A contabilidade trágica da extração mineral não tem parâmetros definidos, é difícil identificar o que é pior, em termos humanos, socioambientais e econômicos. O caso da extração de amianto em Bom Jesus da Serra (BA) está inserido neste contexto. A primeira mina de amianto brasileira começou a ser explorada em 1937, no distrito de Poções no citado município do sudoeste da Bahia. As atividades foram encerradas em 1967, mas a Mineração de Amianto S/A (SAMA), transferiu o aparato para outro local, em Miniaçu, Goiás. A extração do amianto envolve de 5 a 10% das rochas, o que significa grande quantidade de rejeitos contaminando o ambiente. O que restou da mina localizada perto do ribeirão Bom Jesus, na bacia do rio de Contas, que deságua no mar? Uma cratera com quatro quilômetros de extensão e 200 metros de altura, que permanece cheia o ano inteiro, se transformou em área de lazer e, durante a seca, ainda abastece os carros pipa.

A SAMA é propriedade do Grupo Eternit, fabrica telhas e caixas d’água, entre outros produtos, já foi sócio do Grupo francês Saint Gobain, a marca Brasilit no Brasil. Este, por sua vez, desde 1997 não trabalha mais com o amianto, porque ele foi banido da França – e outros 51 países. No Brasil é permitida a exploração da crisotila, o amianto branco, porque a empresa e seu séquito de especialistas, políticos e seguidores, que é mais solúvel, o sistema respiratório elimina mais rápido.

O amianto, também chamado de asbesto, provoca a asbestose, uma lesão no tecido pulmonar causado pelo acúmulo de fibras no sistema respiratório – são flocos minúsculos desprendido da mina. O amianto é muito procurado por ter baixo custo e ser resistente ao calor e ao fogo.

A SAMA organizou uma tabela para indenizar ex-trabalhadores: R$7 mil aos que contraíram a placa pleural, R$12 mil com asbestose e R$20 mil quem tiver tumor maligno. O professor Paulo Pena, da Faculdade de Medicina, da Universidade Federal da Bahia, citado pelos pesquisadores do Cetem, diz que a uma epidemia invisível de câncer no estado. O Grupo Eternit manteve uma fábrica que produzia derivados do amianto em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, com 2.500 funcionários. E, agora, monitora a saúde de 11 mil trabalhadores e ex-funcionários em Miniaçu, a 504 km de Goiânia, onde continua explorando o amianto branco, com todo o apoio da bancada goiana e do governo estadual, que recolhe R$2,5 bilhões ao ano em impostos.

A ditadura militar definiu a ocupação da Amazônia

A tragédia e o sofrimento das comunidades envolvidas na mineração é um roteiro que começa na ditadura militar. Em 1965, os militares fizeram um convênio com a NASA e a Comissão Nacional de Atividades Espaciais. Um funcionário do Ministério das Minas e Energia fez um curso sobre radar, com tecnologia GEMS – Goodyear Eletronic Mapping System. Posteriormente o funcionário – professor Luiz Henrique Aguiar de Azevedo – sugeriu ao ministro da época usar a tecnologia para fazer um levantamento aerofotográfico dos recursos naturais. A experiência começou pelo quadrilátero ferrífero e depois se estendeu pela Amazônia e virou o Projeto Radam – 38 volumes de informações sobre todos os recursos naturais da região.

Em 1974, a ditadura militar lançou o Polamazônia, um programa para estabelecer polos agropecuários e agrominerais em 15 áreas estabelecidas por importância econômica dos recursos. Cinco delas no Pará, incluindo Carajás. Muitos anos depois, já durante a era FHC, foi implantado o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), um contrato de US$1,395 bilhão, pagos em 10 anos e financiado pelo EXIMBANK dos Estados Unidos, um banco de fomento. Quem ganhou a licitação? O Grupo Rhayteon, logicamente. Uma história até hoje mal contada. Isso para enfatizar uma realidade em 2015: a ditadura militar estabeleceu a estratégia de ocupação da Amazônia e os governos democráticos seguintes nunca alteraram esta lógica. A democracia nunca chegou a estes lugares dos confins do Brasil, onde os grupos econômicos nacionais ou estrangeiros fazem o que querem, com o apoio de políticos locais e da elite de sempre.

