Mostrando postagens com marcador demagogos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador demagogos. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 3 de julho de 2015

O consumidor virtual e o consumidor real

Nós consumidores somos responsáveis ao fim e ao cabo por ratificar a forma de produção do capitalismo contemporâneo. Querendo ou não.

José Carlos Peliano


Qual o papel dos consumidores no mundo contemporâneo? Seguem todos eles os desígnios impostos pelo mercado, quais sejam de entrar e sair de lojas de departamentos, supermercados, lojas de prestação de serviços, feiras, ruas de comércio, enfim do conjunto da meca do comércio e serviços, para darem conta de suas necessidades de consumo.

Como lembrava Marx tempos atrás, a construção capitalista da forma de produção de bens, mas também de serviços, quando mercadorias à disposição do consumo final, acabou por encobrir as etapas anteriores de fabricação dos produtos.

O chamado fetiche das mercadorias, a necessidade ou o glamour da aquisição de produtos, faz com que o consumidor adquira sua cesta de necessidades de bens e serviços, como pacote fechado, isto é, sem identificar quem produziu, com que produziu e em que condições foi produzido.

Assim, os grandes grupos vendem o marketing embutido nos produtos como o sinal mais evidente de sucesso, experiência e qualidade. A tecnologia dos carros modernos, a beleza dos efeitos dos produtos cosméticos, a resistência das fibras das malhas e tecidos de roupas em geral, os tênis que levam os usuários a terem impressão de voarem ou andarem descalços. E assim por diante.

Na época histórica do artesanato, o mercado era formado por bens e serviços dos quais se conheciam os seus produtores. Sabia-se das características de cada um, suas habilidades, as qualidades de seus produtos, toda a sorte de informações que levava o comprador a ir em busca dos produtos daquele artesão e só dele.

Hoje ao se ir ao mercado, o grande mercado moderno, espalhado em suas mais variadas formas de apresentação de produtos e serviços, em ruas, alamedas, shoppings, entre outras modalidades, não se tem mais essa informação. Compra-se somente o produto final e de que grupo industrial o fabricou. Nada mais.

E por que não se sabe mais? Uma das razões básicas mais determinantes é o fato de o consumidor moderno não ir em busca dessa simples informação. Ao adquirir o produto, ele compra o pacote fechado, caixa preta, apenas para seu uso pessoal. Para sua necessidade ou satisfação.

Não se dá conta, no entanto, que ao fazer assim ele está também aceitando as condições finais da compra, as quais não revelam as etapas anteriores de produção: quem de fato produziu, em que condições de trabalho e fabricação e em que estado do meio ambiente.

Ao assim proceder, todos nós consumidores estamos garantindo que os produtos adquiridos sejam reconhecidos como tais e garantindo que eles continuem a ser produzidos do mesmo modo dali para frente. Estamos comprando produtos e suas condições de trabalho e produção. Somos os responsáveis finais pela manutenção continuada dos mesmos produtores e de suas estratégias de fabricação e venda.

Nós consumidores somos responsáveis ao fim e ao cabo por ratificar a forma de produção do capitalismo contemporâneo. Querendo ou não. Compramos às escuras e os produtores mantém às escuras as formas com as quais extraem, organizam, fabricam e vendem seus produtos. Nossas compras no mercado chancelam tudo isso.

Assim, não adianta se assustar ao descobrir que grandes grupos industriais modernos utilizam mão de obra escrava na fabricação de seus produtos, ou mão de obra infantil, ou inseticidas e produtos transgênicos na produção de hortaliças, grãos e achocolatados. Entre tantos outros.

Nem mesmo se indignar pela depredação do meio ambiente, degradação das condições de trabalho, utilização intensiva de trabalhadores clandestinos e crianças, corrupção localizada ou disseminada, escassez de produtos por estratégia empresarial.

Há que se desvestir da roupa de consumidores e desvendar a caixa preta dos produtos expostos no mercado. Nós consumidores temos de assumir o papel de investigadores do que compramos, do que consumimos, do que garantimos a permanência no mercado.

Vejam um exemplo clássico de combate e resistência dos consumidores. Em 1995 o governo britânico, ao apoiar a Shell UK de afundar sua instalação de reserva de petróleo Brent Spar no mar do Norte a 2,5 quilômetros de profundidade no oceano Atlântico, recebeu uma pressão inusitada da população europeia com o apoio do Greenpeace.

A oposição pública e política, ao lado do boicote generalizado aos postos de gasolina (estações de serviços) da Shell, além de outros incidentes localizados, fez com que a empresa abandonasse seu intento, recuperando a instalação ao traze-la para a terra. Em 1998 parte dela foi reutilizada na construção de novas instalações portuárias próximas a Stavanger, Noruega.

Os consumidores desempenharam seu devido papel como compradores conscientes. Mais que isto, como re-orientadores dos interesses das empresas, do capital, em benefício do meio ambiente no caso, para que a produção de petróleo atendesse o mínimo de respeito, garantia e proteção da natureza, mas também da população.

Outros exemplos anteriores foram anunciados nos casos de denúncias de grandes empresas ofertando em suas dependências produtos feitos por mão de obra infantil (Nike) e mão de obra escrava (Zara, Gregory, C&A). Já a Starbucks estaria no rol daquelas que defendem as empresas que vendem produtos transgênicos como se fossem naturais, orgânicos.

Na contramão desse movimento de resistência dos consumidores, o Congresso Nacional do Brasil acabou de aprovar a retirada da letra “T”, designando transgênico, dos produtos que mantém esses ingredientes na sua fabricação. Assim, volta o consumidor a adquirir gato por lebre, mais uma vez enganado por venda às escuras. Sofre o meio ambiente, é afetada a saúde dos consumidores, mantém-se os interesses do capital.

Do consumidor virtual ao consumidor real, essa a proposta de retomada dos movimentos sociais. Talvez uma alternativa mais vigorosa, eficiente e benéfica para todos. Dar limites à acumulação predatória do capital. Ganha o consumidor, satisfaz plenamente a sociedade, salva-se o meio ambiente, humaniza-se as condições de trabalho e produção.

Acima de tudo consegue-se fazer frente à sanha desenfreada do capitalismo de a tudo explorar para lucrar sempre mais e mais independentemente dos trabalhadores, dos cidadãos, da natureza.

Toda caminhada começa nos primeiros passos. Cobranças e resistências dos consumidores aqui e ali podem se generalizar e dar conteúdo a um movimento social de protesto consciente e consistente. Deixamos de assinar cheques em branco às empresas e passamos a pagar com os olhos e ouvidos abertos.

A sociedade de amanhã, nossos filhos e netos, vão agradecer nossos primeiros passos e deverão eles seguir em frente levando a bandeira de um mundo melhor, mais saudável, ético e responsável.
______________________

Economista, José Carlos Peliano é colaborador da Carta Maior.

Texto original
: CARTA MAIOR

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A grande empulhação dos colunistas econômicos

Grande parte dos colunistas de economia da imprensa comercial brasileira, autodenominada grande imprensa, comete uma fraude contra os cidadãos.

Marco Piva (*)

Grande parte dos colunistas de economia da imprensa comercial brasileira, autodenominada “grande imprensa”, comete uma fraude contra os cidadãos que acompanham as notícias no dia a dia. Eles têm uma verdadeira obsessão quando tratam de assuntos da sua área: a obsessão de acreditar que falam ou escrevem sem ideologia nenhuma, que seus comentários são isentos, práticos e objetivos, e que só mesmo a cegueira política não é capaz de enxergá-los como grandes pensadores críticos do país. Ora, ter uma visão ideológica e não assumi-la é a pior forma de cinismo e de empulhação. Essa gente não fez nem TCC no ensino médio para saber que qualquer coisa que se diga, se fala desde um lugar, desde uma teoria de interpretação sobre a realidade que se vê. E acreditar nos pilares do liberalismo sem freio, na aposta que a mão invisível do mercado pode tudo, forma um conceito tão atrasado quanto aquela regra do futebol que permitia ao goleiro segurar a bola com a mão por quanto tempo quisesse.

Pois bem. Um dos esportes prediletos desses colunistas de uma só forma de ver a economia é criticar os governos ditos bolivarianos como a Venezuela, o Equador, a Bolívia e a Argentina, não faltando tremendos esforços para incluir o Brasil na lista. A tese vale para todos: são governos gastões, populistas, anti-iniciativa privada, inimigos dos Estados Unidos e por aí vai. Dizem os guardiões do pensamento do mercado que a situação nesses países vai de mal a pior por obra e culpa dos governantes de plantão, casualmente todos eles de esquerda.

Não é que as previsões para os demais países latino-americanos também não são nada animadoras para 2015? Vamos pegar o exemplo de nações governadas pela direita para que a análise não seja entorpecida. O México terá um de seus piores anos. Indústrias norte-americanas instaladas em território mexicano estão demitindo e fechando suas portas. As chamadas “fábricas maquiladoras”, eixo central da integração do Nafta, estão indo se instalar em outras freguesias. O petróleo, principal receita do país, está com a produção em baixa e preços achatados no mercado internacional. Como entrou de sócio menor no acordo comercial com Estados Unidos e Canadá, os mexicanos correm o risco de voltar a níveis produtivos anteriores a 1980. O PIB deste ano está previsto para 1,0%. A pobreza e a violência só crescem.

A Colômbia, outra menina dos olhos dos colunistas econômicos brasileiros, teve forte queda de produção e mal ultrapassou o 1% do PIB em 2014. As previsões para esse ano são ainda mais sombrias. Aberto desde sempre ao capital estrangeiro especulativo, o país começa a assistir a saída desses capitais numa escala sem precedente. Pesa ainda a desvantagem de não ter muito para onde correr, já que a produção agrícola do país depende de commodities, cujos preços estão em baixa no mercado internacional, sem falar do problema da violência política, ainda sem solução definitiva.

O Peru, depois de três anos seguidos de crescimento, viu uma marcha à ré em 2014. Sua principal riqueza, as jazidas de minério, perdeu espaço para novos centros de produção na África e Ásia. Sem uma indústria forte, pouco terá a oferecer para garantir emprego e renda aos seus cidadãos.

Vamos colocar o Chile no rol dos países mais abertos economicamente, embora tenha um governo de inspiração esquerdista moderada. O cobre, de longe a grande cartada do país, está com preços em queda. Os investimentos externos estão caindo para os piores níveis da história e, o que é pior, iniciam um movimento de fuga, o que levou a presidente Michelle Bachelet a decretar apressadamente uma nova lei de “inversiones extranjeras”, mais liberal e sem grandes contrapartidas como a anterior.

Nesse cenário, o Banco Mundial destaca que a América Latina cresceu 1,0% em 2014, a média mais baixa dos últimos 12 anos. A projeção de crescimento do PIB é de 2,4% para este ano, um verdadeiro risco para a continuidade dos programas sociais que diminuíram em 24% a pobreza no continente. Nenhum país latino-americano ou caribenho crescerá vigorosamente, com a única exceção da Bolívia, que ainda colhe os frutos da nacionalização do setor de gás e energia. Então, onde está escrito que os únicos países que estão em difícil situação econômica são aqueles cujos governos tem ideias de esquerda? Em qual manual ficou provado que a melhor maneira de levar a economia de uma nação é abrindo todos os flancos para o investimento estrangeiro e para a total privatização dos setores estratégicos? Quem disse que desenvolvimento não combina com justiça social?

Sem dúvida, falta muito para que famosos colunistas econômicos tenham a humildade de reconhecer que, sim, falam em nome de uma ideologia a qual devotam crença inabalável e que prestam um desserviço aos consumidores de notícia quando emitem opiniões baseados em só um lado da moeda. A América Latina vive uma crise econômica que é resultado da queda brutal das commodities de matérias primas, do rearranjo do poder econômico mundial baseado na financeirização dos ativos, da precarização de seu parque industrial, da histórica falta de investimento em inovação e tecnologia e do profundo ódio que os donos locais do dinheiro nutrem contra qualquer coisa que sinalize uma pequena mudança em seu status quo.

Por isso, debater a regulação econômica da mídia é mais do que necessário; é urgente, é “pra ontem”. Somente assim poderemos almejar uma sociedade com mais pluralismo e mais democracia, com cidadãos que poderão olhar criticamente uma notícia sob variados pontos de vista e não apenas a partir da “verdade única” dos colunistas, desses endeusadores do oráculo do mercado.

(*) Marco Piva é jornalista.

sábado, 8 de novembro de 2014

Dilma ratifica compromisso de democratizar a mídia

Como mostram as mais de 80 linhas textuais publicadas hoje em O Globo, a chefe de Estado não tocou no assunto tangencialmente.

Dario Pignotti @DarioPignotti

Em sua condição de presidenta reeleita, Dilma Rousseff abordou pela primeira vez, e com argumentos substanciais, a necessidade de o Brasil debater e eventualmente sancionar um marco jurídico sobre os oligopólios que dominam a produção, circulação e consumo de notícias (privilégio que lhes permite pautar estratégias de desinformação em escala industrial).

Dilma citou as leis que foram aplicadas no Reino Unido contra crimes cometidos por um jornal do conglomerado de propriedade de Rupert Murdoch (uma espécie de Roberto Marinho nascido na Austrália e naturalizado britânico).

Falando para repórteres do jornal O Globo e de outras mídias privadas, a presidenta se referiu à necessidade de superar essa anomalia tipicamente brasileira, a "propriedade cruzada" de mídias eletrônicas e gráficas.

"Oligopólio e monopólio. Por que qualquer setor tem regulações e a mídia não pode ter?", questionou a presidenta diante dos jornalistas e deixou aberta uma potencial discussão sobre como vão se inserir as empresas de telecomunicação.

"Não só a propriedade cruzada. Tem inclusive um desafio, que é saber como fica a questão na área das mídias eletrônicas. O que é livre mercado total? Tenderá a ser a rede social, eu acho".

A presidenta que, em 2013, suspendeu uma visita de Estado a Washington em repúdio à espionagem perpetrada pela agência norte-americana NSA anunciou que impulsionará "um amplo debate a exemplo do que aconteceu com o marco civil da internet. Eu pretendo abrir um processo de discussão a partir do primeiro ou segundo trimestre do ano que vem".

Essas palavras revelam uma discussão política de fundo: iniciar a transição rumo à democracia midiática, o que seguramente vai alimentar a belicosidade do grupo Globo, o maior multimídia sul-americano, e de outras empresas defensoras do atual regime, que pode ser definido como "alegal", já que o Brasil é um dos poucos países onde não há legislação sobre propriedade cruzada.

Acontece que no Brasil impera um regime de exclusão social do espaço público que é pouco visto no resto do mundo, incluindo as potências ocidentais e países latino-americanos cujos governos compreenderam que para consolidar a democracia, em muitos casos recentes, era imprescindível alterar as condições de produção do campo informativo, o que implica desmontar estruturas concentradas e incorporar novos atores através de veículos públicos com generoso financiamento.

E para avançar na matéria, é básico contar com um marco jurídico que regule o sistema. Sem lei, impera a barbárie do mercado jornalístico.

Outra diferença: Enquanto no Brasil o sistema estatal e público é pouco competitivo com as empresas privadas, em outros paises como o Reino Unido e Italia, existem poderosas empresas públicas como BBC e RAI com real capacidade de disputa frente a grupos tentaculares, oligopólicos, como o controlado por Murdoch ou o multimídia de Silvio Berlusconi.


Dilma cumpre
Durante a campanha encerrada com a vitória de 26 de outubro, Dilma havia dado sinais de sua intenção de abordar um tema espinhoso para o qual deu pouca atenção nos primeiros quatro anos de seu mandato. Por sua vez, o candidato do setor conservador Aécio Neves se posicionou contra qualquer regulamentação, assumindo como seu o discurso das empresas e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert). Rechaçou toda ameaça à liberdade de expressão como se esta pudesse ser limitada por um regime de propriedade menos concentrado.

Antes do primeiro turno de 5 de outubro, a candidata do PT concedeu entrevista a vários blogueiros que não se sujeitam à censura do mercado. Foi a primeira vez que a presidenta recebeu a imprensa "independente", no sentido cabal do termo, na residência oficial da Alvorada, reconhecendo seu status político e institucional.

"Uma coisa não tem nada a ver com a outra [regulação econômica e controle de conteúdo]. Regular conteúdo é de país ditatorial. Na regulação econômica vamos impedir que relações oligopólicas se estabeleçam e se instalem. É óbvio que nada tem de bolivariano nisso", disse em 25 de setembro, quando também prometeu que, ao ser eleita, retomaria o assunto.

Semanas mais tarde, poucos dias antes do segundo turno, Dilma e o PT denunciaram as manobras perpetradas pela Veja e adiantaram a intenção de levar o caso à justiça por considerar que a revista da Editora Abril cometera ações criminosas.

Promessas cumpridas
A novidade surgida da entrevista desta quinta-feira concedida ao Globo, Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e Valor Econômico é que dois meses antes de assumir seu segundo mandato, a presidenta ratificou sua promessa de campanha de revisar o status quo informativo.

Detalhe: a chefe de Estado não tocou no assunto tangencialmente, ou por compromisso em resposta a uma pergunta, mas demonstrou real interesse em assumir o assunto durante alguns minutos, como mostram as mais de 80 linhas textuais publicadas hoje na página 4 do jornal O Globo.

Claro que as grandes mídias matutinas evitaram colocar em destaque a decisão de impulsionar a democracia comunicacional, assunto que, na opinião deste articulista, foi a principal notícia da entrevista. Ao contrário, os jornais hegemônicos preferiram, no geral, destacar que Dilma caminharia rumo a um inevitável ajuste neoliberal.

Com títulos surgidos do que podemos chamar de "pensamento único jornalístico", O Globo, Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo publicaram, respectivamente, "Dilma diz que vai a controlar gastos e controlar a inflação", "Dilma diz que fará 'dever de casa' contra inflação" e "Dilma sugere contenção de gasto e cerco à inflação". Interessante exemplo de como a propriedade concentrada deriva em homogeneidade ideológica.