Créditos da foto: Mídia Ninja

Texto original: CARTA MAIOR

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Noam Chomsky: estamos à beira da total auto-destruição?

Existem mais processos de longo prazo apontando na direção, talvez não da destruição total, mas ao menos da destruição da capacidade de uma vida decente.

Noam Chomsky, Alternet

O que o futuro trará? Uma postura razoável seria tentar olhar para a espécie humana de fora. Então imagine que você é um extraterrestre observador que está tentando desvendar o que acontece aqui ou, imagine que és um historiador daqui a 100 anos - assumindo que existam historiadores em 100 anos, o que não é óbvio - e você está olhando para o que acontece. Você veria algo impressionante.

Pela primeira vez na história da espécie humana, desenvolvemos claramente a capacidade de nos destruirmos. Isso é verdade desde 1945. Agora está finalmente sendo reconhecido que existem mais processos de longo-prazo como a destruição ambiental liderando na mesma direção, talvez não à destruição total, mas ao menos à destruição da capacidade de uma existência decente.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Os 6 motivos pelos quais o Brasil também é culpado pelo massacre em Gaza

O governo brasileiro manifesta sua solidariedade ao povo palestino ao redor do mundo; no entanto, mantém amplas relações com Israel.

Thiago Ávila


Com mais de uma semana do início dos ataques de Israel ao povo palestino e com ameaças reais de uma escalada da agressão para os países vizinhos, vemos aumentar o número de pessoas em nosso país lamentando à distância este conflito com profundas raízes históricas.

Grande parte dessas lamentações são acompanhadas de um grande sentimento de impotência, como se não tivéssemos qualquer relação ou poder de influenciar o que acontece na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e nos territórios palestinos já tomados por Israel.

Não é verdade. Nós temos, sim, parte da responsabilidade, assim como temos real possibilidade de influenciar nos rumos da história daqueles povos. Eis o porquê:

1. Desde a década de 1990 o motor da economia do estado sionista de Israel é o complexo industrial militar (indústria de armas). Como bem retratado por Naomi Klein, jornalista reconhecida internacionalmente, em seu livro “A Doutrina do Choque – A ascensão do capitalismo de desastre”, 70% da produção de armas israelenses são destinadas à exportação. Segundo a autora, Israel se coloca hoje no mundo como "uma espécie de shopping center de tecnologias de segurança nacional", utilizando de suas próprias guerras para demonstrar a eficácia de seus produtos "testados em campo".

Para compreender isto basta lembrar a guerra de 2006, na qual Israel não apenas massacrou o povo palestino, mas também invadiu o Líbano (sendo derrotado pelo Hezbollah ao sul do rio Litani) e, apesar da derrota militar, a economia israelense cresceu significativamente (8%). A guerra realmente é um grande negócio para Israel e para a economia capitalista. O Brasil, que ocupa militarmente o Haiti (e lá comete grandes atrocidades) e que consome armas dos países que violam os direitos humanos ao redor do mundo, não é inocente nesta história.

2. O governo brasileiro faz propaganda ao redor do mundo manifestando sua solidariedade ao povo palestino; no entanto, mantém amplas relações com Israel.

Se alguns países expulsaram embaixadores e realizam boicotes ao estado sionista após a guerra de 2006, onde Israel utilizou armas proibidas pela ONU como o "fósforo branco", o Brasil fez exatamente o contrário: intermediou e assinou um Acordo de Livre Comércio entre Israel e o Mercosul, aumentando nossa cumplicidade com os crimes de lesa-humanidade cometidos por este país.

Enquanto os refugiados palestinos aqui no país (utilizados como moeda de troca pela diplomacia brasileira) são tratados com inegável descaso, o Brasil fortalece a cada dia acordos comerciais e militares com o Estado sionista. Para os palestinos uma solidariedade institucional baseada em vazios discursos de presidentes e assistencialismo panfletário enquanto, para Israel, acordos comerciais e militares significativos e a compra de equipamentos de guerra testados no povo palestino.

De que lado o Brasil está?