Outro enfoque ao qual foi dada a devida importância foi aquele em que Dilma cita a "dura" legislação inglesa contra as irregularidades jornalísticas cometidas pelo tablóide News of the World, forçado a encerrar suas atividades após o escândalo de escutas ilegais em 2011.
Agora, apesar de os jornais dominantes não terem feito isso, é possível aprofundar e interpretar essa declaração da presidenta que governará o Brasil até 31 de dezembro de 2018.

Nesse ponto se torna inevitável estabelecer um paralelo entre os abusos do britânico News of the World e os excessos cometidos pela Veja para sabotar a quarta vitória consecutiva do PT.

Como no Brasil, por enquanto, há um vazio jurídico absoluto, está garantida a impunidade dos patrões e dos editores da publicação semanal da família Civita.

Do contrário, se o Brasil tivesse alguma lei que impusesse limites à realidade hobbessiana da mídia, é possível que os responsáveis pela Veja fossem processados, como foi Rebeca Brooks, mão direita do multimilionário Murdoch, junto de Andy Coulson, ex-porta-voz do premiê britânico David Cameron.
___________

Dario Pignotti é repórter do diário argentino Página 12.
A tradução é de Daniella Cambaúva.
Créditos da foto: Roberto Stuckert Filho/PR


Texto original: CARTA MAIOR

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A inacreditável passeata pelo golpe militar: sobre porque precisamos passar a limpo nossa história

A ditadura militar no Brasil foi criminosa, portanto, clamar por ela não é uma questão de opinião, é crime também. Não podemos mais aceitar essa conduta.
Rita Almeida

O Brasil viveu nesta semana um episódio inacreditável. Uma passeata em São Paulo que carregava, dentre outras bandeiras, o pedido de intervenção e golpe militar, ou seja, a reedição de um dos períodos mais sombrios da nossa história. 
Pasma com a tal passeata, postei algo no feicebuque sobre a necessidade dos professores brasileiros pararem tudo que programaram durante a semana para se dedicarem a discutir em suas salas de aula os anos de ditadura militar no Brasil, a fim de conscientizar e alertar nossos jovens. Pois mais pasma ainda fiquei com um comentário ao meu post que pedia para que os professores trabalhassem o tema de forma neutra, a fim de que os alunos tirassem suas próprias conclusões sobre o episódio, além de salientar a importância das obras públicas feitas na época da ditadura e destacar que as organizações de esquerda também tiveram sua parcela de responsabilidade no episódio. E o mais triste: o comentário tem, até o momento, uma defesa e 22 curtidas.

Esse tipo de passeata que ocorreu em São Paulo, assim como o comentário que apareceu no meu post - e que ouvimos por aí toda hora - é um sintoma da falta que fez não termos acertado as contas com esse pedaço da nossa história, tal como souberam fazer nossos vizinhos Argentinos e Uruguaios, por exemplo. Precisamos urgentemente rasgar essas cicatrizes que ainda não se fecharam a fim de fazer com que a ditadura militar brasileira seja, irremediavelmente, tratada como aquilo que realmente foi: um crime bárbaro.

Não há nenhuma obra construída, nenhuma justificativa, nenhuma versão, nenhum romantismo, nenhuma suposta neutralidade que seja capaz de fazer com que tiremos outra conclusão sobre esse período que não seja: crime e barbárie. Se existe uma versão dos militares para o que ocorreu nos porões da ditadura ela é criminosa e, assim sendo, não pode ser considerada como possível ou plausível. Assim como, se existe uma versão dos brancos sobre a escravidão imposta aos negros ela é criminosa; se existe uma versão nazista para o genocídio dos judeus, ela é criminosa; se existe uma versão europeia para o que se fez com os povos que viviam nas Américas, ela é criminosa; e ponto final, nada mais. 

Mas o fato de não termos passado a limpo esse nosso passado sombrio é que exatamente abre a possibilidade de que alguém diga: "A ditadura militar também não foi tão ruim assim como dizem!" Este tipo de discurso sustenta argumentos do tipo: “A ditadura militar foi terrível, mas, e as obras que foram feitas nesta época, não valeram?” Isso seria o mesmo que dizer: “A escravidão a que foram submetidos os negros no Brasil foi terrível sim, mas e a nossa produção de cana-de-açúcar e café no século XVII, não conta?” Ou: “Os povos nativos nas Américas foram dizimados sim, mas e os países Americanos que daí surgiram, não fizeram tudo valer a pena?” 

Este tipo de desmemoria, misturada com ignorância histórica ou até má fé, também produz argumentos desse tipo: “Eu concordo que os militares foram horríveis, mas os militantes de esquerda também não eram flor-que-se-cheira não é?”. Isso seria o mesmo que dizer: “As torturas e castigos a que foram submetidos os negros na escravidão foram um horror, mas os negros também não colaboravam: fugiam, resistiam, desobedeciam...” Ou: “Tá certo que os nazistas perseguiam e matavam os judeus, mas esses também não facilitavam não é? Mudavam de nomes, se escondiam, escondiam seus bens...”

Outra forma de tentar camuflar a realidade terrível do que foi o período de ditadura no Brasil, também é utilizada para justificar outras atrocidades ao longo da história. É a velha justificativa: “Fizemos o mal, mas foi para o bem”. Esta é a forma mais perversa de impingir mal ao outro, tentando convencê-lo de que foi o melhor que se pôde fazer por ele. Assim, os portugueses dizimaram os índios que aqui viviam para lhes salvar a alma. Assim os EUA matam milhares em guerras estúpidas e desumanas com a desculpa de que estão promovendo a paz. No caso do golpe militar, a justificativa era nos salvar do comunismo.

Desarquivar a ditadura brasileira é urgente! 

Não podemos mais aceitar que ela seja romantizada pelo efeito, supostamente positivo, das obras feitas na época. Se não podemos demolir o que foi construído tendo como matéria prima a humilhação, o sangue e a dor de muitos brasileiros, então que, pelo menos, nada do que foi construído na ocasião nos seja motivo de orgulho. 

Não podemos mais aceitar que os que bravamente lutaram - muitos deles com suas vidas - para tentar resistir a essa barbárie, sejam responsabilizados por não se curvarem ao desmando e a opressão. E sabemos que não era preciso uma bomba ou um revólver para ser considerado um subversivo. A arma poderia ser apenas uma caneta e o território de ocupação uma folha de papel.

Não podemos mais aceitar que se justifique todo o horror que foi produzido nesta época como um bem para o Brasil e os brasileiros, ou como algo inevitável. 

Sendo assim, os anos de ditadura do Brasil não podem ser sujeitos a uma espécie de interpretação pessoal de quem lê a história. Alguém teria, hoje, coragem de dar outra interpretação para o genocídio dos judeus que não a de um crime bárbaro? Alguém teria coragem de dar outra interpretação para a escravidão dos povos africanos, que não a de um crime bárbaro? Do mesmo modo, a ditadura brasileira, precisa se tornar urgentemente aquilo que realmente foi: um crime bárbaro, sem possibilidade de outra interpretação. Foi humilhação, cerceamento, censura, prisão, desespero, dor, silêncio imposto, abandono, exclusão, perda, desumanidade, desamor, ignorância, tristeza, depressão, alienação, emburrecimento, embrutecimento, doença, tortura e morte. Nada que tenha acontecido de bom nesta época pode mudar ou romantizar isso. Nenhuma opinião pessoal que se tenha sobre esta passagem da nossa história pode mudar tal realidade! E nenhuma estupidez ou alienação pode permitir que alguém possa desejar ou clamar por ela novamente!

O genocídio do povo judeu foi um crime, portanto, clamar pelo seu retorno não é uma questão de opinião é crime também.

A escravidão dos negros foi um crime, portanto, clamar pela sua volta não é uma questão de opinião, é crime também.

Então é preciso que fique muito bem claro: A ditadura militar no Brasil foi criminosa, portanto, clamar por ela não é uma questão de opinião, é crime também. Simples assim.

Texto original: CARTA MAIOR

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Quando Tancredo governava Minas, Aécio tinha carteira de policial como “secretário particular” do avô


por Rodrigo Lopes, especial para o Viomundo

Sem nunca ter tido formação policial, o senador e candidato à Presidência da República, Aécio Neves (PSDB), já teve e utilizou carteira da polícia mineira para dar a famosa “carteirada”.

Aécio aproveitou da influencia do clã familiar para obter a carteira de polícia de número 8.248, emitida em 19 de abril de 1983 pela Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais (SSP-MG), que assegurava ao seu portador poderes de polícia.

A carteira foi obtida por Aécio quando ele tinha 23 anos, na mesma época em que seu avô, Tancredo Neves, governava o Estado de Minas Gerais.

Cópia do documento publicada neste blog encontra-se arquivada na sede do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon).

Para requerer o seu registro profissional de economista junto ao Corecon, Aécio optou por utilizar a carteira policial em vez da carteira de identidade oficial.

Aécio exerceu o cargo de secretário de gabinete parlamentar da Câmara dos Deputados dos 17 aos 21 anos, entre 1977 e 1981.

No mesmo ano em que “deixou” a Câmara, começou a trabalhar na campanha para o governo de Minas Gerais com o avô. Em 1983, foi nomeado secretário particular de Tancredo Neves.

PS do Viomundo: Aécio admitiu que morava no Rio quando exerceu o cargo de assessor parlamentar em Brasília. Além de neto de Tancredo, ele é filho do falecido deputado federal Aécio Ferreira da Cunha, que serviu à Arena, o partido de sustentação da ditadura militar. Aos 25 anos de idade, depois da morte de Tancredo, Aécio foi indicado diretor da Caixa Econômica Federal pelo então ministro da Fazenda, Francisco Dornelles, primo dele. Era o governo Sarney, do qual Aécio também obteve concessão pública de uma emissora de rádio em Minas Gerais.

Leia também:

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Por que Bush encobriu fatos sobre o 11 de setembro?

Comitê parlamentar americano teve acesso negado a 28 páginas de um documento que mostraria relações dos terroristas com o governo da Arábia Saudita.

James Ridgeway - CounterPunch

Em seu artigo do New Yorker, publicado no site da revista na semana passada, Lawrence Wright conta sobre como a administração Bush deletou 28 páginas do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os ataques de 11 de setembro, provavelmente pelo fato de que descreviam em detalhe as conexões dos sauditas com o ataque da Al Qaeda e com o financiamento de suas operações nos EUA a partir de pessoas que conheciam os sequestradores dos aviões e podem ter servido como ligação para o dinheiro saudita. Uma parte do dinheiro pode ter sido transferido pela família real através de caridade.

Ao remover as 28 páginas, Bush declarou que a publicação de tal conteúdo prejudicaria operações de inteligência americanas. Os sauditas negam tudo.

Na verdade, ninguém estaria falando sobre isso hoje se as famílias das vítimas e as seguradoras não estivessem processando os sauditas.

Wright relata:

“Não há nada a ver com segurança nacional,” é o que diz Walter Jones, deputado da Carolina do Norte que leu as 28 páginas. “Elas são sobre o governo Bush e sua relação com os sauditas.” Stephen Lynch, um democrata de Massachusetts, me contou que os documentos são “chocantes por sua clareza,” e que oferecem evidência direta da cumplicidade por parte de alguns indivíduos e entidade sauditas quanto ao ataque da Al Qaeda nos EUA. “Estas 28 páginas contam a história que foi completamente removida dos relatórios sobre o 11 de setembro,” sustena Lynch. Outro deputado que leu o documento declarou que as evidências do apoio do governo saudita ao ataque são “assustadoras,” e que “a verdadeira questão é se tudo isso foi sancionado pela família real ou em um nível mais baixo, e se as orientações foram ou não seguidas.” Agora, em um raro exemplo de aliança bipartidária, Jones e Lynch copatrocinam uma resolução requisitando que a administração Obama desclassifique estas páginas.

Mas há outras questões aqui, e elas envolvem a história de como a administração Bush suprimiu as provas que revelariam o quanto ela sabia dos planos de ataque — e não fez coisa alguma para impedi-los.

Um breve resumo da história:

Dois dos sequestradores do vôo 77 — Khalid al-Midhhar, um saudita que lutou com a Al Qaeda na Bósnia e na Chechênia, e Nawaf al Hazmi, outro saudita com experiências militares na Bósnia, Chechênia e Afeganistão, se encontraram em uma reunião estratégica da Al-Qaeda em Kuala Lumpur em janeiro de 2000. A CIA pediu ao serviço de inteligência malaio que monitorasse a reunião, sem sucesso. Os dois deixaram a reunião em direção ao aeroporto e tomaram um vôo para Bankok dia 8 de janeiro, e depois tomaram um vôo da United Airlines de Bankok para Los Angeles, aterrisando sem problemas e passando pelo serviço de imigração americano.

Nesta época, de acordo com a Comissão de Inquérito, “a CIA e a NSA tinham informações suficientes disponíveis sobre os futuros sequestradores al-Midhar e al-Hamzi para conectá-los a Osama Bin Laden, ao ataque à embaixada na África e ao ataque do USS Cole… e eles deveriam ter sido colocados dentro da lista de suspeitos do Departamento de Estado e da INS.”

Em julho de 2001, analistas que trabalhavam por conta própria confirmaram que os dois haviam aterrisado nos EUA e avisaram o FBI. O FBI alertou seus oficiais em Nova York, mas não em Los Angeles e em San Diego. E não pensaram em avisar a FAA, a INS ou outros serviços de inteligência para proibirem estes homens de entrar em aviões.

Uma vez nos EUA, os dois sequestradores passaram desapercebidos sob os narizes da CIA e do FBI, Eles foram de Los Angeles a San Diego, onde alugaram um apartamento, arrumaram um cartão de seguridade social, carteiras de motorista, cartões de crédito e um carro. E logo começaram treinamentos de vôo.

Os dois possuiam contatos com um iemenita radical, que o FBI estava vigiando e com o líder de uma comunidade saudita local, que era suspeito de ser um dos financiadores dos sequestradores.

Eles tiveram contato com um informante do FBI que vivia na casa do iemenita. Este homem fora incumbido pelo FBI de vigiar a comunidade saudita local. “Ele estava na casa de uma de nossas fontes,” foi o que um oficial do FBI contou a James Bamford, autor do livro “Um Pretexto para a Guerra”. “Se tivéssemos tomado conhecimento disso teríamos seguido os dois e dito, ‘estes caras estão frequentando aulas de aviação'.”

A comissão de inquérito concluiu que os contatos dos informantes com os sequestradores, se tivessem sido investigados, teriam dado oportunidade ao FBI de San Diego para desvendar o plano. As tentativas da Comissão de Inquérito de entrevistar os informantes foram frustradas pelo FBI e pelo Departamento de Justiça. De acordo com o ex-senador Bob Graham, em seu livro “A inteligência Importa,” quando a Comissão pediu ao FBI todos seus arquivos sobre os informantes, o acesso foi negado e quando foram intimados a fazê-lo, o FBI não se mexeu. Graham organizou uma reunião com o diretor da CIA, George Tenet, o diretor do FBI, Robert Mueller e o procurador geral John Ashcroft. Eles sugeriram que Graham interrogasse o informante por escrito e o informante havia conseguido um advogado de ponta, antigo funcionário do Departamento de Justiça. O advogado demandou imunidade para o informante antes que este testemunhasse. Graham escreveu em seu livro, “era estranho que um indivíduo que declarava não ter feito nada errado e que o FBI insistia que era uma fonte valiosa requisitasse imunidade.”

O comitê recusou o pedido.

Graham escreveu que o FBI “insistia que não se poderia de maneira alguma contar ao povo americano que um informante do FBI tivera se relacionado com dois dos sequestradores.” O FBI se opôs a qualquer a qualquer audiência pública, deletou do relatório da Comissão de Inquérito todas as referências à situação . Apenas um ano depois o FBI permitiu que uma versão da história se tornasse pública.

Em seu livro, Graham descreveu uma carta de um membro do FBI explicando que a entidade não tinha cooperado por causa de ordens vindas do governo. “Nós pretendíamos escrever sobre o que suspeitamos. A Casa Branca dirigiu o encobrimento da situação.

"Mais tarde, quando a comissão sobre 11 de setembro conduziu sua própria investigação, tanto Bush quanto Cheney fizeram uma reunião com ela, privada, sem registros.”

Esta história e o novo artigo de Wright sugerem que o presidente, o vice-presidente e o comandante do FBI se envolveram com obstrução da justiça. Se isto aconteceu de fato, seria necessário um júri federal para julgar o caso. O Departamento de justiça, que gere o FBI, faria isso? Provavelmente não.

Restou que as famílias que estão processando os sauditas descubram e publiquem a verdade.

Créditos da foto: Flickr


Texto original : CARTA MAIOR

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O delator e o contrato do Grupo Globo

Em junho passado, quando foi chamado para depor na CPI do Senado, o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, fez uma grave denúncia

Altamiro Borges

O sempre antenado Rodrigo Vianna, do blog Escrevinhador, aproveitou a onda midiática em torno da “delação” de Paulo Roberto Costa para cavar uma bombástica notícia. Em junho passado, quando foi chamado para depor na CPI do Senado, o ex-diretor da Petrobras fez uma grave denúncia: “Para conhecimento de vocês, eu tenho um contrato assinado para vender uma ilha das Organizações Globo”. A mídia venal, que age como a máfia na proteção dos seus bandidos, sequer mencionou o fato. O “delator” não virou capa da Veja naquela ocasião. Willian Bonner, Patrícia Poeta, Willian Waack e outros apresentadores dos telejornais globais também não mencionaram o fato.

Um dos poucos sites que divulgou a denúncia foi o da liderança do PT na Câmara Federal. Vale conferir a matéria:

*****

Ex-diretor refuta ilações sobre Petrobras e revela contrato com Organizações Globo

10 Junho de 2014 – Site da Liderança do PT na Câmara Federal

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto da Costa, refutou, na CPI do Senado que investiga supostas irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, no Texas, ilações que tentam comprometer a Petrobras. Ele revelou também que sua empresa mantém negócios com as Organizações Globo. Paulo Roberto lembrou que passou mais de 50 dias preso e massacrado por setores da mídia, como a Globo, com quem mantém contrato.