3. Entre todas as aquisições brasileiras da indústria bélica israelense, uma ocupa lugar de destaque: um drone (veículo aéreo não-tripulado) de R$ 18 milhões fabricado pela Elbit Systems. É importante ressaltar que não se trata de qualquer empresa. A fabricante do drone é uma das 12 empresas que participaram da construção do Muro da Vergonha, que mantém a população da Faixa de Gaza em uma prisão sem teto e caracteriza um dos maiores crimes de lesa-humanidade de nossos tempos.

A compra do equipamento não foi um incidente excepcional, pois recentemente a mesma empresa ganhou dois contratos milionários com o Exército Brasileiro através de sua subsidiária, a Ares Aeroespacial. A participação desta empresa na construção do Muro da Vergonha não é um fato desconhecido pelo governo brasileiro, pois esta informação consta no próprio portfólio de apresentação e em todos os relatórios de investidores da empresa. O que são poucas declarações de solidariedade ao povo palestino perto disso?

4. O Governo do Estado do Rio de Janeiro também ocupa posição de destaque, tendo comprado de Israel oito caveirões blindados, usados pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) em suas operações nas favelas cariocas. Isto significa que, além de promover o extermínio da juventude pobre e negra em nosso país, o governo do Rio de Janeiro também fornece recursos para que Israel possa aumentar as agressões aos palestinos.

O Estado de São Paulo também não sai ileso, tendo comprado óculos com microcâmeras para coleta de vídeos em tempo real nas ações de repressão às manifestações populares, principalmente neste período que antecedeu a Copa do Mundo. Além do governo brasileiro, das empreiteiras, da FIFA e dos patrocinadores oficiais, o "negócio da guerra" também deve ser colocado como um dos poucos beneficiados por este megaevento e este "modelo de desenvolvimento" que causa crises sociais de grandes proporções aqui e no resto do mundo. Os governos hoje se gabam do grande legado de segurança pública que esta Copa nos deixou. Mas a que custo?

5. Parte da estratégia em todo genocídio é invisibilizar a população agredida; portanto, o lobby israelense faz de tudo para impedir que qualquer notícia que traga comoção internacional e solidariedade ao povo palestino seja veiculada na grande imprensa.

Basta assistir a uma notícia do Jornal Nacional para entender: "Israel responde aos mísseis atirados por terroristas do Hamas", ou "Tel-Aviv vive momentos de pânico com mais um alerta de míssil e interrompe uma cerimônia de casamento". Quase nada se fala das centenas de mortos e milhares de feridos palestinos. Os grandes veículos de comunicação brasileiros são coniventes com o massacre e as mídias alternativas são o único local de difusão destas tristes imagens que o mundo, infelizmente, precisa conhecer para que parem de acontecer cotidianamente.

Lembrem-se sempre que a Guerra do Vietnã só foi interrompida após a opinião pública ver tantas imagens fortes a ponto de se voltar contra os Estados Unidos exigindo o fim da guerra. Depois de lá, a grande imprensa nunca mais cobriu uma guerra mostrando seu lado mais triste e mais brutal. É sempre uma cobertura que ressalta a tecnologia, as declarações de chefes de Estado, ou até escombros à distância.

Pense nisso cada vez que você censurar um amigo nas redes sociais por postar fotos duras de cadáveres ou feridos adultos e crianças. O que, para você, é uma imagem feia e triste, para muitas pessoas pode ser também o alerta que as faça reconhecer uma situação grave de violação e agir em prol da paz com justiça social ao redor do mundo.

6. Diante da incapacidade da ONU e da comunidade internacional em frear as agressões israelenses, cidadãos e nações do mundo estão respondendo ao chamado do povo palestino feito em 2005 pedindo o boicote a Israel. E este boicote, que envolve o não-consumo, desinvestimento e sanções está surtindo efeitos, com grandes fundos de pensão europeus anunciando o desinvestimento em Israel e cada vez mais pessoas ao redor do mundo se somando a esta iniciativa.

Para quem acredita que esta ferramenta não é capaz de realizar mudanças, basta lembrar o caso da África do Sul, onde o boicote mundial, aliado à intensa mobilização interna e diversas ações internacionalistas neste país e em países vizinhos, foi fundamental para a queda formal do apartheid. Assim como no passado, hoje temos uma possibilidade real de frear o sionismo israelense.

É dever de toda e qualquer pessoa que deseja a paz para o povo palestino se integrar ao boicote multitemático a este país (econômico, cultural, esportivo) e, principalmente, exigir dos governos de seus países o fim de todos os acordos militares e comerciais com Israel. Nós, brasileiros e brasileiras que lutamos tão arduamente contra as violações em nosso país, não podemos nos calar diante do massacre ao povo palestino, sob pena de não apenas carregarmos o fardo de termos hesitado em um momento onde tínhamos a real possibilidade de promover a paz, mas também sabermos que fomos cúmplices de toda esta matança ao povo palestino que entrará para a história como um dos mais tristes momentos de nossa breve passagem pela Terra.

Não é deste lado da história que queremos estar.
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Thiago Ávila é consultor internacional e membro do Comitê Popular da Copa do Distrito Federal.

Créditos da foto: Carlos Latuff

Texto original:CARTA MAIOR


sábado, 2 de fevereiro de 2013

A MONSANTO, ALÉM DA JUSTIÇA.

(JB) - Agricultores brasileiros estão em litígio contra a Monsanto, que lhes cobrou royalties pelo uso de uma tecnologia cuja patente expirou em 2010, de acordo com a legislação brasileira. As leis nacionais estabelecem que o início da vigência de uma patente é a data de seu primeiro registro. A Monsanto invoca a legislação norte-americana, pela qual a patente passa a vigorar a partir de seu último registro. Como sempre há maquiagem dos processos tecnológicos, a patente não expira jamais.

Os lobistas da Monsanto não tiveram dificuldades em negociar acordo vantajoso, para a empresa, com os senhores do grande agronegócio, reunidos em várias federações estaduais de agropecuária, e com a poderosa Confederação Nacional da Agricultura, comandada pela senadora Kátia Abreu. Pelo cambalacho, a Monsanto suspenderia a cobrança dos royalties até 2014, e os demandantes desistiriam dos processos judiciais.

"Uma das maldições do homem é a tentativa de criar uma natureza protética"

Uma das maldições do homem é a tentativa de criar uma natureza protética, substituindo o mundo natural por outro que, sendo por ele criado, poderá, na insolência da razão técnica, ser mais perfeito. Essa busca, iniciada ainda na antiguidade, continuou com os alquimistas, e se intensificou com as descobertas da química, a partir do século 18. O conluio entre a ciência, mediante a tecnologia e o sistema capitalista que engendrou a Revolução Industrial, amparada pelo laissez-faire, exacerbou esse movimento, que hoje ameaça a vida no planeta.

A Alemanha se tornaria, no século 19, o centro mais importante das pesquisas e da produção industrial de novos elementos a fim de substituir a matéria natural, construída nos milênios de vida no planeta, por outra, criada com vantagens para o sistema de produção industrial moderno.

Não há exemplo mais evidente desse movimento suicida do que a Monsanto. A empresa foi fundada em 1901 a fim de produzir sacarina, o primeiro adoçante sintético então só fabricado na Alemanha. Da sacarina, a empresa foi ampliando seus negócios com outros produtos sintéticos, como a vanilina e corantes, muitos deles cancerígenos. Não deixa de ser emblemático que o primeiro grande cliente da Monsanto tenha sido exatamente a Coca-Cola. É uma coincidência que faz refletir.

Não é só a Monsanto que anda envenenando as terras e as águas com seus produtos químicos. Outras empresas gigantes da química com ela competem na produção de agrotóxicos mortais. Com o controle da engenharia genética aplicada aos vegetais de consumo humano e de consumo animal, no entanto, ela tem sido a principal responsável pelos danos irreparáveis à natureza e à saúde dos animais e dos seres humanos.

Vários países do mundo têm proibido a utilização das sementes transgênicas da Monsanto, entre eles a França, que interditou o uso das sementes alteradas. No Brasil, ela tem vencido tudo, com a conivência das autoridades responsáveis, ou irresponsáveis. A Comissão Técnica de Biossegurança e o Conselho Nacional de Biossegurança vêm dando sinal verde aos crimes cometidos pela Monsanto e outras congêneres no Brasil.

Essa devia ser uma preocupação prioritária do Parlamento, que só se movimenta com entusiasmo quando se trata das articulações internas para a eleição bianual de suas mesas diretoras.

TESTE REPLICADO DESTE ENDEREÇO:

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