A revelação foi um dos pontos marcantes da CPI, nesta terça-feira (10). Em seu relato, o ex-diretor confirmou que é o dono da empresa de consultoria Costa Global e que entre os seus contratados estão as Organizações Globo. “Para conhecimento de vocês, eu tenho um contrato assinado para vender uma ilha das Organizações Globo”, revelou.

De acordo com o ex-diretor, a ilha situa-se na rodovia Niterói-Manilha. Ele frisou que o contrato firmado com as organizações da família Marinho era para que a Costa Global procurasse um leasing imobiliário para vender a área. Segundo ele, o objetivo do negócio era dar apoio para a operação offshore que atuaria para empresas que trabalhavam com a Petrobras, com a Shell, e com outras empresas que têm atividades de produção na Bacia de Campos. “Até para as Organizações Globo estamos prestando serviço”, reafirmou Paulo Roberto.

O ex-dirigente disse ainda que constituiu a Costa Global em 2012, após sua saída da estatal. Ele contou que a sua filha, Arianna Azevedo Costa Bachmann, é sua sócia e que a empresa possui 81 contratos firmados.

No decorrer de sua exposição, Paulo Roberto da Costa repudiou com veemência as “inveracidades” das acusações do Ministério Público contra a Petrobras e criticou o foco dado pela imprensa brasileira à questão.

“A Petrobras é uma empresa totalmente séria. Pode-se fazer auditoria por 50 anos dentro da Petrobras que não vão achar nada ilegal porque não há nada ilegal na Petrobras. Estão colocando a Petrobras na condição de uma empresa frágil”, afirmou. Ele observou que os controles dentro da estatal são enormes.

Abreu e Lima - Ele refutou as denúncias de suposto superfaturamento nos contratos da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. “Não é real. É uma ilação. Portanto, repudio veementemente essa suposição. Não existe organização criminosa. Não sei por que inventaram essa história. É uma história fora da realidade”, lamentou.

Operação Lava Jato – Paulo Roberto da Costa foi preso em março na Operação Lava Jato, desencadeada pela Polícia Federal. A Operação da PF investigou esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em seu depoimento ele foi enfático em afirmar que não existe lavagem de dinheiro da Petrobras com o doleiro Alberto Youssef, também preso pela PF.

“Não sei de onde tiraram essa história. A Polícia Federal, o MP deveriam aprofundar essa análise da Petrobras, que vão chegar à conclusão de que a Petrobras não é o que estão falando. A Petrobras é uma empresa que orgulha o povo brasileiro”, afirmou.

Pasadena – Sobre a aquisição da refinaria de Pasadena, Paulo Roberto voltou a dizer o que os seus antecessores afirmaram em depoimentos na CPI. “Naquele momento era um bom negócio. Ninguém coloca petróleo cru na indústria, no carro ou no avião. Ter refinaria é algo importante e estratégico”, reafirmou.

*****

É certo que não dá para confiar nas denúncias de Paulo Roberto Costa – assim como a revista Veja e o restante da mídia não deveriam apostar todas suas fichas na sua “delação premiada” com nítidos objetivos eleitorais. Mas no caso das Organizações Globo – agora ela mudou de nome para Grupo Globo, não se sabe por qual razão –, a sua acusação mereceria ser apurada. Infelizmente, a maioria dos deputados e senadores tem um misto de sedução e medo diante da poderosa emissora. Até hoje, nenhuma suspeita sobre a Rede Globo foi investigada. Já no seu nascedouro, o contrato ilegal com a estadunidense Time-Life foi arquivado. Mais recentemente, as denúncias sobre sonegação fiscal também caíram no esquecimento.

Apesar deste triste retrospecto, não custa sugerir ao suspeitíssimo Ministério Público que investigue o contrato de venda de uma ilha do Grupo Globo. Segundo relata Fernando Rodrigues na Folha deste domingo (7), “os próximos passos da Operação Lava Jato devem ser investigar empreiteiras, diretores dessas empresas e contas no exterior usadas para o pagamento de propinas a partir de negócios da Petrobras... No depoimento de Paulo Roberto Costa, há elementos que indicam de maneira detalhada como eram abertas contas bancárias no exterior. Ele detalhou quais são as empreiteiras, quem eram os diretores e presidentes dessas empresas, onde são as contas bancárias e quem eram os beneficiários de desvios”.

Até hoje, nenhum corruptor foi preso no país. Será que o Grupo Globo, da bilionária família Marinho, será investigado algum dia. A conferir!

Texto original: CARTA MAIOR

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Receita eleitoral: favor, esperança ou simpatia

Você deve ensaiar, até que pareça agir naturalmente

Trate de se apresentar muito bem preparado ao discursar. Em campanha eleitoral, você precisa obter o apoio dos amigos e o apreço do povo.

Faça amizades de todo tipo: para ter uma boa imagem, com homens de carreira e nomes ilustres (os quais, mesmo se não têm interesse em declarar seu voto, ainda assim conferem prestígio ao candidato).

Três coisas levam os homens a dar apoio eleitoral: favor, esperança ou simpatia espontânea. Graças aos mais insignificantes favores, as pessoas são levadas a julgar que há motivo suficiente para declarar seu apoio.

Quanto aos que são atraídos pela esperança, aja de modo a parecer disposto a prestar ajuda, e também de forma a perceberem que você é um observador cuidadoso das tarefas executadas por eles.

O terceiro tipo é o apoio espontâneo, que será preciso consolidar expressando agradecimentos, adaptando os discursos aos argumentos que parecem seduzir cada adepto isoladamente, dando mostras de retribuir-lhes a mesma simpatia, sugerindo que a amizade pode transformar-se em íntima e habitual.

Volte sua atenção para a cidade inteira, todas as associações, todos os distritos e bairros. Se atrair seus líderes à amizade, facilmente terá nas mãos, graças a eles, a multidão restante.

Habitantes de cidades pequenas e da zona rural, se os conhecemos pelo nome, acham que privam de nossa amizade.

Agora, cuidado com o seguinte: se alguém lhe prometeu fidelidade e você descobrir que tem duas caras, finja que não ouviu ou percebeu; se alguém, julgando que você suspeita dele, quiser atestar inocência, garanta com firmeza que nunca desconfiou do apoio que recebe nem tem por que desconfiar.

Você deve ensaiar, até que pareça agir naturalmente; é preciso certa bajulação, a qual mesmo sendo viciosa e torpe no restante da vida, é imprescindível na campanha eleitoral.

Outro conselho diz respeito a um pedido ao qual não seja capaz de atender: nesse caso, negue de modo simpático ou, então, não negue de jeito nenhum; a primeira atitude é de um bom homem; a segunda, de um bom candidato. Todas as pessoas, no íntimo, preferem uma mentira a uma recusa.

Cuide para que sua campanha seja brilhante, esplêndida e popular, que tenha uma imagem e um prestígio insuperáveis.

O texto acima foi escrito por Cícero, em Roma, há 2077 anos, para seu irmão, Marco Cícero, candidato, em 63 a.C., ao mais alto cargo da República, o de cônsul, equivalente ao de Presidente atualmente. (Do blog do Frei Betto)

Texto replicado: CLÁUDIO NUNES

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Os mais ricos no Brasil, China e Estados Unidos

A melhoria da situação dos 10% mais ricos no Brasil na última década não contrasta com a melhoria da distribuição total da renda no mesmo período.

José Carlos Peliano (*)

Olhar a distribuição de renda de qualquer país traz sempre o viés de captar o quão desigual ela pode ser, o tamanho do que cada um ganha e quais as participações na renda que conseguem alcançar. Acaba sendo, na maioria das vezes, um retrato da pobreza, mais que uma visão geral de como está o perfil total da renda.

Não que este olhar seja equivocado ou mal visto. Nada disso. Em países pobres ou em desenvolvimento, onde a pobreza se concentra mais, olhar esta situação ajuda a convencer os formuladores de política e os empresários, banqueiros e capitalistas em geral, que se nada for feito, o barco tende a afundar. Se é que já não deva estar fazendo água.

A situação da renda no Brasil, por exemplo, tem sido comentada por muitos. Inclusive, aqui na Carta, alguns textos, inclusive meus de meses atrás, abordaram o assunto. O país ainda mantém um alto grau de desigualdade, onde se situam poucos ricos de um lado e muitas vezes mais pobres de outro, apesar da conquista da última década em reduzi-la significativamente.

Ao virar a visão para o lado de cima, porém, onde estão os mais ricos na distribuição, permite ver o mesmo resultado da desigualdade, mas identifica a quantidade deles, o quanto abocanham do bolo geral da sociedade e, até mesmo, facilita a comparação da situação de sua riqueza com aquelas dos ricos de outros países.

Não dá para comparar pelos números frios das estatísticas, entretanto, o quanto cabe a ricos e a pobres em relação a muita situações que encontramos em nossa sociedade. Basta olhar, por exemplo, aqueles que vivem de resgatar restos nos inúmeros lixões regiões afora com outros que se sentam em monumentais escritórios da Avenida Paulista.

Ou todos aqueles que acordam de madrugada para pegar 2 ou 3 conduções, levando de 2 a 3 horas para chegar cedo ao trabalho, e o mesmo tempo de volta já à noite, em comparação àqueles que podem e tem tempo para estudar nas melhores escolas e faculdades do país. Os primeiros pouco ou nada mais esperam do trabalho, os segundos diploma, anel no dedo e propriedade de escritórios ou consultórios ou assemelhados.

Sim, a realidade econômica e social é desigual, não por natureza, mas pela evolução da história, ao tomar o rumo capitalista. Mais desigual ainda, no entanto, é a frieza, o preconceito e o desdém de muitos que veem nos pobres um estorvo, uma malandragem, um desperdício.

Equipara-se essa postura injuriosa, à discriminação racial que muitos brasileiros ainda praticam contra outros irmãos de origem e miscigenação. Distratar um pobre dá no mesmo que discriminar um brasileiro de cor, seja ela qual for. Ninguém é mais que ninguém, está aí o fim da vida de cada um para mostrar a todos dia após dia.

A pobreza de espírito dos discriminantes não chega aos pés do espírito dos discriminados, sejam eles pobres ou de cor. Quem se acha muito tem se comparar, se quiser, com quem se acha mais ainda. Não com os demais que não acham nada porque discriminados de nascença pela falta de oportunidades que tiveram ou seus pais.

De volta, no entanto, à situação de renda. Dados obtidos do site World Top Incomes Database, que utiliza as informações obtidas por Thomas Piketty e outros, permitem fazer a comparação de resultados das distribuições de renda dos Estados Unidos e China. Os dados do Brasil foram obtidos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

A ideia original era de comparar os dados referentes aos países integrantes dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), no entanto não houve possibilidade de obtê-los tendo em vista que o site ainda está em construção. Mesmo assim, os dados da China, só podem ser parcialmente usados.

Tendo em conta a participação na renda total no ano 2000 dos 10% mais ricos, ou melhor, o quanto eles abocanharam do bolo geral de renda na sociedade, os resultados mostram que na China atingiu 25,5%, nos Estados Unidos 43,1% e no Brasil 47,5%. As diferenças de levantamento nos três países não prejudicam a comparação tendo em vista a distância entre os percentuais encontrados.

Observa-se que a décima parte mais rica do Brasil teve em 2000 praticamente a metade do bolo gerado, os Estados Unidos um pouco menos e a China quase a metade ou um pouco mais do pedaço brasileiro.

Desses três resultados dá para concluir que, de fato, o regime chinês é menos desigual que o capitalismo praticado nos Estados Unidos e no Brasil. O que mostra que, apesar do nível de vida mais baixo da maioria na sociedade chinesa, a riqueza do país é melhor distribuída.

As séries de dados dos três países não são homogêneas. A da China para em 2003, cujo resultado é 28%. Brasil e Estados Unidos chegam até 2010 com os percentuais de 49,4% e 46,4% respectivamente.

Os mais ricos ficaram ainda mais ricos nos três países, a China um pouco mais em menor tempo que Estados Unidos e Brasil. A entrada da China na economia de mercado vem levando ao mesmo rumo dos países capitalistas mais consolidados.

Isto indicaria que aquele país chegará próximo aos mesmos percentuais de Brasil e Estados Unidos? Só o tempo dirá, embora, com certeza haverá correção de rumo uma vez que o regime de governo de lá está alavancado em maior controle estatal e com a maior população do mundo.

A melhoria da situação dos 10% mais ricos no Brasil na última década não contrasta com a melhoria da distribuição total da renda no mesmo período. A melhoria foi obtida com a abertura de novas oportunidades de trabalho, emprego e renda para os brasileiros que estavam ou fora do mercado, ou em ocupações de baixos rendimentos. Os programas sociais do governo tiveram a maior parcela do resultado.

Propostas dos novos candidatos à Presidência como interrupção do Pré-Sal, menores reajustes do salário mínimo, venda da Petrobras, Banco Central independente, maior abertura ao capital estrangeiro da riqueza e do patrimônio nacional, todas elas, terão consequências desastrosas sobre a distribuição da renda e o bem-estar geral.

Aumento do número de ricos, aumento do número de pobres, piora da desigualdade de rendas e retrocesso nos avanços até aqui conseguidos na política social, econômica, ambiental e patrimonialista. O Brasil está pronto para iso? É isto que queremos?

Texto original: CARTA MAIOR

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Não houve vitória de Israel

Israel disse que o Hamas tem que ser desarmado. Não foi desarmado. Israel disse que devia ser esmagado, destruído e erradicado, o que não aconteceu.

Robert Fisk


Bom, de fato, Hamas, o horrível, sem escrúpulos e terrorista Hamas que nós (isto é o Ocidente, Tony Blair, Israel, Estados Unidos e todos os homens e mulheres honrados) não queremos nem sequer mencionar que saiu vitorioso.

Israel disse que o Hamas tem que ser desarmado. Não foi desarmado. Israel disse que devia ser esmagado, destruído e erradicado, e não foi nem esmagado nem destruído nem erradicado. Os túneis serão arrasados, proclamou Israel, mas não foi assim. Todos os mísseis serão confiscados, mas não foram. Morreram 65 soldados israelenses e para quê? Do subsolo, literalmente, trepou na terça-feira a liderança política do Hamas (e da Jihad Islâmica) cujos irmãos participaram nas conversas de paz no Cairo, muito contra a vontade de Israel, Estados Unidos e Egito.

Em Israel, significativamente, não houve celebrações. O governo de ultra-direita de Benjamin Netanyahu uma vez mais enfatizou as suas exigências em caso de vitória e terminou com outro cessar-fogo tão débil quanto a frágil trégua que se seguiu às guerras em Gaza de 2009 e 2012.

No estrito sentido físico, Israel ganhou; todas essas vidas destruídas, os edifícios arrasados e as infraestrutura rebentadas não sugerem que os palestinnos “prevaleceram” (para usar um termo do Bushismo). Mas estrategicamente os palestinos ganharam. Continuam em Gaza, o Hamas ainda está no território de Gaza e o governo de coligação entre a Autoridade Nacional Palestiniana e o Hamas ainda parece ser uma realidade.

Disse-se muitas vezes que os fundadores do Estado de Israel enfrentavam um problema: uma terra chamada Palestina. Eles lidaram com este problema de maneira fria, impiedosa e eficiente. Agora o problema é: os palestinos. A sua terra bem pôde ter sido apropriada por Israel, os territórios que lhes sobraram estão a encher-se de colonatos israelenses, mas esses miseráveis palestinos simplesmente não se vão embora. E matá-los em grande número –especialmente frente às câmaras de televisão – está tornando-se excessivo, mesmo para aqueles que ainda tremem de medo quando alguém sussurra a calúnia “anti-semitismo”.

Os porta-vozes israelenses chegaram mesmo a comparar as suas ações com os sangrentos bombardeamentos da aviação britânica durante a Segunda Guerra Mundial, o que é uma ação de propaganda que é duvidoso que seja bem sucedida em pleno século XXI.

Mas o mundo poderá fazer reflexões infelizes sobre outras coisas. Os porta-vozes do Hamas, por exemplo, com as suas vociferantes declarações sobre a destruição de Israel e do sionismo; exageros que são tão absurdos como as desculpas de Israel. A maior vitória que o mundo já viu! Sim, claro! O Hezbollah afugentou todo o exército israelense do Líbano após uma guerra de guerrilhas de 18 anos, com muito mais baixas para ambos lados do que as que o Hamas pode imaginar.

E como esquecemos rapidamente os esquadrões assassinos do Hamas que executaram na semana passada pelo menos 21 espiões, dos quais duas mulheres, a sangue frio em plena rua contra as paredes de Gaza. Notei que estas pessoas não apareceram no saldo total de mortos palestinnos e pergunto-me porquê. Será que não são considerados humanos?

Numa semana em que o EIIL ostentou as suas execuções, o Hamas demonstrou que o seu velho instinto assassino continua intacto. Que esperávamos depois de três dos seus principais líderes militares terem sido liquidados pelos israelenses? É interessante que nem um palestino protestou contra essas execuções sem tribunal nem júri, assim como ninguém protestou pela violação dos direitos humanos de 17 espiões palestinos que foram executados em Gaza na guerra de 2008 e 2009 (que pelo visto foi esquecido). Outros seis espiões esquecidos foram executados em 2012.

E depois temos as vítimas militares. Destas umas 500 eram combatentes do Hamas, em 2008-2009 talvez tenham morrido 200. Mas nessa guerra anterior só seis israelensess morreram. Na mais recente ofensiva israelense este número foi multiplicado por 10. Em outras palavras, o Hamas, e suponho que a Jihad Islâmica, aprenderam a lutar. O Hezbollah, o exército guerrilheiro mais eficiente de todo o Oriente Médio certamente notou isso. Além disso, os foguetes de Gaza estenderam-se por milhares de quilômetros quadrados de Israel, apesar da sua “Cúpula de Ferro”. Antes ameaçavam apenas quem vivia em Sderot; agora foram cancelados voos no aeroporto de Ben Gurion.

Falta mencionar que Mahmoud Abbas está se arrastando perante os egípcios e os norte-americanos, agradecido pela trégua. Mas no novo governo palestino de unidade, o Hamas será quem diz a Abbas quantas concessões está autorizado a fazer.

Quanto ao presidente egípcio, o marechal Al Sisi, longe de isolar a Irmandade Muçulmana e pôr de lado o Hamas para fazer o seu acordo de paz feito no Cairo, viu-se obrigado a reconhecer o grupo político palestino como um participante árabe primordial na negociação da trégua.

Agora, o Egito bombardeia os islamitas na Líbia enquanto os Estados Unidos se preparam para bombardear os islamitas da Síria, depois de acabarem de bombardear os islamitas no Iraque. Mas em Gaza os islamitas acabam de ganhar. Isto certamente não pode durar.

(*) Artigo de Robert Fisk, publicado em “The Independent”, traduzido para “La Jornada” por Gabriela Fonseca e por Carlos Santos para esquerda.net

Créditos da foto: Esquerda.net


Texto original: CARTA MAIOR

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Marina abre o jogo e diz a que veio

Não contente de ser guindada à candidata da direita brasileira, Marina assume também a representação do capital financeiro internacional e da agenda dos EUA.

por Emir Sader em 29/08/2014 às 11:34

As políticas externa e interna estão estreitamente associadas. Uma define o lugar do país no mundo, a outra, a relação com as forças internas.

A política externa de subordinação absoluta aos EUA da parte do governo FHC se correspondia estreitamente com o modelo neoliberal no plano interno. A política externa soberana do governo Lula se relaciona indissoluvelmente com o modelo interno de expansão economica com distribuição de renda e ampliação do mercado interno de consumo popular.

Significativo o silêncio dos candidatos da oposição sobre política exterior, do Mercosul aos Brics, passando por Unasul, Celac, Banco do Sul, Conselho Sulamericano de Defesa. De repente, talvez revelando excessiva confiança nas pesquisas, a Marina lança os primeiros itens do seu programa, incluindo política externa e seus desdobramentos.

Lança a ideia de baixar o perfil do Mercosul, velho sonho acalentado pelos entreguistas locais e pelos governos dos EUA.

Como contrapartida, o programa dos marinecos destaca a importância que daria a acordos bilaterais. Ninguem tem dúvida de que ela se refere primordialmente a algum tipo de Tratado bilateral com os EUA, projeto do governo FHC que foi sepultado pelo governo Lula.

Pode-se imaginar as projeções dessa postura proposta pela Marina para outros temas, como Unasul, Celac e Brics. Significaria estender esse perfil baixo para essas outras instituições justamente no momento em que os Brics fundaram novas instituições, que projetam um mundo multipolar, e o Mercosul e Unasul retomam uma dinâmica de fortalecimento.

É tudo o que os EUA gostariam: deslocar o Brasil, país chaves nessas novas configurações de força no plano internacional, para voltar a ser um aliado subalterno deles e porta voz das suas posições, hoje tão isoladas. Dar golpes mortais no Mersosul e na Unsaul, enfraquecer as posições dos Brics.

A equipe de direção do programa da Marina é inquestionavelmente neoliberal: Andre Lara Resende, Neca Setubal, Eduardo Gianetti da Fonseca, Neca Setubal. A independência (do governo e dos interesses públicos) do Banco Central (e sua subordinação aos bancos privados) desenha uma política interna em consonância com acordos bilaterais com os EUA, em que entre o pré-sal como espaço de uma nova aliança subordinada com o império dos EUA.

Não contente de ser guindada à candidata da direita brasileira, Marina assume também a representação do capital financeiro internacional e do império norteamericano. Mostra a que veio.

Texto original: CARTA MAIOR

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Marina: candidata a Deusa!

Marina afirma que paira acima de todas as contradições existentes na sociedade brasileira. Se vencedora para o cargo de Deusa, governará com todos e todas

José Augusto Valente

O debate de ontem (26/8), na TV Bandeirantes, mostrou o “upgrade” da visão messiânica que Marina Silva tem de si mesma. Ela não é mais candidata a presidenta, mas candidata a Deusa!

Essa é a tal da “terceira via” da zelota Marina da Silva!

Em primeiro lugar, Marina afirma que paira acima de todas as contradições existentes na sociedade brasileira. A disputa política e ideológica entre a esquerda e a centro-direita só existe na cabeça de uns radicais. Na dela, está tudo muito bem organizado. Existe o bem e o mal, os bons e os maus.

Com isso, ela quer dizer que essa coisa de partido político não serve para nada. Se vencedora para o cargo de Deusa, governará com todos e todas do bem. Ela afirma querer contribuir para apartar a sociedade e que essa polarização esquerda x direita, PT x PSDB, tem que acabar, pois não serve ao país!

Ela quer unir todo mundo, quer ser a Deusa de todos e todas. Em seu governo tanto Serra, quanto Suplicy, e quem sabe o pastor Everaldo, terão vez. O “marinismo” superará qualquer luta de classes, qualquer conflito de interesses.

Em outubro de 2013, durante entrevista ao programa "É Notícia", da RedeTV, a deputada do PSB Luiza Erundina - atual coordenadora da campanha de Marina -, explicitou o que vimos no debate de ontem, sem meias palavras.

Disse ela que Marina "entra no senso comum da sociedade, do ponto de vista de negar a política, negar os partidos" e que ao negar a política e os partidos, Marina "desorganiza, deseduca politicamente". (clique aqui para ver o vídeo)

O Congresso Nacional, que será eleito agora, terá que se adaptar à nova realidade marinista. Não haverá negociações – o que ela chama de “toma lá, dá cá’”.

O que está por trás dessa idéia é que as pessoas não precisam saber das propostas concretas dela. Bastarão algumas ideias gerais, tipo “blá-blá-blá”.

Como Deusa, que será, bastará que todos tenham fé nela e tudo será resolvido!

Alguém perguntará: como ela conseguirá conciliar a reforma agrária radical que o MST deseja com a reforma agrária nenhuma pela qual luta a bancada ruralista? Ou a privatização radical do Pastor Everaldo com a estatização completa que quer a Luciana? Ou ainda a Petrobrás brasileira e soberana da Dilma com a Petrobrax estrangeira de Aécio? Todos eles representam interesses presentes na nossa sociedade e os avanços se dão à custa de se fazer muita política. A menos que ela tenha alguma fórmula mágica.

Pelo que vi ontem, ela acredita que sendo eleita Deusa, tudo é possível!

Texto original: CARTA MAIOR

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A COPA, OS CRÍTICOS E OS INCOMPETENTES

Passado o período da realização da Copa do Mundo de Futebol, no Brasil, é bom lembrar os fatos estranhos durante criação e efetivação do evento.

Durante os dois anos que antecederam o evento era comum se ouvir na grande maioria dos meios de comunicação informações que todos os estádios, aeroportos e obras de infraestrutura estavam atrasados e que a copa seria um caos. Claro que esses meios de comunicação estavam na realidade fazendo campanha negativa contra o Governo Federal e hoje se descobre que as informações eram na realidade opiniões!

O mais grave disso tudo é que toda a imprensa afunilava todas as informações para se colocar a culpa, de um suposto fracasso, no governo federal, só que a construção do evento não era e nem foi de total responsabilidade somente do Governo Federal. Outros agentes participaram ativamente da construção e realização do evento, tais como: o governo dos doze Estados e prefeituras onde foram construídos os Estádios de Futebol (nas cidades que foram sede de grupos), empresas de viagens, empresas de turismo, Hotéis, restaurantes, responsáveis pela segurança (dentro de fora do campo), pessoal da saúde, etc.

As distorções dos fatos eram grandes, esconderam que do evento participaram prefeitos e governadores de vários partidos. Vou citar os dois governadores mais importantes, que foram: Aécio Neves - PSDB que assinou juntamente com o prefeito de Belo Horizonte - MG e Eduardo Campos - PSB (hoje falecido) juntamente com o prefeito de Recife - PE. Eles foram responsáveis pela reforma e construção dos estádios e as estruturas fundamentais para a realização dos eventos nessas duas cidades sedes.

Quando os meios de comunicação ficaram informando opinião negativa, sobre o evento, estavam na realidade chamando todo esse pessoal envolvido de incompetentes e que não teriam condições de realizar um evento desse porte!

Vários jornalistas de vários meios de comunicação fizeram essa parte negativa, mas os da Rede Globo foram os que mais se sobressaíram neste quesito. Programa como o do Faustão, Jornal O Globo (Arnaldo Jabor era o grande expoente). Willer Walker e Willer Bonner só falavam dos atrasos nas reformas dos aeroportos e construção dos estádios. Por estranho que pareça, não vejo as pessoas criticarem esses meios de comunicação, dão um grande valor e usam as opiniões, dadas por eles, como se fossem informações!

Vídeo em que uma jornalista, pertencente a Rede Globo, demonstra total desinformação e complexo de vira lata. Ela apostava que seria um fracasso!!



Vídeo com Arnaldo Jabort negativando o Brasil e dizendo que a Copa do Mundo no Brasil seria um tremendo fracasso e iria nos envergonhar internacionalmente



Passado o evento da Copa, justificam que o pessimismo foi da imprensa estrangeira! Agora todos os comentários passaram a ser sobre economia e mais uma vez as informações (ou opiniões) são negativas! Igualmente as opiniões em relação à copa, essas opiniões são repetidas em todos os meios de comunicação sem a devida oportunidade de opinião divergente. Todos cantando na mesma toada: a economia brasileira, igualmente a copa, está a beira do caos! 

Veja o que diz Bob Fernandes da imprensa em relação a copa:

Muitas justificativas para comprovarem o caos e uma delas e a fuga do capital estrangeiro (só que os investimentos continuam altos). Falam que os jornais estrangeiros (usam o New York Time como referência) dão opinião negativa em relação ao Brasil e estranhamente as pessoas que mais solicitam vistos de permanência no Brasil são de nacionalidade americana (EUA). Criticam e criam o caos na economia e escondem como está a economia em outros países. Se aqui está esse caos, em relação a outros países, como explicam pessoas dos ditos países do chamado primeiro mundo, quererem vim morar no Brasil? Esses jornalistas tomam como exemplo justamente esses países, do chamado primeiro mundo, para demonstrar o caos no Brasil!

Texto relacionado:
POR QUE A CLASSE MÉDIA ODÊIA O BRASIL

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Dilma livrou-se bem das joelhadas nas costas e das mordidas do JN

De todos os candidatos que participaram, até o momento, das entrevistas do Jornal Nacional, da Rede Globo, Dilma conseguiu realizar duas façanhas.

Antonio Lassance

De todos os candidatos que participaram, até o momento, das entrevistas do Jornal Nacional, da Rede Globo, Dilma conseguiu realizar duas façanhas em que os outros falharam: conduziu o debate e dele saiu sem levar para casa qualquer acusação de ter se valido do cargo para beneficiar a si própria ou para ajudar qualquer parente.

Aécio teve que gastar um bom tempo de sua entrevista falando sobre o aeroporto nas terras que eram de seu tio.

Campos abaixou a cabeça com as perguntas sobre a lista de parentes indicados para cargos importantes.

Com Dilma, William Bonner chegou a mendigar: "nós precisamos falar de economia, hein?", falou com olhos de Gato de Botas do Shrek para suplicar que a candidata mudasse de assunto no meio da resposta sobre saúde.

A candidata saiu-se bem ao repetir os mantras que já viraram bons carimbos contra os adversários, como o do "engavetador geral da República" e o do "enfrentamos a crise sem gerar desemprego e arrocho salarial".

Mas Dilma poderia ter se saído melhor na pergunta sobre o mensalão.

Presidente da República pode e deve eximir-se de criticar o Judiciário, mas deve externar claramente qual é sua noção de justiça e, principalmente, o que entende por isonomia.

O mantra do “[eu] respeito a decisão do Supremo” deveria vir acompanhado de um desejo sincero de que o mesmo rigor usado no processo da AP 470 tivesse sido empregado em outros casos, independentemente do partido.

Como candidata, poderia ajudar a esclarecer a opinião pública quanto ao fato de que boa parte da birra do PT com esse julgamento é a de que ele foi um ponto fora da curva.

Estão aí o mensalão do PSDB e o do DEM para comprovar. Essas denúncias ficam por aí, pulando de galho em galho e esperando alguém para, finalmente, quebrar um galhão e esconder tudo no fundo de um a gaveta - como vinha acontecendo no caso do metrô de São Paulo, descaradamente, a ponto de irritar a Justiça da Suíça que investigou o assunto e evidenciou crimes.

Confrontado com o mensalão do PSDB, Aécio usou, com um sorriso no rosto, a falta de condenação a Azeredo, Pimenta da Veiga e Cia Ltda como se isso fosse atestado de bons antecedentes.

O candidato do PSDB transformou impunidade em salvo-conduto. Isso pode?
Se a ideia de Dilma é repetir o que ela mesma já disse sobre o assunto, ainda falta uma frase: a de que a AP 470 não pode entrar para a história como um julgamento que teve "dois pesos e umas 19 medidas".

Créditos da foto: Ichiro Guerra/Dilma13

Texto original : CARTA MAIOR

sábado, 9 de agosto de 2014

O EX-PRESIDENTO DOUTOR MULA II

Recebendo o título de Doutor  Honorius Causa 
pela Universidade de Coimbra - Portugal

Quando deixou o governo, o ex -presidente Lula passou a apresentar palestras, entre as empresas  estava Microsoft, embora não tenha cursado nenhum curso universitário o ex-presidente, depois de deixar o governo, recebeu até a presente data (09-08-2011), vários títulos.

Nas redes sociais,  entre os opositores, é comum encontramos pessoas dizendo que o ex-presidente Lula  só fala baboseiras, que é cachaceiros, não entende de nada e outros adjetivos. Será que essas pessoas são as mais inteligentes do mundo ou todas as empresas e instituições listadas a seguir só tem pessoas ignorantes e analfabetas?


TÍTULOS RECEBIDOS PELO EX-PRESIDENTE LULA:

  GRÃO CRUZ

  • Grã-Cruz das Ordem do Mérito Militar, Ordem do Mérito Naval e Ordem do Mérito Aeronáutico, perpetuamente. Como Grão-Mestre destas ordens militares, automaticamente é condecorado com a Grã-Cruz;
  • Grão-Colar da Ordem do Cruzeiro do Sul e da Ordem do Rio Branco. 
  • Como Grão-Mestre destas ordens, automaticamente é condecorado com o mais alto grau das mesmas, de forma perpétua
  • Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito. Como grão-mestre desta ordem, é automaticamente condecorado com o mais alto grau da mesma, de forma perpétua;
  • Grã-Cruz da Ordem do Mérito Judiciário Militar;
  • Grã-Cruz da Ordem da Águia Asteca (México)
  • Grã-Cruz da Ordem Amílcar Cabral (Cabo Verde
  • Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada (Portugal);
  • Grã-Cruz da Ordem da Estrela Equatorial (Gabão);
  • Grã-Cruz de Cavaleiro da Ordem do Banho Reino Unido 
  • Grã-Cruz da Ordem de Omar Torrijos (Panamá);
  • Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito (Argélia);
  • Grande-Colar da Ordem da Liberdade (Portugal);
  • Grã-Cruz da Ordem de Boyacá (Colômbia);
  • Grão-Colar da Ordem Marechal Francisco Solano López (Paraguai);
  • BGrão-Colar da Ordem da Inconfidência (Minas Gerais);
  • Grã-Cruz da Ordem do Mérito Aperipê (Sergipe);
  • Grã-Cruz com diamantes da Ordem do Sol do Peru (Peru);
  MEDALHAS
  • Medalha do Mérito Marechal Floriano Peixoto (Alagoas);
  • Medalha do Mérito 25 de Janeiro, de São Paulo;
  • Medalha do Mérito Industrial do Brasil (Associação Brasileira de Indústria e Comércio);
  PRÊMIOS
  • Prêmio Príncipe de Astúrias (Espanha); 
  • Prêmio Amigo do Livro, da Câmara Brasileira do Livro;
  • Prêmio Internacional Don Quixote de la Mancha (Espanha); 
  • Medalha de Ouro "Aliança Internacional Contra a Fome", do Fundo das Nações Unidas contra a Fome;25
  • Prêmio pela paz Félix Houphouët-Boigny da UNESCO, 2008;26
  • Estadista Global entregue pelo Fórum Econômico Mundial em sua edição 2010, ocorrida em Davos – Suíça; 
  • Prêmio L 'homme de l 'année (Homem do Ano), entregue pelo jornal Le Monde (França), edição 2009;
  • Prêmio Personalidade do Ano de 2009, entregue pelo jornal El País (Espanha);
  • Prêmio Mikhail Gorbachev
  • Prêmio Chatham House 2009 do Reino Unido pela a atuação de Lula na América Latina;
  • "Brasileiro da Década" pela revista Isto é (2010).
  • Prêmio Norte-Sul do Conselho da Europa
  • XXIV Prêmio Internacional Catalunha pelas políticas sociais e econômicas em seu mandato de Presidente do Brasil.35
  • Ordem Nacional da República Benin, a mais alta condecoração beninense, na cidade de Cotonou.
  DOUTOR HONORIS CAUSA
  • Universidade Federal de Viçosa, pela Universidade de Coimbra (Portugal), 
  • Universidade Federal de Pernambuco, 
  • Universidade Federal Rural de Pernambuco,
  • Universidade de Pernambuco, 
  • Universidade Federal Fluminense, 
  • Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 
  • Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 
  • Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Universidade Federal da Bahia (UFBA), 
  • Politécnica de Lausanne (Suíça) ,
  • Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) , 
  • Sciences-Po (Institut d'Etudes Politiques de Paris)
  • Universidade Federal do ABC . 
Ex-presidente Lula ganha Estátua de Bronze), ao lado
da Casa Branca, em Wasington (EUA.

 OBSERVAÇÃO:

Embora outras universidades nacionais e internacionais tenham feito diversos convites para que o então presidente recebesse a honraria, Lula recusou todos os títulos honoris causa enquanto ocupou a cadeira de chefe do estado brasileiro, passando a aceita-los apenas após deixar o cargo.

Ex-presidente Lula é homenageado com Estátua em Wasington (EUA)
O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,lula-recebera-premio-inedito-de-estadista-global-em-davos,498691